A crise que fustiga a generalidade dos países da zona euro, de entre os quais a Irlanda, a Grécia e Portugal foram pioneiros mas aos quais não escapa, de entre outros, a 4.ª economia europeia e 3.ª da União Monetária - Itália -, e, nem a “exemplar” Alemanha se livra à ditadura do mercado como se comprovou, há duas semanas atrás, ao não conseguir nos mercados financeiros, mais do que 60% das suas necessidades de financiamento. Todo o histórico recente e as soluções que se desenham demonstram, de forma inequívoca, que este é o trilho que nos conduz ao abismo e não à luz ao fundo túnel.
Digamos que estou numa posição cómoda. Nunca fui um adepto desta Europa a caminho de federalismo, veja-se o acordado ontem pela fantástica dupla Merkel/Sarkozy e que vai ser proposto (imposto) na cimeira do próximo dia 9, nem da entrada de Portugal no euro, aliás não deixa de ser curioso, e nalguns casos mesmo ridículo, constatar que alguns indefetíveis desta Europa e da entrada de Portugal no euro estejam agora na linha da frente a criticar as opções então feitas.
Podendo acomodar-me e simplesmente afirmar: afinal o tempo veio dar-me razão, a mim e a muitos milhares de portugueses; mas a verdade é que estou incomodado e profundamente preocupado, não pelo que o eixo franco-alemão decide para a União Europeia e para os países da União Monetária, mas pela atitude de subserviência do governo de Portugal perante os sucessivos atentados à soberania nacional e, sobretudo pelos efeitos devastadores das “medidas anticrise” no tecido social e económico nacional.
Perante as nuvens negras da depressão que se formou em Paris e Berlim, por vontade dos mercados financeiros, tempestade que ganhou ainda mais força em Lisboa, – nuvens que não são as do inverno que os açorianos tão bem conhecem –, mas sim as nuvens negras carregadas de austeridade, de desemprego, de pobreza e exclusão; perante este cataclismo as açorianas e açorianos depositaram a esperança no edifício autonómico para “almofadar” a violência da tempestade. Depositaram uma réstia de esperança no seu Parlamento, no seu Governo e nas opções do Plano e Orçamento para 2012.
Olharam para o seu Parlamento, para a sua Autonomia, para os seus representantes.
Olharam em busca de proteção, de apoio e de esperança, em busca de um sinal que lhes renovasse a alegria de ser açoriano e lhes devolvesse a capacidade de sonhar.
Essa réstia de esperança esfumou-se, esse derradeiro olhar foi em vão.
Olharam em vão porque as opções que vieram a ser aprovadas foram ditadas por Lisboa e cumprem um tal “Protocolo de Cooperação e Entendimento” que o Governo Regional, à margem da Assembleia Legislativa, negociou e negoceia com o Governo da República. Não deixa de ser interessante verificar que neste “negócio” estão envolvidos o PS, o PSD e o CDS/PP – os três partidos que aceitaram o “memorando de entendimento com a troyka.
Nada acontece por acaso e tudo tem uma explicação. No Plano e Orçamento de 2011 o PS Açores, adotou uma posição de rutura com Lisboa ao criar mecanismos compensatórios para o corte dos salários da administração pública, para o Plano e Orçamento de 2012 seria de esperar a mesma atitude, inexplicavelmente o Governo Regional e a maioria que o suporta, mesmo tendo reconhecido que havia recursos para o pagamento dos 13.º e 14.º meses e para outros mecanismos compensatórios, chumbou as propostas do PCP que propunham a reposição dos cortes e, nada propôs e, nada disse a não ser, Não! E, o PSD e o CDS/PP suspiraram de alívio com a paz e harmonia troikista.
Ponta Delgada, 05 de dezembro de 2011
Digamos que estou numa posição cómoda. Nunca fui um adepto desta Europa a caminho de federalismo, veja-se o acordado ontem pela fantástica dupla Merkel/Sarkozy e que vai ser proposto (imposto) na cimeira do próximo dia 9, nem da entrada de Portugal no euro, aliás não deixa de ser curioso, e nalguns casos mesmo ridículo, constatar que alguns indefetíveis desta Europa e da entrada de Portugal no euro estejam agora na linha da frente a criticar as opções então feitas.
Podendo acomodar-me e simplesmente afirmar: afinal o tempo veio dar-me razão, a mim e a muitos milhares de portugueses; mas a verdade é que estou incomodado e profundamente preocupado, não pelo que o eixo franco-alemão decide para a União Europeia e para os países da União Monetária, mas pela atitude de subserviência do governo de Portugal perante os sucessivos atentados à soberania nacional e, sobretudo pelos efeitos devastadores das “medidas anticrise” no tecido social e económico nacional.
Perante as nuvens negras da depressão que se formou em Paris e Berlim, por vontade dos mercados financeiros, tempestade que ganhou ainda mais força em Lisboa, – nuvens que não são as do inverno que os açorianos tão bem conhecem –, mas sim as nuvens negras carregadas de austeridade, de desemprego, de pobreza e exclusão; perante este cataclismo as açorianas e açorianos depositaram a esperança no edifício autonómico para “almofadar” a violência da tempestade. Depositaram uma réstia de esperança no seu Parlamento, no seu Governo e nas opções do Plano e Orçamento para 2012.
Olharam para o seu Parlamento, para a sua Autonomia, para os seus representantes.
Olharam em busca de proteção, de apoio e de esperança, em busca de um sinal que lhes renovasse a alegria de ser açoriano e lhes devolvesse a capacidade de sonhar.
Essa réstia de esperança esfumou-se, esse derradeiro olhar foi em vão.
Olharam em vão porque as opções que vieram a ser aprovadas foram ditadas por Lisboa e cumprem um tal “Protocolo de Cooperação e Entendimento” que o Governo Regional, à margem da Assembleia Legislativa, negociou e negoceia com o Governo da República. Não deixa de ser interessante verificar que neste “negócio” estão envolvidos o PS, o PSD e o CDS/PP – os três partidos que aceitaram o “memorando de entendimento com a troyka.
Nada acontece por acaso e tudo tem uma explicação. No Plano e Orçamento de 2011 o PS Açores, adotou uma posição de rutura com Lisboa ao criar mecanismos compensatórios para o corte dos salários da administração pública, para o Plano e Orçamento de 2012 seria de esperar a mesma atitude, inexplicavelmente o Governo Regional e a maioria que o suporta, mesmo tendo reconhecido que havia recursos para o pagamento dos 13.º e 14.º meses e para outros mecanismos compensatórios, chumbou as propostas do PCP que propunham a reposição dos cortes e, nada propôs e, nada disse a não ser, Não! E, o PSD e o CDS/PP suspiraram de alívio com a paz e harmonia troikista.
Ponta Delgada, 05 de dezembro de 2011
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 07 de dezembro de 2011, Angra do Heroísmo
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