As ilhas dos Açores estão inseridas numa região atlântica que pela sua singularidade preservaram um conjunto de exemplares da flora que remontam ao período terciário. Este facto mereceu-lhe a designação Macaronésia. O nome é originário do Grego: "makáron" => feliz, afortunado; e "nesoi" => ilhas, de onde resulta a designação de "ilhas Abençoadas" ou "ilhas Afortunadas.
Quando viajamos pelas ilhas açorianas bem podemos constatar a bênção com que a natureza as dotou. Com excepção das ilhas Canárias, nos arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira e Cabo Verde) não havia população autóctone. A humanização da paisagem, nos quatro arquipélagos, decorrente do uso da terra e do território transformou a paisagem e acrescentou-lhes um património histórico e cultural diverso, mas singular que, a par do património natural endémico, dotam estas ilhas de características únicas que importa valorizar, enquanto potencial de desenvolvimento integrado, e preservar de modelos atípicos de modernização e uniformidade.
Estive recentemente na ilha de S. Jorge em visita enquadrada pelo mandato popular que me foi conferido e no cumprimento do dever, a que estou obrigado, de procurar conhecer com profundidade cada um dos círculos eleitorais da Região Autónoma dos Açores. A cada passagem por S. Jorge aumenta a minha incompreensão e, porque não, a revolta pelo abandono a que o poder executivo regional tem votado esta ilha. Ilha abençoada pela natureza, onde o investimento público revela uma ausência de estratégia de integração e desenvolvimento devidamente comprovada na execução de obras avulsas que não têm, efectivamente, resolvido a condição periférica e marginal de S. Jorge e por um profundo descontentamento da sociedade jorgense.
A ausência de uma estratégia para combater o isolamento e a desertificação, que estão indissociavelmente ligadas às graves carências no campo dos transportes, quer aéreos, quer marítimos, quer também de transportes terrestres dentro da própria ilha.
As carências de transportes não só estrangulam as actividades económicas locais, impedem o crescimento sustentado do sector do turismo, como contribuem para a desertificação das zonas rurais, com a concentração da população nos aglomerados urbanos. Impõe-se inverter esta tendência e reforçar decisivamente as ligações já existentes, assegurando, pelo menos, uma ligação marítima diária com a ilha, durante todo o ano, mas também a construção das infra-estruturas necessárias para a criação de uma nova ligação à ilha Terceira e daí à Graciosa, a partir do Concelho da Calheta, como forma de dinamizar esta área periférica e com isso a ilha no seu conjunto. S. Jorge tem uma situação geográfica que a coloca a meio caminho de todas as ilhas do grupo central (Velas/Horta – 22 milhas náuticas; Topo/Angra – 22 milhas náuticas)
Esta tendência para a descaracterização do meio rural é ainda agravada pelo encerramento de serviços e actividades, como as cooperativas leiteiras, escolas e, mesmo, de postos de atendimento de saúde. A concentração destes serviços, trazendo benefícios de curto-prazo, do ponto de vista da economia de recursos financeiros, trará graves e irreparáveis prejuízos a longo prazo, do ponto de vista da desertificação e descaracterização do espaço rural.
O que a natureza abençoou os sucessivos governos regionais condenam!
Aníbal Pires, IN Expresso das Nove, 20 de MArço de 2009, Ponta DElgada
Quando viajamos pelas ilhas açorianas bem podemos constatar a bênção com que a natureza as dotou. Com excepção das ilhas Canárias, nos arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira e Cabo Verde) não havia população autóctone. A humanização da paisagem, nos quatro arquipélagos, decorrente do uso da terra e do território transformou a paisagem e acrescentou-lhes um património histórico e cultural diverso, mas singular que, a par do património natural endémico, dotam estas ilhas de características únicas que importa valorizar, enquanto potencial de desenvolvimento integrado, e preservar de modelos atípicos de modernização e uniformidade.
Estive recentemente na ilha de S. Jorge em visita enquadrada pelo mandato popular que me foi conferido e no cumprimento do dever, a que estou obrigado, de procurar conhecer com profundidade cada um dos círculos eleitorais da Região Autónoma dos Açores. A cada passagem por S. Jorge aumenta a minha incompreensão e, porque não, a revolta pelo abandono a que o poder executivo regional tem votado esta ilha. Ilha abençoada pela natureza, onde o investimento público revela uma ausência de estratégia de integração e desenvolvimento devidamente comprovada na execução de obras avulsas que não têm, efectivamente, resolvido a condição periférica e marginal de S. Jorge e por um profundo descontentamento da sociedade jorgense.
A ausência de uma estratégia para combater o isolamento e a desertificação, que estão indissociavelmente ligadas às graves carências no campo dos transportes, quer aéreos, quer marítimos, quer também de transportes terrestres dentro da própria ilha.
As carências de transportes não só estrangulam as actividades económicas locais, impedem o crescimento sustentado do sector do turismo, como contribuem para a desertificação das zonas rurais, com a concentração da população nos aglomerados urbanos. Impõe-se inverter esta tendência e reforçar decisivamente as ligações já existentes, assegurando, pelo menos, uma ligação marítima diária com a ilha, durante todo o ano, mas também a construção das infra-estruturas necessárias para a criação de uma nova ligação à ilha Terceira e daí à Graciosa, a partir do Concelho da Calheta, como forma de dinamizar esta área periférica e com isso a ilha no seu conjunto. S. Jorge tem uma situação geográfica que a coloca a meio caminho de todas as ilhas do grupo central (Velas/Horta – 22 milhas náuticas; Topo/Angra – 22 milhas náuticas)
Esta tendência para a descaracterização do meio rural é ainda agravada pelo encerramento de serviços e actividades, como as cooperativas leiteiras, escolas e, mesmo, de postos de atendimento de saúde. A concentração destes serviços, trazendo benefícios de curto-prazo, do ponto de vista da economia de recursos financeiros, trará graves e irreparáveis prejuízos a longo prazo, do ponto de vista da desertificação e descaracterização do espaço rural.
O que a natureza abençoou os sucessivos governos regionais condenam!
Aníbal Pires, IN Expresso das Nove, 20 de MArço de 2009, Ponta DElgada
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