segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Coração Independente

Hoje na programação do Cine Clube de Ponta Delgada, pelas 21h30

Coração Independente

"Joana Vasconcelos é uma das mais reconhecidas e mediáticas artistas portuguesa da sua geração. Com um percurso nacional e internacional impressionante para a sua idade, as suas obras são frequentemente apontadas pela sua dimensão kitsch e espalhafatosa. Mas são também um reflexo mordaz de uma parte deste mundo. Amadas por uns e odiadas por outros, são tão reconhecidas como a artista. Ao longo de quase um ano, fomos filmando a vida de uma das suas peças mais icónicas, “Dorothy”, um sapato gigante construído a partir de centenas de tampas de panelas. O filme olha de perto para o processo de trabalho da artista e da sua equipa, que vemos em acção no seu atelier, mas é principalmente um retrato de Joana Vasconcelos, da sua força, vontade e dedicação ao trabalho."
Texto tirado daqui. Há la mais informação sobre o filme não deixem de consultar.

Tristeza que dói

Que o Orçamento de Estado (OE) para o ano em curso é penalizador para os portugueses não é novidade. E, novidade não será que nos Açores, pelas razões conhecidas – distância e insularidade arquipelágica (bem diferente da Madeira) -, mas também pela inércia do Governo Regional e a cumplicidade das estruturas do PSD e do CDS/PP na Região, que se têm sistematicamente recusado a utilizar os mecanismos autonómicos para minorar os efeitos do pacto de agressão estrangeira e do seu aprofundamento, por via do OE e de outras iniciativas avulsas do Governo da República.
O líder parlamentar do PS Açores dizia no final do ano passado que o imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal de 2011 retirava à economia regional cerca de 20 milhões de euros. Concordei e concordo com o Deputado Berto Messias, o que não entendo é o seu silêncio e o seu voto contra uma proposta apresentada pela Representação Parlamentar do PCP Açores que visava a devolução, aos funcionários da administração pública regional, do valor dos subsídios de féria e Natal de 2012. Ou será que este roubo não retira mais do que 20 milhões de euros à economia regional!?
O que não compreendo é que a maioria parlamentar que suporta o Governo Regional, o PSD e o PP tenham, igualmente, recusado uma proposta do PCP Açores para que a “Remuneração Compensatória” fosse alargada, em 2012, a todos os funcionários da administração regional, independentemente do seu nível salarial.
Já vamos em muitos milhões de euros retirados à economia regional, aliás dá-se conta disso mesmo quando olhamos para o número crescente de empresas que fecham as suas portas, para os espaços comerciais vazios, para o aumento dramático do desemprego e para a tristeza que paira no semblante dos cidadãos. Tristeza que dói, tristeza que, por vezes, mata.
Que o PSD e o CDS/PP nos Açores aceitem, sem ruído, as decisões de Lisboa até percebo, afinal são os seus partidos que (des)governam o país. Mas já não percebo o PS Açores que se mostrou tão afoito a contrariar com medidas concretas o governo de José Sócrates (por ex: introdução da “Remuneração Compensatória”) e que agora se mantém tão cordato, tão dialogante, tão... tão... tão mansinho.
Só encontro uma explicação para tal. É do domínio público que, à semelhança do que aconteceu com a Madeira, estão a decorrer negociações para um suposto “memorando”, entre Lisboa e os Açores, no quadro do resgate financeiro em que o país está a ser assaltado. Posso até perceber que estas negociações estejam fora do alcance dos holofotes do mediatismo, já não entendo, nem aceito que a Assembleia Legislativa dele não tenha conhecimento, nem ao menos de um pequeno esboço, e só esse tal “memorando”, ou “acordo”, ou “protocolo”, ou lá o que se lhe quiser chamar, pode justificar a incompreensível atitude do PS Açores de não tomar uma posição firme aos atropelos ao quadro constitucional e estatutário com que Passos Coelho e Paulo Portas estão a brindar o Povo Açoriano.
Ponta Delgada, 29 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 30 de Janeiro de 2012, Ponta Delgada 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Debate atual e premente

Viver e sentir os Açores

As autonomias regionais constituem-se como a resposta do estado democrático às aspirações autonomistas dos povos insulares. A consagração constitucional conferiu às autonomias dos Açores e da Madeira o desígnio de projeto nacional e representam uma das mais bem conseguidas conquistas de Abril. Conquistas de Abril que sistematicamente têm sido alvo de uma ofensiva e sobre as quais pende uma ameaça sem precedentes e, obviamente é também sobre as autonomias regionais que incide a presente onda de destruição do Estado consagrado na Constituição.
Nos Açores a autonomia constitucional permitiu vencer atrasos seculares e possibilitou transformações sociais, culturais e económicas assinaláveis, aliás numa breve consulta comparativa aos indicadores sociais e económicos bastará para que a esta afirmação seja comprovada. Os Açores e os açorianos souberam apropriar-se de novas oportunidades e ferramentas proporcionadas pelos avanços científicos e tecnológicos e pela autonomia sem que a açorianidade tenha ficado molestada. A açorianidade, passado que foi o impacto da uniformidade reinante a partir do fim década de 90 da centúria anterior, renovou-se e reafirmou-se.
O projeto autonómico não é, seguramente, alheio a esta reafirmação da açorianidade e, também ele se consolidou e evoluiu enquanto aspiração regional, mas também, e enquanto, desígnio político nacional a autonomia dotou-se de um quadro jurídico e constitucional que lhe confere estabilidade financeira e orçamental (Lei das Finanças Regionais) e de alargadas competências legislativas que a revisão constitucional de 2004 lhe concedeu e que a 3.ª revisão do estatuto consagrou.
Neste processo histórico recente a identidade regional foi reforçada e a autonomia regista um assinalável caminho de aprofundamento e aperfeiçoamento, porém a este quadro de sucessos não corresponde um esperado desenvolvimento harmonioso interno. Os custos do viver insular têm vindo a acentuar-se. É mais caro viver nos Açores e o salário médio dos trabalhadores açorianos é inferior ao salário médio nacional, as assimetrias regionais não só se mantêm como se tem verificado, nos últimos anos, um claro retrocesso naquele que é afinal um dos fundamentos da própria autonomia – a coesão territorial, económica e social.
Os transportes aéreos e marítimos, o desenvolvimento harmonioso da Região, a redução da dependência externa, designadamente a alimentar, a dinamização do comércio interno e externo, a valorização da agricultura e das pescas, um novo paradigma para o sector do turismo, a diversificação de acordos bilaterais com países e regiões da bacia Atlântica são desafios do presente.
Sendo desafios do presente não são, todavia, novos desafios. Os constrangimentos endógenos e exógenos da economia regional são de há muito conhecidos e só a adoção de um modelo de desenvolvimento anacrónico justifica que os Açores continuem a ser hoje tão permeáveis às conjunturas externas como o eram à 4 séculos atrás.
O debate em torno da autonomia é, não só atual, como premente. Tenho vindo a afirmar que uma aparente decorrência da crise está a constituir-se numa ofensiva, sem precedentes, ao adquirido autonómico. A imposição da redução da diferenciação fiscal de 30 para 20%, o limite de atos dos órgãos de governo próprio e uma norma interpretativa que se sobrepõe à Lei das Finanças Regionais são, alguns exemplos que decorrem do “memorando de entendimento” e do Orçamento de Estado, que comprovam que a afirmação anterior não é, de todo, uma asserção gratuita.
Para além dos desafios internos a que aludi o povo açoriano está, uma vez mais, confrontado com um governo central que na sua essência não passa de um mero cobrador de impostos e tem do país uma visão macrocéfala. O futuro é de luta na defesa do adquirido autonómico e de construção de um paradigma de desenvolvimento sustentável para os Açores.
Ponta Delgada, 13 de novembro de 2011

Aníbal C. Pires, In Mundo Açoriano, 27 de janeiro de 2012 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Porque hoje é quinta-feira de amigos

Amigo

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».


«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!


«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!


«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.


«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Empobrecer alegremente

Debater a pobreza sem falar nas raízes que lhe estão na origem é redutor, digo eu e dirão muitos outros cidadãos que não aceitam a tese – “pobres existirão sempre”.
O processo de empobrecimento generalizado do povo português resulta na injusta repartição do rendimento em que o modelo económico vigente se ancora para justificar a competitividade global. Responsáveis políticos dos partidos que nos governam, ou governaram até há bem pouco tempo, empresários, especuladores financeiros e os seus peões de brega, pagos a peso de ouro, defendem até à exaustão que é necessário reduzir os custos do trabalho, facilitar o desemprego, aumentar o horário de trabalho, enfim, como disse Passos Coelho é preciso empobrecer.
Como no Universo nada se perde e tudo se transforma isto significa que ao empobrecimento generalizado proposto por Passo Coelho irá corresponder o respetivo enriquecimento de alguns. Nada de novo, dir-me-ão os leitores - sempre assim foi. Nem sempre assim terá sido mas, mais do que do passado interessa-me o futuro e, no presente já percebemos que este modelo económico é gerador de pobreza generalizada e de concentração de riqueza. Resta saber se queremos continuar a empobrecer alegremente ou se nos decidimos a alterar o paradigma económico e a ser livres.
Nos Açores, como no país, a economia solidária está em expansão na direta proporcionalidade do aumento da pobreza e, o discurso do poder (PS) e da oposição da direita (PSD e PP), que no país é poder, centra-se nos planos de “emergência”, no reforço dos apoios sociais de índole caritativa. É a resposta de quem não pretende alterar nada, é a resposta de quem defende que “pobres sempre existirão”, é a resposta de quem defende a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores, é a resposta de quem subscreveu o “acordo” laboral, é a resposta de quem o apoia um modelo económico que aprofunda as desigualdades, que empobrece quem produz riqueza.
O que mais me preocupa no debate político é a fuga à procura real de soluções que ataquem o mal pela raiz e a adoção de medidas, como as que resultaram da alteração aos apoios sociais, verificadas em 2011, e as que resultarão do “acordo” laboral subscrito recentemente quando aquelas medidas tomarem corpo de Lei.
A autonomia política confere à Região e aos seus órgãos de poder a capacidade de fazer opções diferenciadas das do território continental e da Região Autónoma da Madeira, sem que essas opções ponham em causa o estado unitário e os preceitos constitucionais, porém o que temos assistido é à inércia do governo regional e da maioria parlamentar que o suporta aceitando, sem nada fazer em defesa dos Açores e dos açorianos, as medidas adotadas pelo governo de Lisboa e que são, numa região distante, insular e arquipelágica, muito mais penalizadoras que no território continental.
Que estratégia, se é que há estratégia, tem o Governo Regional para travar a tendência de aumento do desemprego? Que estratégia, se é que há estratégia, tem o Governo Regional para criar novos empregos? Que estratégia, se é que há estratégia, para aumentar os rendimentos do trabalho? Que estratégia, se é que há estratégia, tem o Governo Regional para diminuir a dependência externa? Que estratégia, se é que há estratégia, para aumentar a produção regional e promover o comércio interno?
Que estratégia, se é que há estratégia, para implementar um modelo complementar de transporte marítimo e aéreo de passageiros e mercadorias que potencie o comércio e a produção regional?
Nas respostas a estas perguntas estarão, certamente, algumas das soluções para tornar a Região menos permeável a conjunturas externas desfavoráveis. É que a desculpa da crise e de que não estamos sozinhos na desgraça não pode continuar a desculpar a inércia. Digo eu! 
Horta, 24 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 25 de janeiro de 2012, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Acordo - escravatura de novo tipo

As terríveis consequências sociais e económicas das políticas de direita estão claramente à vista e têm sido significativamente agravadas nos últimos tempos. O que assistimos é a um aumento gravíssimo das desigualdades e injustiças sociais e a um empobrecimento generalizado que atinge a maior parte dos portugueses e, em especial, os que dependem dos rendimentos do seu trabalho e os reformados e pensionistas (até o Presidente da República se queixou – uma afronta). Os contornos dramáticos do desemprego, da pobreza e da exclusão social, que atingem cada vez mais portugueses dão a medida da desumanidade das políticas que, a coberto das imposições do FMI, o governo do PSD/PP tem agravado ao introduzir profundas alterações na distribuição do rendimento dando, assim, continuidade às políticas de desvalorização do trabalho e dos trabalhadores.
Simultaneamente prossegue a política de favorecimento à banca e aos grandes grupos económicos, à medida que a situação financeira do país se vai agravando, por via do aprofundamento da recessão. As dificuldades do país em financiar-se vão crescentemente tornando inevitável a solução que há muito defendo: a renegociação da dívida; renegociação que mais tarde ou mais cedo irá acontecer e, quanto mais tarde mais complexa e desfavorável será para Portugal.
O acordo laboral concertado a semana passada vai agravar ainda mais a dramática situação social e económica dos trabalhadores e das famílias portuguesas, acordo subscrito pela UGT que cumpriu uma vez mais o papel que lhe foi destinado pelo capital e que o PS e o PSD, como é habitual, executaram ao longo das últimas décadas.
As alterações que decorrem do acordo laboral vão configurar, se vierem a ter corpo de Lei, o maior retrocesso na história das relações laborais no Portugal democrático, retrocesso que nos vai fazer viajar ao passado remoto do qual já poucos portugueses terão memória.
O que consta neste acordo laboral é a desvalorização do trabalho e o aumento da exploração dos trabalhadores, através de medidas como a redução das férias, das pontes e feriados, os cortes nas horas extraordinárias e outros abonos, o ataque à contratação coletiva, os bancos de horas – que podem significar até 12 horas de trabalho diário – geridos à discrição dos empregadores, a facilitação dos despedimentos – que deixam de precisar de justa causa –, entre outras medidas gravosas. Contas feitas, trata-se de trabalhar muito mais por muito menos, colocando os trabalhadores numa situação de clara servidão. Foram estas medidas que a UGT, numa vergonhosa postura de capitulação e de traição aos interesses dos trabalhadores, assinou, objetivamente prestando um valioso serviço ao capital e aos seus atuais e fiéis servos - o governo PSD/CDS; também o PS não fica isento de responsabilidades pois, não só é indisfarçável a sua satisfação, mas também, veja-se a posição de alguns dos seus mais destacados dirigentes, de um claro e explícito apoio.
Se estas políticas são graves para os trabalhadores do continente, são-no duplamente para os açorianos, desde logo, pela fragilidade e dimensão da economia regional. Nos Açores os efeitos da política de austeridade e recessão são muito mais arrasadores, em virtude de constrangimentos e dificuldades que são permanentes e que estão relacionados com a nossa condição insular e arquipelágica.
E não se trata de uma premonição! A dura realidade está aí para o comprovar. O desemprego aumentou exponencialmente, no segundo semestre de 2011, e a tendência é para que continue a aumentar, o tecido empresarial, designadamente as pequenas e médias empresas, atravessa grandes dificuldades por via da retração do consumo, sendo previsível, são as próprias Câmaras de Comércio que o afirmam, que nos primeiros meses de 2012 se verifique o encerramento de um número considerável de empresas.
Este não é certamente o caminho do crescimento e do emprego, este é o caminho do empobrecimento de um povo e da concentração do capital. Só a indignação e a luta podem alterar este rumo que nos está a arrastar para a ruína.
Horta, 22 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 23 de janeiro de 2012, Ponta Delgada

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

39 anos da morte de Amílcar Cabral

“La muerte no es verdade cuando se ha cumplido bien la obra de la vida” – José Martí

Passam hoje 39 anos sobre a morte de Amílcar Cabral. O “momentos” tem vindo a fazer alguns registos sobre Amílcar e outra personalidades que pela sua vida de luta dedicada aos povos, á sua independência e à construção de uma sociedade mais justa.













Para assinalar esta data deixo-vos um poema de Amílcar Cabral.

ILHA

Tu vives - mãe adormecida-
nua e esquecida,
seca,
fustigada pelos ventos,
ao som das músicas sem música
das águas que nos prende

Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
- os sonhos dos teus filhos -
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!


Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
- terra dura -
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!


Amílcar Cabral

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ary dos Santos

Passaram ontem, 18 de janeiro de 2012, 28 anos sobre a morte de José Carlos Ary dos Santos. Sobre este poeta militante muito se disse e escreveu.
O “momentos” recorda-o sem fazer nenhuma apreciação ou exaltação. Julgo que a melhor forma de recordar e homenagear Ary dos Santos é ouvir a sua voz firme e ler as suas palavras.

Aqui e aqui podem ouvir dois dos seus poemas declamados por ele próprio.






Meu amor, meu amor

Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
 
 
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.
 
 
Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
 
 
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.

José Carlos Ary dos Santos

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Duas agressões e um momento de nostalgia

Ao contrário do que é habitual neste espaço, onde abordo apenas um tema por semana, hoje vou dar nota, ainda que breve, de três eventos recentes. Dois deles por serem inusitados e até surpreendentes, um outro que se constituiu como uma agradável surpresa, muita satisfação e alguma saudade.
Inusitada e surpreendente foi a carta que o embaixador dos Estados Unidos, em Portugal, dirigiu ao governo Regional e ao governo da República solicitando a não declaração dos Açores como uma região livre de Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
Não foi uma atitude curial do diplomata estado-unidense nesta iniciativa junto do Estado e da Região, desde logo porque o interlocutor do embaixador é o ministro dos Negócios Estrangeiros e, por outro lado esta iniciativa é uma clara tentativa de ingerência nos assuntos internos de Portugal. Então porquê esta diligência do senhor Allan J. Katz?
Só encontro uma, ou melhor duas ordens de razão para tamanho disparate. Primeira ordem de razão - comercial; o embaixador refere claramente uma semente de milho transgénico que é propriedade de uma empresa estado-unidense. Segunda ordem razão – o espírito imperial dos Estados Unidos.
Também as certezas absolutas, do Senhor Katz, sobre as vantagens daquelas “inofensivas” culturas sobre as quais pairam dúvidas, muitas dúvidas, são lamentáveis e denotam um interesse que vai para além do aceitável. O embaixador não soube sê-lo e ultrapassou, de forma inaceitável, as suas competências.
A declarada intenção do governo do PSD/PP de arrecadar, como receita da República, o valor dos cortes dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários da administração pública da Região só pode ser um lapso provocado pela ignorância, aliás alguns dos membros deste governo primam por isso mesmo: ignoram que os empresários portugueses há muito internacionalizaram o pastel de nata, ignoram a organização especial do Estado português que consagra na Constituição as autonomias regionais e fazem por ignorar o contrato social que estabeleceram com os eleitores.
Tenho vindo a afirmar que estamos a assistir à maior ofensiva ao adquirido autonómico de que há memória, este é apenas mais um facto a juntar a muitos outros que nos surpreenderam no passado recente. E lá vamos cantando e rindo que a crise, a crise, sim a crise, a troyka e a “bola de Berlim”, assim o exigem.
Que é feito da nossa autonomia e da nossa soberania!? Estamos ser ocupados, colonizados, estamos a ser vítimas de uma agressão externa, até o embaixador dos Estados Unidos se achou no direito de vir meter o nariz em assuntos que não lhe dizem respeito. Onde está, onde estão, o patriotismo, os patriotas!? Que é feito do Estado de Direito e do quadro de relacionamento institucional? Que República é esta? Das bananas. Talvez!
Um encontro com mais de uma centena e meia de jovens do 7.º, 8.º e 9.º ano de escolaridade da Escola Básica Integrada de Rabo de Peixe, realizado a convite da Escola e no âmbito do “Parlamento dos Jovens” deixou-me particularmente satisfeito e, a momentos voltei a acreditar. Acreditar que a Escola é, pode e deve ser, um instrumento de mudança.
Enquanto preparei o encontro com aqueles jovens fui assaltado por algumas dúvidas e preocupações, desde logo o nível etário o que exigia uma abordagem metodológica apropriada e com recursos a meios audiovisuais, o número de participantes e o espaço onde ia decorrer a iniciativa. A meu favor: o tema (Redes Sociais); e, um saber de experiência acumulada por mais de 3 décadas de ensino.
E não é que a iniciativa excedeu as minhas expectativas e as preocupações desvaneceram-se aos primeiros minutos, não por mérito meu mas pela sede de aprender que aqueles jovens demonstraram, pela atenção, pela participação, pela forma como se comportaram. A iniciativa durou mais de 1h30mn e não houve manifestações de enfado, bem pelo contrário houve até necessidade de “impor” o encerramento da iniciativa.
Hoje tive saudades da Escola, da Escola Cultural com que um dia sonhei e pela qual tanto trabalhei.
Ponta Delgada, 16 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 18 de janeiro de 2012, Angra do Heroísmo 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Redes virtuais e reais

Uma rede social é uma estrutura social composta por pessoas ou organizações, ligadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns. Uma das características fundamentais na definição das redes sociais informais é a sua abertura possibilitando relacionamentos horizontais e não hierárquicos entre os participantes.
Muito embora um dos princípios da rede seja sua abertura e permeabilidade, por ser uma ligação social, a ligação entre os membros da rede estabelece-se através da identidade.
Este é uma abordagem simples ao conceito e com já perceberam não se aplica somente às redes sociais virtuais, ou seja, as redes sociais não são mais do que uma malha ou teia de ligações que as pessoas estabelecem entre si, no seu quotidiano, fundadas em relações de identidade, sejam elas familiares, religiosas, desportivas, sindicais, culturais, políticas, profissionais, etc., etc.. As redes sociais podem ser formais ou informais e, todos nós pertencemos a redes sociais mais ou menos complexas, desde logo a uma família, a uma turma, a uma escola, a uma freguesia, a uma cidade...
As redes sociais são compostas por três elementos básicos: i) os atores sociais (nós); ii) vínculos (identidade e pertença); e iii) fluxos de informação (unidirecionais ou multidirecionais.
As redes sociais com utilização de plataformas digitais ganharam dimensão, expressão e importância a partir da década de 90, do século 20, com o chamado networking e mais tarde com a criação do portal Classmates cujo objetivo era a procura de antigos colegas de escola ou do serviço militar. Só em 2003 com o aparecimento do Hi5 e mais tarde (2004) o Facebook e o Twitter se assiste à grande explosão das redes sociais na internet e se dá início à generalização da sua utilização.
As redes sociais virtuais são importantes meios de intervenção social, política e económica, assim o seu conhecimento e domínio dotam os utilizadores de uma ferramenta que lhes permite a partilha e a intervenção sobre um conjunto diversificado de temas, por outro lado as redes sociais podem constituir-se, ou melhor constituem-se como um instrumento de dominação sobre os utilizadores menos preparados para lerem, descodificarem, a torrente de informação partilhada por utilizadores que pretendem atingir objetivos que nem sempre são explícitos na mensagem que nos chega ao mural da rede a que se está associado.
As redes sociais formais e informais partilham informação, conhecimento interesses e objetivos comuns a sua existência e intensificação fortalece as sociedades e torna-as mais interventivas, isto é, cresce a participação democrática e a mobilização social em torno de objetivos e lutas comuns.
Sendo uma ferramenta que veio potenciar a participação democrática e a produção de informação independente, as redes sociais virtuais não se substituem à participação e às interações que as redes sociais presenciais possibilitam, por conseguinte, não basta subscrever uma causa virtual ou promover a adesão de uma ação para conseguir um determinado objetivo sentado à frente de um monitor de computador.
Ao ativismo das redes sociais virtuais tem, necessariamente, de corresponder o ativismo da participação presencial sob pena das grandes adesões do clique não terem expressão física que lhes dê força visível e real.
Ponta Delgada, 15 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 16 de janeiro de 2012, Ponta Delgada 

sábado, 14 de janeiro de 2012

E assim se combate o terrorismo e os terroristas*

Nos últimos meses chegaram notícias de que um conhecido terrorista internacional se encontrava nos Estados Unidos e passeava, impunemente, pelas ruas de Miami.
O governo estado-unidense confrontado pela comunidade internacional com a presença deste personagem que dá pelo nome de Luís Posada Carriles no seu território, veio, em primeira instância, afirmar que desconhecia o seu paradeiro para, mais tarde, e muita pressão interna e externa depois, enviar ao seu local de acolhimento em Miami quatro agentes que o detiveram e o acusaram de crime por entrada ilegal nos Estados Unidos.
Posada Carriles, conhecido e reconhecido pelo governo dos Estados Unidos, tem um longo e mórbido currículo por toda a América Latina e do qual se pode destacar a responsabilidade pela morte de 73 pessoas durante o ano de 1976 fazendo explodir um avião comercial na costa dos Barbados.
Como explicam a administração Bush, os agentes federais, a polícia de Miami e os serviços de imigração o desconhecimento da entrada e permanência deste conhecido terrorista internacional em território do país que elegeu o combate ao terrorismo como a sua bandeira?
Como explica o governo estado-unidense aos seus cidadãos e à opinião pública internacional que o sanguinário Posada Carriles tenha sido apenas acusado do crime de entrada e permanência ilegal no território dos Estados Unidos?
O que leva a administração Bush a não responder ao pedido de extradição feito pelo governo do país de onde evadiu em 1985 e, no qual se encontrava a cumprir pena de prisão por uma das suas acções terroristas?
Documentos da CIA e do FBI, já desclassificados, comprovam não só a responsabilidade e autoria Posada Carrilles em várias acções terroristas, mas também que todo o seu percurso de terror teve o beneplácito das agências de segurança dos Estados Unidos.
Não tenho respostas para as perguntas que deixei anteriormente mas, o facto de Posada Carriles, tal como Osama Ben-Laden, ser um dos muitos monstros que a CIA criou talvez ajude à compreensão desta estranha atitude da administração de George W. Bush
Talvez ajude à melhor compreensão desta atitude da administração Bush se vos disser que o avião comercial que explodiu em pleno voo era da Cubana Aviaçón e que o país de onde se evadiu Posada Carriles foi a Venezuela que, agora, legitimamente solicita a sua extradição.
Quanto à ineficácia da polícia e dos agentes federais de Miami no combate ao terrorismo e aos terroristas não há nada de novo.
Enquanto os terroristas que perpetraram o ataque às Torres Gémeas se treinavam livremente no Estado da Florida as autoridades norte americanas procuravam empenhadamente agentes da inteligência cubana infiltrados nas máfias cubanas de Miami e que evitaram, com a sua acção, mais de 170 ataques terroristas contra o povo cubano.
Talvez ajude, ainda melhor, à compreensão desta contraditória situação se vos disser que os agentes cubanos se encontravam em Miami na sequência de um acordo antiterrorista entre a administração de Bill Clinton e o governo Cubano, na altura mediado pelo escritor Gabriel Garcia Marques, e do qual a administração estado-unidense fez tábua rasa em 1998.
Um dos muitos monstros criados pelo governo estado-unidense e pela CIA regressou à casa mãe criando um complexo problema à política interna e externa dos Estados Unidos.
Para a maior parte dos leitores tudo isto, suponho, será uma novidade porque este não é assunto dos noticiários nem que interesse aos poderes instituídos.
Vá-se lá saber porquê? Pois terrorismo é terrorismo e Luís Posada Carriles é responsável pela morte de mais de 3 mil pessoas, tantas quantas as que pereceram no ataque terrorista às Torres Gémeas.
Ponta Delgada, 23 de Junho de 2005

*Publicado na imprensa regional em junho de 2005 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Serventias

O Banco de Portugal (BdP) veio, no boletim de inverno, confirmar o que todos sabemos e, sobretudo sentimos e sofremos – a economia nacional vai contrair no biénio 2012/2013, desce 3,1% em 2012 e cresce 0,3% em 2013. É sempre bom que uma instituição tão bem paga reconheça o óbvio, aliás o BdP tem sido um excelente instrumento para nos ajudar a perceber porque é que aumenta o desemprego, os juros e o custo de vida. Não fosse o BdP e viveríamos numa angustiante incerteza por não percebermos porque é cada vez mais difícil acertar o ordenado com os dias do mês. Mas o BdP não serve só para nos acalmar a ansiedade, o BdP tem outras serventias.
Uma das suas principais competências está relacionada com a fiscalização e regularização da atividade bancária. O BPN e o BPP são apenas dois dos variados exemplos de como o BdP exerce, com eficácia, esta sua atribuição. E depois o povo que pague, não só os custos da nacionalização dos prejuízos, mas também os chorudos ordenados e as mordomias dos responsáveis pelo BdP.
No boletim da primavera de 2005, alguns meses depois da primeira vitória eleitoral do PS de José Sócrates, o BdP anunciou um valor do défice público substantivamente mais elevado do que tinha calculado e anunciado no seu boletim anterior. Na altura (maio de 2005) teci alguns comentários sobre o assunto e que passo a transcrever: (...) toda a encenação à volta do anúncio do valor do défice público feita pelo Governador do Banco de Portugal, a justificar e a demonstrar a inevitabilidade da tomada medidas para sair da “crise” obrigam-me, em consciência, a vir a terreiro dar conta da minha indignação, não só por este facto, mas também, e sobretudo, pelo conjunto de medidas que se prevê venham a ser anunciadas pelo governo de José Sócrates com o objetivo de debelar a famigerada e permanente “crise” e combater o défice público. (...)O BdP tem outras serventias, como já referi e enunciei algumas, a serventia política será, porventura, a que melhor serve o poder. Não o poder que resulta do sufrágio eleitoral mas o poder que é exercido pelos diretórios financeiros e económicos que influenciam as políticas.
Dizia ainda no texto que publiquei a este propósito: (...) E eu, assim como muitos portugueses, ter-mos, legitimamente, muitas dúvidas de que em Fevereiro não fosse já do conhecimento do PS e do Eng. Sócrates o valor do défice público. Admito que não conhecesse o valor com a precisão das centésimas, tal como foi anunciado por Vítor Constâncio, mas sabia, com certeza, qual era a parte inteira do número divulgado esta semana. (...)O BdP, em 2005, legitimou o incumprimento das promessas eleitorais e a adoção das medidas de austeridade tomadas na altura. Vítor Constâncio é vice-presidente do Banco Central Europeu, José Sócrates estuda filosofia em Paris e o povo português continua a ser fustigado por medidas de austeridade cada vez mais gravosas impostas, desta vez pelo PSD, parceiro de alterne do PS, com apoio do acessório do centrão, o CDS/PP.
Ponta Delgada, 10 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 11 e janeiro de 2012, Ponta Delgada

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Confio

A semana passada as centrais de compra e distribuição associadas às grandes superfícies foram notícia e motivo de polémica. Primeiro soube-se que a Jerónimo Martins (Pingo Doce) arranjou um esquema para escapar aos impostos em Portugal, depois foi o “Continente”, de Belmiro de Azevedo ao colocar leite espanhol à venda a um preço inferior àquele que é pago aos produtores. Isto é “dumping” e a pergunta é: - Onde está a Alta Autoridade para a Concorrência? Ou o que quer que seja que ponha um ponto final nesta hipocrisia dos mercados e da livre circulação de capitais
Ainda assim, não compreendi a indignação que se fez sentir pois, a Jerónimo Martins não fez mais do que seguir o conselho bastas vezes repetido pelo governo: emigrem; quanto ao grupo de Belmiro de Azevedo se alguém tinha dúvidas, desvaneceram-se: o capital é apátrida e não há campanhas publicitárias que o desmintam por mais bandeirinhas verde rubras que as enfeitem.
Duas outras notícias deram origem a alguma revolta na sociedade portuguesa. Alguns portugueses, muitos julgo eu, ficaram chocados por ter vindo a público que a Caixa Geral de Depósitos tinha uma sucursal na “Zona Franca da Madeira” e que desde Outubro de 2011 estava a transferir esta agência para as Ilhas Caimão, ou seja de um paraíso fiscal para outro mais vantajoso. Mas, terá sido a notícia sobre a ligação de diferentes personalidades, que exercem ou exerceram cargos políticos e outros postos da estrutura do Estado, à maçonaria. Esta sim terá sido a notícia que mais perturbação causou nos portugueses e, não é caso para menos. É muito preocupante esta promiscuidade entre uma sociedade com as características da maçonaria e responsáveis políticos dos chamados partidos do “ arco do poder”. Talvez este facto explique muitos dos imbróglios nacionais.
Não sei o que vos diga! Mas uma coisa posso, seguramente, afirmar: não fui surpreendido por nenhuma das notícias a que aludi e gostei de ver as reações de estupefação e de repúdio de muitos dos nossos concidadãos. Afinal não foi uma, foram duas - as afirmações.
Que não fique a ideia que já nada me surpreende. Não, nada disso continuo a maravilhar-me com o que me rodeia e a assombrar-me com alguma da informação que é difundida diariamente.
Surpreende-me a resignação, preocupa-me o continuado processo de estupidificação a que os portugueses estão sujeitos, maravilha-me a exuberância dos verdes, a mescla de azuis no horizonte, emociono-me com as injustiças e confio, confio que um dia nenhuma criança será uma vítima da fome.
Ponta Delgada, 08 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 09 de janeiro de 2012, Ponta Delgada

sábado, 7 de janeiro de 2012

O grupo do Áudio Visual e o leite derramado

Quando o Projeto de Resolução do CDS/PP que propunha a criação de um “Grupo de Trabalho para Definir o conceito de Serviço Público de Áudio Visual na Região foi apresentado, votado e aprovado na ALRAA, só a Representação Parlamentar do PCP votou contra. O PS, o PSD e o CDS/PP votaram a favor e o BE absteve-se.
A notícia da comunicação social regional foi, na altura, acrítica. Ao que parece toda a gente ficou satisfeita e ninguém (nenhum jornalista) se preocupou em tentar perceber o meu voto contra a criação do grupo.
Isto faz-me lembrar uma conversa que já há alguns anos, mais precisamente em Janeiro de 2008, mantive um Secretário Regional. Perguntava-me o ilustre Secretário Regional, qual era a minha opinião sobre um diploma que iria ser apresentado na ALRAA e, eu respondi, ainda não tenho opinião formada sobre o assunto. Preciso mais tempo de refletir. Ao que o membro do governo me respondeu – o mal dos comunistas é passarem muito tempo em reflexão.
Talvez seja! Mas a verdade é que sobre a criação do aludido grupo de trabalho ninguém refletiu a não ser, claro, o seu autor e a Representação Parlamentar do PCP. Não refletiram os partidos que viabilizaram o Projeto de Resolução e não refletiu a sociedade açoriana, designadamente quem agora, depois de conhecida composição do grupo de trabalho e as condições apresentadas pelo Coordenador, o Professor Doutor José Manuel Mendes, as critica e se apercebe dos perigos daquela Resolução.
Mas afinal quais foram as razões que me levaram a votar contra o Projeto de Resolução que o CDS/PP apresentou.

Hipótese A – Sou contra a criação do grupo de trabalho
Hipótese B – Não gosto do Professor Doutor José Manuel Mendes
Hipótese C – por o Projeto de Resolução ser da autoria do CDS/PP
Hipótese D – Por o Projeto de Resolução ser vago nos seus objetivos específicos e transferir para o Coordenador do Grupo amplos poderes que escapam ao controle democrático da ALRAA

Se escolheram a hipótese D acertaram, basta verificar o Diário das Sessões” para conhecerem os argumentos que sustentaram o meu voto contra, aliás sou um adepto da criação de um grupo de trabalho para o efeito, não tenho nada contra o Professor José Manuel Mendes (no período de reflexão que dediquei ao assunto conheci o seu CV – está disponível na net) a quem reconheço grande competência científica, já votei diversas iniciativas resolutivas e legislativas do CDS/PP, bem como iniciativas de todos os partidos com assento parlamentar mas, no caso vertente votar a favor daquele Projeto de Resolução era, assim, como passar um cheque em branco.
Agora que o cheque começou a ser preenchido, eis senão quando, o PS estrebuchou e manifestou-se um certo mal-estar na sociedade açoriana.
Nada como dedicar algum tempo à reflexão e a tentar compreender as diferentes posições de cada um dos agentes políticos para evitar males maiores.
O grupo está criado e nem mesmo a posição de força do PS (ato de contrição) demoveu o coordenador do grupo de trabalho a dar continuidade ao trabalho pelo qual está mandatado pela ALRAA.
Pela ALRAA porque, a partir do momento da sua aprovação, deixou de ser do CDS/PP e passou a ser da Região e à Resolução estamos todos vinculados.
Legitimidade para criticar as escolhas do Professor José Manuel Mendes todos os cidadãos a têm mas, em bom rigor, o Coordenador do Grupo de Trabalho tem toda a legitimidade para nomear o seu grupo de colaboradores. Legitimidade que lhe foi conferida pelo texto resolutivo aprovado, na ALRAA, pelo PS, pelo PSD e pelo CDS/PP, com a abstenção do BE e o voto contra do PCP.
Apesar do conselho do ilustre Secretário Regional irei continuar a ter o “mau hábito” de refletir sobre as decisões política que assumo. Só assim posso diminuir a margem de erro. E como qualquer mortal cometo muitos erros.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Eros, um lugar...

Do blogue “motivos para amar”.
Diria mais ousado que o “E Deus Criou a Mulher” mas, também mais eclético. Para além das fotos e vídeos carregados de erotismo o “motivos para amar” tem secções de texto, escultura e pintura.






As fotos que fui surripiar ao “motivos para amar” ilustram bem, em minha opinião, o arrojo deste blogue que hoje descobri via twitter.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cuidemos do nosso jardim

Acabei de ler na edição on-line do “Jornal de Negócios: “Portugal é o único país onde a austeridade exigiu mais aos mais pobres”.
Em Portugal os riscos de aumento da pobreza são mais elevados do que no Grécia, Estónia, Irlanda, Reino Unido e Espanha. É o que se concluiu de um estudo divulgado pela Comissão Europeia e onde se comparam as medidas de austeridade adotadas entre os seis países mais afetados pela crise.
A holding da Jerónimo Martins vai pagar impostos na Holanda, a CGD, o banco público, já anunciou que vai encerrar a sua sucursal na Zona Franca da Madeira e transferi-la para o paraíso fiscal das ilhas Caimão.
E o povo!? O que vai fazer o povo. O que vamos fazer? Continuar calmamente a assistir ao aprofundamento da crise social e económica? A engolir a inevitabilidade das medidas de austeridade?
Ontem à noite em conversa informal com um amigo falámos de democracia e liberdade e dos perigos que pendem sobre estes valores. Valores que temos como adquiridos e concluímos que, embora as nossas diferenças ideológicas sejam antagónicas, a democracia está doente e que estamos a perder a liberdade na mesma proporção em que nos privam de direitos.
Um cidadão que está desprovido do direito ao trabalho, um cidadão que aufere um rendimento do trabalho mas tem de ser complementado com o Rendimento Social de Inserção, um cidadão (somos cada vez mais) que tem um vínculo de trabalho precário, não é um cidadão livre.
E, dizia eu, em jeito de provocação, ao meu amigo: - Por isso a luta pelos direitos é tão importante. Direitos e não assistencialismo pois, o que a direita gosta e quer é manter os cidadãos dependentes, fomentar o medo, digo-te mesmo que o que a direita quer é manter os cidadãos aterrorizados. No fundo é o que tu e os teus aliados da direita defendem. Transformar esse domínio exercido pela dependência e pelo medo em apoio eleitoral. E se isto é válido para a direita tradicional também o PS adotou essa estratégia há muito tempo.
Esta conversa da qual deixei o apontamento anterior trouxe-me à memória uma frase do Presidente do Tribunal de Contas, Oliveira Martins, que não posso deixar de subscrever, embora o nosso conceito de democracia não seja coincidente. Dizia então Oliveira Martins a dado passo de uma conferência que proferiu no dia 7 de Dezembro de 2011, em Ponta Delgada: - “A democracia e a liberdade são como duas flores que precisam ser cuidadas todos os dias. A perceção, ou não, deste princípio contribuiu ou, pode ter construído a ideia de que o adquirido era imutável e deixou de se cuidar do jardim onde se plantou a democracia e a liberdade”.
Não posso deixar de estar mais de acordo a defesa da democracia e da liberdade é uma luta de todos os dias. O abandono do exercício dos direitos de cidadania, o deixar “a política para os políticos”, o olhar para o 25 de Abril como apenas um feriado e não como um dia de luta é, assim como descuidar o jardim onde se plantou a democracia e a liberdade.
Só há um caminho. O caminho da luta em defesa da democracia política, social, económica e cultural, o caminho da luta em defesa da liberdade.
Cuidemos do nosso jardim!
Ponta Delgada, 03 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 04 de janeiro de 2012, Angra do Heroísmo

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Persistir e resistir

A dois de janeiro de 2009 publiquei no meu blogue (momentos) um pequeno texto no qual pretendia expressar uma mensagem de esperança no limiar de um novo ciclo anual. Foi escrito em Lisboa depois de uns dias passados no interior continental em terras da Beira Baixa.
“Viagens!
Caminhos de Inverno, na beira serra, de encontro às raízes que crepitam no borralho acolhedor.
Aquecem os sentidos, refrescam as memórias do tempo pretérito! Mas … o futuro chama cintilando nas labaredas da viagem pela vida, num Ano Novo de Esperança.”
Um texto simples e despretensioso que apela à esperança, como muitos outros que tenho produzido. Na verdade, quando releio os textos que há mais de dez anos venho a publicar na imprensa regional e, mais recentemente na blogosfera, a palavra e a ideia de esperança são uma constante, se bem que o conceito que lhe está associado não é sinónimo do juízo de fé ou, mesmo, de desejo. A história ensina-nos que quando os povos se decidem a utilizar a sua força as transformações acontecem e, é essa certeza fundada na história da humanidade que me dá esperança. Esperança que procuro transmitir quando escrevo, quando falo e quando defendo que é possível. Sim! É possível um Mundo melhor, só depende da vontade dos povos.
Esta convicção inabalável é por vezes incompreendida. Quantas e quantas vezes me dizem que perco tempo e que estaria muito melhor do outro lado da vida. Ao que eu costumo responder: - Não, não perco tempo. E, sim estaria materialmente melhor do outro lado da vida mas não quero. Quero estar ao lado do meu povo, ao lado dos povos, ao lado dos mais desfavorecidos, ao lado dos “nada”. Estou do lado certo da vida, o lado esquerdo.
Persistir e resistir são qualidades revolucionárias e, por acaso ou não, o Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) utilizou estas palavras na sua mensagem de Ano Novo, não quero dizer com isto que o Dr. Francisco Coelho seja um revolucionário. Não, nada disso, o que o levou a ter um discurso diferente foi o tempo. O tempo é de mudança anunciada, é tempo de transformações e o Presidente da ALRAA sabe-o e teme que as mudanças não sejam favoráveis. E sabe, no essencial, que é preciso resistir para garantir parte do que foi conquistado dentro do quadro do modelo de desenvolvimento europeu.
Resistir, é, no tempo que corre, agir para que as anunciadas transformações não aprofundem o retrocesso civilizacional que se está a verificar mas, a ação não pode ser só de resistência, a ação tem de conduzir à rutura de paradigma, sob pena do modelo predador de desenvolvimento se reconfigurar até à próxima crise e, entretanto algumas das conquistas civilizacionais ficaram pelo caminho.
Não tem que necessariamente ser assim mas, para o não ser, não nos podemos limitar a resistir, temos de exigir e afirmar um modelo de desenvolvimento diferente, aliás esse foi reconhecidamente um dos erros cometidos com as soluções encontradas no combate à crise financeira, em 2008, ou seja, o momento era apropriado para acabar de vez com o poder dos mercados financeiros, a opção foi capitalizar a banca e reconfigurar o sistema financeiro para que tudo ficasse na mesma, ou pior. Os especuladores deixaram a imobiliária e viraram-se para as dívidas soberanas.
As transformações podem ser sinónimo de avanço e não de retrocesso e a onda de contestação ao poder dos mercados que se verificou em 2011, um pouco por todo o planeta, veio reforçar a ideia expressa no texto que deu o mote a este escrito: - “... o futuro chama cintilando nas labaredas da viagem pela vida, num Ano Novo de Esperança.”
Ponta Delgada, 01 de janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 03 de janeiro de 2012, Ponta Delgada

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

CUBA VA!

Há algumas horas que começou a circular no twitter o anúncio, não confirmado, da morte do Comandante Fidel Castro Ruz. Procurei informação na net e, para surpresa minha, o Google devolveu-me 315 mil resultados com notícias relacionadas com a morte do Comandante que datam de 2011, de 2010, de 2009, de 2008 e, por aí fora.
Até pode ser que se venha a confirmar, desta vez, a morte desta personalidade incontornável que logrou sobreviver a centenas de atentados e a milhares e milhares de anúncios da sua morte que datam de há muitos anos.
Certo é que homens como Fidel de Castro Ruz têm um lugar na história, não morrem por muito que o Império e a mafia cubana de Miami o desejem.
O ciclo da vida porá fim à vida do Comandante, como a qualquer outro ser humano, mas a obra, a vida e o pensamento de Fidel da Castro perdurará no tempo e na memória dos povos como um exemplo revolucionário.
CUBA VA!
Hasta la vitoria sempre!

Soy Cuba. Hoje no 9500 Cine Clube





Hoje no 9500 Cine Clube de Ponta Delgada o filme de Mikhail Kalatozov, de 1964.
Aqui podem aceder a um dos planos (funeral de um estudante) desta película da Kalatozov

domingo, 1 de janeiro de 2012

Que há de novo?


Segundo este cartoonista nada, ou melhor, "o novo, é o novo" ano.
O ano de 2012 que por estas latitudes está a fechar o seu primeiro dia.
Dia da mensagem do Presidente da República.
 O Presidente da República voltou a exercitar-se num discurso a roçar a hipocrisia. Não podemos, nem devemos esquecer que Cavaco Silva tem grandes responsabilidades pela situação a que economia portuguesa chegou e, agora enquanto garante da Constituição nada faz para que ela se cumpra. Cavaco Silva fica-se pelas preocupações e aceita tranquilamente as "receitas" externas mesmo criticando a sua ineficácia.
Há uns dias atrás houve uma outra mensagem de Ano Novo. A mensagem do Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA). Esta bem mais interessante vamos ver é como a família política do Dr. Francisco Coelho a interioriza e, sobretudo a põe em prática.
Da mensagem do discurso do Presidente da ALRAA retenho algumas palavras que subscrevo e que tenho vindo a afirmar e reafirmar no espaço público.
"(...) Há que persistir e resistir. ... Exige-se, contudo, determinação e arrojo. Não bastam as lamúrias solidárias, conformadas numa pretensa fatalidade inexorável. ... É urgente sobretudo repudiar a ideia que devemos empobrecer alegremente, numa espécie de sadismo redentor. A crise não pode servir de pretexto para uma regressão civilizacional, em que conquistas de quem trabalha, às vezes com mais de um século, sejam pura e simplesmente banidas, em nome de forças indeléveis – que não podemos nem devemos aceitar. ... Mas também de valores, de opções e de rumo. Em que algumas receitas não são remédio mas pretexto. (...)
As palavras são do Dr. Francisco Coelho, Presidente da ALRAA.