segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Olhar o passado com os olhos postos no futuro

O ambiente de campanha eleitoral começa a sentir-se. A comunicação social regional tem promovido, com alguma equidade, a divulgação das diferentes candidaturas e projectos políticos que vão ser submetidos a sufrágio popular no dia 19 de Outubro.
Um dos aspectos mais perversos desta batalha eleitoral é a notória e inaceitável diferença de meios financeiros. Todas as candidaturas deviam dispor das mesmas condições e meios mas, nesta corrida, uns partem bem mais à frente do que outros o que, desde logo, vicia o jogo eleitoral.
Há, no entanto, outras diferenças e essas bem mais importantes que os meios postos ao dispor de cada uma das candidaturas. Diferenças que o período pré eleitoral tende a atenuar, pois agora todas as forças políticas visam a apropriação das causas sociais, das injustiças, dos problemas que acentuam as desigualdades entre os cidadãos, a coesão social, económica e territorial, os transportes, etc. Não constitui grande novidade! É tempo de promessas e algumas forças políticas, desavergonhadamente, repetem oferecimentos de há 4 ou mais anos, anunciam o que os cidadãos querem ouvir na procura de alcançar, a qualquer preço, o apoio eleitoral. O exemplo mais claro e recente é o de José Sócrates que, na campanha eleitoral de 2005, prometeu o paraíso aos portugueses e deu-lhes o inferno, aprofundando as políticas liberais do governo de direita que o antecedeu. É bom que não nos esqueçamos de que o efeito das políticas de José Sócrates que Carlos César tem subscrito, quer pelo seu silêncio, quer pela sua adopção na governação regional, estão patentes na proposta de modelo de desenvolvimento que o PS de Carlos César propõe aos açorianos e que o PSD e o PP gostariam de subscrever e executariam, caso fossem governo.
Aos cidadãos cabe avaliar, não só retrospectivamente, mas também, de uma forma prospectiva. Ao olhar para trás, facilmente verificará quem mantém a coerência das suas propostas e a presença constante no espaço público regional e no debate político e quem só aparece em tempo de eleições. Ao fazer a retrospectiva, facilmente verificará quem de forma demagógica e populista agora se apropria de tudo o que possa render uns votos. A análise prospectiva permite avaliar, ainda que com alguma subjectividade, quem melhor pode protagonizar a representação do povo açoriano. Não deixem de olhar para o passado com os olhos postos no futuro.

sábado, 27 de setembro de 2008

Para lá do finito da vida

Era um picoense que amava a terra onde nasceu e o mar que molda as pedras negras e o povo da sua ilha. Povo a quem dedicou a sua vida e obra literária que o projectou para a universalidade da cultura e da luta por um Mundo melhor.
Um Mundo liberto da “canga da servidão”, como ele próprio escreveu.
José Dias de Melo deixou o nosso convívio a 24 de Setembro e fica o vazio da ausência que, desta vez, vai para além da privação da sua presença, como quando viajava até à Calheta de Nesquim e, por ali ficava buscando memórias e as estórias da epopeia das gentes que litigaram o pão no mar, em terra e para lá do horizonte… Além, na demanda do sonho americano.
A obra e o Homem continuam presentes nas ruas e neblinas da “Cidade Cinzenta”, na ilha das “Pedras Negras”, no “Mar Rubro” dos dramas da baleação, na tempestade que se levanta no canal do “Mar pela Proa”, nas “Toadas do Mar e da Terra” que inundam o imaginário ilhéu.
O amigo e camarada continua presente como uma referência de humildade, integridade e exemplo do intelectual militante ao serviço do seu povo e do seu Partido.
Dias de Melo, não morreu, ausentou-se do nosso convívio.
Homens desta envergadura não expiram nunca!
Homens como Dias de Melo prolongam-se para lá da vida finita e perduram para lá do seu tempo… Para lá do nosso tempo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Morreu o escritor e o militante comunista Dias de Melo

Nota da Direcção Regional do PCP Açores:

Faleceu hoje pelas 11H30, no Hospital de Ponta Delgada, o grande escritor e militante do PCP José Dias de Melo.
Dias de Melo, de 83 anos, dedicou grande parte da sua vida à escrita e ao ensino, tendo sido professor do ensino primário e do ensino técnico.
Natural da ilha do Pico, Dias de Melo estudou na Horta, tendo posteriormente vivido no Pico, Ponta Delgada, Lisboa e mais tarde novamente em Ponta Delgada, onde terminou os seus dias.

Autor de uma vasta e reconhecida obra literária, Dias de Melo desenvolveu uma carreira literária de 58 anos, iniciada em 1950 com o livro de poemas " Toadas do Mar e da Terra". Obras como "Pedras Negras", "Mar Rubro", "Mar pela Proa", "Cidade Cinzenta" e muitas outras, definem Dias de Melo como sendo num autor comprometido com o seu Povo e empenhado na luta pela liberdade e pela justiça social.

Militante do PCP há largos anos, Dias de Melo envolveu-se sempre, enquanto a saúde o permitiu, na actividade do PCP/Açores e da CDU dando sempre um contributo muito valioso.
É com muito pesar que o PCP/Açores vê desaparecer este escritor da terra e do mar, que dedicou toda a sua vida e todas as suas capacidades à luta por um mundo melhor.

O PCP/Açores apresenta à família de Dias de Melo as suas muito sentidas condolências e apela à população de Ponta Delgada que participe nas cerimónias fúnebres, prestando assim uma última homenagem a este grande Homem.

O corpo será transportado amanhã, pelas 17H, para a Capela Nova, junto ao crematório do cemitério São Joaquim. O funeral realizar-se-á na Sexta-Feira, dia 26 de Setembro, pelas 10H.

Ponta Delgada, 24 de Setembro de 2008
DORAA do PCP

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Deveres e direitos

Em pleno período de campanha eleitoral para as eleições regionais que se realizam a 19 de Outubro de 2008 continua a subsistir algum alheamento dos cidadãos face a uma decisão colectiva que vai influenciar o nosso futuro próximo.
Esse apartamento dos cidadãos face a uma decisão que diz respeito a todos e em que todos devem participar fica a dever-se a um conjunto de factores objectivos e subjectivos que importa, em nome da defesa da democracia e da liberdade, contrariar e desconstruir. Esse papel cabe, desde logo, aos partidos políticos mas não só. É uma responsabilidade que deve ser assumida, em primeira instância, pelo próprio Estado formando e educando os cidadãos para o exercício pleno dos direitos cívicos e políticos. E isto faz-se (deve fazer-se) na Escola, na comunicação social e no próprio exercício dos poderes políticos.
Aos partidos políticos cabe um papel de referência e de boas práticas que só alguns “teimam” em cultivar. Basta olhar para a composição das listas das diferentes candidaturas às eleições regionais de Outubro para se perceber quem são os “teimosos” que cultivam uma prática de rigor. De facto e ao contrário da ideia cultivada acriticamente nem todos os políticos e nem todos os partidos são iguais nas suas práticas.
Numa análise, ainda que superficial, às candidaturas pode, com relativa facilidade, verificar-se que tipo de compromissos as forças políticas têm com os seus potenciais eleitores e qual o comprometimento dos candidatos com a força política pela qual se candidatam. Esse é um trabalho a que os eleitores se deviam entregar antes de tomarem decisões quanto ao seu sentido de voto. Se o fizerem perceberão, por um lado quem é que, verdadeiramente, está comprometido com os açorianos, comprometido com o Açores e comprometido com o futuro e, por outro, quem é que está comprometido apenas consigo próprio.
Este é apenas um dos aspectos onde podem ser encontradas profundas diferenças no exercício da actividade partidária e conclui-se, pelas evidências, que afinal nem todos são iguais.
Quanto ao papel do Estado na formação e educação para a cidadania plena nada é feito que promova essa cultura de participação cívica. Bem pelo contrário tudo aquilo que temos vindo a assistir nos últimos anos na Escola, contraria este princípio. A Escola é de novo uma instituição reprodutora das desigualdades sociais. A Escola, nomeadamente, na Região Autónoma dos Açores segrega e discrimina as crianças e jovens com estigmas que decorrem da implementação precoce de vias diferenciadas de ensino com diferente dignidade. A Escola não é mais uma instituição transformadora nem se pretende que possa vir a assumir, de novo, esse papel. Ao poder político que tem alternado no exercício da governação e ao poder económico não interessa que os cidadãos fiquem dotados de competências que promovam o sentido crítico e a participação cívica.
Os ataques às organizações sindicais e profissionais, as alterações ao Código Laboral, a manutenção da precariedade laboral e do carácter assistencialista dos apoios sociais são, igualmente, indicadores que este modelo de desenvolvimento se alimenta num exército de disponíveis, na pobreza e na exclusão social perpetuados por “tampões” sociais que garantem níveis de conflitualidade social aceitáveis, embora, este prolongamento da crise, que não passa de um ciclo de revalorização do capital e de desvalorização do trabalho, e o depauperamento que se está a sujeitar as classes médias indiciem já uma grande “disponibilidade” para a conflitualidade social.
Nas eleições de Outubro é possível introduzir alterações profundas às políticas que nos conduziram a este beco, aparentemente, sem saída. Alterações que passam, incontornavelmente, por conferir maior pluralidade e equilíbrio ao espectro cromático da ALRAA, alterações que contribuam para uma ruptura democrática com este modelo de desenvolvimento. E não vale a pena assobiar para o lado, pois trata-se de uma decisão que não deve ser deixada em mãos alheias. Não deixe de participar no processo e de votar. Votar em pessoas e projectos políticos que possam efectivamente contribuir para as desejáveis mudanças e que garantam o futuro.

domingo, 21 de setembro de 2008

A economia real

A economia regional sendo periférica, externamente dependente e desprovida de dimensão e escala de mercado está, por isso, fortemente sujeita à instabilidade conjuntural dos mercados, factor que, de entre outros, motivou ciclos económicos de monocultura na satisfação da procura externa e que, em minha opinião, estão na base de uma errada estratégia de conferir competitividade à economia açoriana dando dimensão à produção. A história económica dos Açores é caracterizada, como sabemos, por ciclos económicos em que uma produção se sobrepôs a outras.
No presente, verifica-se a existência de um forte sector produtivo assente na agropecuária e na pesca que garante sustentabilidade à economia regional, sector produtivo que deve ser objecto de políticas públicas que garantam o seu fortalecimento e pujança. Políticas públicas que garantam a produção e o escoamento da produção, políticas públicas de defesa dos recursos marinhos e da reposição da ZEE.
Considero que, paralelamente, a diversificação da economia regional, deve ser objecto de políticas que a favoreçam, sem que se caminhe para a sua pulverização, nem que as políticas públicas incentivem a substituição de um sector dominante por outro. A complementaridade dos diferentes sectores da actividade económica é o caminho desejável para que a economia regional não se afunde na volubilidade da terciarização da actividade económica. A competitividade da economia regional e a sua sustentabilidade devem, igualmente, afirmar-se pela qualidade e diferenciação dos produtos e serviços mais do que pela dimensão da produção ou massificação de serviços desqualificados.
As políticas públicas para a economia devem promover uma dinâmica de coexistência saudável entre o sector público, o sector privado e o cooperativo e privilegiar o apoio às micros, pequenas e médias empresas e ao sector cooperativo. Deve ainda ser privilegiado o apoio a empresas familiares e potenciada a criação de empresas que valorizem os produtos artesanais e agrícolas regionais, bem assim como empresas que incorporem tecnologias de ponta e trabalho altamente qualificado.
Só assim será possível manter uma economia forte e com a desejável imunidade a conjunturas nacionais e internacionais menos favoráveis.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Manuais, “kits” e IRS

Com a abertura do ano lectivo, lá veio a questão da oferta dos manuais escolares aos alunos do Ensino Básico. Bem! Este ano é só o manual de Inglês para os alunos do 1.º Ciclo. Em 2009 é que é… Entretanto, já todos esquecemos o brutal aumento das refeições escolares que se verificou na abertura do ano escolar transacto mas, já que estamos na Escola, fica também uma referência às políticas do partido - governo para o sector da Educação. A fazer fé nos números, dir-se-ia que nos últimos anos se verificou, assim como um milagre por obra e graça de César e Menezes, ou seja um grande salto qualitativo. Os alunos não abandonam o sistema de ensino e a taxa de sucesso disparou. Brilhante! Estes indicadores não enganam (são como o algodão…). Será!? Nas Escolas não é bem esse o sentimento que se vive. Bem pelo contrário! Aquilo que perpassa é a consciência de que à quantidade não corresponde qualidade. Isto para não referir, pois os sindicatos têm-no denunciado, a afronta aos trabalhadores docentes (educadores e professores), à autonomia da Escola, ao modelo anacrónico de avaliação, etc., etc.
O partido - governo não se fica pela manipulação dos números, sejam eles na educação ou na taxa de desemprego, e está a proceder a uma oferta a todos os açorianos – o denominado “kit autonómico”. A cada casa açoriana, vão chegar as insígnias da Região e, claro está, uma carta assinada pelo Presidente do Governo Regional. Tudo bem! Considero que os símbolos regionais, assim como os nacionais, devem ser do conhecimento generalizado da população. Mas, porquê agora!? Será que é pela proximidade do acto eleitoral a que César concorre a deputado pelo círculo eleitoral de S. Miguel e pelo círculo de compensação? Parece-me, salvo melhor opinião, que isto é utilizar os dinheiros públicos (mesmo considerando o “superávit” que Sérgio Ávila, também ele candidato a deputado, tem vindo a proclamar) em proveito de uma candidatura.
A ALRAA aprovou a redução das taxas de IRS na sua última sessão plenária. Uma medida que deve merecer o nosso apoio pois, como é sabido, há uma grande injustiça na distribuição da riqueza gerada na Região. Os trabalhadores açorianos que trabalham no sector privado recebem, em média, menos 100,00€ por mês que os seus congéneres continentais e, se a este dado aduzirmos o elevado custo de vida que não pára de crescer, só podemos aplaudir esta medida. Não obstante, importa saber que segmento da população beneficia, efectivamente, desta medida. Importa, igualmente, dizer que esta é uma medida que, para além de não abranger todos os cidadãos e de nem todos os escalões do IRS serem reduzidos, é claramente insuficiente para repor justiça na distribuição da riqueza. Com salários tão reduzidos, o efeito pouco se fará sentir e mais importante do que a redução fiscal é a prática de uma política salarial que remunere condignamente o trabalho. Isto para não perguntar – porquê só agora? Será que foi pela proximidade do acto eleitoral?
Não tem que ser assim só porque estamos em vésperas de um acto eleitoral. O partido -governo tem toda a legitimidade para cumprir a sua agenda, a oposição parlamentar tem todo o direito a propor, apoiar ou contrariar o que a absoluta maioria que suporta o poder executivo propõe… mas (que diabo!), a pouco mais de um mês da realização das eleições, deveriam guardar algum respeito pelos cidadãos. Ou será que nos julgam uns mentecaptos!?

sábado, 13 de setembro de 2008

Coisas do “arco-da-velha”

Que o serviço público de transporte marítimo de passageiros na Região é uma anedota não é novidade, que quando o Secretário Regional da Economia toma alguma decisão sobre o assunto, mete água, também não é novo, que este modelo de transporte não serve nem os autóctones nem os visitantes, todos o sentimos, que as ilhas fora do “eixo” Ponta Delgada, Angra e Horta (já nem isto corresponde bem à realidade) ficam com as sobras e vêem constantemente as viagens programadas serem canceladas e/ou adiadas, sem explicações plausíveis, é já uma rotina. Tudo isto é do domínio público e não constitui novidade. Qualquer empresário ou utente florentino, graciosense, corvino, mariense ou jorgense conhecem esta realidade e estarão mais autorizados que eu, a sobre ela tergiversar.
Trago hoje ao vosso conhecimento e para vossa reflexão uma situação que se não fosse um claro exemplo de má gestão e de desperdício de tempo e dinheiro (público) seria caso para o acrescentar ao anedotário sobre os transportes marítimos de passageiros da era Duarte Ponte/Carlos César. Pois bem! Leiam, procurem outras fontes e confirmem o que passo a descrever e construam o vosso próprio juízo.
O “Express Santorini” alterou a sua viagem a Santa Maria para transportar 12 carros antigos e cerca de 40 pessoas. Esta viagem coincidiu com a estada do navio que abastece de combustível a ilha de Santa Maria (demora mais de 30 horas).




Nada de extraordinário não fosse a operacionalidade do porto de Santa Maria que, como sabemos, depois de ter sofrido obras para a acostagem dos “ferries” depressa se verificou que afinal não servia para o efeito.
Assim, o navio de combustível atraca de manhã para, antes de concluir a descarga, sair à tarde e dar lugar ao “Express Santorini” que depois de desembarcar os passageiros e os “carrinhos de colecção” se mantém atracado até os intervenientes no passeio de carros antigos estarem prontos para zarpar rumo a Ponta Delgada, então sim o navio de combustível poderá novamente regressar ao porto de Santa Maria e completar a descarga de combustível. Uma operação comercial que normalmente dura cerca de 36 horas desta vez vai levar 50 horas. Como é que é possível? Pergunta o leitor e… pergunto eu!
Só mesmo os tiques de novo riquismo que se enquistaram na governação autárquica e regional (PSD e PS) justificam tamanha “brincadeira”.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A FESTA é...!

Nem a chuva que se abateu sobre a Atalaia no dia da abertura da FESTA demoveu os visitantes nem retirou o sorriso aos que militantemente a constroem e a realizam.




Um mar de gente viveu mais uma edição da Festa do Avante!

Uma realização política e cultural de uma dimensão e significado dificilmente traduzível em palavras.


A Festa é liberdade!
A Festa é diversidade!
A Festa é confiança!
A Festa é juventude!
A Festa vive-se!
A Festa sente-se!




A Festa do Avante é uma desconstrução colectiva do anunciado fim da história e das inevitabilidades do neoliberalismo.



A Festa do Avante é uma imensa jornada de luta e resistência contra quem não compreende como é possível construir, realizar, viver e sentir Portugal e a solidariedade internacional com a certeza no FUTURO e um sorriso nos lábios.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Má fé e ignorância

A onda de criminalidade violenta que tem assolado o país é uma preocupação de todos os cidadãos e deve ser encarada com toda a seriedade.
Utilizar este fenómeno, que tem a suas raízes num modelo económico que fomenta e se alimenta nas desigualdades sociais e económicas, para promover a xenofobia com declarações políticas eivadas de demagogia e populismo, como fez recentemente Paulo Portas numa visita aos Açores, é no mínimo desonesto e manifesta uma indesculpável falta de conhecimento da realidade migratória nacional pois, sendo um país de imigração não deixámos e ser um povo de emigrantes.
Se em qualquer distrito continental as declarações de Paulo Portas não faziam sentido então na Região Autónoma dos Açores elas foram ridículas. Portugal e, em particular, a Região recebem centenas, senão milhares, de cidadãos portugueses repatriados de vários países de entre os quais o Canadá e os Estados Unidos. Cidadãos que culturalmente se identificam com a sociedade que os acolheu. Direi mesmo que os seus comportamentos estão directamente relacionados com a matriz cultural dos locais e vivências fora do seu país ou região de origem, isto para além de que as penas acessórias de expulsão (repatriamento) são uma dupla penalização pelo crime pelo qual foram julgados e cumpriram pena.
Mas se do CDS/PP e do seu líder tudo é de esperar para obter manchetes nos órgãos de comunicação social, já de outros responsáveis políticos seria de esperar respostas e intervenções que, por um lado identificassem a raiz deste aumento da criminalidade violenta e, por outro, as propostas que apresentassem fossem construídas de forma integrada com medidas políticas de combate ao que, em minha opinião, é o cerne do problema.
O combate à criminalidade é, desde logo, um problema do foro policial e judicial. Sem dúvida! De onde se pode inferir que as políticas para estes sectores, dos quais dependem a segurança pública e os procedimentos penais, são um fracasso. Teria ficado bem ao ministro Rui Pereira e aos seus antecessores na Administração Interna e na Justiça assumirem esse fracasso, ao invés de vir apresentar medidas de carácter transitório e paliativo para um problema que não se combate apenas com a polícia e com o Código Penal.
As políticas sociais e económicas não são, de todo, estranhas a este fenómeno e sobre isso faz-se um silêncio absoluto lá para os lados do PS e do PSD, principais responsáveis pelo estado a que Estado chegou.
Uma política de desvalorização do trabalho, uma política de baixos salários, uma política que promove a precariedade laboral, políticas de habitação que favorecem a concentração de população com grandes fragilidades sociais e económicas em espaços e territórios deprimidos. Enfim! uma política que favorece a desigualdade social e económica e, como todos sabemos, a desigualdade mata. Mata expectativas! Mata projectos de vida! Mata a dignidade! Mata…!
Ligar a criminalidade, como faz Paulo Portas, aos cidadãos estrangeiros que procuraram, legitimamente, Portugal para viver e trabalhar é abusivo mas… não é estranho. Estranho, mesmo, é que alguns órgãos de comunicação social alimentem as suas linhas editoriais com a falsa ideia de que este fenómeno é directamente relacionável com os cidadãos imigrantes que se encontram em Portugal.
Surpreende-me, também, que não haja clareza por parte do governo sobre este assunto deixando sempre, por omissão, a suspeição a pairar sobre as populações imigrantes, mormente sobre um segmento da população, em muitos casos portuguesa, mas que carrega consigo o estigma de ter um corpo negro.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O valor das coisas

Mais que o valor material os objectos carregam um valor simbólico. Esse valor extrínseco às coisas valoriza-as materialmente. Por exemplo uma t-shirt adquire um valor material muito superior ao seu valor real (matéria prima, custos de produção, distribuição e comercialização) se estiver associada a uma marca sobre a qual construímos uma representação relacionada, desde logo, com a qualidade mas, sobretudo, com o que ela pode representar na projecção da imagem de quem a veste e a desfila nas salas de aula e nos espaços lúdicos.
Nunca mais me esqueci quando um representante de uma marca de “sportswear” (roupa desportiva) em Portugal dizia num telejornal que os produtos da contrafacção produzida em Portugal era de qualidade superior ao produto original até na própria etiqueta.
Na altura dei por mim a pensar. “Então, mas que diabo, se a nossa indústria têxtil consegue padrões de qualidade tão elevados porque é que não temos as nossas próprias marcas e as afirmamos no mercado nacional e internacional. Porquê a crise no sector!?”. Depressa percebi o porquê! Não, os motivos nada têm a ver com os custos do trabalho em Portugal. Essa é mesmo a falácia com que nos atiram como grande argumento, sempre que se encerram ou deslocalizam unidades de produção no nosso país. Os motivos são outros e algo complexos relacionam-se com interesses instalados, com o domínio do mercado, com o marketing, etc.
O exemplo da roupa desportiva é apenas um de entre muitos outros exemplos sobre os quais podemos dissertar sobre o valor das coisas, neste caso será mais especular do que dissertar pois estou a escrever sem recurso a nenhuma consulta bibliográfica nem pesquisa documental, é tão-somente do senso comum que resulta da observação do quotidiano e do comportamento. É uma opinião não uma verdade absoluta se é que isso existe.
E porquê trazer o valor da coisas a este espaço nesta altura do calendário!? E porquê a roupa e não o valor da água, do leite, da cerveja ou dos refrigerantes!? Os exemplos não foram dados por acaso, sobre eles e o seu valor voltarei numa outra oportunidade. Quanto à questão da roupa!? Pois bem se o custo do material escolar e dos manuais deixa as famílias à míngua temos de lhe acrescentar todas as outras despesas, que só aparentemente não estão relacionadas com a frequência escolar, como sejam as roupas e toda uma panóplia de acessórios e adereços que o “marketing” impinge às crianças e aos jovens com o beneplácito das escolas e que as famílias suportam, com os conhecidos sacrifícios, incapazes de desconstruir junto das crianças e jovens a inutilidade de usar uma “t-shirt” e uns ténis de marca feitos nos confins do sudoeste asiático, mas concebidos por designers dos “states” e promovidos pelas estrelas do futebol mundial ao invés de usar roupa sem as etiquetas da “moda” mas de qualidade idêntica ou superior.
Talvez a Escola do futuro tenha algum papel a desempenhar sobre esta e outras questões. Os padrões de consumo terão a prazo, por via da escassez, de ser profundamente alterados e à Escola cabe dotar os seus formando do conhecimento que lhes permita fazer escolhas centradas no essencial contribuindo para que o consumo seja cada vez menos resultado de necessidades construídas pelos “magos” do marketing e uma opção que corresponda a uma necessidade objectiva.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

6 meses de aventura na blogosfera

Completam-se hoje 6 meses que aderi.
Não se trata de um balanço apenas de assinalar estes 180 dias na aventura da partilha.
Actualizei as fotos numa viagem nostálgica por S. Tomé e Príncipe e como se vai viver a Festa do Avante no próximo fim de semana recuperei uma imagem da festa de 2005.
Um novo rosto. Um lutador como muitos outros que por aqui têm passado e continuarão a passar.
José Decq Mota uma personalidade que com o PCP e a CDU Açores contribuiu indelevelmente para que o sistema autonómico e a democracia nos Açores se consolidassem e aprofundassem.
Ficam novas sugestões de leitura.
Um estudo de Philippe Breton sobre a manipulação da palavra o que, digamos, em tempo de "kit autonómico" me parece apropriado.
E a "Bagagem do Viajante", de José Saramago. Pouco conhecido mas... vale a pena acompanhar o cronista nas suas "viagens".
A Festa do «Avante!» vai assinalar no sábado, dia 6, às 17h00, no Pavilhão Central, o 10º aniversário da atribuição do Prémio Nobel a José Saramago, um acto público com a intervenção de José Casanova, Director do “Avante!” e a exibição de um filme alusivo a este acontecimento, que inclui uma saudação do escritor à Festa e aos seus “construtores”.

A caminho da FESTA

A Festa do Avante não se traduz em palavras nem em imagens.
A FESTA vive-se... sente-se!




Vou a caminho da maior manifestação cultural e política que se realiza em Portugal!
Com base no Pavilhão dos Açores mas circulando pelo país e pelo mundo... pela solidariedade... pela diversidade cultural!