terça-feira, 31 de outubro de 2023

os povos querem paz

imagem retirada da internet



Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.




(...) Mas se estas manifestações são impactantes, pela sua dimensão e significados, as tomadas de posição da diáspora judaica, com particular relevância nos Estados Unidos, confirmam que este não é, nem nunca foi, um conflito religioso. As comunidades judaicas, por todo o mundo, têm vindo a afirmar, inequivocamente e sob o lema “não em nosso nome”, que não se identificam com o estado sionista de Israel e defendem a existência de um Estado Palestiniano livre e soberano. (...)

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

das linguagens

 

foto de Rui Lopes
Texto de Apresentação do livro:

“Por um Fio de Seda”, texto e ilustrações de Rui Lopes

Centro Cultural de Santa Clara, 24 de outubro de 2023, pelas 18h30mn

Minhas senhoras e meus senhores,

Caros amigos,

É, para mim, uma honra e também um prazer, estar aqui a convite do Rui Lopes, a quem aproveito para agradecer a confiança que em mim deposita para apresentar o seu primeiro livro que reúne, como terão oportunidade de constatar, um texto em que o autor narra uma história real e ilustra com a mestria que lhe reconhecemos, não só por esta nova experiência, mas por todo o trabalho gráfico que tem feito ao longo da sua vida profissional e que agora ganha novos e desafiantes contornos.

Agradeço a vossa presença com o compromisso de que não vos vou ocupar muito tempo, nem maçar com avaliações mais ou menos elaboradas sobre o texto, sobre as ilustrações, mas também sobre o protagonista desta história, que se encontra aqui entre nós e, a quem aproveito para endereçar um cumprimento especial pois, hoje, completa 92 anos de idade. 

Parabéns, Comandante Francisco da Encarnação Afonso! 

E bem-haja pelo seu exemplo de vida.


ilustração de Rui Lopes

Minhas senhoras e meus senhores,

Caros amigos,

Quando Rui Lopes me convidou para fazer a apresentação pública do seu livro, convite ao qual anuí sem qualquer reserva, e dei início à estruturação desta breve intervenção optei por dedicar o essencial do conteúdo deste registo ao autor, enquanto cidadão e ao potencial artístico que carrega consigo, mas por razões diversas não tem tido oportunidade de cultivar, para além da comunicação visual utilitarista. Ao contrário do que costumo fazer não separei as alusões à obra ao perfil do autor o que poderá contrariar os cânones, mas eu gosto de correr riscos e essa tem sido a minha opção de vida: navegar à bolina. Sinto-me confortável assim, a ir contraventos e marés.

“Por um fio de seda”, relata uma história, conhecida por muitos dos presentes, e por muitos outros que, estando ausentes conhecem, pois, esta história faz parte dos anais da aviação militar em Portugal e já foi descrita, de entre outros registos, no livro “Voando… A Unir O Que O Mar Separa”, promovido pela Associação Portuguesa de Pilotos de Linha Aérea (APPLA), da autoria do Professor Ermelindo Peixoto e publicado na sequência da atribuição do Prémio Carlos Bleck 2017, ao Comandante Afonso, e que o Rui Lopes referencia como uma das suas fontes.

Mas o reconhecimento à carreira, profissionalismo e dedicação não foi, apenas, pelos seus pares, como acabei de referir, aliás uma de entre muitas outras, mas também o Município de Ponta Delgada e a Região, através da ALRAA, prestaram uma justa homenagem ao Comandante Afonso, atribuindo-lhe respetivamente o “Diploma de Reconhecimento Municipal”, em 2011 e a “Insígnia Honorífica Açoriana de Dedicação”, em 2013.


Minhas Senhoras e meus senhores,

Caros amigos,

Numa epígrafe do livro do Professor Ermelindo Peixoto e que acabei de referenciar pode ler-se: “voar nas asas do sonho”; e esta é uma inscrição que, também, se ajusta, ao Rui Lopes. Por este livro e por este momento, pois, quem o conhece tem consciência que o presente acontecimento é um voo sonhado pelo Rui, e não me refiro ao livro em si mesmo, essa é apenas uma particularidade que não me surpreende, embora seja uma excelente mostra da arte e criatividade do Rui Lopes. Mas este momento é, também e, quiçá, sobretudo um grito que o liberta, ou pode libertar, do espartilho da publicidade e dos grafismos comerciais. 

O voo sonhado do Rui Lopes e que, para já deu este belo fruto, relaciona-se com tudo o que lhe está a montante, isto é, o recente, mas muito desejado percurso formativo, a sua concretização com sucesso, o reconhecimento dos seus mentores e, quiçá, a oportunidade tão ambicionada para o Rui Lopes poder dar expressão ao que lhe dá prazer e melhor sabe fazer: arte pela arte. Arte sem moralismos nem utilitarismos, a arte apenas pela estética.

Comandante Francisco Afonso (coleção particular)
Neste livro o autor ilustra e narra um episódio, por sinal dramático, da vida do Comandante Afonso que como sabem é o sogro do Rui. Permito-me fazer esta referência pois, a escolha do tema diz bem do homem que é o Rui Lopes.

A estória relata e ilustra um incidente ocorrido a 12 de outubro de 1955 protagonizado pelo Comandante Afonso, então com 23 anos, faria 24 passado 12 dias, e como piloto da Força Aérea Portuguesa. 

Era um voo noturno num jato monomotor da Esquadra 20, de caças F84-G, sedeada na base aérea da Ota. Dificuldade e alguma confusão nas comunicações, o afastamento da base, quando conseguiu determinar o local onde se encontrava, por ter avistado as luzes da procissão das velas em Fátima, concluiu que o combustível era insuficiente para chegar à base, quando assim é os manuais aconselham a ejeção, e foi o que o Comandante Francisco Afonso fez, apontou a aeronave ao mar e ejetou-se. O livro não é apenas a descrição deste episódio, mas é sobretudo esta estória do brilhante percurso profissional do Comandante Afonso que o autor de “Por um fio de seda” partilha connosco socorrendo-se das palavras do protagonista e brindando-nos com ilustrações que nos transportam para a carlinga do avião, para os procedimentos da ejeção, para a serenidade da descida em paraquedas e a chegada ao solo no meio de uma vinha, já vindimada, mas ainda assim os cães de guarda alertaram o proprietário para a presença de um intruso, o que contribuiu para que o seu resgate pela Força Aérea Portuguesa tivesse acontecido com celeridade.


Rui Lopes - foto de Madalena Pires

Senhora e senhores,

Caros amigos, 

Temas e estórias não faltam por aí, mas o Rui optou por esta, optou por homenagear uma figura familiar por quem tem muita admiração e respeito. 

Quem conhece o Rui sabe que ele é um homem de afetos e de emoções. 

Quem conhece o Rui Lopes identifica-o como arquétipo da generosidade. 

O Rui é um ativista na defesa do ambiente, da natureza e de modelos de desenvolvimento sustentáveis, o Rui preocupa-se com as injustiças sociais, o Rui coopera não compete, o Rui é um lutador contra a indiferença, o Rui dedica-se, direi, religiosamente à família e aos amigos, o Rui é o amigo com quem podemos sempre contar, o Rui está sempre disponível para quem o procura, o Rui é humildemente generoso como deviam ser os homens, mas o Rui é, sobretudo, um talentoso criativo que necessita espaço e oportunidades para se afirmar e mostrar toda a sua capacidade artística, de que este livro e, em particular, as ilustrações são uma pequena amostra do seu fértil universo de linguagens plásticas que é o seu território comunicacional de eleição.

Obrigado Rui, pelo convite e pela amizade! Obrigado pela vossa atenção!


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 24 de outubro de 2023


terça-feira, 24 de outubro de 2023

"por um fio de seda", Rui Lopes

Hoje, pelas 18h30mn, no Centro Cívico e Cultural de Santa Clara, será apresentado o livro "Por Um Fio de Seda", com texto e ilustrações de Rui Lopes.

Irei fazer a apresentação do livro e deixo aqui um parágrafo do texto escrito para o efeito.


(...) O livro não é apenas a descrição deste episódio, mas é sobretudo esta estória do brilhante percurso profissional do Comandante Afonso que o autor de “por um fio de seda” partilha connosco, socorrendo-se das palavras do protagonista e brindando-nos com ilustrações que nos transportam para a carlinga do avião, para a serenidade da descida em paraquedas e a chegada ao solo. (...)

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

…maria somebody

imagem retirada da internet
A 38.ª edição dos Colóquios da Lusofonia aconteceu de 4 a 8 de outubro, no Centro de Artes Contemporâneas, na cidade da Ribeira Grande. Participei, com agrado, neste evento em diversos momentos dando conta, como posso e sei, do que me foi proposto. 

De alguns anos a esta parte a direção dos Colóquios tem vindo a homenagear algumas personalidades que se destacam no campo da produção literária, na sua divulgação ou, ainda, pela carreira e contributos que ao longo da sua vida deram à divulgação e promoção do livro e da leitura. Na edição deste ano e cumprindo a tradição foram feitas homenagens a: Francisco Madruga, pelos 40 anos de carreira editorial. Do homem e da obra coube a Vasco Pereira da Costa traçar os principais traços que justificam, em pleno, o devido e merecido reconhecimento; Carolina Cordeiro, Helena Chrystello e Maria João Ruivo foram, num outro momento e contexto, alvo de uma homenagem pela sua dedicação aos Colóquios, mas também pelo seu trabalho de produção e divulgação da poesia e literatura. Miguel Lopes, falou de Carolina Cordeiro, a mim coube-me “justificar” a homenagem à Helena Christello, e, por fim, Onésimo Teotónio Almeida falou sobre a mulher, a professora e escritora Maria João Ruivo.

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Hoje partilho com os leitores o texto que li, na tarde do dia 8 de outubro, aquando do momento de homenagem a Helena Chrystello: “A 38.ª edição dos Colóquios da Lusofonia teve, à semelhança das anteriores, um programa diversificado e apelativo, para além de ser um espaço de discussão e reflexão plural sobre as questões da lusofonia, ou se preferirem lusografia pois, se é verdade que as comunicações que aqui são feitas utilizam como principal suporte, a oralidade, não será menos rigoroso afirmar que este espaço se dedica mais às grafias do que às fonias e, como todos temos consciência, no espaço a que chamamos lusófono, as fonias e as grafias são diversas e, em minha opinião, essa diversidade nada tem de redutor, perverso, ou subversivo, mas pelo contrário dá vida à(s) língua(s) de matriz portuguesa, língua(s) comum(ns)s a cerca de 300milhões de pessoas no mundo.

Não entendam, a nota anterior como uma qualquer posição sobre o acordo ortográfico que tanto desacordo provocou, e continua a provocar, deixo essas discussões para os especialistas e respeito as diferentes posições. Eu não quis travar essa luta e, logo que se anunciou a aprendizagem da nova grafia nas escolas, aderi ao acordo ortográfico sem mais delongas.

Esta espécie de nota introdutória sobre as lusofonias e lusografias não pretende suscitar nenhum tipo de reação, a não ser despertar a vossa atenção, ou seja, serve, apenas e tão-somente, de mote para agora vos poder falar de uma mulher que tem dedicado toda a sua vida à difusão da poesia e da literatura, em particular da poesia e da literatura criada no espaço lusófono, mormente a que se se relaciona com os autores açorianos, aqui nascidos ou não.

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A sua constante presença ao longo das edições dos Colóquios da Lusofonia que, em parceria com o seu companheiro de vida idealiza, cria e realiza seria, por si só, justificação para o que atrás ficou dito, mas o trabalho de divulgação da língua portuguesa feito pela Helena Chrystello, sim é dela que vos falo, e, como vos dizia, o trabalho da Helena vai muito para além dos Colóquios. A Helena tem toda uma vida dedicada às letras seja como tradutora, formadora, educadora e sobretudo difusora das letras, no espaço em que se escreve e fala nos diferentes matizes da língua portuguesa.

A Helena Chrystello é uma mulher de aspeto frágil, mas a sua inabalável determinação e amor à cultura literária transformam-na num ser capaz de superar as adversidades que a vida lhe tem colocado. As fragilidades físicas não foram impeditivas que a sua paixão pela poesia e literatura se manifestasse por onde a vida a foi encaminhando, mormente, enquanto professora. 

A Helena tem um trabalho notável, enquanto educadora, de promoção da leitura entre os jovens, trabalho que, como sabemos, tem fortes concorrentes nas plataformas de comunicação audiovisual e nas redes sociais, ainda assim, a sua persistência tem dado frutos e a sua herança perdura nos leitores conquistados, nos autores antologiados e entre os seus pares.

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Vou-me dispensar de aludir o seu vasto currículo, contudo, permitam-me algumas referências bibliográficas que sustentam parte do que já referi e acrescentam razões, se tal fosse necessário, ao justo reconhecimento e pública homenagem que o 38.º Colóquio da Lusofonia, em boa hora, decidiu fazer a Helena Crystello. Assim, menciono, apenas, alguns títulos de que a Helena foi autora ou coautora: - Antologia bilingue de autores açorianos contemporâneos; - 9 ilhas 9 escritoras; - Coletânea de textos dramáticos de autores açorianos; - Antologia de Autores Açorianos Contemporâneos (2 volumes), incluída no Plano Regional de Leitura; - Nova antologia de autores açorianos. Mais recentemente, ou melhor, ontem durante o 38.º Colóquio da Lusofonia o seu último trabalho: - 9 poemas 9 línguas.

E outros títulos virão, ao que sei, estão prestes a “dar à estampa”, que é como quem diz estará para breve a publicação de outros trabalhos que visam, à semelhança dos anteriores, acrescentar conhecimento literário junto do público, promover os autores e divulgar aspetos peculiares e, quiçá, bem-humorados do que se vai escrevendo no universo deste arquipélago de sonhos e saudade.   O trabalho realizado pela Helena, de que os títulos que atrás mencionei são exemplo, diz bem do seu profundo amor à literatura, à poesia e à língua portuguesa, mas também da sua persistência, determinação e força interior que a liberta das suas fragilidades para servir as letras, o conhecimento e a cultura com a paixão que lhe reconhecemos. 

A Helena Chrystello tem contribuído, com o seu profícuo trabalho de pesquisa literária, para a divulgação e promoção da língua portuguesa. Do seu reconhecido labor resultam preciosos instrumentos didáticos para o ensino da língua e da literatura portuguesa, para a descoberta de novos autores, para além, como atrás ficou dito, de potenciar a adesão à leitura de novos públicos.

A Helena Chrystello lançou as sementes sobre um alargado conjunto de jovens de quem foi, mais uma mentora, do que uma professora. Sementes que germinam nos espíritos dos novos leitores e apaixonados pelos livros, mas constituem-se, também, como um poderoso e natural fertilizante para que novos autores possam surgir pois, a Helena transmitiu-lhes o gosto pela escrita e a força necessária para vencer os receios que a folha em branco geralmente coloca aos principiantes, mas também aos que faz tempo se aventuraram pelos caminhos da escrita.

Todos conhecem o poema que o Chrys dedicou à Helena e que tem como título “Maria Nobody” e, do qual me permito ler os seguintes versos: “nem sabes a riqueza/que a gente tem/maria nobody”

Antes de terminar voltarei a estes versos introduzindo-lhe uma pequena alteração que neste momento especial, em que se faz pública homenagem à Helena, me pareceu ser ajustada.

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Em meu nome pessoal, mas também, e julgo não ser abusivo dizê-lo, em nome de todos os presentes e de muitos outros, ausentes, que ao longo dos anos participaram nos Colóquios da Lusofonia deixo o meu público reconhecimento à Helena Chrystello pela sua inabalável dedicação e contributos à cultura e, em particular, à literatura.

“nem sabes a riqueza/que a gente tem/maria somebody”. 

Maria Alguém!  Sim! Helena és alguém que nos habituámos a respeitar e admirar. Sim! Helena és alguém a quem as letras e os seus obreiros devem um agradecimento. E é, justamente, esse reconhecimento, homenagem e gratidão que hoje, no culminar do 38.º Colóquio da Lusofonia, autores, leitores e amigos da poesia e da literatura te queremos demonstrar. Queremos continuar a contar contigo, maria somebody, e com o teu incansável labor de pesquisa e divulgação literária. 

Obrigado, Helena!” 

Arranhó, 17 de outubro de 2023 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 18 de outubro de 2023

terça-feira, 17 de outubro de 2023

matizes da língua

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.





(...) Hoje partilho com os leitores o texto que li, na tarde do dia 8 de outubro, aquando do momento de homenagem a Helena Chrystello: “A 38.ª edição dos Colóquios da Lusofonia teve, à semelhança das anteriores, um programa diversificado e apelativo, para além de ser um espaço de discussão e reflexão plural sobre as questões da lusofonia, ou se preferirem lusografia pois, se é verdade que as comunicações que aqui são feitas utilizam como principal suporte, a oralidade, não será menos rigoroso afirmar que este espaço se dedica mais às grafias do que às fonias e, como todos temos consciência, no espaço a que chamamos lusófono, as fonias e as grafias são diversas e, em minha opinião, essa diversidade nada tem de redutor, perverso, ou subversivo, mas pelo contrário dá vida à(s) língua(s) de matriz portuguesa, língua(s) comum(ns)s a cerca de 300milhões de pessoas no mundo.

Não entendam, a nota anterior como uma qualquer posição sobre o acordo ortográfico que tanto desacordo provocou, e continua a provocar, deixo essas discussões para os especialistas e respeito as diferentes posições. Eu não quis travar essa luta e, logo que se anunciou a aprendizagem da nova grafia nas escolas, aderi ao acordo ortográfico sem mais delongas.

Esta espécie de nota introdutória sobre as lusofonias e lusografias não pretende suscitar nenhum tipo de reação, a não ser despertar a vossa atenção, ou seja, serve, apenas e tão-somente, de mote para agora vos poder falar de uma mulher que tem dedicado toda a sua vida à difusão da poesia e da literatura, em particular da poesia e da literatura criada no espaço lusófono, mormente a que se se relaciona com os autores açorianos, aqui nascidos ou não. (...)


domingo, 15 de outubro de 2023

da Palestina

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Não tenho por hábito escrever “a quente”, desde logo por não ter nenhuma obrigação de o fazer, mas sobretudo por razões de racionalidade e necessidade de fundamentação que introduz o rigor necessário que só a procura de informação, a reflexão e a confirmação dos factos (fontes) pode garantir, quando procuramos a objetividade. Escrever hoje sobre o conflito na Palestina seria, apesar do conhecimento histórico, um erro face à proximidade temporal e ao confronto com as máquinas de propaganda que difundem, mais do que informação, opinião parcial e “fabricada”, sobre os recentes e dramáticos acontecimentos na Palestina e que vieram agravar uma situação que, há mais de 100 anos foi criada, com as habituais cumplicidades, por influência e vontade da Inglaterra. (Declaração de Balfour, 1917 e o Mandato Britânico da Palestina, 1920-1948*).

Existem, contudo, alguns aspetos que, desde já, me merecem o mais veemente repúdio como seja: a escalada da violência provocada pelo Hamas e pelo estado sionista de Israel, não confundir com o povo judeu e com muitos outros habitantes de Israel; e as proibições (tentativas), feitas em alguns países da União Europeia, aos apoios populares à causa do povo palestiniano e ao uso de alguns dos seus símbolos (bandeira e o keffiyeh – lenço árabe ligado à causa palestina e popularizado por Yasser Arafat).

*para quem quiser conhecer a Declaração de Balfour e o Mandato Britânico pode, se assim o desejar, encontrar muita informação na internet, ou seja, sem muito esforço.

Ponta Delgada, 15 de outubro de 2023


quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Dia Mundial dos Professores



“Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando.
Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, contatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.”

Paulo Freire

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

mentira, meia-verdade, estupidificação e ética

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Estão a tirar-nos o chão debaixo dos pés! Pode até ser metafórico como ouvi, ao poeta e escritor Paulo Ramalho, afirmar na apresentação do seu romance “Todo Este Silêncio”, referindo-se a uma de outras leituras possíveis do seu livro. Este texto não pretende fazer nenhuma apreciação literária ao mais recente romance deste autor, mas sempre direi que: lê-lo foi um prazer.

Não é de agora que tenho a sensação de que o mundo se está a afundar, como se nos estivessem a encaminhar para uma conformação do pensamento e da história moldada em laboratórios de ideias (think tanks). Os sinais são preocupantes, como preocupante é a permeabilidade e a atitude de sobranceria de uma camada importante da população que vive a “ocidente” da maioria da população mundial. Permeabilidade face à informação e formação que, bastas vezes, contradiz e tenta reescrever a história, sobranceria, face a quem não aceita a imposição de uma certa forma de viver e ser, e uma recusa arrogante perante a evidência da multipolaridade mundial. O mundo é muito mais do que o idílico “jardim” de Borrel construído com a pilhagem das riquezas da “selva”.

É, para mim, claro que estamos a viver um processo de recessão civilizacional, entendendo civilização como os progressos sociais que, em particular no terceiro quarto do século XX se conquistaram e implementaram nas sociedades ditas ocidentais e o reconhecimento de um mundo de múltiplas vozes, ainda que, desse reconhecimento não tenham advindo alterações de monta nas relações entre as potências colonizadoras e os países colonizados. Veja-se, por exemplo: 90% da população do Níger não tem acesso a energia elétrica, mas 30% do urânio que alimenta as centrais nucleares francesas é extraído naquele país africano. A França foi a potência europeia colonizadora, o Níger libertou-se recentemente do jugo neocolonial francês.

A este propósito, ou despropósito, trago hoje para a “Sala de Espera” quatro acontecimentos que vou ordenar por ordem cronológica e que ilustram o que quero deixar para reflexão e discussão.

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1 - Em outubro de 2015, durante uma intervenção de fundo perante o Congresso Mundial Sionista, Benjamin Netanyahu afirmou: “(…) Naquela altura (1941), Hitler não tinha intenção de exterminar os judeus, mas sim de os expulsar (…).”

O então primeiro-ministro de Israel, nessa intervenção que antecedia uma visita à Alemanha, acrescentou, ainda que: “(…) Hitler não planeava exterminar os judeus, foi o Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin Al-Husseini que o convenceu. (…)”

Haj Amin Al-Husseini, palestiniano e muçulmano, foi nomeado em 1921, pela Inglaterra, Grande Mufti de Jerusalém e foi, de facto, um apoiante de Hitler, mas daí a Benjamin Netanyahu tentar reescrever a história para justificar a ocupação da Palestina e o massacre dos palestinianos, inocentando o verdadeiro responsável pelo extermínio de seis milhões de judeus durante a II Guerra Mundial é, em si mesmo, um vergonhoso ensaio para mistificar um facto histórico.

Benjamin Netanyahu, face às críticas internas e externas, teve de se retratar e quando chegou a Berlim já levava consigo um outro discurso, ou seja, a verdade histórica.

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2 - Um pequeno salto no tempo e estamos em setembro de 2023, desta vez no jantar do Atlantic Council Global Citizen Awards. Evento que se realiza anualmente na semana em que decorre, em Nova Iorque, a Assembleia Geral das Nações Unidas. O evento destina-se a galardoar líderes mundiais. Este ano, na lista de laureados, figurava o primeiro-ministro japonês e sobre o qual nada tenho a dizer, nem este exercício se destina a fazer qualquer avaliação sobre os premiados. A alusão a este acontecimento fica justificada pelo discurso de Ursula Von der Leyen sobre o primeiro-ministro japonês (pode ser acedido, na íntegra, nos sítios do Atlantic Council e da Comissão Europeia). Vou apenas transcrever um excerto que me parece simbólico. 

Disse, a determinada altura, Ursula Von der Leyen: “(…) Muitos dos vossos familiares perderam a vida quando a bomba atómica arrasou Hiroshima. Você cresceu com as histórias de sobreviventes. E você queria que ouvíssemos as mesmas histórias, que enfrentássemos o passado e aprendêssemos algo sobre o futuro. Foi um início preocupante para o G7 e que não esquecerei, especialmente numa altura em que a Rússia ameaça utilizar novamente armas nucleares. É hediondo, é perigoso – e à sombra de Hiroshima, é imperdoável. Ninguém está melhor preparado do que o Japão para nos alertar sobre o perigo extremo desta imprudência. (…)”.

A presidente da Comissão Europeia, em momento algum da sua intervenção enunciou os autores do bombardeamento (Estados Unidos), mas deixou no limbo uma ideia que pode induzir em erro os mais incautos. As reações de contestação não se fizeram esperar, tendo sido mesmo pedida a sua demissão da presidência da Comissão Europeia, mas a russofobia dominante depressa abafou mais esta tentativa de branqueamento das responsabilidades históricas.

3 - Ainda setembro de 2023, desta vez, no parlamento do Canadá durante a visita do presidente ucraniano. Numa sessão da Câmara dos Comuns que contou com a presença do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, com o presidente ucraniano e a esposa, de entre outras personalidades. Após a intervenção de Volodomir Zelensky, Anthony Rota, presidente do parlamento chamou a atenção para um dos convidados que estava nas galerias tendo anunciado que se tratava de um herói da II Guerra Mundial que tinha combatido contra a União Soviética. Todos os presentes se levantaram e ovacionaram Yaroslav Hunka, sem ninguém se ter questionado: se aquele ancião tinha lutado contra a URSS durante a II Guerra Mundial, só o podia ter feito nas fileiras do nazismo alemão, ou seja, contra os Aliados e contra a humanidade!?

Este episódio foi de imediato contestado e teve como efeito imediato a demissão de Anthony Rota que assumiu toda a responsabilidade pelo sucedido escudando-se no desconhecimento sobre o passado de Yaroslav Hunka na 14.ª Divisão da Waffen SS Galícia. Eu diria que o desconhecimento não pode servir de desculpa, nem a Anthony Rota, nem a Justin Trudeau, nem a nenhum dos presentes pois, como já referi a idade e o contexto do passado do cidadão de nacionalidade ucraniana-canadiana que ali foi celebrado, não deixa margem para dúvidas quanto ao lado pelo qual lutou durante a II Guerra Mundial. O Canadá enxovalhou a comunidade judaica e a comunidade internacional, bem assim como traiu a memória dos soldados canadianos que lutaram e morreram na luta contra o nazismo durante a II Guerra Mundial.

4 – Por fim a publicidade de uma distribuidora de televisão por cabo, internet e rede telefónica fixa e móvel que tem como mote: “faz amor por amor à seleção”; pretende-se, com esta campanha publicitária, incentivar o aumento da natalidade em Portugal, mas o seu propósito é apenas a angariação de mais clientes.

Perguntarão os leitores, mas o que tem a ver “faz amor por amor à seleção” com os registos anteriores!? E eu direi: tem tudo. Não pode valer tudo para vender um produto, um serviço, uma ideia ou para distorcer a verdade histórica. A luta contra a mentira, a meia-verdade, a estupidificação e a falta de ética não é de agora, mas na atualidade assume-se como uma prioridade. 

Este é o mundo em que vivemos a “ocidente” de um mundo que está a dar pequenos passos para, sem tutelas, escolher o seu caminho. E não pode valer tudo para continuar a vender, exportar e impor modelos sociais, culturais, políticos e económicos a um mundo culturalmente diverso.

Ponta Delgada, 3 de outubro de 2023 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 4 de outubro de 2023

terça-feira, 3 de outubro de 2023

inquietações

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos




(...) Estão a tirar-nos o chão debaixo dos pés! Pode até ser metafórico como ouvi, ao poeta e escritor Paulo Ramalho, afirmar na apresentação do seu romance “Todo Este Silêncio”, referindo-se a uma de outras leituras possíveis do seu livro. Este texto não pretende fazer nenhuma apreciação literária ao mais recente romance deste autor, mas sempre direi que: lê-lo foi um prazer; mas não é de agora que tenho a sensação de que o mundo se está a afundar, como se nos estivessem a encaminhar para uma conformação do pensamento e da história moldada em laboratórios de ideias (think tanks). Os sinais são preocupantes, como preocupante é a permeabilidade e a atitude de sobranceria de uma camada importante da população que vive a “ocidente” da maioria da população mundial. Permeabilidade face à informação e formação que, bastas vezes, contradiz e tenta reescrever a história, sobranceria, face a quem não aceita a imposição de uma certa forma de viver e ser, e uma recusa arrogante perante a evidência da multipolaridade mundial. O mundo é muito mais do que o idílico “jardim” de Borrel construído com a pilhagem das riquezas da “selva”. (...)


domingo, 1 de outubro de 2023

Maria dos Santos Machado (Rubina) – a abrir outubro

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Por que lindas são as mulheres que lutam o "momentos" abre o mês de outubro com Maria dos Santos Machado (Rubina)

Esta mulher açoriana, nascida na Calheta (S. Jorge), é um exemplo de força, determinação e de luta por um mundo melhor.