imagem retirada da internet |
Em setembro passam cem anos do nascimento de Natália
Correia. Hoje regista-se a passagem dos trinta anos da sua morte.
Prefiro celebrar-lhe a irrequieta e excitante vida literária
ao invés do fim do seu voo.
Esta entrada no “momentos”, no dia em que o calendário
assinala a sua morte, celebra a vida e obra de uma mulher controversa,
intempestiva, teatral e capaz dos maiores dislates.
Amada, odiada e ignorada. Não era possível ficar indiferente
a esta mulher e à imagem que cultivava. Confesso que nunca fiz uma aproximação
à sua obra, tenho-a evitado por alguns aspetos, para mim ainda não muito
claros, da vida pública de Natália Correia. Eu, pecador me confesso, tenho-me,
por preconceito, alheado da obra de Natália.
O Colóquio comemorativo do centenário de Natália Correia
promovido pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, cuja curadoria científica foi
da responsabilidade de Ângela Almeida, contribuiu para eliminar a minha
resistência à obra da poeta, mesmo que as minhas dúvidas sobre alguns aspetos
da vida pública e política de Natália Correia se tenham adensado. É chegado o momento,
apesar de todas as reservas que mantenho em relação à cidadã, de conhecer um
pouco mais da sua obra lírica e literária.
Ontem, à margem do Colóquio, numa pequena tertúlia com
alguns dos oradores do evento li, a convite de Ângela Almeida, três poemas de
Natália Correia e gostei.
Manhã cinzenta
Em que deixei a casa dos meus pais...
E aquele adeus que a voz do mar trazia
Dum lenço branco, a acenar no cais...
O meu veleiro – era de espuma fria –
Levava-o o furor dos vendavais.
À passagem gritavam-me: onde vais?
Mas só o meu veleiro respondia.
Cruzei o mar em direcções diferentes.
Por quantas terras fui, por quantas gentes,
Nesta longa viagem que não finda.
Só uma estrada resta – mais nenhuma:
Na ilha que o passado envolve em bruma,
Um lenço branco que me acena ainda...
Natália Correia
Sem comentários:
Enviar um comentário