domingo, 1 de novembro de 2020

À direita volver


Os resultados são claros. O novo parlamento regional tem uma maioria de direita. PSD, CDS, PPM, chega, iniciativa liberal e pan, somam 30 deputados. O PS e o BE 27 deputados. 

Qualquer entendimento político que se venha a concretizar para a formação do próximo Governo Regional será sempre uma solução à direita. O CDS e o PPM têm, no novo quadro parlamentar e político, uma dimensão que lhes permitirá ditar para que lado vai pender a solução governativa. Mas, qualquer que seja a solução que vier a ser encontrada, face ao que é do conhecimento público, será sempre uma solução periclitante e de direita, com ou sem PS, e, sobretudo, uma decisão que vai resultar da sede de poder pelo poder ancorada em projetos pessoais. Não será só, mas não deixará de ser assim. Mais do que o interesse público regional, os resultados eleitorais de 25 de Outubro, transmutaram as decisões sobre o nosso futuro imediato para jogos de poder da direita lisboeta.

A solução que maior estabilidade política garante seria, em minha opinião, o entendimento do PS com o CDS/PP e com o PPM (maioria parlamentar com 30 deputados). 


E passo a justificar: no atual quadro político e parlamentar apenas dois partidos (CDS e PPM) se vão empenhar numa legislatura para quatro anos; o PS e o PSD logo que lhes seja possível e eleitoralmente vantajoso tudo farão para provocar eleições antecipadas; ao BE tanto dá como dará pois, como é sabido, vive do imediatismo e ao colo do mediatismo; a solução PSD, CDS/PP e PPM (26 deputados), por muito que o CDS/PP e o PPM desejem estabilidade na legislatura, necessita de pelo menos o acordo de mais 3 deputados (29, é já maioria parlamentar) para assegurar estabilidade governativa. Estes 3, ou que sejam 4 deputados se o pan entrar na equação (situam-se todos no espetro ideológico da direita), não dão qualquer garantia de fiabilidade e confiabilidade. Ou seja, nunca serão parceiros, serão sempre concorrentes e adversários do CDS e do PPM, uma vez que se situam no mesmo espetro ideológico e disputam o mesmo eleitorado, ainda que, e tenho e o reconhecer, nem todos se sirvam da mesma tática populista para ganhar apoio político e eleitoral.

A solução de governo, como já disse, será sempre de direita. Não me aflige particularmente. Bem vistas as coisas, o PS, com uma no cravo e outra na ferradura, conduziu a sua governação à direita. Os indicadores sociais e económicos dão-nos conta disso mesmo, ou não sejam os Açores a região do país com uma das mais elevadas taxas de risco de pobreza, uma economia terceirizada e cada vez mais dependente do exterior.


Os resultados eleitorais não me merecem, para já ou para sempre, nem pequenos nem grandes comentários. Direi apenas que fui surpreendido pelo número de deputados que o PS perdeu (5). Foi obra. 

A minha estranheza resulta do facto de ter interiorizado que as respostas do governo de Vasco Cordeiro à situação pandémica iriam favorecer eleitoralmente o PS. Para surpresa minha assim não aconteceu. 

O descontentamento acumulado traduziu-se em voto de protesto. Um protesto inconsequente, é certo, pois a maioria dos eleitores elabora as suas escolhas em premissas pouco objetivas. 

Quantos eleitores conhecerão os programas ou manifestos eleitorais que, esses sim, traduzem o contrato social e político dos partidos e coligações com os eleitores. Poucos. 

Poucos, mas foram muitos os que votaram contra os seus próprios interesses e isso, caros eleitores, paga-se caro. Bem caro.


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 01 de Novembro de 2020


1 comentário:

Anónimo disse...

São muitos anos com essa sede de poder! Por isso, infelizmente, vai ser mesmo construido um governo arco iris de direita!
Óbvio que os eleitores de alguns partidos não conhecem as propostas em quem votaram....deviam conhecer, mas não! infelizmente é assim!