sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A medo...

Como tu
Era jovem
Quando olhei
O teu corpo virginal


A medo tacteei-o
O pavor do insondado
Cedeu à voracidade
Numa desmedida carícia
Beijei-o com deleite
Afaguei-o com gula
O desejo dos verdes anos
Exigia-o
Entrei sem receio
Acoitaste-me e…o auge acudiu intenso


Estonteado
Pelo prazer da descoberta
Pelo aconchego do teu corpo
Implorei… um amor perene!

Ponta Delgada, 18 de Fevereiro de 2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Agendas

imagem retirada da internet
A agenda política e mediática nacional está ao rubro e, ao que me parece, não é pelo Benfica ser o líder do Campeonato, digo Liga.
São as escutas, é a tentativa de domínio da comunicação social, é a candidatura de Fernando Nobre à Presidência, é o estado da Justiça e o estado a que o Estado chegou, ele é o Procurador-geral da República, é o PSD à procura de um D. Sebastião, é o Inverno como há um século não se via, as manchetes não têm faltado e até edições extra como há muito não acontecia.
Sem pretender retirar valor aos factos que têm feito a notícia volto de novo ao emprego ou à falta dele. Portugal entra no ano de 2010 com mais de 700 mil trabalhadores desempregados – 567 mil se não forem contados os inactivos disponíveis e o desemprego visível – sendo que cerca de metade destes não têm direito a subsídio de desemprego. Nos Açores, mesmo considerando que a taxa de desemprego é inferior à nacional, os contornos deste drama social e económico em tudo se assemelha ao que se passa no país.
O desemprego constitui um dos mais graves problemas do nosso tempo. É um factor de chantagem permanente sobre os salários e de pressão sobre os direitos dos trabalhadores. Representa uma perda de produção e de poder de compra, com forte impacto negativo na economia, nomeadamente no mercado interno, um factor de pressão sobre o sistema de segurança social, um travão ao desenvolvimento. O desemprego contribui para a perda de saberes, de competências e de qualificações e representa um risco de instabilidade pessoal e familiar e de exclusão social.
imagem retirada da internet

E as soluções? Sim porque constatar é fácil – dir-me-ão os leitores. As soluções passam pela ruptura com as políticas e com o modelo de desenvolvimento, aliás como insistentemente tenho afirmado. As soluções passam por valorizar o trabalho e os trabalhadores, ou se preferirem valorizar os sectores produtivos e da transformação, sem os quais não há sustentabilidade para o sector dos serviços. As soluções passam por acabar com a obscenidade que representam os chorudos vencimentos e prémios dos gestores públicos e privados. As soluções passam por acabar de vez com os paraísos fiscais. As soluções passam pela recuperação dos valores e princípios da solidariedade e da justiça social e económica. As soluções passam pela equidade na distribuição da riqueza gerada.
É claro que a candidatura à Presidência da República do fundador da AMI e amigo pessoal de Mário Soares se revela como um dos factos políticos mais interessantes dos últimos anos e sobre o qual muito se há-de escrever e dizer, eu próprio estou a contar fazê-lo, mas digamos que no momento aquilo que me preocupa é mesmo a situação vivida por quem diariamente procura trabalho e sustento para si e para a sua família.
Enquanto caminhamos rapidamente para a eventualidade de um colapso social o primeiro-ministro entretém-se a fazer declarações ocas continuando a sua campanha de vitimização e chantagem como se todos não tivéssemos já percebido o atoleiro em que se move. Todos todos, talvez não, porque ainda há por aí muitos candidatos a boys e girls do regime da alternância ao centro… da mesma coisa.

Anibal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 24 de Fevereiro de 2010, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Não vou na onda

A nomeação de Vítor Constâncio para Vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) levantou mais uma onda portuguesismo e de unanimidade ao centro. A onda de portuguesismo tanto pode ficar a dever-se à enorme satisfação de ver esta personalidade pelas costas, como a do reconhecimento pela capacidade que os portugueses têm em emigrar e fixar-se no estrangeiro. Quanto ao unanimismo do centrão político nacional pouco ou nada a acrescentar pois quando se trata de “grandes” questões nacionais o PS e o PSD arregimentam-se e o coro é a uma só voz. Foi assim com a nomeação de Durão Barroso para Presidente da Comissão, com o Tratado de Lisboa, com a adesão à então Comunidade Económica Europeia, é assim e sempre quando se trata de proteger os interesses que servem o poder económico perante o qual os partidos do alterne político se colocam de cócoras.
O emérito português, agora indigitado para a Vice-presidência do BCE, vai ficar responsável pelas áreas de investigação e de supervisão e estabilidade financeira dos mercados dando corpo à ideia, da Comissão Europeia, de reforço e vigilância do sector financeiro e bancário com o objectivo de prevenir novas crises.
O BCE não poderia ter escolhido melhor. Quem? Se não Vítor Constâncio para garantir este objectivo da Comissão, o ainda Governador do Banco de Portugal tem no seu currículo casos como o BCP, o BPN e o BPP, casos que foram alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito da qual resultou um insípido relatório que mereceu duras críticas da oposição mas, ainda assim, do qual se podem assacar responsabilidades ao Banco de Portugal e ao seu primeiro responsável.
Vítor Constâncio tem a experiência ancorada no erro e na sua grande capacidade de prever quando a realidade já está instalada, por conseguinte, reunirá as melhores condições para assumir o papel de marioneta ao serviço dos interesses da alta finança europeia e mundial, aliás enquanto Governador do Banco de Portugal demonstrou outras qualidades como a de reservar informação para os momentos certos, todos estamos recordados que antes das Legislativas de 2005, as tais que deram a maioria absoluta a Sócrates, o défice público estava, segundo as palavras de do Governador do Banco de Portugal, controlado, para logo após a tomada de posse do primeiro governo do senhor engenheiro Pinto de Sousa passar para valores que colocavam em causa o Pacto de Estabilidade e Crescimento justificando, perante a opinião pública as medidas draconianas impostas pelo governo e cujo alvo como não poderia deixar de ser os mesmos de sempre.
Como ficou exposto Vítor Constâncio tem bastas qualidades para o desempenho do novo cargo e é por isso que eu não entro na onda de portuguesismo que reina à volta da sua indigitação.
Anibal C. Pires, IN AUNIÃO, 22 de Fevereiro de 2010, Angra do Heroísmo

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Solidariedade com a Madeira

Uma forte tempestade abateu-se hoje sobre a Ilha da Madeira provocando mais de 3 dezenas de mortos e muitas dezenas de feridos.
Fica aqui a manifestação de solidariedade com as vítimas e o povo madeirense.

Contra a corrente

Em Portugal a qualidade musical e os projectos culturais ancorados na música vão muito para além dos produtos imediatos e de “venda” fácil que nos impingem as rádios e televisões.
Este processo de estupidificação a que nos sujeitam é contrariado por uma contra corrente de artistas, projectos e público que teimam em manter viva uma certa forma de estar e pensar à margem do sucesso descartável. 
Como apenas um dos muitos exemplos de que me poderia socorrer fica uma referência aos Realejo. Descobri-os em Coimbra (foto abaixo) num espectáculo musical promovido pela FENPROF no encerramento de um dos seus Congressos.


Revisitei-os em Ponta Delgada (foto abaixo) num espectáculo que se realizou nos claustros do Convento de Santo André (Museu Carlos Machado), promovido pela Casa da Cultura, à data dirigida por Carlos Martins.


Para quem os não conhece fica este vídeo sacado do youtube onde poderão encontrar outros.


Para lá das escutas

A estupefacção dos portugueses perante o cortejo de escândalos que envolvem José Sócrates atingiu um novo nível com as revelações que têm vindo a público sobre o chamado caso “Face Oculta”.
Um dos mais recentes, a tentativa falhada de impedir a saída de um jornal semanário de grande circulação como é o Sol, apenas pioraram essa preocupação e esse espanto. Procurar bloquear, pela primeira vez desde o 25 de Abril, a edição de um jornal não pode deixar de revelar que os envolvidos estão dispostos a tudo para impedir a divulgação das escutas.
O rol de escandaleiras que envolvem José Sócrates, desde o caso da sua licenciatura, os projectos assinados, o Freeport, por exemplo, roubou-lhe qualquer espécie de crédito político que ainda pudesse ter.
O seu silêncio e a falta de esclarecimento cabal deste assunto naturalmente apenas acrescentam ao cepticismo dos portugueses. A sua sobrevivência política esfuma-se rapidamente como grãos de areia numa ampulheta.
Mas as consequências são muito mais graves. A atitude do Primeiro-Ministro leva-nos pelo caminho mais curto para a total e absoluta descredibilização do Estado de Direito e do próprio sistema democrático. A democracia representativa baseia-se num voto de confiança entre representantes e representados. As suspeitas que pairam sobre o Primeiro-Ministro destroem essa relação. O descrédito das instituições acrescenta à deserção, ao abandono e à abstenção política e mesmo eleitoral dos portugueses.
A questão não é meramente de personalidades ou de condutas individuais. As escutas que vieram a público são reveladoras não apenas sobre o caso concreto, mas também sobre a realidade do que são as relações entre o poder político e económico. A rotatividade perpétua de rostos e protagonistas entre cargos políticos e conselhos de administração tinha forçosamente de gerar este tipo de ligações perigosas, cadeias de favores e cumplicidades espúrias. O problema vai muito para lá de Sócrates ou do PS.
A importância dos grandes grupos empresariais na organização da nossa sociedade fá-los, naturalmente, procurar por todas as vias cimentar as suas relações com o poder político, garantindo a sua influência, presença e quota de mercado. Têm os meios, têm os recursos financeiros e não se coíbem de os usar. Daí se ter generalizado este estranho hábito, e não apenas em Portugal, de nomear figuras políticas reconhecidas fora do activo para posições em Conselhos de Administração em grandes empresas quer públicas, quer privadas.
Institui-se assim, mais do que o germe da corrupção, a criação de um elite que frequenta e manipula as esferas do poder, que mantém entre si uma teia de cumplicidades e colaborações, não um mas múltiplos polvos, procurando servir a sua própria agenda e os seus interesses que nada têm a ver com as necessidades reais do país. Os portugueses sabem-no. É por isso que viram as costas.
Aníbal C. Pires, IN EXPRESSO DAS NOVE, 19 de Fevereiro de 2010, Ponta Delgada

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Soluções ou paliativos

A gravidade e extensão do problema do desemprego na nossa Região são bem conhecidas. Os casos são múltiplos, as notícias são diárias e os números aí estão, inegáveis, cruéis e dramáticos.
Além de bem conhecido o fenómeno não é novo ou sequer surpreendente. Não é novo porque a cavalgada dos números do desemprego há muito tempo se vinham agravando, a novidade é o reconhecimento público e institucional, ainda assim com tentativas de os colorir em tons e rosa. O desemprego nos Açores tem razões que não são conjunturais. São de estrutura e advêm das políticas seguidas pelos governos Regional e da República, com a conivência ou participação activa dos dois maiores partidos. E por isso, esta situação não é surpreendente. É o resultado esperado e inevitável de uma política de continuada desvalorização dos sectores produtivos da nossa economia.
O desmantelamento dos sectores primário e secundário, no qual o Governo Regional, aliás investe somas avultadas, como no resgate leiteiro e nos processos de concentração da propriedade agrícola, com a resultante redução do número de população ligada ao sector, associada ao crescimento desenfreado de um macrocéfalo sector de serviços ou à expansão insustentável da actividade da construção, só poderiam ter este resultado.
A manutenção e incentivo de um modelo económico e de emprego assente em baixos salários, pouca especialização e escassa incorporação tecnológica; a falta de fiscalização de actuações abusivas de alguns empresários, designadamente em matéria de despedimentos colectivos e lay-off; estes são apenas alguns aspectos que responsabilizam os nossos Governos e a sua política pela situação de crescimento do desemprego que a Região e o País vivem actualmente.
Também a atribuição de apoios e incentivos a empresas, sem qualquer garantia da sua responsabilidade social em termos de criação, qualidade e manutenção do emprego, fazem com que não só a Região não tenha conseguido atingir os seus objectivos de desenvolvimento, como esteja, hoje, a apoiar activamente empresários que exercem um deliberada gestão danosa nas suas empresas e sem qualquer escrúpulo cilindram os direitos dos trabalhadores e os seus postos de trabalho, certos como estão de que a mão generosa do Governo Regional os virá, prontamente, libertar de dívidas e encargos.
O que a Região precisa é de um modelo equilibrado de desenvolvimento assente nos nossos sectores produtivos, primário e transformador, virados para os produtos que nos são característicos e nos individualizam, que possam, então sim, suportar um sector de serviços complementar, moderno e sustentável.
O que necessitamos é de um mercado dinâmico que garanta a sustentabilidade das nossas empresas, alimentado por uma procura interna saudável, que só pode estar ancorada no aumento dos rendimentos das famílias e na segurança no emprego.
O que carecemos é de mecanismos de solidariedade que contribuam para a nossa coesão social, que reponham a dignidade e apoiem a carência, em vez de apenas multiplicarem exclusão e alimentarem a dependência sem perspectivas.
Só um novo paradigma nos pode permitir superar a crise social e económica em que estamos mergulhados. Sem isto, todas as soluções são meros paliativos, todas as respostas são parcelares e insuficientes.
Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 18 de Fevereiro de 2010, Angra do Heroísmo

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Prémio para o Daniel

Daniel Gonçalves foi galardoado com o Prémio de Poesia Manuel Alegre. O prémio foi atribuído ao livro: Um Coração Simples


Para além do valor intrínseco da obra de Daniel Gonçalves, atrevo-me a dizer que este reconhecimento vai para além do Daniel e se estende a Santa Maria, que alguns teimam em esquecer, para os Açores e para a língua portuguesa e todos os seus operários que a souberam e sabem universalizar.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Blackfire

Depois de uma referência que há uns dias atrás foi feita no Tempo das Cerejas aos “Blackfire” resolvi deambular um pouco na net à procura de mais algumas informações e canções desta banda.
Os "Blackfire" são mais um exemplo acabado do silenciamento de uma luta travada pelas nações índias (no caso os Navajos) contra a ocupação do seu território.
Fica aqui um dos temas dos "Blackfire".

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Solidariedade silenciada

A cooperação de Cuba com o Haiti, no domínio da saúde, iniciou-se da década de 90 do século XX. Após o terramoto Cuba reforçou as equipas médicas e a estas juntaram-se os médicos haitianos formados em Cuba.
As corporações mediáticas de "referência" têm escondido esta realidade numa atitude que só pode ser classificada de terrorismo medático.
Fica um vídeo com alguma informação sobre esta questão, confirmem e ajuizem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Disputa sem glória

No último texto que aqui publiquei fiz uma breve alusão à forma como o PS de Sócrates conduziu o processo de revisão da Lei das Finanças Regionais (LFR), hoje vou-lhe dedicar integralmente este espaço procurando dar um contributo, um pequeno contributo para clarificar um processo que perverteu a essência da discussão e a finalidade da Lei.
Para além de lamentável atitude de Sócrates e Teixeira dos Santos, secundados por um coro de indefectíveis de um certo PS, ao recusarem literalmente participar na discussão e construção de uma LFR que servisse as duas regiões autónomas, o governo e o grupo parlamentar do PS na República exerceram a coacção e a chantagem sobre o parlamento e a opinião pública nacionais ao focarem a discussão no aumento do défice que a revisão da LFR iria provocar e, sobretudo, ao confundirem os povos madeirense e açoriano com quem, no actual momento histórico, exerce o poder na Madeira e nos Açores o que, diga-se em abono da verdade, não é bem a mesma coisa.
A LFR, na sua primeira versão, foi aprovada por unanimidade em 1998 e constitui-se como o mais importante instrumento das autonomias regionais instituindo um quadro transparente e estável nas relações financeiras entre o Estado e as Regiões Autónomas, ou seja, com a LFR acabou-se com o “estender da mão” e passou-se a um quadro com regras e critérios que contribuíram, em particular no caso dos Açores, para a estabilidade orçamental e financeira e para o controle da dívida pública.
Em 2007 o PS de Sócrates impôs, com a sua maioria absoluta uma nova LFR, que contendo aspectos positivos, como seja o da discriminação positiva para a Região Autónoma dos Açores ancorada nas diferenças geográficas, cariz que a LFR agora aprovada continua a consagrar, penalizou a Região Autónoma da Madeira. Este processo conduzido, em 2007, pelo governo maioritário de José Sócrates teve como objectivo a retaliação partidária e a discriminação política mas, convenhamos, prejudicou sobretudo quem ali vive e trabalha e não o PSD Madeira ou Alberto João Jardim que se demitiu na sequência deste processo, para de seguida ampliar a sua já confortável maioria absoluta.
A nova LFR mantém, como já referi, um volume de transferências superior para os Açores tendo mesmo aumentado em valor absoluto. Os Açores não foram prejudicados, a não ser que se considere que a diminuição do diferencial que se verificava entre os Açores e a Madeira seja um factor de prejuízo para os Açores.
Não tenho desta questão uma visão concorrencial, por conseguinte não posso afirmar se este factor, por si só, resulta em prejuízo para a Região Autónoma dos Açores.
Se o diferencial que se verifica actualmente corresponde ou não às necessidades e singularidades de cada uma das regiões é, em minha opinião, difícil de avaliar e o comportamento do PS não contribuiu em nada para que estes aspectos fossem devidamente debatidos e consensualizados.
O PS ao adoptar um comportamento irracional de recusar sistematicamente a discussão da revisão da LFR e de não apresentar propostas de alteração ao projecto inicial, esse sim penalizador para os Açores, demonstrou de uma forma clara e inequívoca que José Sócrates e os seus acólitos têm muitas dificuldades, quiçá inultrapassáveis, de conviver com a democracia.
Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 10 de Fevereiro de 2010, Angra do Heroísmo

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Registos avulsos

As directas para a eleição do Presidente do PS Açores ditaram o resultado esperado. Carlos César obteve o apoio quase unânime dos eleitores partidários e isso tem merecido legítimas e inúmeras análises, juízos e premonições. Não quero acrescentar nada ao que tem sido dito e escrito até porque nada de novo há a aduzir, apenas direi que o timing da sucessão não era este e, como tal, tudo sucedeu na “Santa Paz do Senhor”, no tempo certo César fará a indicação do seu sucessor e aí sim, será tempo de ajuizar sobre a escolha e a posição que o PS Açores adoptará face à designação que o incontestado líder fará para a sua sucessão. Mais do que as eleições directas, aliás alguns dos mais acérrimos defensores desta metodologia já perceberam que os congressos partidários que sucedem à eleição ficam esvaziados e interesse de conteúdo mas, como dizia, mais do que as directas importa olhar para os projectos políticos e, aí sim o final de Fevereiro pode trazer algumas novidades, até porque o tempo é de profunda crise e de reconhecimento da falência do modelo de desenvolvimento adoptado. A exigência que se colocará no Congresso do PS Açores é a de mudança no rumo do seu projecto político e isso é, certamente, muito mais importante do que a dança das cadeiras nos organismos de direcção da estrutura partidária e do governo.
Para além da questão a que tenho vindo a referir houve, algumas outras que nos últimos dias me prenderam a atenção pelo paradoxo, pela violência e pelo seu simbolismo.
O aparelho de propaganda do governo de José Sócrates afastou Mário Crespo das páginas de um dos diários tidos como uma referência nacional de liberdade de expressão. Sobre isto ocorreram-me de imediato as seguintes palavras de Bertold Brecht escritas a meados da primeira metade do século XX: “Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso/Eu não era negro/Em seguida levaram alguns operários/Mas não me importei com isso/Eu também não era operário/Depois prenderam os miseráveis/Mas não me importei com isso/Porque eu não sou miserável/Depois agarraram uns desempregados/Mas como tenho meu emprego/Também não me importei/Agora estão me levando/Mas já é tarde/Como eu não me importei com ninguém/Ninguém se importa comigo”. Mário Crespo importou-se com os outros. Importemo-nos com Mário Crespo, importemo-nos com o que nos rodeia antes que nos levem.
A revisão da Lei de Finanças Regionais ao que parece não é mais do que um mote para abrir mais uma “crise” política de vitimização do PS de José Sócrates. Lamento que este instrumento, que permitiu a consolidação das autonomias regionais dotando-as dos meios financeiros e da consequente estabilidade orçamental, esteja a ser uma vez mais utilizado à sombra de conjunturas com as quais se pretendem obter dividendos políticos imediatos.
No ano em que termina a Década Internacional para uma Cultura da Paz e da Não-Violência para as Crianças do Mundo veio a notícia, do devastado Haiti, sobre o rapto e tráfico de crianças perpetrado por cidadãos estado-unidenses, situação que aliás não é nova naquele país. O terramoto do Haiti tem colocado a nu todos os efeitos perversos de uma determinada e florescente economia da desgraça protagonizada por muitas organizações não governamentais que paulatinamente se vão substituindo aos Estados.
Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 03 de Fevereiro de 2010, Angra do Heroísmo

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ainda e sempre a coesão

Numa recente visita à ilha de Santa Maria pude constatar que o caudal de vozes que se manifestam contrárias à construção do Campo de Golfe naquela ilha tem vindo a aumentar.
Os marienses já não embarcam nas abundantes e confusas promessas do Governo regional e muito menos na validade da “Sociedade das Ilhas de Valor”, que paradoxalmente tem a sua sede em Santa Maria, cuja eficácia na promoção da coesão é pouco mais que nula.
Não é, todavia, apenas o descrédito que contribui para que a utilidade daquele investimento esteja a ser, cada vez mais, posta em causa. Os elevados consumos de água, a inevitável impermeabilização de uma extensa área agrícola, abrangendo uma das zonas mais férteis da ilha de Santa Maria, o que compromete a sua capacidade produtiva e até a sua segurança alimentar e os impactes ambientais, nomeadamente, no ciclo hidrológico despertam cada vez mais consciências. Existem ainda outros factores que contribuem para que a oposição a este previsível “elefante branco” ganhe cada vez mais adeptos, causas que se relacionam com a oportunidade do investimento e, sobretudo, com o seu retorno e contributo para a dinamização da economia mariense.
Numa época de crise, em que assistimos ao decréscimo contínuo dos fluxos turísticos, ao encerramento de unidades hoteleiras e às dificuldades que outras infraestruturas de promoção do golfe enfrentam, não se entende como é que será possível rentabilizar este empreendimento, nem como é que ele poderá contribuir para a tão desejada coesão.
Muito mais relevante e urgente do que enterrar milhões de euros em miragens turísticas, seria a satisfação de outras necessidades básicas da ilha de Santa Maria, como por exemplo, a implementação de um sistema de apoio à recuperação da habitação degradada, o fomento do turismo rural, a criação de condições para que as infraestruturas portuárias e aeroportuárias contribuam para a sustentabilidade da economia mariense e potenciem a emergência de novas actividades económicas.
A conservação da memória histórica da ilha de Santa Maria está por fazer. A paisagem natural e humanizada da baía de S. Lourenço e da Maia, a história e acervo do Rádio Clube Asas do Atlântico e o património aeronáutico de Santa Maria deveriam merecer uma atenção particular no quadro das políticas de coesão e de uma estratégia turística sustentável.
A ilha de Santa Maria como todas as outras ilhas da Região têm potencial para que as suas economias possam ser sustentáveis mas não será, certamente, com mais “elefantes” sejam eles cor de laranja, como a fracassada Zona Franca, ou cor-de-rosa como o projectado Campo de Golfe.
Aníbal C. Pires, IN A UNIÃO, 02 de Fevereiro de 2010, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Por ti

Algo me tolhe os sentidos
Algo me traz assim…
Despojado
Indolente
Indiferente
Ausente
Distante


Sim só!
Sem ti
Amor
O vazio da tua ausência
Embarga-me a vontade
Obsta o empenho
Amplia o desejo

E perduro assim…
Prostrado
De Amor
Por ti!