quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A lógica das opções

Foto by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)
Os resultados eleitorais, sejam eles quais forem, são sempre objeto de análises e interpretações diversas. Naturalmente, pois mesmo a crueza dos números relativos e absolutos não permitem leituras lineares, as interpretações são sempre diversas, assim como são diversas as motivações que conduzem à opção individual do voto. A lógica dos eleitores nem sempre é a esperada, por vezes as opções eleitorais surpreendem, como surpresa terá sido a eleição de Donald Trump, por outro lado os contextos culturais, sociais económicos e políticos são decisivos para as escolhas feitas a cada ato eleitoral, mas o que mais influencia e determina a opção de voto são as representações sociais induzidas, não nas campanhas eleitorais, mas no período de tempo que medeia entre cada ato eleitoral, ainda assim nem sempre esse esforço resulta a cada ciclo eleitoral e, os avanços e recuos de cada força política também disso dependem, não só mas também.
Não estou, de todo, a referir-me às eleições autárquicas de Domingo. O que motivou esta reflexão foram mesmo os resultados das eleições alemãs e, outras do passado em lugares e contextos diversos. O que pretendo é apenas uma abordagem superficial e de alguma abstração sobre opções eleitorais, embora me vá servir de exemplos concretos. Porque é que umas forças políticas em determinado momento histórico ganham ascendente, porque é que outras se mantêm no poder por vários ciclos eleitorais.
Sem ir muito longe no tempo e não considerando as particularidades dos diferentes sistemas eleitorais consideremos, como um primeiro exemplo a reeleição de Margaret Tatcher, em 1983. Durante o primeiro mandato a primeira-ministra inglesa sofreu grande contestação pelas políticas neoliberais que implementou, nem sequer as vou comentar apenas estou a referira-las porque a sua baixa popularidade, devido às suas opções económicas e políticas, não fazia antever uma nova vitória dos conservadores. Houve, contudo, um acontecimento a meados de 1982 que foi determinante para que a maioria dos ingleses a tivesse reconduzido. É sabido que a Argentina e a Inglaterra reclamam a soberania de território insulares no Atlântico Sul, é também do conhecimento público que no Verão de 1982 estes dois países se confrontaram militarmente na designada “Guerra das Malvinas”, tendo a Inglaterra vencido o conflito. A vitória da Inglaterra uniu os ingleses sob a bandeira do patriotismo e, não sendo o único motivo, este sentimento sobrepôs-se a outras razões e contribuiu para a reeleição de Margaret Tatcher. Não tivesse acontecido este evento e possivelmente o resultado eleitoral na Inglaterra teria sido diferente.

Imagem retirada da Internet
O exemplo que acabei de partilhar é apenas um de muitos outros. Situações semelhantes fazem unir os povos (eleitores) sobrepondo-se à avaliação dos efeitos das políticas e das práticas da governação.
Consideremos, agora, os resultados eleitorais do passado Domingo na Alemanha. Apesar dos esforços internos do partido democrata cristão, de Angela Merkel, garantir aos alemães o contrário do que defende para os outros povos europeus. Baixos salários, austeridade, prolongamento dos horários de trabalho não se aplicam na Alemanha, mas ainda assim o eleitorado não lhe garantiu a maioria absoluta. E não terá sido por demérito das políticas internas implementadas pela senhora Merkel, neste caso o motivo foi outro. Foi assim como uma espécie de medo de perda da identidade nacional face à entrada de refugiados e imigrantes no seu território. Ou seja, a senhora Merkel, bem assim como o seu mais direto adversário, o social democrata, Martin Schulz do SPD, não conseguiram controlar a seu favor um significativo segmento do eleitorado alemão que optou pelo voto na extrema direita, diria mesmo no neonazismo. Ou seja, o discurso nacionalista, xenófobo e islamofóbico e o sentimento de medo e insegurança que este discurso gera nos cidadãos sobrepôs-se à política que tem mantido os alemães fora das políticas de austeridade que a Senhora Merkel receita para os outros países da União Europeia.
A situação alemã com o crescimento eleitoral dos partidos nacionalista e neonazis não é virgem e por isso mesmo preocupante. Outros países por esse mundo fora têm vindo a dar força eleitoral e posições institucionais a partidos que confessam a sua simpatia pela teoria da superioridade de um grupo humano sobre outros. Os efeitos de tal doutrina são por demais conhecidos, daí a minha preocupação ter toda a legitimidade.
Os exemplos que dei relacionam-se, de alguma forma, com fenómenos que, sendo ou não resultado de uma construção social, determinam uma lógica massiva de opções eleitorais que são determinantes no período pós-eleitoral. A reeleição Senhora Tatcher permitiu-lhe seguir o rumo político do neoliberalismo, no caso da Senhora Mekel a ver vamos como diz o nosso povo.
As razões podem ser mais objetivas, como no primeiro exemplo, ou mais subjetivas como no segundo, mas em qualquer dos casos influenciaram os resultados independentemente de outras lógicas mais individualizadas dos eleitores, lógicas que nuns casos se sobrepõem às construções sociais e aos contextos históricos, e noutros vão com a onda dominante.
Não deixa de ser interessante, mas não será hoje, analisar algumas das lógicas que levam os eleitores considerados individualmente a optarem por uma ao invés de uma das muitas outras candidaturas que disputam os atos eleitorais. Lógicas que as candidaturas, todas elas, mas sobretudo as que costumam recolher menos apoio eleitoral, nem sempre procuram entender, embora seja justo reconhecer, em Portugal e no resto do Mundo, o esforço e a coerência de algumas delas.
Ponta Delgada, 26 de Setembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 27 de Setembro de 2017

Sem comentários: