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A situação internacional é complexa e vai produzir, a prazo, efeitos que se irão prolongar para lá das assinaturas de paz que, mais tarde ou mais cedo, serão firmadas pelos representantes da Ucrânia e da Rússia, sob a égide de uma qualquer organização mundial, ou não, o que não é relevante, pois, as organizações supranacionais há muito que perderam importância, por omissão, por incumprimento, ou pela dualidade de atuação. Essencial é que paz retorne, não só a este conflito, mas a todos os que ocorrem pelo mundo.
Não tenho, sobre a guerra e as questões humanitárias que lhe estão subjacentes, uma opinião seletiva. Todas as vítimas e refugiados de guerra me merecem atenção e solidariedade. A afirmação anterior é, contudo, passível de que venha a ser entendida como uma espécie de apoio encapotado a um dos lados da guerra que assola os ucranianos (há 8 anos). E isto apenas por eu não ter isolado, numa bolha temporal e espacial, a guerra russo-ucraniana e ter referido o facto, indiscutível, de que a guerra na Ucrânia não teve o seu início no dia 24 de fevereiro. O que se iniciou a 24 de fevereiro foi a invasão russa e o alastramento da guerra a territórios ucranianos onde, até então, havia paz. Mas este é um risco que os cidadãos, como eu e muitos outros, corremos por não reproduzir a narrativa desenvolvida pela comunicação social de referência. Um risco assumido e que, como qualquer outro, tem os seus custos, mas nem por isso deixarei, sempre que necessário, de assumir enquanto a minha consciência assim o exigir.
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Em tudo o que escrevo sobre o assunto que domina a atualidade tenho evitado fazer referências às razões, aos timings, à capacidade ou incapacidade militar das partes em conflito e, sobretudo, a adjetivar os responsáveis diretos e indiretos pela guerra, pois, tenho cá para mim que um assunto complexo, como este, vai muito para lá das caraterísticas pessoais dos “líderes”, por essa razão considero que focar a atenção nos perfis dos atuais dirigentes russos, estado-unidenses, da NATO, da União Europeia, ou da China é redutor e simplista, e, por conseguinte, retira objetividade a qualquer análise que se pretenda fazer.
O tema já foi abordado na “Sala de Espera” e hoje, ainda que numa outra dimensão, volto a trazê-lo para convosco refletir sobre ele: a russofobia.
As sanções e a narrativa ocidental, porque há outras e não me refiro à narrativa russa, têm vindo a criar situações absurdas. Como, por exemplo, a tentativa de uma universidade italiana cancelar uma iniciativa sobre Fiódor Dostoievski, escritor russo nascido em 1821. Dostoievski é considerado uma referência da literatura mundial, mas também da filosofia, da psicologia e da teologia. A pergunta é: Qual a ligação de Dostoievski com a invasão russa da Ucrânia? Nenhuma. Então porquê? Por ter nascido na Rússia. Pois, mas não me parece justificável, nem aceitável.
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Para terminar deixo-vos com uma nota que até poderia ter a sua piada se não fosse ridícula. Alguns restaurantes retiraram das suas ementas o famoso “strogonoff”, não sei o que vai acontecer à “salada russa”, mas como medida preventiva talvez seja aconselhável não consumir.
Ponta Delgada, 22 de março de 2022
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 23 de março de 2022
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