foto de Aníbal C. Pires |
Estes fenómenos evolutivos da língua não me incomodam e, por norma, aceito-os com naturalidade, passo a usá-los quando escrevo, ou quando falo. Isto não significa que o faça de forma acrítica e passe, sem reservas, a incorporar todos os modismos da linguagem na forma como comunico. Não o faço por razões de ordem linguística, mas é, sobretudo, por razões que se relacionam com pretensos modernismos anódinos, mas que nada têm de inocente, como por exemplo: colaborador não é significado de trabalhador, vejamos o que diz o dicionário: - trabalhador - que ou quem trabalha, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa; - colaborador - que colabora, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
imagem retirada da internet |
Mas voltemos ao cerne da questão que está na origem deste texto, isto é, a absorção de novos vocábulos e expressões no português falado e escrito que, como já referi, faz parte da evolução da própria língua. Outros, porém, não passam de modismos introduzidos pela onda da globalização e de uma pretensa modernidade bacoca. Coach, coaching, influencer, coworking, lock down, home office, bullying, etc... Estas palavras fazem hoje parte do vocabulário nacional, e, todas elas têm a seu equivalente em português. Outros exemplos, estes sim integrados e bem, oficialmente, na língua: telemedicina, cibersegurança, gentrificação, aporofobia e gerontofobia, de entre muitas outras; estes foram adaptados e assimilados naturalmente e como resposta à evolução linguística.
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Analisemos os termos coach e coaching que estão vulgarizados e até denominam alguns projetos educacionais em Portugal. Coach é um anglicismo que significa treinador ou instrutor, em termos da educação pode ser-lhe atribuída a designação de tutor ou professor tutor. O termo coach remonta à época medieval e era o nome dado aos cocheiros que, por norma, eram exímios treinadores de cavalos. A utilização destes estrangeirismos na linguagem corrente e especializada é dispensável, uma vez que temos o seu equivalente em português. Por outro lado, parece-me desapropriada a sua ligação à educação pois, educar e formar é muito mais que treinar para a obtenção de perfis repetitivos de desempenho (mesmo na formação profissional). Todos os outros vocábulos que enunciei têm palavras e/ou expressões em português, não fazendo grande sentido a sua adoção pelos falantes lusófonos. O exagero na utilização de vocábulos estrangeirados na comunicação oral feita em português, num tempo de grandes preocupações inclusivas, exclui. Direi que a utilização abusiva de termos como: briefing, budget, branding, insight, feed, info, trend, deadline, de entre outros, para além de excluir um segmento da população, constitui uma demonstração de imbecilidade por quem os usa pois, pretende transmitir uma imagem de modernismo pacóvio e, não raras vezes, serve como máscara para a incompetência do utilizador e, ainda que sem consciência, para a defesa de uma cultura globalista descaracterizadora.
Em relação às fêmeas Beta e aos machos Alfa, expressão que titula este escrito, é mais um contributo, com roupagem vanguardista, para um pensamento discriminatório e animalizante da humanidade. O tema a que expressão alude merece ser tratado de forma própria e com maior profundidade, contudo e para além do que ficou dito, por hoje sempre acrescento que nem sempre as fêmeas são Betas(inhas) e os machos, ditos Alfa, são na sua maioria betas(inhos) submissos e narcísicos, nem Betas chegam a ser. Voltarei às fêmeas Alfa e aos machos Beta ou, vice-versa.
Ponta Delgada, 21 de março de 2023
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 22 de março de 2023
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