quarta-feira, 24 de agosto de 2022

“mexa-se pela sua saúde”

imagem retirada da internet

A premissa é conhecida há décadas: por um dólar investido na atividade física economizam-se, em média, três dólares nos custos de saúde, ou seja, a prática de atividade física, orientada ou não, é uma componente importante de qualquer política de cuidados primários de saúde e do bem-estar da população, desde logo ao nível da prevenção de algumas das doenças que mais afetam os cidadãos e maiores custos têm para os serviço de saúde pública pois, evita a quebra de produtividade provocada pelo absentismo e a incapacidade, temporária ou permanente, para exercer a atividade profissional. A saúde não é um custo é um investimento na prevenção da doença.

imagem retirada da internet
Lembro-me, há alguns anos, da campanha para promover a prática de atividade física, o mote era:” mexa-se pela sua saúde”. Os outdoors estavam bonitinhos, do alcance da campanha não conheço os resultados, embora constate que cada vez mais cidadãos, de todos os géneros e idades, dedicam algum do seu tempo à prática de atividade física, seja ao ar livre, seja em espaços fechados que assumem as mais diversas designações, como seja, o tradicional ginásio, mas também butiques de saúde, clubes de fitness, boxes de crossFit, ou outras que melhor se conformem à moda do momento. Se já estão a concluir que o autor tem alguma coisa contra a atividade física orientada que se pratica em espaços fechados, vulgo ginásios, enganam-se. Tenho algumas reservas, mas reconheço-lhes muita utilidade.

Alguns jornais nacionais, na sua secção de economia, trouxeram para o espaço público a análise de um recente estudo da Deloitte sobre as dificuldades presentes da indústria do fitness, ou como se diz em português: conjunto de exercícios que favorecem a forma física; e a sua relação com os custos que a inatividade física tem para a economia portuguesa que, segundo os autores atingem os 1569 milhões por ano (parece-me um valor inflacionado, mas a Deloitte lá sabe), acrescem ainda os mais de 980 milhões de euros que as doenças provocadas pelo sedentarismo custam ao Serviço Nacional de Saúde.

O estudo da Delloite e a análise a que me referi sendo importantes são, contudo, redutores em virtude de se centrarem apenas na quebra do negócio dos ginásios que está, como sabemos, relacionada com a pandemia e as dificuldades de retoma para os valores pré pandémicos, mas também da procura de alternativas. O artigo e o estudo a que me venho a referir oblitera toda a atividade física, orientada ou não, que os cidadãos praticam ao ar livre, para concluir que a diminuição da atividade dos ginásios vai ter um impacto negativo nos cofres do Estado. São preocupações legítimas, mas de duvidosa bondade quanto à saúde e ao bem-estar dos cidadãos e das contas públicas. Se todos concordamos que a prática regular de atividade física é um fator de prevenção e até terapêutica para algumas doenças, nem todos consideramos que a solução passa, exclusivamente, pelo exercício proporcionado pelos ginásios e seus sucedâneos.

imagem retirada da internet


A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda 150mn semanais (2h30mn) de exercício físico. A OMS não específica, na sua recomendação, a frequência dos clássicos ginásios ou dos hodiernos clubes de saúde, ou seja, o importante é manter regularidade e cumprir, pelo menos, o tempo mínimo aconselhado de atividade física seja nos espaços naturais, seja em espaços fechados. Para isso e, para que seja para todos, cabe ao Estado criar condições para que a prática da atividade física se generalize e faça parte das rotinas diárias. 

A SONAE Fitness quer, eu também, a promoção da prática de uma vida saudável. A SONAE Fitness gere, pelo menos 40 clubes, eu não detenho nenhum interesse direto ou indireto neste segmento de comércio de serviços, sendo por isso natural que as soluções para atingir o mesmo fim sejam antagónicas. A SONAE Fitness quer benefícios fiscais para o negócio, para os profissionais e para os clientes, estou parcialmente de acordo. Os profissionais sim, quanto aos clientes só se todos os cidadãos beneficiarem de dedução, em sede de IRS, das despesas com material desportivo e a prática de atividade física, independentemente de frequentarem, ou não, o ginásio.

do arquivo pessoal
A questão central é a política de saúde e a rede de cuidados primários que têm estado afastadas das preocupações de quem traça as políticas públicas. Médicos e enfermeiros de família são o pilar de equipas multidisciplinares, onde os licenciados/mestres em Educação Física deviam ser integrados. Afinal se o investimento na prática de atividade física regular e orientada tem como efeito a manutenção da saúde e a prevenção da doença não se entende a sua ausência na arquitetura da rede de cuidados de saúde primários. Se a opção for de continuar a reservar aos ginásios a promoção de hábitos de vida ativa e, por consequência, saudável e não investir nos serviços públicos de prevenção da doença, continuaremos a desbaratar recursos financeiros públicos em favor de alguns e com prejuízo de uma imensa maioria.

Ponta Delgada, 23 de agosto de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 24 de agosto de 2022 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

saúde e bem-estar

foto do arquivo pessoal



Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.






(...) O estudo da Delloite e a análise a que me referi sendo importantes são, contudo, redutores em virtude de se centrarem apenas na quebra do negócio dos ginásios que está, como sabemos, relacionada com a pandemia e as dificuldades de retoma para os valores pré pandémicos, mas também da procura de alternativas. O artigo e o estudo a que me venho a referir oblitera toda a atividade física, orientada ou não, que os cidadãos praticam ao ar livre, para concluir que a diminuição da atividade dos ginásios vai ter um impacto negativo nos cofres do Estado. São preocupações legítimas, mas de duvidosa bondade quanto à saúde e ao bem-estar dos cidadãos e das contas públicas. Se todos concordamos que a prática regular de atividade física é um fator de prevenção e até terapêutica para algumas doenças, nem todos consideramos que a solução passa, exclusivamente, pelo exercício proporcionado pelos ginásios e seus sucedâneos. (...)

domingo, 14 de agosto de 2022

um olhar sobre “A Escrava Açoriana”

foto by Aníbal C. Pires

O mais recente romance de Pedro Almeida Maia aborda, desta vez no feminino, a temática da emigração açoriana. Depois de “Ilha-América”, eis que o autor nos oferta “A Escrava Açoriana”.

É com a jovem e irreverente Rosário que calcorreamos as ruas de Ponta Delgada nos finais do século XIX e com ela embarcamos, clandestinamente, no Lidador rumo ao sonho na margem Sul deste Atlântico que nos aprisiona, mas também nos liberta. Sonho que nem sempre é prazeroso, quantas e quantas vezes os percursos migratórios se transformam em pesadelos.

Com a Rosário vivemos num “cortiço” do Rio de Janeiro, com ela somos escravos numa plantação de café, com ela passamos a servir na “casa grande”, com ela nos libertamos do sonho vendido por um engajador e, com ela regressamos a S. Miguel para, de novo, ouvir o “pio do milhafre”.


Pedro Almeida Maia - imagem retirada da internet
Pedro Almeida Maia com a sua escrita escorreita e aliciante traz-nos a estória de um percurso migratório com regresso, mas sem sucesso material. Um percurso de enganos, abusos, escravidão, desumanidade, mas também de humanidade. A jovem Rosário não cumpriu nenhum dos sonhos que motivaram a sua viagem, mas regressou indelevelmente marcada pela sua estadia em terras de Vera Cruz.

Rosário não fez fortuna, não trazia bens materiais, mas carregava consigo, ao desembarcar em Ponta Delgada, a preciosa bagagem que a transformou numa ativista pelos direitos das mulheres e da República. A rebeldia e a irreverência da jovem Rosário transformaram-se em consciência, ação e luta.

Esta é uma estória de mulher que se libertou do sufoco do capote e capelo, como soube livrar-se das amarras da prostituição, da escravidão e da servidão aos homens.

Rosário regressou, talvez numa sexta-feira que é, como sabemos, quando “a vida começa”, para ouvir o “pio do milhafre” e fazer ouvir a sua voz.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 14 de agosto de 2022


quarta-feira, 10 de agosto de 2022

crónica da treta

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Procuro palavras. Palavras adequadas à época do ano. É Verão, o país está a banhos e a leitura quer-se leve como a cerveja “pilsener”, não sei se é tão leve assim, mas eu gosto e acho que não é pesada, embora os especialistas não tenham a mesma opinião, respeito o parecer de quem sabe, mas eu gosto e continuo a considerar que é leve. Mas, voltemos ao cerne das palavras apropriadas para a época, ou seja, palavras leves como uma pluma, julgo que sobre a leveza da pluma não há quem discorde, nem mesmo os especialistas em penas e penachos, já os gastrónomos poderão considerar que as plumas do cachaço, ou do lombo, não sendo pesadas, também não são leves, dependendo dos temperos, da técnica de preparação e das guarnições.

Como o visitante acidental ou, frequentador assíduo da “Sala de Espera”, por certo, já se deu conta: não é fácil lidar com a leveza das palavras ou, como a das plumas que tanto podem ser, tal como a cerveja, leves ou pesadas, dependendo sempre do ponto de vista e dos interesses de cada um. Veja-se a minha dificuldade para vos deixar algumas palavras que possam ser digeridas sem grande esforço, como convém, em meados de agosto.

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As festas que decorrem por todo o lado poderiam ser o mote para este escrito de Verão, mas as palavras que pudesse grafar talvez não fossem tão leves como o leitor merece e como eu pretendo que seja esta crónica.

A “volta a Portugal em bicicleta” está na estrada há alguns dias e o campeonato da liga já teve o seu início, é assim como a transição para o fim dos dias longos, das temperaturas a convidar para a sombra verde dos parques de merendas, ou para penetrar no azul marinho das zonas balneares que ponteiam nas baías e enseadas insulares, embora, por estas paragens, o tempo permita que a transição não seja abrupta, assim haja tempo para continuar a usufruir das temperaturas amenas, do ar e do mar, que adentram pelo outono.

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O regresso à realidade virá com setembro e o aumento das taxas de referência do Banco Central Europeu, de entre outros crescimentos nos preços dos produtos, bens e serviços. Não, os salários não. Já ia por um caminho que hoje não quero trilhar, vou tentar voltar ao que me propus quando iniciei este escrito. Como está recordado o propósito é procurar palavras e dar-lhe algum sentido, sem perturbar o seu bem-estar estival. Todos precisamos de momentos para sonhar e, o Verão é um período adequado para o efeito. Longe de mim qualquer ideia ou tentativa de perturbar os seus sonhos e a tão necessária tranquilidade que retempera forças para enfrentar o ano de trabalho que se avizinha. Bem sei, este discurso não se aplica a todos os cidadãos, todos podemos sonhar, mas nem todos temos tempo, alguns “nem tempo para dormir quanto mais para sonhar”. Há quem só tenha tempo para se preocupar com o pão que tem de por na mesa para alimentar a família, e pouco mais. E há quem, por opção ou obrigação, não esteja de férias e vá a banhos, apenas, ao fim da tarde, se o horário de trabalho o permitir, e, aos fins de semana procura a sombra verde dos merendários se para tal tiver como fazê-lo. Ainda assim, este é um tempo que induz ao alheamento e, como tal, a generalidade dos cidadãos “desliga-se” e deixa que aconteça. Depois logo se verá.

O último, e longo parágrafo, não se poderá dizer que foi anódino, mas o correr da pena, que é como quem diz, pois, o que corre são os dedos pelo teclado, a pena há muito que caiu em desuso, pelo menos cá por casa, ainda há quem a use e bem, diria até que o seu uso é executado com invejável mestria por alguns amantes das letras manuscritas. Mas, como dizia, o parágrafo anterior fugiu um pouco ao espírito desta crónica, é-me muito difícil a abstração da realidade e tenho alguma dificuldade em perder tempo com futilidades, mas estou a fazer um esforço, nem grande nem pequeno, apenas algum zelo, para afastar deste texto qualquer assunto que possa quebrar a letargia em que mergulhamos durante esta estação.

foto by Madalena Pires

O Verão açoriano, este ano particularmente inconstante, é marcado pela elevada humidade relativa do ar que, associada a temperaturas a rondar os 25 graus, nos deixa indolentes e alheados do que se passa para lá do espaço entre a toalha estendida na areia e o tentador mar que nos refresca o corpo e lava a alma. Nem mesmo o choque térmico, ao mergulhar, é suficiente para nos despertar da inércia. O que é bom, as férias, ou as fugidias idas à praia ou aos parques florestais e merendários, são para isso mesmo, relaxar e afastar do horizonte qualquer nuvem negra que por ali esteja a pairar perturbando o nosso bem-estar induzido pelo Verão do nosso contentamento. A luminosidade que emana dos verdes matizados de flores e do imenso azul que nos rodeia faz-nos olvidar os dias cinzentos e as brumas a descerem até à soleira das portas, as tempestades tropicais, as chuvas diluvianas, os ventos tormentosos, a agitação marítima que galga a costa, tudo isso ficará para depois, agora é tempo de Verão e festas de todas as cores. Não gosto da monotonia do branco.

Ponta Delgada, 9 de agosto de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 10 de agosto de 2022

terça-feira, 9 de agosto de 2022

da transição

foto by Aníbal C. Pires


Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.








(...) A “volta a Portugal em bicicleta” está na estrada há alguns dias e o campeonato da liga já teve o seu início, é assim como a transição para o fim dos dias longos, das temperaturas a convidar para a sombra verde dos parques de merendas, ou para penetrar no azul marinho das zonas balneares que ponteiam nas baías e enseadas insulares, embora, por estas paragens, o tempo permita que a transição não seja abrupta, assim haja tempo para continuar a usufruir das temperaturas amenas, do ar e do mar, que adentram pelo outono. (...)

Valentina Grizodubova - a abrir agosto

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O momentos tem trazido algumas mulheres que se notabilizaram e que deveriam ser objeto de maior, ou pelo menos algum, interesse por que se dedica ao estudo das mulheres, ou mesmo os movimentos feministas. São mulheres pioneiras e afirmaram-se em sociedades e atividades dominadas por homens. São, deveriam ser, exemplos da afirmação das mulheres e das suas lutas, mas algumas delas, como Valentina Grizodubova, são esquecidas e por vezes obliteradas da história. 

"Valentina Grizodubova foi a primeira mulher a receber o título de Heroína da União Soviética. De 24 a 25 de setembro de 1938, o avião ANT-37 "Pátria Mãe" que ela comandava cobriu uma distância de 6.450 km em 26 horas e 29 minutos sem pousar. Sua copilota, Polina Ossipenko, e a pilota Marina Raskova também receberam o título de heroínas pelo recorde feminino em um voo de longa distância. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, Grizodubova comandou o 101º Regimento de Aviação de Longa Distância, que era todo masculino. Entretanto, ela rapidamente conquistou o respeito de seus subordinados como comandante de combate e chefe talentosa. Ela é responsável por 200 voos, incluindo 132 noturnos.

Valentina Grizodubova provou ser especialmente eficiente no abastecimento dos destacamentos de partisans por trás das linhas inimigas. A comandante foi enviado pessoalmente várias vezes a missões perigosas e como resultado foi condecorada com a medalha "Partisã da Grande Guerra Patriótica".

"Ela era uma mulher muito corajosa, resoluta e ousada na implementação de seus planos", escreveu Aleksander Saburov, comandante da unidade de partisans." (texto retirado daqui)