Este texto foi escrito e publicado em Setembro de 2006.
Comemorou-se, na passada segunda-feira, mais uma efeméride dos trágicos acontecimentos que abalaram o Mundo no dia 11 de Setembro de 1973. Falo-vos deste e não de outro porque a comunicação social de referência, normalmente, se encarrega de trazer à memória um outro 11 de Setembro, mais recente e mediático. O mediatismo resulta-lhe, não do número de vítimas ou dos horrores com que os “media” ganham audiências mas, do interesse em manter viva a chama onde a política externa dos Estados Unidos e de alguns dos seus fiéis aliados se alimenta. Porque, se se tratasse do horror ou do número de vítimas a notícia de primeira página ou a abertura dos rádios e telejornais talvez fosse o 11 de Setembro que aqui trago à memória.
Em Santiago do Chile, no dia 11 de Setembro de 1973, consumou-se um violento golpe militar liderado por Augusto Pinochet que, pela força das armas e do apoio inequívoco da administração dos Estados Unidos e da sua Central de Inteligência (CIA), derrubou um governo democraticamente eleito, passou pelas “baionetas” nazis dezenas de milhares de cidadãos chilenos.
Uma das vítimas desse famigerado dia foi Salvador Allende, presidente eleito pelo povo chileno, em eleições livres e democráticas, e com o reconhecimento da comunidade internacional.
A dualidade de critérios, ou melhor dizendo, a hipocrisia com que os Estados Unidos se posicionam, desde sempre, na cena internacional é alvo, não obstante a propaganda e a defesa servil e “estranhamente” militante de algumas personalidades da nossa praça, de uma cada vez maior atitude crítica a que um número crescente de cidadãos está a aderir. Para essa mudança de disposição contribui a globalização da informação, que permite o acesso a fontes diversas e, consequentemente, a formação de opinião independente, mas contribuem, sobretudo as dúvidas (ou certezas) que pairam sobre a história de terror construída à boa maneira de Hollywood em contraponto à crueza da realidade que pouco a pouco vamos constatando.
Que credibilidade pode ter o governo de um país que fomenta o terrorismo, que acolhe no seu seio terroristas como Posada Carrilles e mantém presos, apesar da condenação internacional, cinco cidadãos cujo “crime” foi o de evitarem atentados terroristas contra um país livre e independente.
Que credibilidade se pode reconhecer no governo de um país que fomenta conflitos e guerras, que se ingere na política interna de países soberanos e que criou uma nova espécie de monstros, cuja face mais visível dá pelo nome de Bin-Laden, que actuaram em diferentes pontos do planeta (Bósnia, Kosovo, Tchechénia, Afeganistão, Iraque, etc.) para mais tarde se fazer sentir a “necessidade” de intervenção dos exércitos imperiais.
O 11 de Setembro de 1973 foi um dos muitos crimes contra a humanidade perpetrados pelo governo e “inteligência” estado-unidense e que não foram julgados nem condenados pelo Tribunal Penal Internacional.
O 11 de Setembro de 1973 foi o silenciamento, pelas armas e pelo terror, de um país e de um povo que ousou, através do voto democrático, dar o poder à diferença.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 07 de Setembro de 2006
(Publicado no jornal Expresso das Nove, em Setembro de 2006)
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