Os Setembros que precederam o presente foram recheados de acontecimentos. Uns mais, outros menos recentes, uns mais, outros menos marcantes, uns mais, outros menos lembrados. Há, porém no mês de Setembro um dia, o dia 11, sobre o qual muito se escreve e especula e que os órgãos de comunicação social ditos de “referência” fazem questão de nos bombardear a memória, classificando-o como um novo marcador da história da humanidade.
Mas outros 11 de Setembro houve, uns mais, outros menos recentes e sobre os quais pouco ou nada se diz nos “mass-media”.
Não me refiro sequer ao 11 de Setembro de 1217, data que marca a arremetida de uma coligação cristã (Bispos de Lisboa e Évora, abade de Alcobaça e expedicionários do Norte da Europa que se dirigiam para a Terra Santa) contra a praça árabe de Alcácer do Sal, considerada estrategicamente com a “porta do Algarve”. Acção levada a cabo contra a vontade de D Afonso II, Rei de Portugal alvo de um processo de excomunhão pelo Sumo Pontífice Romano.
Trago à vossa memória e reflexão um outro 11 de Setembro, o de 1973. Dia em que, com o apoio declarado e provado da CIA e da administração estado-unidense, Pinochet liderou um golpe militar que derrubou um governo democraticamente eleito e impôs uma ditadura militar. O golpe custou a vida a Salvador Allende e provocou dezenas de milhares de mortos. O “Eixo do Bem”, não só apoiou como participou neste crime contra a humanidade. Ainda hoje esperamos que os responsáveis sejam levados e julgados no Tribunal Penal Internacional.
As contradições que marcam as abordagens políticas e informativas de acontecimentos que têm em comum crimes hediondos, atentados à soberania dos estados, à democracia e à liberdade são um insulto à inteligência dos cidadãos.
Não posso, não podemos, aceitar apenas a versão da história que nos querem contar para esconder objectivos inconfessáveis. Existe uma outra história.
Não podemos nem devemos aceitar que em nome de Deus, de povos eleitos por Deus e do apelo aos céus, se continuem a cometer os mais hediondos crimes. Não é esse o ensinamento que se retira dos livros sagrados, sejam eles a Bíblia, o Corão ou a Tora.
Lisboa, 1 de Setembro de 2006
(Publicado no jornal A União, Angra do Heroísmo, em setembro de 2006)
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