quarta-feira, 20 de março de 2024

“… com botas cardadas ou pezinhos de lã”

foto Aníbal C. Pires
O programa do XIV governo regional dos Açores foi apresentado, discutido e aprovado na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA). Foi a abstenção parlamentar que viabilizou, sem surpresa, a aprovação do programa de governo. Não fiquei surpreendido pois, os partidos que se abstiveram têm um discurso recheado de intenções e linhas vermelhas e uma prática política utilitária em nada coerente com o discurso político inflamado que os carateriza. A viabilização do programa de governo serve os interesses políticos imediatos dos abstencionistas parlamentares. A aprovação do programa de governo fica, assim, a dever-se ao calculismo político e pouco, ou nada, ao que ali é declarado como intenção governativa pois, as opções de voto do Chega, da IL e do PAN foram, como já referi, meramente utilitárias e não aconteceram fundadas em análises e avaliações do programa que viabilizaram. Surpresa só para quem acredita no Pai Natal.

Tenho de reconhecer, depois de ter lido o programa do XIV governo regional, que José Manuel Bolieiro, como publicamente tinha anunciado, apresentou um programa de continuidade, ou seja, vamos continuar a trilhar um penoso caminho. 

O programa de governo pode ser bom ou mau consoante as diversas leituras que podem ser feitas ao documento que, para já, consiste apenas numa mera declaração de intenções, mas que conforma uma matriz ideológica liberal e assistencialista que não assegura progresso, desenvolvimento e justiça social. 

Imagem retirada da internet
Os olhares alinhados com a ideologia dominante dirão que o programa é satisfatório ou, mesmo, bom, outros olhares dirão que as assimetrias se vão aprofundar, as disparidades na coesão regional e na injustiça social vão aumentar e, por consequência, o aumento da exclusão, da pobreza e das dependências. As políticas de “continuidade reformista” que o programa do XIV governo regional espelha tendem a manter, sem solução, os graves problemas sociais e económicos que persistem nos Açores, pelas suas caraterísticas geográficas, mas sobretudo pela satisfação de clientelas e opções ideológicas dos sucessivos governos regionais.

O governo, no programa agora aprovado, afirma que existe um continuado crescimento económico (importaria aferir da sua sustentabilidade), mas não tem uma única medida que seja para redistribuir a riqueza criada.

O programa de governo propõe um modelo político ancorado na economia social e de mercado, reservando para a governação, apenas, o papel de regulador. Nem a Iniciativa Liberal seria tão clara nos propósitos, conquanto os motivos tornados públicos para a sua abstenção tenham sido os da estabilidade política.

O programa de governo reflete, naturalmente, o que os parceiros da coligação de direita pretendem para a sociedade açoriana o que, na minha modesta opinião, significa que vamos continuar na cauda das regiões europeias com indicadores de desenvolvimento humano indignos. E não se trata de nenhuma avaliação sobre as qualidades e qualificações políticas dos protagonistas, trata-se do projeto político ao qual estão vinculados que, sendo de “continuidade reformista”, vai promover a concentração da riqueza e o empobrecimento dos trabalhadores.   

A discussão parlamentar de análise, discussão e aprovação do programa do XIV governo regional aconteceu no rescaldo dos resultados eleitorais para a Assembleia da República. Os entendimentos conseguidos pelo PSD Açores poderão, ou não, servir como modelo para uma solução governativa semelhante na República. Veremos! Os resultados ainda não foram apurados, estão por atribuir os deputados (4) dos círculos eleitorais da emigração, embora não se esperem alterações de monta que coloquem em causa a escassa vitória da AD que o PS, na noite eleitoral, se apressou a reconhecer e da qual o PSD fez um foguetório, sempre com beneplácito da acrítica comunicação social, como se uma vitória expressiva se tratasse.

Se na noite eleitoral a comunicação social empolou, enquanto foi possível, a vitória da direita, de igual forma a comunicação social ajudou a construir estes e não outros resultados eleitorais.

imagem retirada da internet
As eleições em Portugal foram ganhas pela opinião mediática. A construção mediática do resultado só foi possível pela elevada iliteracia política e funcional que carateriza os portugueses. Não terá sido só, outras razões se poderão aduzir a estas, mas a parcialidade da comunicação social foi determinante para que o justo descontentamento dos portugueses se tivesse transformado no apoio a propostas políticas que os penalizarão ainda mais.

Os mais desprendidos ou pragmáticos dirão que é a democracia a funcionar, eu direi que não. O que funcionou foi a moldagem e a manipulação do pensamento que os “donos do mundo” promovem e financiam, ao qual se pode associar os resquícios da herança do fascismo português que continua a colher adesão.

Vi por aí escrito, algures numa rede social, que os eleitores deram esta dimensão à extrema-direita, mas não professam ideais fascistas. Eu tenho as minhas dúvidas, o voto pode até ter sido de protesto, mas foi também um voto de identificação com a xenofobia e o racismo e outras formas de discriminação. Se assim não fosse o protesto teria sido distribuído pela ampla oferta de opções eleitorais para além dos partidos alternantes no poder em Portugal.

imagem retirada da internet
As populações mais fragilizadas social e economicamente e as que são vítimas do “menos Estado melhor Estado”, esta tese liberal que resultou (resulta sempre) na degradação dos serviços públicos, seja na saúde, seja na educação, seja no apoio social, mas também na desvalorização do trabalho e dos trabalhadores e na delapidação do setor público, estes são motivos mais do que suficientes para que os eleitores do interior norte e centro e dos territórios a Sul do Tejo tenham manifestado o seu desagrado pelo abandono a que têm sido sujeitos, embora tenham optado por dar apoio eleitoral aos autores e cúmplices das políticas e procedimentos que estão na base do seu descontentamento.

Os concelhos e distritos mais penalizados pelo abandono dos governos de Lisboa sinalizaram o seu protesto dando apoio eleitoral ao discurso antissistema profusamente reproduzido pelos órgãos de comunicação social de massas. Se é justo o protesto dos eleitores já não poderei dizer o mesmo da sua opção eleitoral que demonstra a permeabilidade dos cidadãos ao discurso boçal e medíocre utilizado para despertar sentimentos primários que contrariam toda a evolução social que, julgava eu, estava bem consolidada no seio das sociedades do chamado mundo ocidental, por outro lado, esta opção eleitoral é, também, reveladora dos efeitos da infantilização e estupidificação a que temos sido sujeitos. 

A ascensão da direita e da extrema-direita tem-se verificado um pouco por toda a União Europeia e, mais tarde ou mais cedo chegaria a vez de Portugal. O crescimento desmedido da extrema-direita, não tendo constituído uma surpresa, é preocupante e representa um retrocesso civilizacional num espaço geográfico, político e social que diz, de si próprio, ser uma referência dos valores democráticos e defesa das liberdades. O “jardim” de Josep Borrel, pela sua própria natureza, está a perder o viço. Com “botas cardadas ou pezinhos de lã” o fascismo recrudesce e, qual erva daninha asfixia os espaços de liberdade e democracia.

Ponta Delgada, 19 de março de 2024 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 20 de março de 2024

terça-feira, 19 de março de 2024

dúvidas...!? algumas.

imagem retirada da internet

Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.



(...) As eleições em Portugal foram ganhas pela opinião mediática. A construção mediática do resultado só foi possível pela elevada iliteracia política e funcional que carateriza os portugueses. Não terá sido só, outras razões se poderão aduzir a estas, mas a parcialidade da comunicação social foi determinante para que o justo descontentamento dos portugueses se tivesse transformado no apoio a propostas políticas que os penalizarão ainda mais.

Os mais desprendidos ou pragmáticos dirão que é a democracia a funcionar, eu direi que não. O que funcionou foi a moldagem e a manipulação do pensamento que os “donos do mundo” promovem e financiam, ao qual se pode associar os resquícios da herança do fascismo português que continua a colher adesão.

imagem retirada da internet

Vi por aí escrito, algures numa rede social, que os eleitores deram esta dimensão à extrema-direita, mas não professam ideais fascistas. Eu tenho as minhas dúvidas, o voto pode até ter sido de protesto, mas foi também um voto de identificação com a xenofobia, o racismo e outras formas de discriminação. Se assim não fosse o protesto teria sido distribuído pela ampla oferta de opções eleitorais para além dos partidos alternantes no poder em Portugal. (...)

terça-feira, 12 de março de 2024

Abril é mais futuro

foto de Madalena Pires
Texto publicado na edição especial de "O Barbilho" que assinala o cinquentenário do 25 de Abril


Construção embargada - Abril é mais futuro


futuro adiado

não é este o futuro
que as portas de Abril abriram
este é o presente
fechado em novembro

In "Esperança Velha e outros poemas", Aníbal C. Pires, Letras Lavadas, 2020


“Abril” é uma quimera por cumprir que habita o sonho dos portugueses que mantêm bem viva a esperança num país novo. Um país mais justo, mais fraterno, mais livre. “Abril” é a utopia que nutre a luta e a caminhada que se iniciou no dia, em que felizes rolaram livres as lágrimas na face de um povo oprimido.

Falar do 25 de Abril e da Constituição, que consagrou os principais valores de Abril, não significa falar do passado ou assinalar as correspondentes efemérides, por mais importante e significativo que isso seja. Falar da Revolução de Abril, comemorar “Abril”, é falar do presente e projetar o futuro.

A Liberdade, a Democracia, a Justiça Social, a Paz e a Soberania conquistadas, em 1974, pelo Povo Português foram consagradas na Constituição da República, aprovada a 2 de Abril de 1976, uma das mais avançadas e progressistas do século XX, projetando os valores da Revolução de Abril, reconhecendo e dando suporte aos direitos, conquistas e às profundas transformações e mudanças que foram protagonizadas pelo Povo Português. Apesar das distorções que as sucessivas revisões constitucionais introduziram ao texto inicial, a Constituição continua a ser um suporte fundamental e indispensável na regulação da nossa vida democrática, e o garante de importantes direitos políticos, económicos sociais e culturais dos trabalhadores e do povo.

imagem retirada da internet
A Constituição assume um conceito holístico de democracia. A democracia por inteiro tem de ser política, económica, social e cultural. Na Constituição inscrevem-se os direitos dos trabalhadores como intrínsecos à democracia, desde os direitos sindicais aos direitos laborais e à justiça, à segurança no emprego, a uma redistribuição mais justa da riqueza com a efetivação do direito a salários mais justos, a horários de trabalho mais dignos. Nela se expressa o direito ao trabalho para todos e a execução de políticas económicas de pleno emprego. Nela se reconhece às mulheres o direito à igualdade no trabalho, na família e na sociedade e importantes direitos às crianças, aos jovens, aos reformados e aos cidadãos com deficiência. Nela se proclama a exigência da subordinação do poder económico ao poder político e a incumbência ao Estado de dar prioridade às políticas económicas e de desenvolvimento que assegurem o aumento do bem-estar social, a qualidade de vida das pessoas, a justiça social e a coesão económica e social de todo o território nacional. Nela estão consignadas as obrigações do Estado em relação a domínios tão importantes como os da educação e do ensino, da saúde, da segurança social, da cultura. Nela subsistem princípios fundamentais para a organização do Estado, como a independência dos tribunais e a autonomia do Ministério Público, mas também a autonomia do Poder Local democrático e consagrou a histórica aspiração dos Povos Insulares à Autonomia. Nela se estipulam os princípios que devem nortear as relações internacionais e pelas quais Portugal se deve reger – da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos e da não ingerência nos assuntos internos de outros Estados, o desarmamento e a dissolução dos blocos militares.

Apesar de “novembro” e das sucessivas revisões a Constituição da República Portuguesa consagra, ainda, o essencial do projeto político procedente da Revolução de Abril. No presente defender “Abril” é defender a Constituição e exigir o seu cumprimento.


foto Aníbal C. Pires

do 25 de Abril
 
abril é
um amor que resiste 
uma construção embargada 
uma lágrima de alegria
uma poesia por recitar

abril não é
passado
abril é
futuro
abril é
um sonho por cumprir

In “Esperança Velha e Outros Poemas”, Aníbal C. Pires, Letras Lavadas, 2020




Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 12 de novembro de 2023


nota breve

As eleições em Portugal foram ganhas pela opinião mediática.

A construção mediática do resultado só foi possível pela elevada iliteracia política e funcional que carateriza os portugueses. Não terá sido só, outras razões se poderão aduzir a estas, mas por agora fica apenas este registo.

Os mais desprendidos ou pragmáticos dirão que é a democracia a funcionar, eu direi que não. O que funcionou foi a moldagem e a manipulação do pensamento que os “donos do mundo” promovem e financiam, ao qual se pode associar a ressuscitação de bolorentos pensamentos salazaristas aos quais os portugueses continuam a aderir.

Vi por aí escrito, algures numa rede social, que os eleitores deram esta dimensão à extrema-direita, mas não professam ideais fascistas. Eu tenho as minhas dúvidas, o voto pode até ter sido de protesto, mas foi também um voto de identificação. Se assim não fosse o protesto teria sido distribuído pela ampla oferta de opções eleitorais para além dos partidos alternantes no poder em Portugal.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 11 de março de 2024


sexta-feira, 8 de março de 2024

dia da Mulher

Rosa Luxemburgo (1871-1919)

Celebra-se hoje o Dia Internacional da Mulher.

E esta frase de Rosa Luxemburgo (1871-1919) continua a ser tão atual como quando ela a proferiu.




"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres."

Rosa Luxemburgo.


quarta-feira, 6 de março de 2024

“Semear em março, para colher Abril!”

imagem retirada da internet
O XIV governo regional dos Açores tomou posse. Sobre as personalidades que o integram nada tenho a dizer, conquanto as dúvidas sobre a convivência pacífica deste elenco e o seu desempenho sejam mais que muitas. Aguardo pelo programa de governo para ajuizar do projeto político para esta legislatura que se antevê de curta duração, face ao posicionamento dos partidos políticos que lhe podem conferir durabilidade, não digo estabilidade pois, com a inconstância de posicionamentos de alguns dos agentes políticos que compõem o atual parlamento regional, estejam sozinhos ou agrupados, não vislumbro que a estabilidade seja apanágio deste período da vida política regional. 

Como sempre, será a população a pagar os desmandos da satisfação de interesses políticos pessoais e dos grupos que beneficiam com as respostas políticas que perpetuam o histórico atraso destas ilhas. A afirmação anterior tem subjacente um juízo de valor sobre o desempenho e o projeto político do novo governo regional. 

Sim é verdade! Mas não o faço de forma gratuita pois, foi José Manuel Bolieiro que o disse, quando em declarações recentes, após ter dado conhecimento do novo elenco governativo, ao afirmar: “Nesta nova composição do XIV Governo aponto para um exercício de continuidade. Existem pequenos ajustamentos, mas o governo terá praticamente todos os membros do governo que fizeram parte do XIII Governo, a orgânica também tem meros ajustamentos. É, por isso, um governo e uma governação de consistência e de continuidade com uma visão reformista…”; com estas palavras do presidente do governo regional é legítimo afirmar que nada se vai alterar, ou seja, as crónicas dificuldades sociais e económicas que nos situam na cauda das regiões europeias com os piores índices de desenvolvimento vão ter consistência e continuidade, mas com uma visão reformista, seja lá o que isso for atualmente pois, o “reformismo” já foi uma doutrina política adotada pelo socialismo democrático (social democracia) coisa que os partidos, da coligação governamental, desde logo o PSD, não são.

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Os deputados eleitos a 4 de fevereiro tomaram posse e constituíram-se em grupos e representações parlamentares. O grupo parlamentar do PSD tem 23 deputados (mais 2 que na legislatura anterior), o grupo parlamentar do PS tem 23 deputados (menos 2 que na legislatura anterior), o grupo parlamentar do CDS tem 2 deputados (menos 1 que na legislatura anterior), o PPM tem 1 deputado (menos 1 que na legislatura anterior e perdeu o estatuto de grupo parlamentar), o Chega tem 5 deputados (mais 3 que os eleitos na legislatura anterior), o BE tem 1 deputado (menos 1 que na legislatura anterior e perdeu o estatuto de grupo parlamentar), a IL tem 1 deputado (mantém o mesmo número), o PAN tem 1 deputado (mantém o mesmo número). Estes dados desagregados têm alguma importância para melhor compreender a maioria relativa da coligação PSD, CDS e PPM.

O CDS, de 3 para 2, e o PPM de 2 para 1, perderam 2 deputados a favor do PSD que passou de 21 para 23. A comunicação social e mesmo as forças partidárias em presença não se têm referido a este facto, nem à igual dimensão dos grupos parlamentares do PSD (23) e do PS (23). Valorizou-se a vitória da coligação como se esse triunfo fosse, inequivocamente, um grande êxito. Mas, em boa verdade, a coligação tripartida tem exatamente o mesmo número de deputados de que dispunha na legislatura anterior, os mesmos 26, agora distribuídos de forma diferente e com o CDS e o PPM a perderem terreno no contexto parlamentar o que, ainda assim, não foi suficiente para o PSD abdicar da presença do CDS e do PPM no novo elenco governativo. 

A ânsia do poder tem razões que a razão desconhece. Já não refiro a ética pois essa há muito que anda arredada da política regional, vale tudo, a qualquer preço, desde que se garanta um lugar à mesa onde se distribuem influências e se satisfazem egos políticos. 

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O parlamento regional tem uma configuração diversificada e uma maioria de direita (PSD, CDS, Chega, IL e PPM). O PS e o BE ocupam o espaço da esquerda parlamentar e deles se espera uma oposição firme à direita parlamentar. Veremos! O PAN não se sabe muito bem para que lado tomba, é assim como um catavento a apontar para a direção que melhor satisfaça os interesses políticos do seu porta-voz. O PAN não é carne nem é peixe, mas também não é vegetariano e muito menos vegano.

Com este quadro parlamentar e com este poder executivo não se pode esperar a adoção de medidas políticas que se traduzam na melhoria da vida dos açorianos. A direita governa para os grandes grupos económicos, promove a concentração da riqueza e o empobrecimento da generalidade dos cidadãos que vivem do seu trabalho (trabalhadores, micro, pequenos e médios empresários). Nada mudou, aliás como demonstram os resultados eleitorais. Alteração, a vir a acontecer, dependendo de eventuais entendimentos partidários, será a radicalização das políticas de direita que, como se sabe, só produzem mais desigualdade, mais intolerância, mais retrocesso civilizacional, mais exclusão, mais dependências.

Nos Açores as posições partidárias estão, diria eu, extremadas o que pode indiciar que a durabilidade deste governo seja de apenas alguns meses. Mas, há sempre um mas, tudo está dependente do que as eleições nacionais de 10 de março ditarem. As posições partidárias, na Região, irão ajustar-se consoante os resultados nacionais de partidos como o Chega, a IL, e a coligação de direita (PSD/CDS/PPM) e do quadro de maiorias parlamentares que se vier a verificar.

As sondagens são para todos os gostos e a sua utilidade é perversa, servem apenas para condicionar o voto dos cidadãos que, perante um determinado cenário, abdicam do voto esclarecido para o chamado “voto útil”, o que se constitui como uma inutilidade, e, bastas vezes, coloca em causa a boa governança, veja-se o resultado da governação da atual maioria absoluta, recue-se à legislatura de 2015 a 2019 e façam-se as devidas comparações. 

Os resultados alternantes das sondagens, hoje ganha o PS amanhã ganha a AD, são um bom exemplo da continuada e promovida bipolarização, alimentada por politólogos e comentadores, que beneficia o bipartidarismo e enfraquece a democracia. 

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A cobertura da campanha eleitoral em curso é um exemplo acabado do que acabo de afirmar. Tempos reduzidos de debate entre os protagonistas e infindáveis tempos para o comentário. Tudo isto como se os espetadores necessitassem de uma iluminada mediação para compreenderem o que os dirigentes partidários dizem e debatem, e assim se constrói uma opinião mediática que a generalidade dos cidadãos adota como sua. Não é de agora, mas tem-se agudizado. A chamada opinião pública é cada vez menos de ordem pessoal e coletiva e cada vez mais o resultado da opinião mediática, isto é, a opinião forma-se não pelo conhecimento estruturado, mas através de clichés, análises do acessório e de meias-verdades, sempre enganosas, veiculadas pela generalidade dos comentadores com estatuto de politólogos.

Os resultados eleitorais de 10 de março podem fazer-nos recuar aos períodos da austeridade e do empobrecimento, ou ao período em que foi demonstrado que o crescimento económico e o desenvolvimento são compagináveis com o aumento dos rendimentos do trabalho e dos direitos. A opção eleitoral dos portugueses, mais do que conferir uma vitória relativa ao PS ou à AD, vai ditar uma maioria parlamentar de direita ou de esquerda, e isso é o que está verdadeiramente em jogo.

Só com o reforço eleitoral e parlamentar de quem defende a consigna: “Semear em março, para colher Abril!”, será possível assegurar uma política à esquerda, o PS sozinho governa à direita, o reforço eleitoral de quem traduz a sua atuação política na defesa dos valores de Abril é contribuir para acabar com os sonhos de poder da extrema-direita. Não deixemos que se cerrem as portas que Abril abriu.

Ponta Delgada, 5 de março de 2024 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 6 de março de 2024

pelo 103.º aniversário do PCP

O PCP comemora hoje 103 anos de existência, de resistência e de luta por um país mais justo, independente e desenvolvido.

O PCP é hoje, como foi durante a longa noite fascista, alvo dos mais soezes ataques alimentados pelos seus inimigos de classe.

A direita liberal, base de todos os fascismos, reergueu-se pela mão dos oligopólios apátridas que dominam a política nacional, da União Europeia e dos Estados Unidos.

As corporações mediáticas dão voz aos populistas liberais e alimentam o anticomunismo primário. Cumprem o seu papel enquanto parte dos conglomerados empresariais que ditam as agendas “informativas”.

O PCP mantém-se fiel aos princípios e, por isso, não morreu, nem morre, como amiúde têm vaticinado os acólitos do mercado, do liberalismo e do fascismo.

Viva o PCP!






Ao meu Partido - poema de Pablo Neruda


Deste-me a fraternidade para com o que não conheço
Acrescentaste à minha a força de todos os que vivem
Deste-me outra vez a pátria como se nascesse de novo
Deste-me a liberdade que o solitário não tem
Ensinaste-me a acender a bondade, como um fogo
Deste-me a rectidão de que a árvore necessita
Ensinaste-me a ver a unidade e a diversidade dos homens
Mostraste-me como a dor de um indivíduo morre com a vitória de todos
Fizeste-me edificar sobre a realidade como sobre uma rocha.
Tornaste-me adversário do malvado e muro contra o frenético
Fizeste-me ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria
Tornaste-me indestrutível, porque, graças a ti, não termino em mim mesmo


terça-feira, 5 de março de 2024

uma vitória assim-assim

foto de Aníbal C. Pires




Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.






(...) O CDS, de 3 para 2, e o PPM de 2 para 1, perderam 2 deputados a favor do PSD que passou de 21 para 23. A comunicação social e mesmo as forças partidárias em presença não se têm referido a este facto, nem à igual dimensão dos grupos parlamentares do PSD (23) e do PS (23). Valorizou-se a vitória da coligação como se esse triunfo fosse, inequivocamente, um grande êxito. Mas, em boa verdade, a coligação tripartida tem exatamente o mesmo número de deputados de que dispunha na legislatura anterior, os mesmos 26, agora distribuídos de forma diferente e com o CDS e o PPM a perderem terreno no contexto parlamentar o que, ainda assim, não foi suficiente para o PSD abdicar da presença do CDS e do PPM no novo elenco governativo. 

A ânsia do poder tem razões que a razão desconhece. Já não refiro a ética pois essa há muito que anda arredada da política regional, vale tudo, a qualquer preço, desde que se garanta um lugar à mesa onde se distribuem influências e se satisfazem egos políticos. (...)


sábado, 2 de março de 2024

alguns dados sobre os 16 anos do "momentos"

Aníbal C. Pires 
Em dia de aniversário deixo alguns dados sobre o “momentos”

Nestes 16 anos foram divulgadas 2774 publicações, registaram-se 919590 visualizações e 824 comentários às postagens.

Seguem o blogue 56 pessoas.

As visualizações têm origem, um pouco, por todo o mundo. Sendo que os países que acumulam mais visitantes são:

- Portugal;

- Estados Unidos; e 

- Brasil,

Esta aventura vai continuar. Sei que os blogues passaram de moda, mas mantenho-me por aqui enquanto tiver alguma coisa para partilhar para lá dos 140 carateres e da efemeridade das “redes sociais” mais populares, das quais também faço uso.

Agradeço a todos os visitantes que aqui vêm com frequência, mas também aos que “picam” pontualmente este espaço.

Bem hajam!


16.º aniversário do "momentos"

O “momentos” completa hoje dezasseis anos e o autor pretende prolongar-lhe a existência. 

Com o advento de outras plataformas de comunicação e interação para partilha de textos, imagens e vídeos os blogues perderam alguma importância. Muitos entusiastas e até alguns dos pioneiros abandonaram a blogosfera, eu optei por manter este espaço e aproveitei as caraterísticas de outras plataformas, como o Facebook e o Twitter (X), para potenciar o “momentos”. 

Vou continuar por aqui.

Sejam bem-vindos. 


sexta-feira, 1 de março de 2024

Amira Al-Assouli - a abrir março

Amira Al-Assouli - imagem retirada da internet

Amira Al-Assouli, médica no Hospital Nasser em Gaza, arriscou a vida para socorrer pessoas em Khan Younis com a sua equipa, debaixo do fogo israelita. Perdeu familiares, amigos e a casa, mas continua o seu trabalho em Gaza, Palestina.

Lindas são as mulheres que lutam.

Os olhos do civilizado mundo “ocidental” fecham-se agora, como se fecharam em 1948, perante as atrocidades dos sionistas que ocupam a Palestina.

Até quando vamos continuar a permitir este genocídio!? Só não ouve e não vê quem não quer.

 



"Vemos, ouvimos e lemos

Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos

Não podemos ignorar"

 

(...)

"Nada pode apagar

O concerto dos gritos

O nosso tempo é

Pecado organizado."

 

Excertos do poema Cantata da Paz de Sophia de Mello Breyner Andresen