quarta-feira, 29 de março de 2023

Green God - um poema de Eugénio de Andrade

Hoje, pelas 18 horas, realizou-se na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada (BPARPD), uma sessão da “Academia das Letras” dedicada a Eugénio de Andrade. Com moderação de Ângela Almeida e intervenções de Paula Sousa Lima e Henrique Levy. Foram lidos alguns poemas por Célia Cordeiro e Aníbal C. Pires.

O público escasseou, mas nem por isso os a sessão deixou de ser útil, interessante e animada para quem se dispôs a passar o fim de tarde numa das acolhedoras salas da BPARPD.

Podia, mas não o vou fazer, elaborar uma síntese das intervenções e da tertúlia que se lhe seguiu, vou apenas referir a (minha) descoberta de um poema de Eugénio Andrade que foi referido pela Professor Eduíno de Jesus e que deixo transcrito para os amantes da poesia de Eugénio de Andrade.


Green god

Trazia consigo a graça
das fontes, quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens, quando desce.

Andava como quem passa,
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia do ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
de uma flauta que tocava.

Eugénio de Andrade

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