segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Transportes aéreos, as queixas, o presente e o futuro

Foto - Aníbal C. Pires
As queixas ouvem-se em todas as ilhas da Região. Nas rotas liberalizadas mudou tudo (Terceira e S. Miguel), desde logo o tarifário que vai de algumas dezenas de euros a muitas centenas dos mesmos euros, a oferta é variada mas, ainda assim, para quem necessita de viajar sem poder programar atempadamente, o que se ajusta ao perfil do passageiro ilhéu, nem o preço nem a disponibilidade de lugar satisfazem, o custo porque atinge várias centenas de euros (muito acima dos tais 134,00€ e nem todos temos disponibilidade de investir centenas ou mesmo milhares de euros para ir e vir à capital) e lugares não há. É o mercado a funcionar e a satisfazer quem já podia despender, sem que isso causasse mossa no orçamento familiar, do valor da anterior tarifa de residente, ou melhor beneficiando esse segmento da população (classe média alta) que paga a crédito, e depois é ressarcida do diferencial. As limitações à mobilidade continuam a existir para a maioria dos açorianos.
Nas gateways com obrigações de serviço público (OSP) e face à saída da TAP as queixas são mais do que muitas e as exigências voltam-se naturalmente para a SATA. Para quem quer sair ou entrar no Pico, Faial e Santa Maria nem a Internacional nem os encaminhamentos da Air Açores dão a devida resposta. Isto para não falar em todas as outras ilhas. Aí o drama é redobrado pois conseguir um lugar para ir a uma consulta ou tratamento médico, para uma viagem de negócios, ou por lazer, que também temos direito, só por milagre se consegue nos dias pretendidos.
Mas nada disto é novidade. Todos temos conhecimento desta realidade. Nem tudo é mau neste novo modelo de transportes aéreos, nem tudo o será enquanto a febre do Turismo não baixar alguns graus e se evidenciem algumas das desvantagens desta “massificação” do destino turístico micaelense.
Foto - Aníbal C. Pires
Mas tudo isto será, como fui afirmando ao longo dos últimos dois anos, objeto de uma cuidada análise quando assentar este natural entusiasmo de quem olha para hoje e não consegue perceber que o futuro, designadamente o do destino turístico, necessita ser acautelado.
O PS e o PSD dividem entre si a paternidade deste novo modelo de transporte aéreo e os seus benefícios, estranho é que quanto às queixas dos cidadãos e mesmo dos agentes económicos o PS fique quedo e mudo ou anuncie o que sabe que a SATA não consegue cumprir e, por outro lado, o PSD sacuda a água do capote e remeta a responsabilidade para a incapacidade da transportadora aérea regional.
O PCP nos Açores sempre defendeu a redução do tarifário do transporte aéreo para os residentes com um teto máximo, as tarifas abaixo desse teto máximo seriam, essas sim ditadas pelo funcionamento do mercado, aliás é bom lembrar que nada impedia (e nada impede) outras transportadoras de voarem para qualquer das gateways açorianas.
O PCP açores sempre se opôs, ao contrário do PS e do PSD, à privatização da ANA e da TAP e é bom não dissociar uma e outra coisa, ou seja, muito do que ouvimos de críticas e exigências do novo modelo de transporte aéreo nos Açores está intimamente ligado à privatização da ANA e da TAP.
Da ANA porque investimentos necessários e prometidos nas suas infraestruturas aeroportuárias, com exceção de Ponta Delgada, nunca se virão a concretizar, desde logo porque não há retorno nesses investimentos e, por outro lado, porque a estratégia é dar dimensão ao aeroporto de Ponta Delgada transformando-o, gradualmente, no hub açoriano para os transportes aéreos, aliás é bom que os faialenses, os picoenses e os marienses e, quiçá os terceirenses, comecem a questionar o PS e o PSD sobre essa estratégia que parecendo, de momento, fundar-se numa qualquer “teoria da conspiração”, se virá a concretizar à medida que mais e mais açorianos saiam dos Açores por Ponta Delgada ao invés de saírem da sua ilha, no caso do Pico, Faial, Santa Maria e Terceira.
Foto - Aníbal C. Pires
Da TAP porque a estratégia comercial de uma empresa privada, a não ser que lhe paguem do erário público, fixa-se nas rotas lucrativas e as rotas açorianas, com exceção de Ponta Delgada, são deficitárias atendendo à operação anual e não apenas ao pico do Verão.
Em jeito de conclusão diria que o PS e o PSD subscrevem este modelo de transporte aéreo e por ele têm de ser responsabilizados. O PS e o PSD subscreveram a privatização da ANA e da TAP e por isso devem ser responsabilizados.
Aos cidadãos exige-se uma atitude crítica que considere nas suas análises todas as variáveis envolvidas, como por exemplo, o facto de os pilotos terem de possuir certificações para poderem operar nos aeroportos do Pico e do Faial o que em nada facilita, por exemplo o recurso a ACMI para o reforço da operação, uma vez que como todos sabemos a frota de médio curso da SATA Internacional não chega para as “encomendas”. Ou ainda, que sejam devidamente equacionadas alternativas à adequação e diversificação da frota de médio curso se queremos, de facto, manter as 5 gateways abertas, servindo bem, a custo reduzido e sem apoio do erário público, ou seja, rentabilizando essas rotas.

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