terça-feira, 10 de novembro de 2020

ao Mário Abrantes pelo 15.º aniversário da Freguesia de Santa Clara



Homenagem a Mário Wrem Abrantes da Silva 

15.º aniversário da criação da Freguesia de Santa Clara



Senhor Secretário Regional, Dr. Rui Bettencourt, em representação do Presidente do Governo Regional,

Senhora Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Dra. Maria José Duarte,

Senhor Presidente da Assembleia de Freguesia de Santa Clara

Senhor Presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara

Caros homenageados,

Senhoras senhores, caros amigos,


Tenho consciência que não sou o mais qualificado e, sobretudo, o mais independente cidadão para vos dirigir algumas palavras que possam caraterizar o percurso de intervenção cívica e política do Eng. Mário Wrem Abrantes da Silva.

Entendeu, porém, a Junta de Freguesia endossar-me o convite para o fazer, o que agradeço e muito me honra, por outro lado esta é a oportunidade de me associar à homenagem pública ao meu camarada e amigo Mário Abrantes que, em boa hora, a Junta de Freguesia de Santa Clara decidiu promover.

Mas, como dizia, não sou o orador mais qualificado por que existem outros cidadãos que conhecem bem melhor a globalidade do percurso cívico e político do Eng. Mário Abrantes, lembro-me, por exemplo de José Decq Mota com quem o Mário Abrantes dividiu tarefas e responsabilidades políticas durante um período, ainda conturbado da democracia açoriana, e que juntos continuaram durante muitos anos uma caminhada de afirmação e de consequente reconhecimento social e político da importância do PCP na vida política regional, mas para não dizerem que sou sectário e aludi apenas a um outro camarada meu, refiro, dois cidadãos, muitos mais haverá, que comungando de alguns pontos de vista com o do Eng. Mário Abrantes, não partilham do mesmo quadro ideológico, mas que estariam, quiçá por isso mesmo,  mais habilitados que eu para vos falar sobre o cidadão Mário Abrantes e refiro-me, concretamente a Monsenhor Weber Machado e ao Senhor João Pacheco de Melo. Quer um quer outro, pelo conhecimento que têm do percurso cívico e político de Mário Abrantes e, sobretudo, pelo distanciamento partidário que dele têm, o fariam certamente melhor que eu. 

Eu estou a falar-vos, desde logo de um amigo que muito prezo, mas também de um camarada por quem nutro uma admiração e respeito incomensuráveis. Ou seja, não esperem que me cinja a factos e ao racionalismo. Os afetos e a emoção, neste caso, falarão mais alto.

Senhoras e senhores, 

Caros amigos,

Conheci o Mário Abrantes, ainda em 1983, ano em que cheguei à ilha de S. Miguel e, ao que lembro terá sido numa reunião noturna de preparação do X Congresso do PCP. Reunião que se realizou no então Centro de Trabalho, sito à Rua João do Rego de Cima. Depois, bem depois a nossa aproximação foi incontornável. As tarefas partidárias que se seguiam em 1984, Assembleia de Organização do PCP nos Açores, que se realizou no mês de Abril, em Ponta Delgada, e que contou com a presença de Álvaro Cunhal. As eleições regionais desse ano, onde o PCP elegeu pela primeira vez um deputado para a Assembleia Regional, levaram à minha participação ativa e à natural aproximação ao Mário Abrantes que era, à data, responsável político pela organização do PCP Açores, em S. Miguel.

Poder privar com o Mário Abrantes foi, sobretudo, aceder a um percurso de aprendizagem e descoberta que extravasou a luta e as opções ideológicas e partidárias. Com o Mário conheci os mais recônditos lugares do concelho de Ponta Delgada, com o Mário Abrantes aprendi a amar este Povo e esta Terra, aprendi a amar os lugares para além da beleza paisagística, aprendi a amar este Povo para além dos peculiares aspetos culturais que caraterizam os micaelenses. E essa aprendizagem fico a devê-la ao Mário Abrantes. Com ele calcorreei todas as freguesias e lugares do concelho de Ponta Delgada, com ele conheci as gentes que dão alma aos lugares, com ele conheci os problemas, alguns ancestrais, que afetavam e continuam a afetar o bem estar e a dignidade a que todos devem aceder, com ele participei na luta pela justiça social e económica, com ele lutei, e continuaremos a lutar, por uma sociedade mais justa.

Caros amigos,

Sendo o Mário Abrantes uma personalidade afável, de bom trato e, diria, aparentemente extrovertido, na verdade o Mário é, no que concerne ao seu percurso de vida pessoal e político, muito reservado. Este aspeto não é de somenos importância. A afirmação do Mário Abrantes no espaço público regional resultou da sua entrega e intervenção, isto é, o Mário Abrantes nunca utilizou alguns aspetos do seu passado pessoal e político, os quais sendo públicos me abstenho de referir por respeito à forma de estar e ser do Mário, para impor a sua presença ou para, artificialmente, ganhar reconhecimento público. E isso diz muito do Homem que hoje a Junta de Freguesia de Santa Clara homenageia. Diz muito do Mário Abrantes e eu citaria aqui uma frase de Álvaro Cunhal que traduz, de alguma forma, esta maneira de estar e ser do Mário Abrantes.

«Ser comunista não é apenas uma forma de agir politicamente. É uma forma de pensar, de sentir e de viver.»

O Mário Abrantes é um militante comunista por inteiro. Com tudo o que isso significa de sacrifício pessoal e familiar. Sim, familiar. São as famílias que mais sofrem as ausências e as privações. Sacrifícios feitos em nome de um bem maior, um bem de todos. 

Julgo que nesta homenagem cabe, também, uma palavra de apreço pelo espírito dedicado da sua companheira de sempre, e uma palavra de consideração aos seus filhos pelo respeito que têm ao legado cívico e político do seu pai.

Minhas senhoras e meus senhores

Caros amigos,

O Mário era, o Mário é um profundo conhecedor da realidade política, social e económica do nosso arquipélago, os seus artigos de opinião publicados na imprensa micaelense assim o comprovam. Mas foi nas lutas políticas de defesa da ilha de S. Miguel, e em particular do concelho de Ponta Delgada que mais se destacou. Empenho e intervenção alicerçados no profundo conhecimento da realidade do concelho, aliás os mandatos e o seu desempenho enquanto deputado municipal dizem bem do seu espírito inquieto, da pertinência das suas propostas e da reconhecida voz, dos que não tinham voz.

Trabalho que as populações sempre reconheceram. Não lhe deram o necessário apoio eleitoral, mas posso garantir que, ainda hoje, passados que são quase 20 anos, o Mário Abrantes é lembrado por muitos e muitos cidadãos que aquando das minhas incursões nas zonas rurais e urbanas dos concelhos de S. Miguel, no exercício da minha atividade política, me perguntam pelo Mário Abrantes. E lembram a sua entrega generosa às pequenas e grandes lutas que se foram travando, e demonstram a sua admiração e respeito por um homem que regularmente percorria toda a ilha e, encontrava sempre tempo para ouvir e para agir.

Senhoras e senhores,

Caros amigos,

Antes de terminar não posso deixar e referir, ainda que de forma necessariamente sucinta, três aspetos que demonstram bem a dimensão do cidadão Mário Abrantes.

O primeiro é de caráter regional e ainda hoje vigora.

Mário Abrantes foi membro do grupo que desenhou a proposta de criação da Remuneração Complementar para os trabalhadores da Administração Pública Regional. Mais tarde e depois da aprovação da Lei das Finanças Regionais foi elemento fundamental no esboço e redação das propostas que levaram à criação do Acréscimo Regional ao Salário Mínimo Regional, bem assim como do Complemento Regional de Pensão. Ou seja, mecanismos que a autonomia encontrou para mitigar os custos da insularidade. “Custos da Insularidade” uma expressão que caiu em desuso no discurso político, mas nem por isso os custos e a insularidade desapareceram da nossa realidade quotidiana.

Um segundo aspeto prende-se com uma luta cara aos santaclarenses e aos seus vizinhos da freguesia de S. José – as iniciativas populares que exigiram a retirada dos tanques de combustível da Bencom associadas à necessidade de preservação e recuperação da orla marítima. Nesta luta, feita com as populações e para as populações ficou bem claro a capacidade do Mário Abrantes de construir soluções de unidade em que a ação, sendo política, nunca visou ganhos eleitorais partidários.

Por fim todo o processo de luta e a propositura da criação da Freguesia de Santa Clara, mas também a adesão ao projeto “Santa Clara Vida Nova”. Um exemplo de dinamização, com outras sensibilidades políticas, mas, sobretudo com a população para que a justa reivindicação da criação da Freguesia fosse concretizada.

Não posso ainda deixar de referir o exemplo de exercício popular de democracia participativa que continua a animar as mulheres e homens que fazem desta freguesia um exemplo. Um exemplo de que é possível unirmo-nos, na diferença, em torno de um objetivo comum.

Estes são, apenas, três exemplos de intervenção e dedicação do Mário Abrantes às causas comuns e à defesa do interesse público.

Camarada e amigo Mário Abrantes

Obrigado por tudo o que contigo aprendi e, certamente, continuarei a aprender. 

Obrigado pelo teu exemplo de vida.

Senhoras e senhores

Caros amigos

Obrigado pela vossa atenção!

Aníbal C. Pires, Santa Clara (Ponta Delgada), 09 de Outubro de 2020


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