quinta-feira, 19 de maio de 2016

Falta um pedaço de céu no horizonte (*)

Foto - Aníbal C. Pires
(*) Texto escrito e publicado em Junho de 2008 e hoje revisitado

Os utilizadores das novas tecnologias de informação e comunicação pesquisam e acedem à informação que desejam tendo a liberdade de escolher e de a confrontar com diferentes versões da mesma realidade. Esta é, sem dúvida, uma vantagem e, principalmente, uma alternativa à informação formatada que nos entra em casa pelas televisões e pelas rádios, pouco independentes, com uma visão unilateral do que se passa no País e no Mundo e, mormente, com graves omissões que escondem e escamoteiam visões diferentes da nossa contemporaneidade. Isto, claro está, se a pesquisa não se direcionar para os sítios e portais das grandes corporações que dominam o mercado da informação e comunicação. Se assim for teremos mais do mesmo, também nas plataformas virtuais de informação e comunicação.
Para além do acesso livre à informação os utilizadores da Internet recebem nas suas caixas de correio virtuais, informação avulsa, denúncias, apelos à mobilização em abaixo-assinados ou para a defesa de causas ambientais, sociais, e por aí fora ao sabor da imaginação, da indignação, mas também de muita manipulação.
As potencialidades da Internet vão muito para além das que referi e com inúmeras vantagens para quem domina estas nova tecnologia de informação e comunicação. Os sítios pessoais, os blogues, os grupos temáticos de discussão, as redes sociais, possibilitam a livre discussão e a circulação de ideias.
Importa, por tudo o que ficou dito, que a entrada neste mundo virtual e global, onde podemos encontrar de tudo, seja feita com espírito crítico fundado numa sólida preparação académica que permita a descodificação de conteúdos, a sua veracidade e a sua validade científica. A Escola está fortemente desperta para dotar as crianças e jovens dos saberes que lhes permitem a utilização destas ferramentas não está, porém, tão apostada, como deveria estar, em formar os seus aprendizes para as viagens no mundo virtual que, como qualquer viagem, encerra alguns perigos.
A propósito das novas tecnologias de informação. Um destes dias recebi um mail de uma cidadã sob a forma de grito de desespero e pedido de ajuda na salvaguarda das cidades e dos lugares desta Região, dos seus largos, das suas praças, enfim daquilo que nos torna diferentes e nos confere identidade pela memória presente do património construído com parcimónia, equilíbrio e harmonia.
Quanto ao grito de desespero, de momento, só posso fazer coro e gritar também, coisa que tenho feito de amiúde.

Foto - Aníbal C. Pires
Quanto ao pedido de ajuda dirigido a alguém que ponha cobro à destruição a que vamos assistindo um pouco por toda a Região na ânsia de uma uniformização que só poderá conduzir ao esgotamento do destino turístico Açores. A esse pedido de ajuda dirigido a alguém, tenho a dizer, para além de lamentar a desilusão que possa causar a minha resposta mas, Não há um “alguém” que acabe com isto. Teremos mesmo de ser nós e não uma qualquer entidade ou ser superior.
Só se poderá por cobro às aberrações como a do largo de S. João, em Ponta Delgada, ao abate de árvores centenárias, na Praça Francisco Ornelas da Câmara, na Praia da Vitória ou, àquela monstruosidade que está a ser erguida na Calheta de Pêro de Teive, na zona nascente de Ponta Delgada, quando os cidadãos o quiserem. Um querer coletivo e crítico de muitos “alguéns” que dê força a quem tem vindo a “gritar” contra as soluções arquitetónicas que descaracterizam as cidades e os lugares e, sobretudo contra os “donos da obra”, sejam Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais ou, o Governo Regional.
Agora uma árvore ou um largo, amanhã uma praça, depois um jardim, logo mais, um pedaço de céu no horizonte.
Ponta Delgada, 22 de Junho de 2008

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