domingo, 30 de setembro de 2018

... da eleição do líder

Aníbal C. Pires by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)




Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos.






(...) mais do que a personalidade que vai assegurar a liderança do PSD Açores, julgo que não será por muito tempo não por qualquer demérito do Alexandre Gaudêncio, mas pela natureza depredadora de lideranças que é intrínseca ao PSD, mas como dizia mais do que saber quem lidera interessa-me conhecer o seu projeto político, o projeto do PSD, não do líder, afinal o PSD já governou na Região e na República, alternando com o PS, e, como tal, tenho interesse em perceber o que vai mudar, se é que alguma coisa vai mudar. Aguardo pelo congresso do PSD Açores para, então sim, conhecer como os “sociais democratas” açorianos avaliam a atual situação política, social, cultural e económica da Região, a que se propõem para resolver as questões que identificarem e, sobretudo, o que os pode diferenciar do seu gémeo político sem “D”, o PS. (...)

sábado, 29 de setembro de 2018

Leituras de Verão, Corpo Triplicado - crónicas radiofónicas

Maria Brandão - Imagem surripiada da página da própria 




Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 14 de Julho de 2018 que pode ser ouvida aqui











Leituras de Verão – Corpo Triplicado

Hoje proponho-lhe uma breve viagem por um livro. Neste curto roteiro mais do que as minhas ficarão as palavras de quem escreveu o Corpo Triplicado.
E nada como o primeiro texto para se perceber qual o caminho que poderá vir a percorrer se, porventura, vier a aventurar-se a ler este livro da Maria Brandão. Não é um livro para todas as almas, como poderá concluir ao fim da leitura que lhe vou fazer do curto texto que dá pelo título de Sentido Único.
Vamos lá então.

“Sentido Único
Na minha casa não há roupa fora de uso, fotografias antigas, recordações de viagens, revistas desbotadas, recortes de jornais, bilhetes de amor, recibos de compras, artigos decorativos, vasinhos de plantas ou animais de estimação. Livro-me das coisas inúteis como me livro de amigos hipócritas e dos amantes incompetentes. Sem remorso e sem saudade.”

Foto by Aníbal C. Pires
Que me diz. Despontou-lhe uma pontinha de curiosidade ou, pelo contrário, acha que não vale a pena porque ninguém tem a casa assim, tão vazia. Repare, Só as inutilidades é que não são guardadas. Talvez a casa a que se refere a autora não esteja assim tão despojada como nos pode parecer à primeira vista.
Mas sim, Admito o texto tem um não sei quê de provocatório que em mim despertou um particular interesse, mas isso sou eu que navego contra ventos e marés. Percebo a sua perplexidade, mas espero ter-lhe despertado algum interesse pela leitura deste livro.
Espere mais um pouco. Não, não vou mudar de assunto, vou ler um outro texto do Corpo Triplicado. A Maria Brandão chama-lhe Manual de Sobrevivência Social, ouça com atenção e depois vamos de fim de semana que o tempo promete céu com boas abertas e uma ligeira subida da temperatura.

“Manual de Sobrevivência Social
Um olhar directo, uma voz firme e uma atitude imperturbável são ingredientes quanto baste para conquistar um estado de impenetrabilidade. Ninguém se atreve a contradizer-te sem ficar nervoso. Afogueado ou hesitante. Ninguém te pede ajuda para tarefas que não te dizem respeito. Ninguém te convida a participar em cafezinhos, almoços, lanches e jantares de grupo. Ninguém te desafia para uma volta de bicicleta, torneio de paintball ou passeata ambiental ao sábado de manhã. Ninguém te pede dinheiro para ofertas de aniversário, rifas estudantis ou associações de protecção de animais. Ninguém te propõe apostas conjuntas no euromilhões e na lotaria de Natal. Ninguém repara, quando vais de férias e ficas doente. Ninguém te faz perguntas para lá das estritamente profissionais ou necessárias. Também funciona com vizinhos bisbilhoteiros, missionários insistentes, senhores sentados na cadeira ao lado no avião, machos latinos de vocabulário limitado, garanhões em fim de carreira e todos os chatos em geral.”

A sua curiosidade aumentou ou esta abordagem é-lhe indiferente. Seja como for se puder leia. Garanto que se vai surpreender a cada texto. Não lhe estou a dizer que se vai maravilhar, como lhe disse logo no início este não é um livro para todas as almas. Mas tenho cá para mim que a leitura do Corpo Triplicado da Maria Brandão não lhe será indiferente.

Fique bem.
Eu voltarei, assim o espero, no próximo sábado

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 14 de Julho de 2018

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Da (in)sustentabilidade da Segurança Social

Imagem retirada da Internet
Alguns por desconhecimento, mas muitos outros agindo por má fé e, estes últimos conhecem bem pois, se assim não fosse não teria uma intenção dolosa associada, Mas tem. A finalidade já não é sequer a de continuar a alimentar ideias preconceituosas sobre uma ideologia, mas sim a de procurar abrir espaço, cada vez mais espaço, à substituição de serviços públicos por serviços privados em áreas que constitucionalmente cabe ao Estado assegurar, ou seja, favorecer uma outra ideologia, a do mercado sem rei nem roque.
Os setores sociais como seja a Educação, a Saúde e a Segurança Social devem ser assegurados pelo Estado e as iniciativas privadas nestas áreas devem ser, como qualquer outra atividade empresarial privada reguladas pelo mercado, ou seja, não devem ser objeto de financiamentos públicos, a não ser que estes tenham um caráter supletivo, sendo que as lacunas existentes, por uma deficiente cobertura pública, devem ser encaradas como uma prioridade de investimento público para que sejam colmatadas.
Mas o que temos observado é o contrário disto, no caso da Educação e da Saúde pois, quanto à Segurança Social a estória é outra. As opções de investimento pública levam ao subfinanciamento do setor público com a consequente diminuição do serviço prestado, ou mesmo a ausência de resposta, na Saúde é mais evidente. Nada disto é fruto do acaso, trata-se de uma clara e bem orquestrada opção ideológica que vai sendo aceite como boa, e até ganha apoios no seio da população que mais necessita de que os serviços públicos da Saúde e da Educação garantam serviços de qualidade. Não, não são só os desprovidos de recursos, é também e, quiçá sobretudo, a classe média que é quem paga os serviços públicos e depois tem de recorrer aos serviços privados, pagando-os ao preço de mercado se, entretanto, o seu sistema de saúde não tiver acordos com as entidades privadas, ou não tiver contratualizado e pago um seguro de saúde privado.
Imagem retirada da Internet
Quanto ao sistema de Segurança Social a história é conhecida para construir a ideia de insustentabilidade do sistema. A afetação de fundos da Segurança Social para objetivos e programas à margem do seu âmbito e, com essa opção a sua progressiva descapitalização e, por outro lado as elevadas taxas de desemprego, o aumento do número de cidadãos desprovidos de rendimentos do trabalho e uma média salarial baixa, verificados nos piores anos da crise, aumentaram a despesa e diminuíram a receita. Ou seja, a sustentabilidade da Segurança Social foi posta em causa e tem servido para justificar as opções políticas que, bem vistas as coisas, estão na origem dos supostos perigos que corre o sistema público de Segurança Social, abrindo-se assim caminho à procura, no setor privado, de sistemas complementares ou até mesmo substitutivos.
Mas a questão da insustentabilidade do sistema público de Segurança Social foi recentemente desconstruída ao conhecerem-se as contas do primeiro semestre de 2018, apresentadas, no início deste mês, pelo independente Conselho das Finanças Públicas. Vejamos então algumas das conclusões:

  “(…) Entre janeiro e junho de 2018, a Segurança Social registou um excedente de 1846 milhões de euros (M€) em contabilidade pública. (…)”

“(…) O crescimento da receita efetiva da Segurança Social, excluindo as transferências do FSE e FEAC, foi de 2,2%, uma variação superior à previsão de 1,7% implícita no Orçamento da Segurança Social para 2018 (OSS/2018). Este resultado reflete o ritmo de crescimento da receita de contribuições e quotizações, que aumentou 6,8% no 1.º semestre (acima dos 5,1% esperados no OSS/2018), beneficiando da recuperação do mercado de trabalho, quer do número de contribuintes quer do valor médio das remunerações declaradas, tendo estas aumentado 4,1% em termos homólogos. (…)” 

“(…) A evolução do mercado de trabalho, que promove a redução gradual do número de beneficiários de prestações de desemprego, continua a impor-se como um fator determinante na redução da despesa da Segurança Social, traduzindo-se numa redução dos encargos com prestações de desemprego. (…)”

Mais emprego e melhores salários, Digo eu.

Ponta Delgada, 25 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 26 de Setembro de 2018

terça-feira, 25 de setembro de 2018

... equívocos

Foto by Aníbal C. Pires




Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos.





(...) Nada disto é fruto do acaso, trata-se de uma clara e bem orquestrada opção ideológica que vai sendo aceite como boa, e até ganha apoios no seio da população que mais necessita de que os serviços públicos da Saúde e da Educação garantam serviços de qualidade. Não, não são só os desprovidos de recursos, é também e, quiçá sobretudo, a classe média que é quem paga os serviços públicos e depois tem de recorrer aos serviços privados, pagando-os ao preço de mercado se, entretanto, o seu sistema de saúde não tiver acordos com as entidades privadas, ou não tiver contratualizado e pago um seguro de saúde privado. (...)

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Prioridades do CA da SATA

Foto by Aníbal C. Pires (Setembro, 2018)
Não é de agora, mas é sobretudo do nosso tempo, que a informação organizacional, interna e externa, assume uma importância decisiva na afirmação das organizações junto do seu público alvo, (informação externa), mas é, também, um precioso instrumento de gestão interno quando se pretende, de facto, criar uma cultura organizacional que induza e favoreça sentimentos de pertença (informação interna).
No Grupo SATA, diga-se em abono da verdade, que nem a comunicação externa, nem a interna, atingem os seus objetivos. Mas, da necessidade de melhorar a circulação da informação interna, ou à necessidade de introduzir alterações à forma como o Grupo SATA comunica externamente, aspetos com os quais estou genericamente de acordo, até á decisão, pelo Conselho de Administração(CA) da SATA, de recrutar externamente um assessor de imprensa, que custará mais por ano do que o valor necessário para, por exemplo, regularizar grande parte da dívida a pequenos fornecedores, não me parece uma prioridade.
Não sei quem é, nem conheço as competências do assessor de imprensa, e não é disso que se trata pois, por melhor desempenho que possa vir a ter, não é com assessorias de informação que se resolvem as irregularidades operacionais/comerciais que com tanta frequência têm ocorrido no Grupo SATA, quiçá a prioridade em relação à admissão de novos trabalhadores será na área operacional para evitar o cancelamento de voos, ou o seu adiamento, por falta de tripulações, já agora fica uma outra comparação o custo anual desta contratação externa é equivalente ao recrutamento de 4 novos tripulantes de cabine.
Foto by Aníbal C. Pires
Não coloco em causa a necessidade da existência de um quadro dedicado à assessoria de imprensa no Grupo SATA, mas tenho as minhas dúvidas sobre a opção por um recrutamento externo. Existem quadros do Grupo SATA com capacidade e conhecimento para exercerem essas funções e que continuam subaproveitados.
Quando foi conhecida a composição do CA da SATA congratulei-me pelo facto de um dos elementos ser um quadro da empresa. Recentemente o CA nomeou um novo Diretor dos Recursos Humanos e o Diretor Comercial, recorrendo, e bem, a dois quadros da SATA e dispensando uma contratação externa, só posso congratular-me com essa medida de gestão. Por outro lado, as atuais necessidades da SATA para satisfazer os compromissos operacionais/comerciais e dar resposta à procura, exigem novos recrutamentos externos para a área operacional, desde logo tripulantes de cabine e pilotos, e não de assessorias. Esta terá sido uma decisão da responsabilidade exclusiva do CA da SATA, isto é, não me parece que o acionista tivesse dado orientação expressa para esta admissão. Assim, poderá dizer-se que este terá sido um passo dado pelo CA da SATA que contraria tudo o que seria expetável face ao caminho que vinha a ser trilhado. Lamento, mas quanto a esta decisão a avaliação é negativa.

Ponta Delgada, 23 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 24 de Setembro de 2018

... das opções da SATA

Foto by Aníbal C. Pires






Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos.







(...) No Grupo SATA, diga-se em abono da verdade, que nem a comunicação externa, nem a interna, atingem os seus objetivos. Mas, da necessidade de melhorar a circulação da informação interna, ou à necessidade de introduzir alterações à forma como o Grupo SATA comunica externamente, aspetos com os quais estou genericamente de acordo, até à decisão, pelo Conselho de Administração(CA) da SATA, de recrutar externamente um assessor de imprensa, que custará mais por ano do que o valor necessário para, por exemplo, regularizar grande parte da dívida a pequenos fornecedores, não me parece uma prioridade. (...)

sábado, 22 de setembro de 2018

A intimidação e as ameaças veladas não amedrontam os docentes - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 07 de Julho de 2018 que pode ser ouvida aqui






A intimidação e as ameaças veladas não amedrontam os docentes

Bem que gostaria de lhe trazer um outro assunto neste primeiro sábado de Julho, mas não ficaria bem comigo mesmo se não partilhasse consigo uma reflexão, sobre a qual já escrevi no meu blogue, sobre um tema que domina a atualidade política regional e nacional e que é um assunto que preocupa, ou devia preocupar, todos os cidadãos.
Sim, trata-se da greve dos educadores e professores, mas trata-se também do incumprimento da Lei, de honrar compromissos, de cumprir recomendações e, da inaceitável intimidação, coação e das ameaças veladas que estão a ser exercidas pelo Governo da República e, em particular pelo Governo Regional dos Açores, por via da Secretaria e da Direção Regional da Educação.

Foto by Aníbal C. Pires
A tutela regional da educação através de ofícios e outras formas de comunicação, quer impor aos docentes um conjunto de ilegalidades e fazer tábua rasa do direito constitucional à greve. Não vai conseguir, os docentes já perderam o medo e o respeito pela tutela, aliás basta ver o número de Conselhos de Turma adiados após várias tentativas de intimidação e ameaça de procedimentos disciplinares para se constatar isso mesmo.
O art.º 19 da Lei do Orçamento de Estado para 2018 é claro quanto à consagração da recuperação integral do tempo de serviço congelado aos docentes para efeitos de reposicionamento na carreira. O mesmo artigo remete, cumprindo o determinado na Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, para a negociação do prazo e do modo da sua concretização. O Governo do PS de António Costa recusa-se a cumprir a Lei do Orçamento de Estado ao propor aos Sindicatos representativos dos docentes a recuperação de apenas cerca de 3 anos. Este é já um governo fora da lei.
Quanto ao compromisso assumido numa declaração assinada com os Sindicatos dos docentes, ainda antes da aprovação do Orçamento de Estado de 2018, o Governo do PS demonstrou que não tem palavra, nem honra, simplesmente faz letra morta do que subscreveu, nada que me espante, pois, conhecendo o modus operandi do PS estranho seria que honrasse o compromisso.
Quanto à Resolução 1/2018, proposta ainda em 2017, pelos “Verdes” na Assembleia da República, e aprovada com os votos favoráveis do PS, do PCP, dos “Verdes, do BE e do PAN, Não o PSD e o CDS/PP não votaram favoravelmente, aliás como não votaram favoravelmente o Orçamento de Estado para 2018, mas como dizia a Resolução 1/2018 recomendava ao Governo a recuperação integral do tempo de serviço congelado, também desta Resolução da Assembleia da República o Governo do PS de António Costa está a fazer letra morta.

Foto by Aníbal C. Pires
Estes factos são importantes para se perceber quem deve ser responsabilizado politicamente pelos incómodos causados pela greve dos educadores e professores. Julgo que é claro que o Governo do PS de António Costa é o culpado, aliás é bom que se diga que os Sindicatos representativos dos docentes, em boa fé, propuseram um prazo suficientemente dilatado para que os impactos nas finanças públicas se diluíssem ao longo de vários anos. Eu cá por mim não lhes daria tanto tempo pois, quando se trata de injetar dinheiro público na banca privada não faltam milhares de milhões de euros. Mas tudo bem, respeito a boa vontade negocial dos Sindicatos.
Face à adesão dos docentes à greve às avaliações que está a decorrer e à dimensão dos seus efeitos os Governos, com exceção do Governo Regional da Madeira, ao invés de se sentarem à mesa negocial cumprindo a lei do Orçamento de Estado para 2018 optaram pela coação e pela intimidação aos docentes tentando subverter o quadro legal que regula o funcionamento dos Conselhos de Turma, ou seja, uma vez mais estão a atuar fora da lei.
Nos Açores a pressão sobre os Conselhos Executivos e sobre os docentes, com ameaça de procedimentos disciplinares seria para rir, senão fosse tão grave, mas os docentes não se deixaram intimidar e mantêm-se unidos e cada vez mais fortes nesta luta pelo cumprimento estrito da legalidade.
Ainda quanto aos Açores não posso deixar de lamentar, uma vez mais, a inépcia do Governo Regional ao recusar-se a abrir um processo autónomo de negociação com os Sindicatos cumprindo, assim, o que a Lei do Orçamento de Estado consagra.
Estas opções têm custos políticos e eleitorais e as eleições na República são já em 2019 e as eleições nos Açores em 2020.
A memória dos cidadãos é curta, mas no que diz respeito aos docentes, desta vez, talvez não seja bem assim.

Fique bem.
Eu voltarei, assim o espero, no próximo sábado

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 07 de Julho de 2018

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Quem paga a quem

Imagem retirada da Internet
Sob a égide do Secretário Regional Adjunto para as Relações Externas, Dr. Rui Bettencourt, ao longo de vários meses e num processo amplamente participado, que contou com a participação e com os contributos de diferentes setores da sociedade açoriana, concluiu-se o processo de construção da posição regional sobre as grandes linhas de orientação para a aplicação de fundos comunitários pós 2020.
O documento final produzido mereceu a unanimidade partidária, um amplo consenso dos parceiros sociais e dele já foi dado conhecimento às diferentes instâncias europeias. Não tenho memória de processos políticos idênticos, quer no que diz respeito à metodologia utilizada, quer na diversidade das participações individuais e coletivas. Como tal, não posso deixar de fazer este registo positivo e, assim, tornar pública a minha opinião.
A Região, com este documento, ficou dotada de um documento estratégico que lhe permite, desde logo, alicerçar argumentos no seio da União Europeia, mas também em Lisboa, para justificar a alocação dos necessários envelopes financeiros para a concretização das políticas de desenvolvimento que podem, no próximo Quadro Financeiro Anual (QFP), resolver algumas das questões estruturais que continuam a influenciar negativamente o processo de convergência com a União Europeia, afinal este é o principal objetivo dos fundos estruturais. É bom não esquecer.
Os receios de que poderia, face à justificação do Brexit e à adoção de políticas securitárias e de defesa pela União Europeia, vir a verificar-se uma redução no orçamento comunitário pós 2020 no apoio às políticas de coesão e num ou outro pilar da Política Agrícola Comum vieram a concretizar-se, ainda durante o processo de construção da posição açoriana. Embora este facto não seja sinónimo de diminuição das verbas consignadas aos Açores pois, o QFP destina-se aos países e não às Regiões, tenho consciência, todos a teremos, que a concretizarem-se, para Portugal, as reduções previstas na proposta orçamental da Comissão Europeia, essa redução será espelhada no financiamento que o Estado vier a alocar aos Açores. Também, como já ficou dito atrás, por esse motivo a posição construída nos Açores tem o mérito de conter os fundamentos necessários para justificar, perante Lisboa, a necessidade de manter, pelo menos, o mesmo nível de financiamento do QFP aos Açores.
Não sendo o principal objeto desta reflexão não posso, contudo, deixar de referir que a proposta da Comissão Europeia contém outros aspetos, quiçá mais penalizadores, como sejam, por um lado, o aumento de 100% da comparticipação própria dos promotores de projetos cofinanciados e, por outro a centralização, na Comissão, de uma parte significativa da gestão dos fundos comunitários, como por exemplo, numa área tão importante e sensível com seja a investigação científica.

Imagem retirada da Internet
Há no seio dos deputados portugueses no Parlamento Europeu quem concorde com a proposta de orçamento para o próximo QFP, aliás no Fórum que se realizou na passada segunda-feira na Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, isso foi claro e transparente. Mas, é bom que tenhamos a ideia de que Portugal não tem de estender a mão à Comissão Europeia, os fundos estruturais não têm um carácter assistencialista e, sendo importantes, é bom que ganhemos consciência de que os sucessivos envelopes financeiros atribuídos a Portugal não compensaram, nem compensam, os prejuízos que resultaram das políticas comuns. Associada a esta questão está uma outra que não é de somenos importância; a Alemanha tem vindo, ao longo de vários anos a registar o maior excedente comercial do Mundo, mas pelo contrário as economias periféricas da zona euro atravessaram e atravessam graves desequilíbrios nas sua balanças comerciais. Afinal para onde vão os benefícios deste modelo de construção europeia. Quem paga a quem.
Este assunto, não por ser inesgotável, mas porque vai estar na agenda política até à sua aprovação final, que se está a projetar para depois das próximas eleições para o Parlamento Europeu, será por certo alvo de outras reflexões que conto continuar a partilhar com os leitores.
Ponta Delgada, 18 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 19 de Setembro de 2018

terça-feira, 18 de setembro de 2018

... dos excedentes

Imagem retirada da Internet





Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos.







(...) Mas, é bom que tenhamos a ideia de que Portugal não tem de estender a mão à Comissão Europeia, os fundos estruturais não têm um carácter assistencialista e, sendo importantes, é bom que ganhemos consciência de que os sucessivos envelopes financeiros atribuídos a Portugal não compensaram, nem compensam, os prejuízos que resultaram das políticas comuns. Associada a esta questão está uma outra que não é de somenos importância; a Alemanha tem vindo, ao longo de vários anos a registar o maior excedente comercial do Mundo, mas pelo contrário as economias periféricas da zona euro atravessaram e atravessam graves desequilíbrios nas sua balanças comerciais. Afinal para onde vão os benefícios deste modelo de construção europeia. Quem paga a quem. (...)

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Congressos partidários, projetos políticos e protagonistas

Imagem retirada da Internet
Os congressos partidários constituem momentos importantes da vida pública, uma vez que é naquele espaço de apresentação de moções ou resoluções políticas, submetidas à discussão e votação dos representantes partidários que são conhecidas as linhas que conformam os projetos políticos que pautarão a ação e iniciativa política partidária, quer se esteja na oposição, quer se exerça o poder executivo. E este aspeto, quer se queira quer não, é bem mais importante do que saber quem são os protagonistas.
No caso da Região Autónoma dos Açores é no Parlamento que reside o poder legislativo. Ou seja, as iniciativas políticas ali apresentadas resultam, ou assim deveria ser, dos projetos políticos aprovados em congresso e aprofundados nos programas eleitorais que os partidos apresentam ao eleitorado. Programas que após serem sufragados se transformam em compromissos sociais e políticos, ou dito de outra forma os partidos estabelecem com a sociedade um contrato que devem cumprir, se o não fizerem perdem a legitimidade democrática que lhes foi conferida no ato eleitoral e, quando assim é, e é-o muitas vezes, os eleitores devem exigir o seu cumprimento e passam a ter o direito democrático à indignação e a reivindicar a demissão de quem quebra o compromisso.
Não tenho por hábito partilhar publicamente a minha opinião sobre os congressos partidários, a não ser quando, em representação partidária, assisto às sessões de encerramento e me é solicitado, pela comunicação social, um comentário. Hoje vou quebrar essa prática e partilhar algumas considerações sobre o congresso do PS Açores que decorreu, no passado fim de semana, na cidade da Praia da Vitória. Esta é uma exceção e, como tal, não significa que, sobre os congressos partidários que se realizem daqui para a frente, me sinta obrigado a partilhar opinião sobre o que ali vier a ser dito e aprovado.
Como afirmei, dos congressos partidários, para além de outros aspetos, importa conhecer a moção ou a resolução aprovada e que será, como também já disse, o documento que conforma a ação política, de médio prazo. No caso do PS Açores que vem a exercer o poder na Região desde 2016, digamos que tinha alguma curiosidade sobre este congresso e a moção global que iria ser aprovada.

Foto by Madalena Pires 
A moção apresentada pelo Presidente do PS Açores, e também Presidente do Governo Regional, desenvolve-se ao longo de três áreas, ou pilares, a saber: “Afirmar os Açores”, “Reforçar a Coesão” e “Qualificar a Democracia”. Se me ficasse apenas pelos temas perguntaria, O que é que o PS tem andado a fazer desde 1996. Mas não é o caso, sempre li mais alguma coisa da moção global e, é sobre algumas das propostas que constam da moção que lhe deixo algumas considerações.
A afirmação dos Açores proposta na moção global depende, no essencial, de uma revisão constitucional, isto é, não se subordina à vontade do PS Açores, para além de que algumas das propostas, como por exemplo ser o Presidente do Governo a promulgar a legislação regional, mesmo considerando que o Presidente do Governo regional venha a ser eleito pelo parlamento, tal como é proposto, não faz nenhum sentido político pois o poder legislativo reside na Assembleia Legislativa. Tratando-se, no essencial, de matérias que necessitam de uma revisão constitucional, eu diria, que o PS Açores sacode a água do capote na sua proposta de “Afirmar os Açores” e reintroduz, uma vez mais uma agenda política que, no imediato, mais não pretende do que deslocalizar a atenção dos cidadãos do que é verdadeiramente prioritário para o Povo Açoriano.

Foto by Aníbal C. Pires
Quanto ao segundo pilar, “Reforçar a Coesão”, apresenta alguns aspetos novos, desde logo, um princípio que tenho vindo defender, A coesão desenvolve-se no potencial endógeno de cada uma das nossas ilhas e na complementaridade entre elas, e não na replicação modelos uniformes. Mas é este o pilar que melhor evidencia a ineficácia da ação política e governativa do PS Açores, parece que nada foi feito para resolver questões que há muito estão equacionadas como, por exemplo, as questões demográficas (desertificação e envelhecimento) e, ainda e sempre, as acessibilidades e a mobilidade (transportes: terrestres, marítimos e aéreos, e, os custos que lhe estão associados).
A moção global apresenta no terceiro pilar, “Qualificar a Democracia”, que se pode traduzir na intenção de melhorar a qualidade da democracia açoriana que, digo eu, bem necessitada está.
Uma administração pública amiga e próxima do cidadão e, sobretudo, transparência e prestação de contas. Quando li esta última parte não pude deixar de sorrir pois, o Governo regional não tem mostrado, perante os deputados eleitos pelo Povo Açoriano nenhuma disponibilidade para o fazer. A governação é opaca e quanto à prestação de contas, designadamente no que concerne às alterações orçamentais (centenas anualmente) o Parlamento que aprova o Orçamento, não tem delas conhecimento. Mas sim, folgo em saber que o PS Açores, não só reconheceu a opacidade da sua governação e quer conferir-lhe transparência, como também considera importante a prestação de contas quanto aos compromissos que assume com as instituições e os eleitores.
Para quem ainda se lembra do título que dei a este texto estará à espera que seja agora o momento dos protagonistas. E, para não lhe defraudar a expetativa vou dedicar o espaço e o tempo que me resta aos protagonistas. As personalidades têm importância, sem dúvida, mas não nos esqueçamos que os protagonistas são meros executores dos projetos políticos e dos interesses que representam. Importante mesmo são os projetos políticos que a dada altura protagonizam.
Ponta Delgada, 16 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 17 de Setembro de 2018

domingo, 16 de setembro de 2018

... dos compromissos

O "PECA" que nunca chegou





Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, também, no blogue momentos.





(...) Quanto ao segundo pilar, “Reforçar a Coesão”, apresenta alguns aspetos novos, desde logo, um princípio que tenho vindo defender, A coesão desenvolve-se no potencial endógeno de cada uma das nossas ilhas e na complementaridade entre elas, e não na replicação modelos uniformes. Mas é este o pilar que melhor evidencia a ineficácia da ação política e governativa do PS Açores, parece que nada foi feito para resolver questões que há muito estão equacionadas como, por exemplo, as questões demográficas (desertificação e envelhecimento) e, ainda e sempre as acessibilidades e a mobilidade (transportes: terrestres, marítimos e aéreos, e, os custos que lhe estão associados). (...)

sábado, 15 de setembro de 2018

A demanda de José Filemom - Crónicas radiofónicas






Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 23 de Junho de 2018 que pode ser ouvida aqui








A demanda de José Filemom

Foto by Aníbal C. Pires
Tenho para comigo que pouco acrescentarei ao muito que os leitores, do mais recente romance de Joel Neto, têm dito e tornado público sobre o “Meridiano 28”, mas ainda assim e correndo o risco de não acrescentar rigorosamente nada às apreciações já feitas. Ainda assim, e, porque não tenho temor de arriscar, aqui fica a minha opinião. Opinião que é apenas mais uma, entre muitas outras.
Para quem não conhece a história dos Açores e, neste particular, a história do Faial do século XX ficará com curiosidade em saber mais depois de ler o “Meridiano 28”, se já antes a baleação e a presença dos Dabney tinham contribuído para a transformação social e económica desta ilha açoriana, a instalação dos cabos submarinos e a fixação de uma significativa comunidade alemã e inglesa, mas também o início da operação aérea dos clippers da Pan Americam, em 1939 e que se prolongou durante o período da II Guerra Mundial, fixaram, naturalmente muitos americanos. A cidade da Horta acolhia, ainda, uma diversidade de outras nacionalidades menos numerosas, é certo, mas que lhe conferiam caraterísticas únicas. É neste ambiente cosmopolita e de interação entre as diferentes comunidades estrangeiras e algumas famílias faialenses que se desenrola a teia urdida pelo Joel Neto e que os leitores vão, sofregamente, acompanhando ao passar de cada página.
Apesar do que ficou dito e o que mais me aprouver dizer, o “Meridiano 28” não é um romance de época, Digo eu, salvaguardando melhores e doutas opiniões. O mais recente romance de Joel Neto é intemporal como o é o amor e o ciúme, a amizade, a convivência pacífica e a solidariedade, mesmo em tempo de guerra, como é o sonho e a fantasia, a natureza tranquila e bela, mas também uma natureza capaz de enormes cataclismos que podem transformar (transformou) as fronteiras de uma pequena ilha do Atlântico Norte.
Se o centro desta urdidura de Joel Neto é a cidade da Horta e o período da II Guerra Mundial a estória não se confina nem ao espaço, nem ao tempo, outra coisa não se podia esperar pois, os açorianos nunca se deixaram espartilhar pelo horizonte. O horizonte é logo ali e para lá dele ficam os sonhos e outros Mundos, outras verdades. E é a demanda de José Filemom, por outros lugares outros tempos, que acompanhamos ao longo da teia que o Joel urdiu.
Sendo de um tempo de guerra este não é um livro sobre os horrores da guerra. Este será, também, um aspeto que diferencia este romance de outros cujo tema se centra neste período negro da história da humanidade que foi a II Guerra Mundial.
Depois de ter lido o “Meridiano 28”, e mesmo conhecendo razoavelmente o Faial e a sua história o meu olhar sobre a cidade da Horta e a ilha do Faial nunca mais será o mesmo.
Obrigado Joel.

Quanto a si que esteve comigo, Fique bem.
Eu voltarei, assim o espero, no próximo sábado

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 30 de Junho de 2018

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Olhares sobre Setembro(s)

Imagem retirada da Internet
Passam 17 anos sobre os atentados de Nova Iorque e 45 anos sobre o golpe de Pinochet no Chile e a comunicação social traz, naturalmente, para a memória coletiva estes acontecimentos que chocaram o Mundo. Se atentarmos bem verificamos que uma das datas é preterida em favor da outra. Sim, são os critérios editoriais. Eu diria que sim, São os critérios editorias que melhor se adequam a interesses espúrios e que pouco têm a ver com o rigor e a história.
Por um lado, branqueia-se um golpe fascista apoiado e financiado pelos Estados Unidos do qual não só resultou a morte do Presidente de um governo eleito democraticamente, mas que fez nos dias e meses que se lhe seguiram mais de 3 dezenas de milhares de mortos entre o povo chileno. Ao que nos é dado constatar esta não é a efeméride que merece a atenção da comunicação social do mainstream. Se os cidadãos pretenderem obter alguma informação sobre o 11 de Setembro de 1973 no Chile terão de procurar nos canais de informação do underground. O que para os cidadãos menos atentos acaba por ser incompreensível pois, trata-se, quer num caso quer no outro, da nossa história recente. E é legítimo perguntar que raio de critérios editoriais são este que promovem um e escondem outro ato de terror. Sim porque, quer num caso quer noutro foi de terrorismo que se tratou.
Admito que o atentado de Nova Iorque, a 11 de Setembro de 2001, pelas imagens disponíveis, foi transmitido em direto pelas televisões de todo o Mundo, pela proximidade cronológica, mas, sobretudo pelo mediatismo que tem tido, e tem, esteja mais vivo na retina dos cidadãos, o que não justifica que a memória da barbárie que se abateu sobre o povo chileno seja remetida para o esquecimento ou, para as notas de roda pé.


Imagem retirada da Internet
Mas em nome do rigor, uma vez que quanto à história não se compreendem os tais critérios editoriais. Quanto ao rigor as notícias de hoje (ontem) que se referem ao 11 de Setembro de 2001 também deixam muito a desejar. Conhecidos que são inúmeros relatórios e estudos, sobre alguns dos aspetos dos atentados, que contrariam a versão oficial construída nos dias que se seguiram aos atentados a comunicação social, alinhada com a corrente dominante, continua a reproduzir como verdades insofismáveis alguns aspetos que, comprovadamente, ou não aconteceram de todo, ou que não foram responsáveis por alguns dos efeitos que se registaram ao longo desse famigerado dia. Mas eles insistem.
Insistem que as Twin Towers ruíram devido ao embate dos aviões, insistem que o ataque ao Pentágono foi perpetrado por um avião comercial, quando todas as evidências e estudos comprovam que não foi assim. E quanto ao hipotético avião que caiu na Pensilvânia e que supostamente se dirigia para a Casa Branca existem muitas dúvidas sobre a veracidade desse evento, até porque a zona de impacto não apresenta os sinais característicos da queda de um avião comercial.
Os dois acontecimentos a que me tenho vindo a referir tiveram desenvolvimentos que afetaram e afetam o Mundo. O golpe de Pinochet, com o apoio dos Estados Unidos, criou condições para a criação de um espaço experimental de algumas teses económicas que mais tarde, com as necessárias adaptações foram importadas pelos os Estados Unidos e pela a Europa, neste caso para pela mão de Margareth Tatcher e com efeitos diretos e imediatos na Inglaterra. Mais tarde, ainda que sob uma outra vestimenta essas teses foram sendo generalizadas por toda a União Europeia com os efeitos conhecidos que o endeusamento do mercado provocou.
O 11 de Setembro de 2001 serviu para justificar a invasão do Afeganistão e do Iraque, para além de outros episódios de ingerência em estados soberanos, e a instalação de um clima de terror que não está confinado a esses territórios. O histórico de atentados terroristas, tendo como autores grupos fundamentalistas, um pouco por todo o Mundo é longo e conhecido de todos.
Ponta Delgada, 11 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 12 de Setembro de 2018

terça-feira, 11 de setembro de 2018

... da memória coletiva

Imagem retirada da Internet





Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, também, no blogue momentos.






(...) Ao que nos é dado constatar esta não é a efeméride que merece a atenção da comunicação social do “mainstream”. Se os cidadãos pretenderem obter alguma informação sobre o 11 de Setembro de 1973 no Chile terão de procurar nos canais de informação do “underground”. O que para os cidadãos menos atentos acaba por ser incompreensível pois, trata-se, quer num caso quer no outro, da nossa história recente. E é legítimo perguntar que raio de critérios editoriais são este que promovem um e escondem outro ato de terror. Sim porque, quer num caso quer noutro foi de terrorismo que se tratou. (...)

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Dias tranquilos

Foto Madalena Pires (S. Miguel, 2017)
Estar, a momentos, só e com alguma quietude é um ritual diário. Necessito desses instantes como preciso do ar que respiro para viver. É assim como uma espécie de viagem pelo que fui e pelo que sou, mas também um olhar para o que ainda por aí virá. Sou um ser sociável. Gosto de conversar, embora não goste de multidões, mas não prescindo de ter um tempo para mim, Só para mim, nem os meus botões quero ter por perto.
Nos fins de semana de Verão tenho por hábito ficar por casa. Saio apenas para passar uns momentos numa das esplanadas dos pequenos cafés que se situam na vizinhança. Hoje assim aconteceu, afinal ainda é Verão e os hábitos são o que são. Esta minha opção de recolhimento quase monacal tem, como tudo, uma justificação. Gosto do silêncio dos lugares. Como vê as razões que me assistem, por sinal, até são bem simples, embora nem sempre compreendidas. Nos fins de semana de Verão os lugares enchem-se de ruídos e eu procuro silêncios.
E assim aconteceu hoje. De sacola ao ombro onde, de entre outros objetos, carrego o livro que ando a ler, um pequeno bloco de apontamentos, uma dose de tabaco (estou a tentar diminuir o consumo) e algumas fichas cartonadas para fazer anotações da leitura, lá fui para uma esplanada da zona residencial onde vivo. Para além da proximidade e da simpatia dos proprietários o espaço não tem particularidades que o tornem um lugar especial. Localiza-se numa praceta sobranceira a uma avenida voltada para os edifícios que a ladeiam, tem apenas uma pequena “janela” por onde se avista uma nesga de céu e o alto da mãe de Deus com a sua altaneira igreja voltada a poente (para o núcleo histórico da cidade). Por aquela estreita janela pode ainda observar-se o movimento aéreo que chega e parte do aeroporto de Ponta Delgada, conforme a pista em uso.
Apesar do lugar para onde me dirigi se situar na zona com maior densidade populacional da cidade, sabia que a meio desta tarde luminosa de Verão, com a temperatura amena, a humidade elevada e sem vento não faltariam lugares e silêncios para mim. E assim foi.
Foto by AníbalC. Pires (S. Miguel, 2018)
Tomei café, folheei um dos diários regionais, fumei um cigarro e quando me preparava para retomar a leitura dos “Dias Tranquilos”, do escritor japonês Kenzaburo Oé*, já se ouvia a chuva a embater no toldo que me protegia do Sol. Que bom. Bom devido aos grandes períodos de estiagem que este ano se têm verificado e a terra tão necessitada deste consolo. Olhei em frente, a Mãe de Deus continuava recortada no azul do céu, a temperatura continuava amena, o vento não se levantou, a chuva caía vertical e persistentemente e eu “tava-me” consolando com esta bênção. Gosto do som chuva, gosto do cheiro a terra molhada e gosto de estar na rua quando caiem estas chuvadas de Verão. A tarde tornou-se perfeita quando recebi um telefonema de alguém que me conhece, como ninguém, para me dizer do quanto eu deveria estar a fruir daquele momento.
Se gosto e preciso de estar só, Sem dúvida. Mas gosto ainda mais de ter alguém que respeita e compreende esta necessidade vital para o meu bem-estar.
Ponta Delgada, 09 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 10 de Setembro de 2018

... do silêncio dos lugares

Foto Madalena Pires (S. Miguel, 2017)








Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, também, no blogue momentos.











(...) Nos fins de semana de Verão tenho por hábito ficar por casa. Saio apenas para passar uns momentos numa das esplanadas dos pequenos cafés que se situam na vizinhança. Hoje assim aconteceu, afinal ainda é Verão e os hábitos são o que são. Esta minha opção de recolhimento quase monacal tem, como tudo, uma justificação. Gosto do silêncio dos lugares. Como vê as razões que me assistem, por sinal, até são bem simples, embora nem sempre compreendidas. Nos fins de semana de Verão os lugares enchem-se de ruídos e eu procuro silêncios. (...)

sábado, 8 de setembro de 2018

Modelação e domínio - crónicas radiofónicas






Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 23 de Junho de 2018 que pode ser ouvida aqui







Modelação e domínio

Quem lida com informação pode muito bem ser induzido em erro. As notícias chegam em catadupa através dos órgãos de comunicação social tradicionais e, se tomarmos em consideração as atuais plataformas digitais de comunicação, então o caudal de informação é incomensurável. E, como referi, este imediatismo mesmo quando temos como credível a fonte leva-nos muitas vezes a incorrer em erro. E erramos quando reproduzimos uma informação sem antes cruzar com outras fontes, ou construímos opinião que partilhamos com base em informação que omite e não contextualiza.
Também me acontece a mim, não estou imune, por vezes sou levado na onda, pelo tempo que escasseia e pela oportunidade que se perde. Não acontece com frequência, mas já tem acontecido. E quando assim é só há uma forma de emendar a mão, ou o pé já que estamos em maré de futebol, temos de reconhecer o erro e corrigi-lo. Mas isto sou eu… porque os profissionais da informação estão-se nas tintas, vivemos na era da pós-verdade. Este neologismo que não é mais do que um sinónimo de modelação da opinião, ou seja, um conceito de comunicação onde os factos são menos importantes do que as emoções. Mais importante do que a verdade é algo que se aparente com a verdade.

A pós-verdade parecendo uma modernice, como outras que entraram no nosso vocabulário, só o parece, pois, como sabemos, há muito que alguns filósofos afirmam que não existem factos, o que existe são versões. E assim será.
Todos, de uma forma ou outra, já nos demos conta que sobre o mesmo acontecimento existem inúmeras versões dependendo do ponto de vista de quem nos relata um determinado acontecimento. Talvez o melhor exemplo seja o futebol e as diferentes versões sobre o mesmo facto que nos são transmitidas por especialistas, sejam eles jornalistas ou comentadores.
Se o conceito e o vocábulo são recentes a utilização da designada pós-verdade é uma velha prática de manipulação da opinião pública. A diferença está nos meios utilizados para a disseminar, daí a sua crescente importância e utilização como instrumento massivo de modelação da opinião pública.
As emoções e as mundivivências influenciam a forma como olhamos para o Mundo, mas para além destes aspetos existem outros instrumentos, direi, mais racionais e que podem contribuir para construir uma versão o mais próximo que seja possível da realidade. Desde logo, o tempo, Sim tempo para pensar, para refletir e para trocar opinião com outros, mas também o conhecimento científico e cultural.
Quanto mais consistentes forem estes instrumentos, a ciência e a cultura, maior será a dificuldade de nos modelarem a opinião, por outro lado o tempo, como todos sabemos é, continua a ser, bom conselheiro. Utilizar tempo para pensar, refletir e dialogar é dar um bom uso ao tempo, evita erros e as reações emotivas que, sem o necessário equilíbrio da racionalidade, facilitam a modelação da opinião pública e o domínio do poder sobre os cidadãos.

Volto no próximo sábado, assim o espero.
Até lá,
Fique bem.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de Junho de 2018

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A FESTA abre hoje

Imagem retirada da Internet




Tá quase a ter início a FESTA.
De hoje até Domingo acontece o maior evento político cultural que se realiza no nosso país, quiçá na Europa.





Acedam ao site da FESTA e procurem por lá toda a informação.
Nesta ligação acedam a alguns vídeos e ficarão com uma ideia do que, este ano, por lá vai acontecer.
Fica uma amostra no vídeo abaixo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Palco de ilusões

Imagem retirada da Internet
Rita Pereira está grávida. Esta terá sido uma das notícias mais divulgadas nos últimos dias. E eu, cá para comigo, Quem é Rita Pereira e qual será o interesse em divulgar a sua gravidez. Lá percebi quem era e, os motivos da difusão da notícia ficaram claros. A senhora vende. É atriz e, segundo os estereótipos em voga, é assim como uma das sex simbols” nacionais. Não me perguntem de quanto tempo está, nem se vai ser menino ou menina, ou quiçá gémeos, Não sei, mas os pormenores devem ser minuciosamente divulgados até ao nascimento. Vão acompanhando, talvez até com alguns momentos em direto, a evolução da gravidez da Rita Pereira. Eu cá por mim, que nos últimos dias não dei conta de nenhum alerta sobre o Bruno de Carvalho, estou mais preocupado com uma eventual quebra da sua popularidade. Facto que vindo a confirmar-se vai causar um vazio nas redações dos jornais, rádios e televisões o que, como todos compreendemos, pode constituir-se num sentimento de perda de consequências imprevisíveis. Estejamos atentos.
Atentos e com um olhar crítico que é assim como quem diz, Separando o trigo do joio. O caudal informativo, nem sempre límpido e cristalino, assim o exige.

Imagem retirada da Internet
Estamos agora a entrar em Setembro o que pretende significar que estamos a retomar às rotinas pós Verão. De uma, ou outra forma este reinício é para todos. Seja pelas condições meteorológicas que gradualmente se adequam à época do ano, apesar das alterações climáticas, seja pelo regresso dos filhos ou netos à escola. Com Setembro chega um novo ciclo das nossas vidas, tudo se vai repetir, mas ainda assim depositamos sempre alguma esperança que esta nova etapa possa ser melhor e, para o ano voltará o Verão. Tão bom, não é. E será tanto melhor se contribuirmos, individual e coletivamente, para que assim seja. Sim as transformações implicam esforço, sacrifício, coragem e, muitas vezes, ruturas. Nada acontece por acaso ou, por obra de um qualquer benfeitor que nos representa junto dos poderes divinos ou humanos.
Nem só a gravidez da Rita Pereira e a boçalidade do Bruno de Carvalho fazem notícia, ou melhor Portugal é muito mais do que estes enfeites com que nos desviam a atenção do essencial. E o fundamental somos nós, As pessoas. Pessoas que podem continuar a alimentar os enfeites nacionais, ou centrar a sua atenção e energia no bem-estar de todos. Quando assim for os acessórios que dominam os palcos mediáticos da ilusão serão remetidos para papeis secundários e serão as pessoas os protagonistas das suas próprias vidas. É capaz de ser bem mais interessante do que passar a vida inteira a viver num palco de ilusões.

Ponta Delgada, 04 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 05 de Setembro de 2018

terça-feira, 4 de setembro de 2018

... do acessório

Foto by Madalena Pires 








Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, também, no blogue momentos.















(...) É atriz e, segundo os estereótipos em voga, é assim como uma das sex simbols nacionais. Não me perguntem de quanto tempo está, nem se vai ser menino ou menina, ou quiçá gémeos, Não sei, mas os pormenores devem ser minuciosamente divulgados até ao nascimento. Vão acompanhando, talvez até com alguns momentos em direto, a evolução da gravidez da Rita Pereira. Eu cá por mim, que nos últimos dias não dei conta de nenhum alerta sobre o Bruno de Carvalho, estou mais preocupado com uma eventual quebra da sua popularidade. Facto que vindo a confirmar-se vai causar um vazio nas redações dos jornais, rádios e televisões o que, como todos compreendemos, pode constituir-se num sentimento de perda de consequências imprevisíveis. Estejamos atentos. (...)

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O rebelde mercenário

Foto by Aníbal C. Pires (Setembro, 2018)
Passada que está a silly season estou de volta a este espaço onde, com regularidade, mais ou menos semanal, venho ao encontro de quem muito bem entender ler o que por aqui fica publicado. Sei que não tenho muita popularidade, nem este espaço que me acolhe ganhará notoriedade por publicar os meus textos, mas quer eu, por razões que mais tarde irei avocar, quer o meu anfitrião consideramos que esta parceria informal, embora os benefícios sejam imateriais, tem algum sentido e vale a pena dar-lhe continuidade.
Pois muito bem cá estamos para mais uma época.  Temporada em que irei procurar que os temas abordados sejam diversos e, sobretudo, promovam a reflexão de quem ainda lê mais do que os curtos textos publicados nas modernas redes sociais que vivem do imediatismo, das imagens e dos sons. De pequenas frases de uma realidade virtual, e aqui o termo virtual tem como significado (Dicionário do Português Atual Houaiss), “… constitui uma simulação de algo criada através de meios eletrónicos…”. Claro que me refiro à disseminação, por meios eletrónicos, de uma ideia criada para induzir uma errónea realidade e não ao atual conceito de realidade virtual.
Já lá vamos a um recente exemplo. Mas antes, como atrás ficou dito, permitam-me deixar uma pequena nota pessoal sobre a minha continuidade neste espaço e a minha necessidade, Sim é uma necessidade, de partilhar o que vou escrevendo e que resulta de uma certa forma de ver e estar no Mundo. Trata-se de exercer um direito e um dever de cidadania, mas também porque sou professor e é do exercício da minha profissão que resultam os benefícios materiais, esta é apenas uma forma, como diz o meu amigo Vamberto Freitas, de dar um pequeno contributo, um retorno, à sociedade onde vivo.
Vamos lá então. Ainda antes da morte do Senador John McCain, em virtude de um ou dois episódios que protagonizou que visavam o atual Presidente dos Estados Unidos, já alguns setores da direita e da esquerda fofinhas, este termo é utilizado por alguns amigos que muito prezo, não os vou individualizar, eles compreenderão, mas, como dizia ainda antes do seu falecimento já havia algumas vozes a catapultarem John McCain para um patamar social, humano e político muito da distante da realidade, ou seja, porque denegriu a imagem de Donald Trump e endeusou Barack Obama, John McCain passou a ser aquilo que nunca foi. Trata-se da criação de uma imagem, ou para ser mais coerente com o que fui dizendo, trata-se de uma realidade virtual. Tudo aquilo que vier a ser dito depois da disseminação massiva da imagem do bom rebelde criada sobre o Senador McCain, cairá em saco roto. Tenho disso consciência, mas ainda assim vou deixar a minha opinião. Colocando de lado a sua passagem pela aviação naval dos Estados Unidos sobre a qual não faço nenhum juízo pois, enquanto militar cumpriu as missões que lhe foram confiadas e, embora com visões diferentes sobre a guerra do Vietname, respeito o soldado McCain. O mesmo não se aplica à sua vida política, sobre isso, até pelas implicações que teve fora do território dos Estados Unidos, tenho direito a expressar a minha opinião que não é tão abonatória como a que tenho lido, após a sua morte, com origem em vários quadrantes políticos.

McCain com Abdelhakim Belhaj
um dirigente da Al-Qaida , na Síria
São conhecidas as ligações do Senador John McCain aos interesses do complexo militar industrial dos Estados Unidos e as suas posições de apoio à intervenção externa dos Estados Unidos. Não as vou referenciar todas, mas deixarei exemplos que bastam para comprovar que McCain não foi a pessoa que a direita e a esquerda “fofinhas”, agora tanto enaltecem branqueando as suas ligações e ações de apoio ao terrorismo internacional, aliás poucos dos Senadores contemporâneos de John McCain terão um histórico comparável ao seu. Antes da enumeração de alguns factos apenas uma pequena nota aquando da sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos (2008) em que foi oponente de Obama e que diz bem do conservadorismo fascizante de McCain ao indigitar como candidata à Vice-Presidência a conhecida, pelas piores razões, Sarah Palin.
Uma das qualidades que atribuem a John McCain era rebeldia, ou seja, tinha a sua própria agenda que, nem sempre coincidia coma agenda do Partido Republicano e, por vezes até chegou a ser de apoio ao Presidente Obama, como no caso do “shutdown” imposto pelos republicanos, em 2013, ao não aprovarem o orçamento federal. Por outro lado, ficou também na memória dos mais atentos a forma “cívica” como conduziu a sua campanha às presidenciais dos Estados Unidos, em 2008, que viria a perder para Barack Obama.

McCain em Kiev como o líder do Svoboda Oleh Tyanybok
Bem, mas esta era a agenda do Senador McCain. Uma estratégia e uma tática muito sua que lhe granjearam prestígio, certamente, mas sobretudo lhe conferiram muito poder, desde logo pelo que decorria do exercício da Presidência da Comissão do Senado para as Forças Armadas e depois pelas ligações e influência, ainda que fora dos holofotes mediáticos, que teve nas intervenções militares dos Estados Unidos, ou no apoio à desestabilização e derrube de governos democraticamente eleitos e a sua substituição por governos fantoches de inspiração neonazi, como foi o caso da Ucrânia, em 2013. Afeganistão, Iraque, Primavera Árabe, que mais não foi do que a antecâmara da invasão da Líbia, mais tarde a Síria. John McCain não teve pudor em aliar-se aos líderes nazis da Ucrânia, nem aos líderes da Al-Qaida, para levar a cabo a sua agenda ao serviço dos “falcões” estado-unidenses, ou apoiar abertamente a intervenção da Arábia Saudita no Iémen. A agenda do rebelde McCain provocou e continua a provocar milhares de mortos entre as populações dos territórios afetados e uma crise humanitária que tem uma dimensão desumana de que os milhões e milhões de refugiados que fogem dos conflitos são apenas uma parte visível de um gigantesco icebergue. Para os interesses do complexo industrial e militar dos Estados Unidos e para a política em Washington DC, McCain poderá ter sido um bom servidor, para o povo dos Estados Unidos e para o Mundo, McCain não passa de mais um mercenário a soldo dos senhores da guerra, tenham eles a nacionalidade que tiverem.

Ponta Delgada, 02 de Setembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 03 de Setembro de 2018

... o que nunca foi

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Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, também, no blogue momentos.





(...) Ainda antes da morte do Senador John McCain, em virtude de um ou dois episódios que protagonizou que visavam o atual Presidente dos Estados Unidos, já alguns setores da direita e da esquerda “fofinhas”, este termo é utilizado por alguns amigos que muito prezo, não os vou individualizar, mas eles compreenderão, mas, como dizia ainda antes do seu falecimento já havia algumas vozes a catapultarem John McCain para um patamar social, humano e político muito da distante da realidade, ou seja, porque denegriu a imagem de Donald Trump e endeusou Barack Obama, John McCain passou a ser aquilo que nunca foi. (...) 

sábado, 1 de setembro de 2018

Que União Europeia é esta - crónicas radiofónicas

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Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 16 de Junho de 2018 que pode ser ouvida aqui







Que União Europeia é esta

Imagem retirada da Internet
Hoje trago-lhe um assunto que podendo parecer longínquo no espaço e no tempo é, contudo, conformador da nossa vida presente e do nosso futuro próximo. As políticas nacionais e regionais estão dependentes do que a União Europeia decide.
Como tenho vindo a afirmar noutros fóruns os garrotes à autonomia regional deslocaram-se de Lisboa para Bruxelas. Não pretendo, com esta última afirmação, retirar responsabilidades ao Governo da República, o abandono da Região é conhecido e a gula também. Nem estas afirmações pretendem desculpar o Governo Regional pela demissão das suas competências autonómicas.
Mas como lhe dizia hoje o assunto está centrado na União Europeia. São os cortes previstos para as políticas de coesão e agricultura na proposta de orçamento do Quadro Financeiro Plurianual, pós 2020, e mais recentemente o anúncio da redução de 3,9% dos programas específicos dirigidos às Regiões Ultraperiféricas.

Juncker (Presidente da Comissão) - Imagem retirada da Internet
Ou seja, para além dos cortes às políticas de coesão e à política agrícola comum, que já eram inaceitáveis vem agora mais esta tempestade a abater-se sobre as regiões ultraperiféricas.
Os deputados do PCP ao Parlamento Europeu, foram de entre os deputados portugueses, os que de forma clara e inequívoca, se manifestaram contra estes cortes e aos efeitos que se vão sentir, em particular, nas Regiões Autónomas. É caso para perguntar por onde andam os deputados europeus, residentes nos Açores, pois não basta constatar as intenções da Comissão Europeia e sobre elas derramar lágrimas de crocodilo, como fez Sofia Ribeiro perante o Comissário Europeu da Agricultura, ou ainda vir afirmar que esta proposta de redução do POSEI contraria a posição do senhor Juncker, Presidente da Comissão, como afirmou Ricardo Serrão Santos e também Sofia Ribeiro. Também conheço as palavras do Presidente da Comissão, mas conheço também o contexto em que elas foram proferidas e, de facto, foram apenas palavras de circunstância, como agora se veio a comprovar.
É bom que os deputados portugueses no Parlamento Europeu assumam, como já o fizeram os deputados do PCP, uma posição clara e inequívoca face à proposta do QFP pós 2020, manifestando-se e votando contra qualquer tentativa de redução dos financiamentos comunitários a Portugal e aos programas específicos das suas Regiões Autónomas.
Num quadro em que, como os deputados do PCP no Parlamento Europeu defendem, é necessária uma profunda modificação da Política Agrícola Comum, da necessária restauração do POSEI-Pescas (fora do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas) e da criação de um programa específico POSEI-Transportes, a exigência portuguesa tem de ser por orçamento comunitário que faça justiça e compense Portugal, particularmente as suas Regiões Autónomas, pelos prejuízos acumulados decorrentes de políticas contrárias aos interesses do país impostas pela União Europeia e cujas consequências no aparelho produtivo nacional e regional são bem visíveis.

Volto no próximo sábado, assim o espero.
Até lá,
Fique bem.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 16 de Junho de 2018