quinta-feira, 16 de março de 2023

Pelo centenário de Natália Correia

imagem retirada da internet

Em setembro passam cem anos do nascimento de Natália Correia. Hoje regista-se a passagem dos trinta anos da sua morte.

Prefiro celebrar-lhe a irrequieta e excitante vida literária ao invés do fim do seu voo.

Esta entrada no “momentos”, no dia em que o calendário assinala a sua morte, celebra a vida e obra de uma mulher controversa, intempestiva, teatral e capaz dos maiores dislates.

Amada, odiada e ignorada. Não era possível ficar indiferente a esta mulher e à imagem que cultivava. Confesso que nunca fiz uma aproximação à sua obra, tenho-a evitado por alguns aspetos, para mim ainda não muito claros, da vida pública de Natália Correia. Eu, pecador me confesso, tenho-me, por preconceito, alheado da obra de Natália. 

O Colóquio comemorativo do centenário de Natália Correia promovido pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, cuja curadoria científica foi da responsabilidade de Ângela Almeida, contribuiu para eliminar a minha resistência à obra da poeta, mesmo que as minhas dúvidas sobre alguns aspetos da vida pública e política de Natália Correia se tenham adensado. É chegado o momento, apesar de todas as reservas que mantenho em relação à cidadã, de conhecer um pouco mais da sua obra lírica e literária.

Ontem, à margem do Colóquio, numa pequena tertúlia com alguns dos oradores do evento li, a convite de Ângela Almeida, três poemas de Natália Correia e gostei.


Manhã cinzenta

Ai madrugada pálida e sombria
Em que deixei a casa dos meus pais...
E aquele adeus que a voz do mar trazia
Dum lenço branco, a acenar no cais... 

O meu veleiro – era de espuma fria –
Levava-o o furor dos vendavais.
À passagem gritavam-me: onde vais?
Mas só o meu veleiro respondia.

Cruzei o mar em direcções diferentes.
Por quantas terras fui, por quantas gentes,
Nesta longa viagem que não finda.

Só uma estrada resta – mais nenhuma:
Na ilha que o passado envolve em bruma,
Um lenço branco que me acena ainda...

Natália Correia

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