segunda-feira, 30 de março de 2009

Que justificação para tamanha asneira

A agenda política volta a ser dominada pela questão da construção do navio Atlântida, mas mais do que a agenda política e dos posicionamentos mais ou menos levianos sobre este assunto, como por exemplo, a tomada de posição da Líder do PSD que opta pelo caminho mais fácil e populista ao afirmar que se dependesse do PSD, o mesmo é dizer se fosse a Presidente do Governo Regional, rescindia o contrato. Como dizia, mais do que a agenda política e os “fait-divers” da D.ra Berta Cabral, importa centrar a discussão no apuramento de responsabilidades por esta recheada “carteira de asneiras” que constitui todo um processo, sem fim à vista, que visa retomar a ancestral ligação marítima de transporte de passageiros entre as ilhas açorianas.
Quem do exterior observar estes episódios ficará por certo estupefacto com a inabilidade do Governo Regional em tomar as decisões acertadas que permitam retomar uma actividade que desde o século XV, ou seja, desde o povoamento até 1984 decorreu com a normalidade exigida a uma região insular e arquipelágica.
O transporte marítimo de passageiros não é, propriamente, uma actividade que decorra de recentes descobertas tecnológicas e científicas e o património nacional do saber e do saber fazer, quer ao nível da construção naval, quer ao nível da navegação marítima, vem de longe e, assim sendo, é incompreensível para qualquer cidadão que não tenha sido encontrada uma solução sobre a tipologia dos navios e um modelo de transporte marítimo de passageiros adequado aos nossos dias e que garanta uma opção de mobilidade interna em complementaridade ao transporte aéreo.
Nesta história não há justificação técnica e política que seja plausível e a opinião pública regional exige essa explicação a quem decide e a quem fiscaliza politicamente os actos de quem governa.
Assim, e face à continuada recusa do PS e do seu governo em prestar os devidos esclarecimentos ao Parlamento Regional os partidos da oposição tomaram a posição que o povo açoriano lhes exige propondo a criação de uma Comissão de Inquérito para apuramento das responsabilidades por esta história trágico marítima.
Aníbal Pires, IN Açoriano Oriental, 30 de Março de 2009, Ponta Delgada

sexta-feira, 27 de março de 2009

Soberania(s)

A globalização e as interdependências transformaram conceitos e subverteram princípios. Falar hoje de soberania nacional no contexto da globalização mas, sobretudo, no contexto da União Europeia (UE) é para alguns cidadãos e organizações uma coisa sem nexo e do passado. Não deixa de ter razão quem assim pensa ou, pelo menos, alguma razão pois alguns dos instrumentos que garantiam soberania dos estados da UE foram-lhes subtraídos em nome da supra nacionalidade que preside a um certo modelo de construção e integração europeia.
Um desses instrumentos e talvez o mais emblemático e de fácil compreensão, foi a integração na união monetária que se traduziu na perda da moeda nacional, no caso português: o escudo.
A perda não foi meramente afectiva mas de ordem política, financeira e económica. Os efeitos da adesão de Portugal ao euro teve, desde logo, como efeito mais visível e também mais pernicioso a transferência para o Banco Central Europeu de competências do Banco de Portugal ao nível das políticas cambiais que, como se sabe, constituem um instrumento de intervenção que possibilita ajustar o valor moeda às conjunturas do mercado e do comércio internacional. Isto para não falar na subida generalizada dos preços dos produtos e serviços, por via dos arredondamentos e pela especulação. Sobre esta questão escrevi em artigo de opinião há alguns anos atrás em que afirmava, grosso modo, que a generalidade os portugueses nada tinha beneficiado uma vez que a realidade era (é): “ganhamos em escudos e pagamos em euros”. E assim é, de facto, salários baixos (portugueses), preços altos (europeus).
Mas se a questão da moeda é uma evidência existem, contudo, outros aspectos que não são tão lineares mas que conformam o nosso dia a dia e que resultam de opções políticas tomadas em Bruxelas e subscritas, por Lisboa e Ponta Delgada ou, pelo menos sem uma oposição clara na defesa dos interesses nacionais e regionais.
O país tem sido desbaratado em nome de um modelo de construção europeia assente em princípios federalistas e centralistas que servem os oligopólios transnacionais e que pouco têm a ver com o respeito pelos povos e pela soberania. A perda de soberania sobre a Zona Económica Exclusiva (ZEE) é um exemplo paradigmático. Os mares nacionais deixaram de o ser, em nome não se sabe bem do quê, e passaram a ser comuns, ou seja, da União Europeia. Para Portugal este facto é tanto mais penalizador porquanto dos 27 estados-membros o nosso país é (era) o que possui a maior ZEE e a maior linha de costa marítima e para este facto os Açores contribuíam decisivamente pois, é (era) no arquipélago açoriano que a ZEE e a linha de costa marítima portuguesas davam essa dimensão a Portugal.
Um outro aspecto prende-se com a destruição de alguns sectores económicos que pela sua natureza constituem, sem sombra de dúvidas, uma questão de soberania.
A Portugal coube, no contexto da economia europeia, a prestação de serviços e a produção de produtos florestais para alimentação da indústria da celulose. Os sectores produtivos da produção e da transformação foram paulatinamente desmantelados e a economia nacional debilitou-se e ficou mais vulnerável a ciclos económicos recessivos.
A agricultura é disto um bom exemplo. O conhecimento do pagamento de subsídios para não produzir é público, a modernização do sector não passou de uma falácia pois os países da União Europeia eram, há altura da adesão de Portugal, excedentários em produtos agrícolas e pecuários e, como tal, a entrada de mais um produtor nada acrescentava a não ser dificuldades a quem, no sector agrícola europeu, já dominava.
A agricultura para além dos aspectos económicos tem associado um importante papel estruturante e uma insubstituível utilidade social – garantir a soberania alimentar do país.
A agricultura regional e nacional foi perdendo, por força das políticas comuns, essa utilidade social. A maior parte dos produtos alimentares que consumimos, em particular os hortícolas e os frutícolas, são produtos de importação. A Região e o País são dependentes de produtos alimentares e a este facto, quer se concorde quer não, corresponde uma efectiva perda de soberania nacional.
Aníbal Pires, IN Expresso das Nove, 27 de Março de 2009, Ponta Delgada

quinta-feira, 26 de março de 2009

Não, ainda não...

Não consegui!
Não por não querer,
não por olvidar,
não por não arquitectar
mas... pelo tempo.

Apenas tempo!
É tudo uma questão de tempo.
O maldito tempo
Que a seu tempo
desejei só para mim
mas... o tempo ditou-me
um tempo sem tempo.

A seu tempo
haverá tempo
para olhar
para sorrir
para escutar
A seu tempo
... será o tempo dos oprimidos.
O tempo da dignidade!

segunda-feira, 23 de março de 2009

Militantemente

Por mais que tente entender a paradoxal acção política de Paulo Casaca não consigo e garanto que tenho feito um enorme esforço para compreender a sua militância na defesa e evangelização das virtualidades da política externa dos Estados Unidos sendo, esta personalidade, um eurodeputado socialista e não um membro republicano do Congresso estado-unidense.
O percurso e intervenção política, do agora candidato antecipadamente vencido à Câmara Municipal de Ponta Delgada, só pode ser entendido à luz da sua fidelidade ideológica aos “falcões” do Pentágono e do poder económico que estas aves de rapina representam ou, então, à ausência de um esqueleto político. As duas hipóteses não são serão de todo inconciliáveis se considerarmos as palavras com que Paulo Casaca brindou a opinião pública regional e nacional nas declarações que fez no quadro do diferendo que mantém com um periódico nacional e durante a sua apresentação pública como candidato do PS à Câmara Municipal de Ponta Delgada e que representam um enorme contributo para a compreensão do seu posicionamento e percurso político.
A ausência de esqueleto político adequa-se à sua fidelidade a um quadro ideológico que é por definição invertebrado. Paulo Casaca ao contrário do que possa aparentar tem uma visão unilateral da história é um adepto da uniformização do pensamento e está barricado ao lado de José Sócrates e do “malhador” contra tudo o que mexa em direcção contrária. E, veja-se só, não se coíbe de papaguear os chefes na verbalização mistificadora da instrumentalização da luta de massas pelo PCP. O PCP não esconde a ninguém (basta ler os seus documentos) que a luta de massas é determinante para alterar o rumo das políticas que nos atiraram para a crise e que o continua a ser para travar a reconfiguração de um modelo financeiro e económico que faliu. Daí à instrumentalização… Enfim! Os mais de 200 mil não serão estúpidos. A hora é de transformar não de reconfigurar!
Não é apenas Jerónimo de Sousa que o diz! Basta pesquisar e facilmente se encontra a opinião de conceituados especialistas dos Estados Unidos e do Canadá, isto para não sair do continente norte-americano, que avisaram atempadamente e que, sobretudo, quando a bolha rebentou manifestaram a opinião de que estava criada a oportunidade para acabar de vez com o modelo financeiro virtual que só pode conduzir ciclicamente à recessão.
Anibal Pires, IN Açoriano Oriental, 23 de Março de 2009, Ponta Delgada

sábado, 21 de março de 2009

Porque hoje é Primavera

Há tempos por via do meu filho João descobri um blogue (está na minha lista) que tem uma denominação biblica: "E Deus Criou a Mulher".


É um hino permanente ao feminino.
Aqui ilustrado pela bela e sensual Angelina Jolie.
As opiniões sobre os conteúdos podem ser as mais diversas mas não resisto a recomendá-lo neste inicio de Primavera.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Abençoada ou … condenada

As ilhas dos Açores estão inseridas numa região atlântica que pela sua singularidade preservaram um conjunto de exemplares da flora que remontam ao período terciário. Este facto mereceu-lhe a designação Macaronésia. O nome é originário do Grego: "makáron" => feliz, afortunado; e "nesoi" => ilhas, de onde resulta a designação de "ilhas Abençoadas" ou "ilhas Afortunadas.
Quando viajamos pelas ilhas açorianas bem podemos constatar a bênção com que a natureza as dotou. Com excepção das ilhas Canárias, nos arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira e Cabo Verde) não havia população autóctone. A humanização da paisagem, nos quatro arquipélagos, decorrente do uso da terra e do território transformou a paisagem e acrescentou-lhes um património histórico e cultural diverso, mas singular que, a par do património natural endémico, dotam estas ilhas de características únicas que importa valorizar, enquanto potencial de desenvolvimento integrado, e preservar de modelos atípicos de modernização e uniformidade.
Estive recentemente na ilha de S. Jorge em visita enquadrada pelo mandato popular que me foi conferido e no cumprimento do dever, a que estou obrigado, de procurar conhecer com profundidade cada um dos círculos eleitorais da Região Autónoma dos Açores. A cada passagem por S. Jorge aumenta a minha incompreensão e, porque não, a revolta pelo abandono a que o poder executivo regional tem votado esta ilha. Ilha abençoada pela natureza, onde o investimento público revela uma ausência de estratégia de integração e desenvolvimento devidamente comprovada na execução de obras avulsas que não têm, efectivamente, resolvido a condição periférica e marginal de S. Jorge e por um profundo descontentamento da sociedade jorgense.
A ausência de uma estratégia para combater o isolamento e a desertificação, que estão indissociavelmente ligadas às graves carências no campo dos transportes, quer aéreos, quer marítimos, quer também de transportes terrestres dentro da própria ilha.
As carências de transportes não só estrangulam as actividades económicas locais, impedem o crescimento sustentado do sector do turismo, como contribuem para a desertificação das zonas rurais, com a concentração da população nos aglomerados urbanos. Impõe-se inverter esta tendência e reforçar decisivamente as ligações já existentes, assegurando, pelo menos, uma ligação marítima diária com a ilha, durante todo o ano, mas também a construção das infra-estruturas necessárias para a criação de uma nova ligação à ilha Terceira e daí à Graciosa, a partir do Concelho da Calheta, como forma de dinamizar esta área periférica e com isso a ilha no seu conjunto. S. Jorge tem uma situação geográfica que a coloca a meio caminho de todas as ilhas do grupo central (Velas/Horta – 22 milhas náuticas; Topo/Angra – 22 milhas náuticas)
Esta tendência para a descaracterização do meio rural é ainda agravada pelo encerramento de serviços e actividades, como as cooperativas leiteiras, escolas e, mesmo, de postos de atendimento de saúde. A concentração destes serviços, trazendo benefícios de curto-prazo, do ponto de vista da economia de recursos financeiros, trará graves e irreparáveis prejuízos a longo prazo, do ponto de vista da desertificação e descaracterização do espaço rural.
O que a natureza abençoou os sucessivos governos regionais condenam!
Aníbal Pires, IN Expresso das Nove, 20 de MArço de 2009, Ponta DElgada

terça-feira, 17 de março de 2009

Elocuções… da língua

Bífida
Da Sogra… e do gato
Más línguas
De serpente e de vaca
Lambe
Afiada
Lambuza
Papila
Sem papas
Gustativa
Boa
Cantada
Paladar
Prova
Oral
Enredado
Aflora entre os dentes
A ponta
Ah! Quero-a
Assim…
Atrevida… Deleitosa
Dá…
À língua sem parar
Em perpétuo linguajar
Ou…
Num linguado acabado de pescar.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Velas-Horta de "semi-rígido"

Não estava tempestuoso
Inspirava respeito e… algum receio
Do “Apneia” olhava a vastidão do canal
O Pico em frente, o Faial perdido na bruma
Vento Oeste levantava a vaga
A conversa corria entre o mar e o vento para afastar o temor da primeira vez.
- Pela manhã estava melhor.
- Pois é! Deviam ter vindo.
- O mestre Norberto lá terá as suas razões. Achou conveniente vir só à tarde.
- Quem vem é o Michael Costa.
- Saiu depois de almoço da Madalena e deve vir meio canal.
- Olha! Tás a ver?
- Lá pró meio do canal. Nesta direcção.
- Além!
- Sim, além ao longe.
- Não, não vejo
- Ah! Sim no cimo da vaga, já vi.
Por vezes apontava a proa ao céu para logo mergulhar na vaga e fugir do alcance da vista.
- Vamos!
No cais das Velas o Raimundo e o Francisco diziam:
- Se rumarem ao Cais do Pico vão sempre a apanhar com a vaga de estibordo
- Apanham a abrigada de terra e depois da Madalena se verá.
Mãos crispadas no apoio frontal.
Corpo tenso e o espírito aberto.
Logo que dobrámos a ponta do molhe o primeiro embate com a vaga.
Alguns minutos depois a confiança instalou-se e com ela o prazer de navegar com o Pico ali ao lado e o Faial a assomar da bruma.
- Olha! Já se consegue ver o recorte da Ponta da Espalamaca.
A vaga era agora mais alta e larga e a navegação adaptou-se-lhe.
A entrada na baía da Horta foi feita a grande velocidade até que a polícia marítima se acercou e ordenou que a circulação fosse feita a baixa velocidade.










Foram 22 milhas náuticas de emoção entre Velas de S. Jorge e a Horta no Faial.

Eleições 2009 – Autarquias

Concluo hoje, com uma breve reflexão sobre as eleições autárquicas, uma abordagem ao ciclo eleitoral de 2009 reafirmando uma ideia que julgo deve presidir ao juízo popular, apesar do carácter diverso dos três actos eleitorais a que os portugueses vão ser chamados durante este ano: o ciclo eleitoral não pode, nem deve ser desligado da luta geral contra a ofensiva das políticas de direita protagonizadas, paradoxalmente, por um partido que agora com a proximidade dos sufrágios populares, com grande insolência, diz ao povo português que vai voltar à esquerda.
É necessário e urgente levantar da poeira da memória recente tudo o que foi prometido e não foi cumprido pelo PS de José Sócrates e pelos seus fiéis seguidores! É necessário e urgente levantar da poeira do tempo que foi em nome de um projecto de esquerda que os portugueses votaram em 2005!
A proximidade dos governos locais com as populações e a dimensão de envolvimento e participação democrática conferem a estas eleições características muito próprias, porém, também este acto eleitoral não deve ser desligado de projectos integrados de desenvolvimento local que rompam com as rotinas instaladas e com as dependências tutelares de quem governa na Região e no País.
Não colocando em causa a legitimidade que assiste a todas as forças partidárias que irão concorrer às autarquias de estabelecerem os seus objectivos eleitorais, contudo, julgo que os desafios autárquicos terão de ir muito para além das lutas pela maioria das presidências de câmara ou pelo maior número de autarcas eleitos. Esse é um desafio em que para conseguir satisfazer a ânsia de vitória tudo vale. Tudo vale menos aquilo que vincula verdadeiramente os eleitos aos eleitores, ou seja, o projecto de desenvolvimento para a Freguesia ou para o Concelho.
Os eleitores devem, para lá da importância que neste acto eleitoral – mais do que em qualquer outro – têm os protagonistas, fazer as suas opções pelos projectos e candidaturas ancorados na sustentabilidade e na participação colectiva. Projectos que verdadeiramente respondam às necessidades e anseios das populações sem colocar em causa o futuro.
Aníbal Pires, IN Açoriano Oriental, 16 de Março de 2009, Ponta Delgada

sexta-feira, 13 de março de 2009

Contas públicas

A conta da Região relativa ao ano de 2006 foi aprovada na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) no plenário de Fevereiro.
Coube a Sérgio Ávila, Vice-presidente do Governo Regional a justificação e defesa das críticas que lhe foram endossadas pelas oposições aquando da apreciação do exercício financeiro e execução orçamental de 2006 deixando, porém, muitas questões sem a devida resposta e justificação
Mais do que os números propriamente ditos, cuja legalidade foi já apreciada pelo Tribunal de Contas e que não questiono, a conta da Região é a imagem de uma determinada forma de gerir a Região, de ordenar projectos e prioridades.
Duma análise, mesmo que sumária, da Conta, ressalta desde logo o descontrolado aumento do endividamento do Sector Público Empresarial da Região, que atinge proporções verdadeiramente preocupantes.
E, se por um lado o endividamento é uma resultante natural da execução de projectos, a realidade é que, para tanta dívida, tão pouca obra com objectivo reprodutivo e de desenvolvimento harmonioso e sustentável se vê!
De igual forma, prova-se à saciedade que a criação de empresas para a prossecução da acção do Governo é uma opção política errada, que não é nem mais barata nem mais eficaz. Tanto os números como o descontentamento dos utentes destes serviços não deixam margem para dúvidas: é preciso mudar estas políticas!
Existem, também e é de lamentar que assim seja, práticas algo nebulosas, como assumpção, pela Região, de encargos sem cabimento orçamental, o que é grave e deveria ter sido cabalmente esclarecido pelo Governo perante a ALRAA.
Das múltiplas questões e dúvidas que a Conta de 2006 levanta, uma, no entanto, afigura-se central. É que, julgo eu, num estado Direito os fundos públicos têm de ser geridos com o devido rigor, isenção e transparência e ser sujeitos às instâncias de fiscalização estabelecidas, nomeadamente a Assembleia Regional.
Ora, a verdade é que a análise da Conta de 2006 não permite ajuizar com clareza, onde, como, porquê e a quem é que foram distribuídos alguns apoios e quais foram os critérios que presidiram à sua atribuição. É o próprio Tribunal de Contas que o diz, não eu, e passo a citar: “A atribuição de apoios fora da esfera do legalmente estabelecido, além de discricionário, é potencialmente violadora dos princípios constitucionais da igualdade, proporcionalidade, justiça e igualdade”.
Trata-se de uma questão estrutural da nossa democracia! Os apoios atribuídos pelo Governo Regional devem ser aplicados onde são mais úteis e necessários, e não servir de espúria moeda de troca em obscuras transacções de influência política e eleitoral, utilizando os fundos públicos para servir o objectivo da perpetuação no poder do partido do Governo.
Sem que exista a urgente clarificação de critérios, sem que aconteça a necessária sistematização de informação, continuaremos numa situação onde a opacidade reina, onde toda a arbitrariedade é permitida, onde as sobreposições de apoios são frequentes, onde os recursos públicos são esbanjados, em suma, sem quê nem porquê!
O Tribunal de Contas já tem reiterado diversas recomendações sobre este assunto, mas o Governo continua fazer ouvidos de mercador e a utilizar os fundos públicos ao serviço das suas ignoradas prioridades e a alimentar obscuras agendas.
Inadmissível! Lamentável!
Aníbal Pires, IN Expresso das Nove, 13 de Março de 2009, Ponta Delgada

quarta-feira, 11 de março de 2009

Bênção telúrica

Escarpas abruptas
Místicas Fajãs
Caminhos do mar
E o Pico ali!
Ao alcance do olhar sobre o canal
Tão perto!
E tão distante!
Por vontade dos homens
Se moldou a pedra de lava e a história
Por vontade dos homens
A memória expira
Sob asfalto e betão
O singular vulgariza-se
Em S. Jorge























S. Jorge (entre a Calheta e as Velas), 10 de Março de 2009

terça-feira, 10 de março de 2009

Eleições 2009 – AR

As eleições para a Assembleia da República, lá para Setembro, assumem no quadro nacional uma importância sem precedentes.
O governo do PS de José Sócrates penalizou as micros, pequenas e médias empresas, empobreceu os trabalhadores de todas as condições, aumentou a carga fiscal, com a consequente diminuição do rendimento das famílias, promoveu a concentração da riqueza, as desigualdades sociais e económicas agravaram-se. Nem os governos do PSD, com ou sem o CDS/PP, foram tão longe na ofensiva contra os direitos sociais e as conquistas civilizacionais do século XX.
O primeiro-ministro e o seu governo, Carlos César e os seus governos, mais do que a crise internacional, são responsáveis pela profunda degradação social e económica em que o País e a Região estão mergulhados.
O PS de José Sócrates é responsável pelo aumento da precariedade, do desemprego e de um novo Código de Trabalho que introduz nas relações laborais normas gravosas que se aproximam perigosamente das ancestrais doutrinas do trabalho serviçal ou, mesmo da ausência de normas que caracterizam o trabalho escravo.
Não é de somenos importância para o povo açoriano que a sua representação na Assembleia da República seja, como o é na Região, plural e diversificada garantindo que os interesses regionais não se diluam entre os a proximidade dos projectos políticos do PS e do PSD e de lutas personalizadas pelo poder.
Esta batalha eleitoral não pode, nem deve ser desligada da luta geral contra a ofensiva das políticas de direita protagonizadas, paradoxalmente, por um partido que agora, com a proximidade do sufrágio popular, e com grande desfaçatez diz ao povo português que vai voltar à esquerda.
É necessário e urgente levantar da poeira da memória recente tudo o que foi prometido e não foi cumprido pelo PS de José Sócrates!
É necessário e urgente levantar da poeira do tempo que foi em nome de um projecto de esquerda que os portugueses votaram em 2005!
Aníbal Pires, In Açoriano Oriental, 09 de Março de 2009, Ponta Delgada

domingo, 8 de março de 2009

Juntos pela igualdade

O tempo consome
Num ápice
O ensejo.
Depois do tempo
Outro tempo vem
A oportunidade foi-se
A esperança permanece
Renova-se a cada momento
No tempo
Que já é
De por termo
À violência
À intolerância
À discriminação
Que separa os géneros
Unidos
Pela diferença
Da condição Humana!

Um de entre outros...

Um de entre outros motivos porque vale a pena acreditar que é possível... Sim! É possível um Mundo melhor!

No "cantigueiro" podem ver e ouvir um grande exemplo de amor à música e há humanidade.
Um exemplo que vem de um continente esquecido e mil vezes vandalizado. África! Onde o caminho da humanidade teve a sua génese.
Só posso agradecer ao Samuel pelos momentos que acabei de viver e estender o meu abraço ao Manuel Freire (a quem estou em dívida, pela ausência) por ter dado a conhecer este exemplo que, agora, o cantigueiro Samuel nos oferece no seu blogue.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Serviço público

A RPT Açores foi notícia entre meados de Janeiro e meados de Fevereiro o que, em si mesmo, é já um facto pois a RTP Açores existe para noticiar e não para ser objecto da notícia. Os motivos, que fizeram da rádio e televisão pública nos Açores notícia, foram diversos e um dos últimos episódios, o que supostamente pretende encerrar o presente ciclo de discussão sobre a RTP Açores, não passou de uma tentativa para branquear as suas vulnerabilidades. Vulnerabilidades que se mantêm para lá do anúncio da construção de novas instalações. Até a localização das futuras instalações da RTP Açores, que o presidente do Governo Regional remeteu para o espaço do antigo matadouro de Ponta Delgada, evidenciam que este assunto não está a ser tratado com a seriedade que devia merecer.
É do domínio público que existe uma divergência, entre a Câmara Municipal de Ponta Delgada e o Governo Regional, sobre a posse dos terrenos do antigo matadouro. Incompreensivelmente sobre este assunto de interesse público não houve entendimento político e o processo foi remetido para os tribunais ajuizarem. Conhecendo a celeridade da justiça portuguesa isto significa que a afirmação de Carlos César vale o que vale, e que a construção do novo Centro Regional da RTP Açores foi remetida para as “calendas gregas”, até porque não se sabe a quem o tribunal, quando vier a decidir sobre o assunto, atribuirá a posse dos terrenos públicos em disputa pelos poderes local e regional. E, sejamos pragmáticos, qualquer que seja a decisão do tribunal haverá os consequentes recursos e por aí fora…
Para além do tempo e da decisão que vier a ser tomada sobre a posse dos terrenos do matadouro há, ainda, um outro factor que não é, de todo, despiciente e que ilustra a leviandade com que Carlos César fez o anúncio. O Governo Regional e a Câmara Municipal assumiram o compromisso com Junta de Freguesia de Santa Clara de que seriam os santaclarenses a decidir que destino e utilidade teria o antigo matadouro. O Presidente do Governo Regional antecipou-se e já resolveu em nome dos fregueses de Santa Clara.
Uma certa forma de encarar o exercício do poder! Acalma-se a opinião pública com o anúncio da disponibilização de um terreno para a construção do Centro Regional da RTP Açores, como se este fosse o remédio para todos os males de que padece a rádio e a televisão pública na Região, e apaga-se da memória o compromisso com os representantes da freguesia de Santa Clara evitando, assim, o risco de alguma pretensão popular que não se enquadre na ambição do poder regional.
Quanto à RTP Açores! Não subsistem dúvidas que necessita de novas instalações, em Ponta Delgada, em Angra do Heroísmo e na Horta e, todos estaremos de acordo se à relação de necessidades acrescentarmos equipamento e pessoal. Mas tudo isto não chega. Nem chega a solução mais simplista e redutora e, quiçá, a mais popular que é o afastamento do actual director.
A questão é estrutural e não pode andar ao sabor de visões mais ou menos centralistas do Conselho de Administração da RTP, SA, ou ao bom, ou mau relacionamento político do Presidente do Governo Regional com… quem quer que seja.
A defesa do serviço público de rádio e televisão na Região terá de passar, incontornavelmente, por dotar a RTP Açores dos meios necessários que lhe garantam autonomia editorial, administrativa e financeira, valorizando a produção de conteúdos próprios e reocupando o espaço que tem vindo a perder, não tanto por força da concorrência, mas sobretudo pela vulnerabilidade e fragilidade a que as estratégias políticas e empresarias da RTP, SA a têm sujeitado com uma clara desvalorização e menorização dos seus profissionais.
A autonomia editorial, administrativa e financeira que se preconiza para o serviço público de rádio e televisão nos Açores não se consegue com boas vontades ou compromissos de circunstância mas com alterações legislativas que reconheçam as especificidades deste serviço público numa região como os Açores.
Aníbal Pires, In Expressso das Nove, 06 de Março de 2009, Ponta Delgada

quinta-feira, 5 de março de 2009

Bem-haja Dona Clara Queiroz!

O médico de clínica geral, o analista, o psiquiatra, os amigos, a esposa, os filhos, até a minha neta, me foram dizendo que não era necessário agradecer-lhe pois era perceptível que a Senhora me tinha aconselhado de boa fé e, que quando assim é as pessoas não esperam agradecimentos e até poderia parecer mal aos seus olhos.
Mas eu, pela educação que os meus pais me deram, sou uma pessoa que sei reconhecer quando se preocupam comigo e, assim sendo, achei que era minha obrigação demonstrar a minha gratidão!
Para ficar bem com a minha consciência vim a público, não na minha limitada colunazita do Açoriano Oriental (AO) mas aqui perante a o Mundo, agradecer a atenção que me dispensou e os avisados conselhos com que à uns dias atrás me brindou em texto de opinião no prestigiado AO.
Estou-lhe sinceramente agradecido embora tenha consciência que o fez de uma forma desprendida e altruísta e, por essa razão, este manifestação pública de gratidão pode até parecer-lhe desnecessária mas, como já atrás referi, os meus princípios assim me aconselharam.
Fico-lhe, por isso, eternamente grato por tudo!
E para que possa continuar a aconselhar-me deixo-lhe algumas “dicas” para que possa ajuizar ainda melhor e ser mais eficaz no seu aconselhamento.
1.ª – Eficácia/Competência – Quando disparo nunca é na nuca é sempre olhos nos olhos, isto é, na fronte. Aliás como costumo fazer na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores;
2.ª – Morder – Não costumo (os meus dentes já não são o que eram)! Quando muito mordiscar com cuidado e muito critério;
3.ª - Medicação – Tomo diariamente. A idade a isso obriga e não tenho pejo nenhum em reconhecer que já não sou um jovem.
4.ª – Meios hostis – Dou-me bem na água, no mar, em terra, na selva, no deserto, tenho algumas dificuldades no círculo polar árctico em virtude dos fenómenos de encolhimento;
5.ª – Perder a cabeça – Muito dificilmente!
6.ª – Ombros amigos – Não faltam por aí mas o meu critério tem uma malha muito apertada e prefiro mesmo o conforto da leitura, da música e de outros prazeres menos ou mais tangíveis;
7.ª – Pedalada – De facto tenho alguma dificuldade em andar de bicicleta mas ando bem em veículos de duas rodas desde que devidamente motorizados;
8.ª – Desespero/Irritação/Zangado – Muito dificilmente perco a cabeça, com já referi, e raramente estou de “trombas”. Sou por natureza uma pessoa bem disposta e bem-humorada.
9.ª – Campo inimigo – Aí está! Quem será o inimigo? Onde estão e como se situam os meus adversários (prefiro este termo)!? Preciso de fazer uma reciclagem em orientação para encontrar o tal pescoço. Talvez aqui pudesse ser mais específica e me pudesse dizer, claramente, onde está o alvo. Garanto-lhe que lhe darei o tiro na testa.

Renovo os meus agradecimentos.
Bem-haja Dona Clara Queiroz!

Dia F

Hoje não vou tecer comentários sobre o tema do Dia F apenas adiro à chamada do Fiat Lux.

Aqui podem ver um post que publiquei a 20 de Julho sobre o tema.

Hoje vou estar em visita às obras da Fajã do Calhau.

quarta-feira, 4 de março de 2009

A crise no seu melhor... ou pior

A crise é, já sabemos, financeira e económica mas o seu alcance e efeito vai muito mais além.










Ela (a crise) é social, cultural, linguística!
Propaga-se como um vírus e tudo e todos atinge.
As fotos, que um amigo me fez chegar, estão referenciadas a Faro.
Bem! Assim sendo, talvez não seja a crise e tudo não passe de um fenómeno de aculturação de raiz anglófona.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Um ano na blogosfera

Completa-se hoje um ano que o “momentos” entrou na blogosfera.
Não vou fazer retrospectivas nem me atrevo a anunciar o que quer que seja.
Dizer apenas que está a ser uma experiência interessante e que a quero manter.
Hoje renovo as fotos e as sugestões de leitura com a promessa de não deixar de o fazer com mais regularidade.

Ao longo deste ano aconteceu a morte e a vida!
Percorri um caminho de emoções que a momentos partilhei convosco!


São pedaços, registos, instantes, olhares, notas à solta… em palavras, imagens e emoções.

Eleições 2009 – PE

O ciclo eleitoral de 2009, com a realização de eleições para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e para as Autarquias não pode, nem deve, apesar do seu carácter distinto, ser descontinuado da responsabilidade de quem executou as políticas que nos conduziram à crise em que a Região, o País e a União Europeia estão mergulhados. Há responsáveis! E a impunidade não pode continuar a ser norma.
Os cidadãos têm, durante 2009, a oportunidade de penalizar quem alimentou e alimenta a ideia e põe em prática as políticas que acentuaram os efeitos da crise do capitalismo neoliberal e que agora procura escamotear a sua acção ou inacção e se desculpabiliza nos “excessos” e na “irresponsabilidade” de alguns sectores da actividade financeira.
Os cidadãos têm, durante 2009, a oportunidade de confiar o seu voto a quem alertou, em tempo útil, para os sinais da crise e propôs medidas e políticas alternativas que, sendo certo não a evitariam na sua expressão mais terrível poderiam, todavia, atenuar os seus efeitos sobre a economia regional e nacional e sobre o rendimento e os direitos sociais e laborais dos trabalhadores, independentemente, de pertencerem ao sector privado ou público, dos seus vínculos ou das suas qualificações académicas e profissionais.
A crescente importância e, sobretudo, a consciência individual e colectiva de que as políticas europeias comuns conformam, para o melhor e para o pior, a vida dos cidadãos, das organizações e das economias locais e regionais não pode continuar a traduzir-se no alheamento dos cidadãos. As elevadas taxas de abstenção que se têm verificado nas eleições para o Parlamento Europeu, só beneficia as forças partidárias que têm dado cobertura às políticas de direita, protagonizadas na Região e no País pelo PS, e não valoriza quem, apesar da sua reduzida representação, tem assumido a defesa dos interesses regionais num quadro integrado da defesa dos interesses de Portugal.
“Lá se fazem cá se pagam!”
É da sabedoria popular e que bem se pode aplicar à avaliação do trabalho dos deputados portugueses no Parlamento Europeu, quando em Junho se proceder ao acto eleitoral que elegerá por mais 5 anos os 22 deputados portugueses que representarão e defenderão os interesses específicos da Região, num quadro de defesa dos interesses nacionais.
Aníbal Pires, IN Açoriano Oriental, 02 de Março de 2009, Ponta Delgada

domingo, 1 de março de 2009

Tempo para a Margarida

Os últimos dias foram dedicados à família e em particular à minha neta que já não via desde o princípio do ano.

Fez hoje 5 meses e continua parecidíssima com o avô. Há quem não ache mas...

O tio não larga a Margarida e está a assumir-se como o seu guardião-mor!













Não foi fácil deixar atrás quem nos prolonga no tempo!


O ciclo eleitoral de 2009

É necessário e urgente levantar da poeira da memória recente tudo o que foi prometido e não foi cumprido pelo PS de José Sócrates!
É necessário e urgente levantar da poeira do tempo que foi em nome de um projecto de esquerda que os portugueses votaram em 2005!
Os portugueses votaram à esquerda e foram governados à direita!
Não deixemos que a maquilhagem de esquerda com que o PS se está a travestir possa, de novo, recolher o apoio eleitoral absoluto.
Os portugueses têm, durante 2009, a oportunidade de penalizar quem alimentou e alimenta a ideia e põe em prática as políticas que acentuaram os efeitos da crise do capitalismo neoliberal e que agora procura escamotear a sua acção, ou inacção, e se desculpabiliza nos “excessos” e na “irresponsabilidade” de alguns sectores da actividade financeira.
Não brinquemos com coisas sérias!