Foto by Madalena Pires |
O que diverge na opinião publicada não é o reconhecimento das transformações, o que não é coincidente na opinião dos analistas e comentadores são as causas que lhe estão na origem. Por exemplo Marques Mendes, essa grande figura da política nacional que se transformou em analista e comentador residente numa das televisões nacionais, disse por estes dias que apesar do bom momento económico que Portugal atravessa não estamos a convergir com a Europa. O que Marques Mendes não explicou foi a que se deve o tal “bom momento económico”, nem as razões porque não estamos a convergir com a média europeia.
Uma outra eminência parda que não sendo comentadora nem analista, mas que tem como responsabilidade presidir ao Conselho Superior das Finanças Públicas(CSFP) também veio a terreiro com as suas doutas opiniões e que dizem bem da sua independência e imparcialidade política. Teodora Cardoso afirmou recentemente, a propósito do Orçamento de Estado para 2018, que "a proposta do OE2018 continua sobretudo empenhada em tirar partido da conjuntura favorável e em cumprir as regras apenas nos mínimos indispensáveis para obviar a desaprovação da Comissão Europeia.” A presidente do CSFP também não procurou explicações para aquilo que designa de “conjuntura favorável”, como se isso fosse uma espécie de bênção divina e não resultasse de ações concretas decorrentes de opções orçamentais que tiveram como consequência o aumento do rendimento das famílias, quanto ao cumprimento das regras, no mínimo, no meio ou no limite máximo, diz bem da subserviência política de Teodora Cardoso ao diretório que domina a União Europeia. Mas a presidente do CSFP não se fica por aqui e insiste que não é pelas opções orçamentais que se prevê uma descida de 1,4% do défice, em 2017, para 1%, em 2018, mas sim devido ao impacto da atividade económica, aos dividendos do Banco de Portugal e a outros efeitos não identificados. Não especificou, eu pelo menos não tenho conhecimento, qual o contributo destas três variáveis para a descida do défice público, mas valham-nos os todos os deuses, Então senhora presidente, os impactos da atividade económica e os dividendos do Banco de Portugal devem-se a quê, isto porque quanto aos efeitos não identificados enfim, abstenho-me de comentar. O dinamismo ou a anemia da atividade económica resultam, creio eu, das opções políticas traduzidas em sede de orçamento e que, naturalmente, têm repercussões na atividade financeira.
Foto by Aníbal C. Pires |
O que está na origem das alterações que se verificaram nos dois últimos anos resume-se a uma palavra, Rutura. Em 2015 quebrou-se o ciclo de austeridade e empobrecimento e tomaram-se medidas, ainda que insuficientes e incipientes de reposição de rendimentos e direitos aos trabalhadores e aos reformados e pensionistas. Foi pouco, mas foi o suficiente para alterar o cenário dramático que se vivia em Portugal. O Orçamento para 2018 dá mais uns passos na consolidação e avanço destas opções. Se só por si é suficiente para que o bom momento económico não seja apenas uma conjuntura favorável, Não. O aumento do consumo por via do aumento do rendimento tem de ser acompanhado por políticas que promovam o aumento da produção nacional e a redução da dependência externa. Se isto não for feito então sim, estaremos a falar apenas de conjunturas favoráveis ou, de um bom momento económico.
Ponta Delgada, 12 de Novembro de 2017
Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 13 de Novembro de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário