quarta-feira, 30 de novembro de 2011

E o futuro pá!?

Ao contrário do que afirmou o Vice-Presidente do Governo Regional, o Plano e Orçamento proposto para 2012, não vão minorar os impactos funestos das opções socialmente injustas e economicamente erradas adotadas pelo Governo da República, como irão, pelo contrário, ser agente ativos da recessão, da destruição de empregos e do empobrecimento do Povo Açoriano.
Por outro lado, apesar da retórica do rigor e da contenção orçamental em que o PS Açores insiste até à exaustão, a verdade é que este plano e orçamento é fundamentalmente marcado pela estratégia eleitoral do PS, que pretende, como de costume, utilizar os meios e recursos da Região para potenciar a sua máquina eleitoral, como se pode verificar pelas opções de investimento tomadas, como pelo enorme volume de verbas (cerca de 10%) que não são desagregadas e pelos “sacos azuis ou cor-de-rosa” que, podendo ser utilizadas discricionariamente pelos membros do Governo, irão satisfazer das prioridades eleitorais e as clientelas do partido do Governo.
A este Plano e Orçamento falta a dimensão de uma estratégia que favoreça o aumento e diversificação da produção regional, a este Plano e Orçamento falta a dimensão de uma estratégia que favoreça a dinamização do comércio interno para a qual se mostra essencial a tão esperada revolução nos transportes aéreos e marítimos, a este Plano e Orçamento falta a dimensão do combate à economia paralela cuja estimativa se cifra em 37%, a este Plano e Orçamento falta a dimensão de manutenção e da criação do emprego, a este Plano e Orçamento falta a dimensão de uma visão de desenvolvimento harmonioso para Região, a este Plano e Orçamento falta uma dimensão estratégica que nos coloque nos coloque no trilho da justiça social e de um modelo de desenvolvimento sustentável.
Este não é o Plano e Orçamento que a Região necessita para o difícil contexto internacional que estamos a viver, este é um Plano e Orçamento para satisfazer o clientelismo político, este é um Plano e Orçamento que, por ser mais do mesmo continua a hipotecar o futuro e a afundar-nos no pântano para onde as tão propaladas virtualidades do mercado nos empurraram com a cumplicidade ativa do PS, do PSD e do CDS/PP.
Tenho vindo a defender a ideia que a luta contra as medidas decorrentes do “memorando de entendimento” e que o Governo do PSD/CDS agravaram, com o corte de salários e o aumento de impostos, deve traduzir-se na afirmação das competências autonómicas. Também neste prisma de análise o PS Açores e o seu governo, de forma inexplicável e injustificável, claudicaram ao, mesmo ainda antes de se conhecer o desfecho do debate do Orçamento de Estado e em contradição com a posição do PS na República, apropriou-se da proposta do governo de Passos Coelho e assumiram o corte integral dos 13.º e 14.º meses aos trabalhadores da administração pública regional quando, e em contradição com as opções de compensação salarial adotadas no orçamento de 2011, o que seria expectável seria, ao abrigo das competências autonómicas, seguir a mesma linha política de 2011e pagar, na Região, os subsídios de Férias e Natal, aliás esta é uma opção foi política pois, segundo o Vice-presidente do Governo Regional, há folga financeira no orçamento regional para essa e outras compensações salariais.
Horta, 29 de novembro de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 30 de Novembro de 2011, Angra do Heroísmo 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Salvo melhor opinião, julgo que...

Nos Açores como na República, os procuradores dos interesses da troika, dos mercados e das agência de rating são, o PS, o PSD e o CDS/PP.
É, nos Açores, o Governo do PS ao deixar cair na proposta de orçamento para 2012 a remuneração compensatória aos funcionários públicos no que, certamente e sem nenhuma dúvida terá o apoio incondicional do PSD e do CDS/PP.
E são-no, por exemplo, na consagração direta e subserviente do roubo dos subsídios de Natal e de Férias, que garantem um acréscimo de receita na ordem dos 35 milhões de euros ao Orçamento regional, à custa dos trabalhadores açorianos e que pretendem aplicar no apoio às empresas.
Onde já se viu!? O dinheiro que por direito próprio pertence aos trabalhadores da administração pública vai ser dado às empresas.
Salvo melhor opinião o apoio que o Governo Regional poderia dar às empresas, para além dos programas já instituídos, seria pagar os 13.º e 14.º meses aos funcionários da administração regional contribuindo, assim, para manter níveis de consumo que não coloquem em risco muitas pequenas e médias empresas da Região, como já se está a verificar com a erosão no rendimento das famílias e que está a deixar os comerciantes regionais à beira de um ataque de nervos.
A este propósito mas sobre a aplicação do imposto extraordinário sobre o 13.º mês de 2011, foi o próprio líder parlamentar do PS Açores a manifestar uma grande preocupação sobre os 20 milhões de euros que foram subtraídos à economia regional por via deste corte no rendimento dos trabalhadores açorianos. Não posso estar mais de acordo com Berto Messias, espero é que, em nome da coerência e na semana em que se discute o Plano e Orçamento da Região, o líder parlamentar do partido que suporta o Governo Regional defenda o pagamento do 13.º e 14.º meses aos trabalhadores da administração pública regional para não subtrair à economia regional mais umas dezenas de milhões de euros em 2012.
Tenho dúvidas que isso venha a acontecer pois a opção do Governo Regional, tal como a opção do Governo da República é pela satisfação da gula dos mercados. Gula que, como está amplamente demonstrado, é insaciável.
As opções do Governo Regional e, apesar do dramático crescimento do desemprego, que superou 11% no terceiro trimestre deste ano, o Governo Regional corta a direito nos Programas de Emprego (-27%), nos Programas de Estágios Profissionais (-23%), na Inspeção do Trabalho (-12%) e no combate ao trabalho precário, ao subemprego e ao trabalho informal (-50%), enquanto mantém intocáveis os apoios às grandes empresas ou a bonificação dos seus juros bancários.
As opções do Governo Regional demonstram claramente que a sua opção não é pelos trabalhadores açorianos, a sua opção não é pelas famílias açorianas, a opção do Governo Regional não é pela garantia do bem-estar e qualidade de vida do Povo Açoriano, a opção do Governo Regional, como a opção do Governo do PSD/CDS na República é, como já referi pela satisfação da gula dos mercados.
E não há como satisfazer os mercados financeiros, o último exemplo vem da agência de Fitch Ratings ao baixar para “lixo” os títulos da dívida pública nacional justificando a sua avaliação na prevista recessão da economia portuguesa em 2012. Pois! E então a recessão que, certamente se vai verificar em 2012 deve-se a quê!?
Julgo eu, e salvo melhor opinião, às medidas decorrentes do resgate financeiro. E o resgate financeiro aconteceu porquê? Julgo eu, e salvo melhor opinião, às sucessivas notações negativas das agências de rating que levaram o mercado a fechar o financiamento a Portugal.
O leitor dirá de sua justiça mas a mim quer-me parecer que andamos há demasiado tempo a insistir no erro e a submetermo-nos a um poder ilegítimo.
Horta, 27 de novembro de 2011

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 28 de novembro de 2011, Ponta Delgada

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

1001 razões

Os portugueses têm motivos mais que suficientes para manifestar o seu desagrado pelas opções políticas e de subserviência a interesses externos que nos afundaram numa crise que alimenta o capital financeiro, continua a destruir a economia nacional e não resolve o problema da dívida externa.
Os efeitos da diminuição do rendimento disponível das famílias, seja por via direta dos cortes dos salários e congelamento das carreiras, seja por via do aumento da taxa fiscal, deixa preocupados, desde logo, os trabalhadores dependentes mas deixa apreensivos, também, os pequenos e médios empresários cujas expetativas se fundam no consumo, consumo que como se percebe vai cair para níveis históricos arrastando consigo, para a insolvência, muitas pequenas e médias empresas.
A ascensão ao poder político pelos “testas de ferro” dos oligopólios financeiros visa garantir que os “mercados” venham a receber não só os títulos das dívidas soberanas mas também os imorais juros que cobram. As políticas de austeridade só têm um objetivo – garantir o pagamento por via do aumento dos impostos, sobre o trabalho e o consumo, e da diminuição dos rendimentos do trabalho, numa operação contabilística primária.
Só mesmo os incautos e os fiéis seguidores de Friedman não perceberam, ainda, que as medidas impostas a Portugal, como têm sido impostas há décadas a outros países um pouco por todo o Mundo, visam apenas um objetivo – a cobrança da dívida; sem resolver o essencial, aliás venha lá um exemplo, um que seja, de sucesso dos resgates financeiros. Todas as intervenções do FMI resultaram no empobrecimento, no aprofundamento das desigualdades sociais, na espoliação de direitos civilizacionais e na perda de soberania nacional. A cartilha do BCE, do Banco Mundial, do FMI e da OMC não é mutável – os povos e os trabalhadores que paguem a crise! Esta é a receita do neoliberalismo.
Os mesmos que nos conduziram à atual situação de degradação social e económica pedem-nos agora mais e mais sacrifícios, deixando fora desse esforço, como sempre o fazem, o grande capital e continuando a proteger os interesses apátridas do mercado financeiro.
Nos Açores as razões que nos preocupam são redobradas. Os efeitos são aqui ainda mais penalizadores para os trabalhadores e para o povo mas, também, para a economia regional e configuram um ataque sem precedentes ao adquirido autonómico.
O governo do PS Açores assimilou todas as perversões políticas decorrentes do pacto de agressão e do Orçamento de Estado plasmando-as no Plano e Orçamento regional para 2012, numa demonstração clara do seu alinhamento e conivência com as opções subservientes do PSD e do CDS/PP que só acrescentam austeridade à austeridade, recessão à recessão, crise à crise.
As razões para aderir à Greve Geral são mais de 1001, as desculpas para o não fazer são todas aceitáveis mas, não deixam de ser, isso mesmo,… desculpas.
Ponta Delgada, 22 de novembro de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 23 de Novembro de 2011, Angra do Heroísmo

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

First "solo" do João Pires


O tempo deixou as aeronaves no chão. O voo estava marcado para as 8h30mn mas só se realizou pelas 11h15mn. A espera foi longa mas valeu.


A dirigir-se para a pista para descolar. A aeronave com mtarícula CS-DEJ.


A Margarida (que quando for grande quer ser piloto) estava lá a acompanhar o tio. Aqui a dizer-lhe adeus quando ele se dirigia para a cabeceira da pista.


Já estacionado na placa depois do primeiro voo a "solo".


A instrutora que validou a autorização para o primeiro voo a solo dirige-se para a aeronave para cumprimentar o João Pires que não cabia em si de contente.


O João Pires acompanhado da instrutora dirigindo-se para a zona onde foi alvo da praxe do primeiro voo "solo".


A caminho da comissão de recepção - instrutores, colegas de curso e irmãs.


Depois de cortada a gravata o cabelo.


Finalmente o banho de mangueira.


Depois de um longa manhã e de uma grande excitação a Margarida (que não gostou muito daquela brincadeira da praxe) esperava o tio João para finalmente poder ter alguma atenção e, claro ir almoçar.





terça-feira, 15 de novembro de 2011

Tecnocracia financeira ao poder

Lucas Papademus (sucessor de Papadreous, Grécia) – Governador do Banco da Grécia e Vice-presidente do Banco Central Europeu;







Mário Monti (sucessor de Berlusconi, Itália) – Comissário Europeu e Conselheiro da Goldman & Sachs;







Mário Draghi (Presidente do Banco Central Europeu) – Governador do Banco de Itália; Director Executivo do Banco Mundial e da Goldman & Sachs







Vítor Gaspar (Ministro das Finanças) - Director Geral da área de Investigação do BCE;




António Borges – responsável do FMI para a Europa, também ele um antigo quadro da Goldman & Sachs







Pois é! Os mercados financeiros depois da crise do “subprime”, na qual a Goldman & Sachs foi uma das principais responsáveis, olharam para as dívidas soberanas como um produto financeiro ainda mais rentável que o imobiliário e agora estão a reforçar posições para garantir, à custa das políticas de austeridade, o pagamento das dívidas que atingiram números astronómicos não tanto pelo capital em dívida mas, sobretudo, pelos juros especulativos que foram e são praticados sobre o financiamento dos estados.
Estas e outras personalidades como não passam de meros cobradores de impostos ao serviço dos oligopólios financeiros.
A sua ascensão ao poder político visa garantir que os “mercados” venham a receber não só os títulos das dívidas soberanas mas também os imorais juros que cobram. As políticas de austeridade só têm um objetivo – garantir o pagamento por via do aumento dos impostos e da diminuição dos rendimentos do trabalho. Contabilidade da mais rasca.
A cartilha do Banco Mundial, do FMI e da OMC não é mutável – Os povos e os trabalhadores que paguem a crise! Esta é a receita do neoliberalismo.
E assim será até que os povos se decidam a ser livres!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Prova e Confessa - um novo blogue

Hoje adicionei um novo blogue às minhas referências.
"Prova e Confessa" é da autoria do João Nuno e da Laura, dois beirões que vivem na periferia da capital mas que não deixam morrer a alma beirã.
O João Nuno é meu sobrinho e tem uma paixão pela culinária, para além de outras, e é de paixões que trata este seu blogue que partilha com a companheira, a Laura.
Fica o registo e as boas vindas à blogosfera.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Pelos 98 anos do nascimento de Álvaro Cunhal


Passam hoje 98 anos sobre o nascimento de Àlvaro Cunhal (1913-2005).
A sua obra, exemplo de vida e memória perdura viva no coração dos que lutam por um Mundo Melhor.
O link por detrás do nome remete para um texto de José Saramago aconselho a lerem.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Custo Zero*

Não é a primeira vez, nem será a última que neste e noutros espaços de reflexão trago ao espaço público as questões das migrações e dos migrantes e das políticas que, no contexto nacional, no contexto europeu e no contexto global as enquadram.
Ao ouvir os ministros António Costa e Silva Pereira, o ex-comissário europeu António Vitorino e o actual, Franco Frattini, dissertarem sobre as políticas nacionais e europeias para a imigração somos levados, em primeira instância, a concordar. E a generalidade dos cidadãos, mesmo alguns dirigentes do movimento associativo imigrante, subscrevem e aplaudem o discurso público.
Os pilares que dão sustentação às políticas de imigração, enunciadas pelos responsáveis nacionais e europeu, identificam e reconhecem as causas que estão na origem das modernas migrações e as soluções propostas ajustam-se, pelo menos aparentemente, à gestão dos fluxos, ao acolhimento e à integração dos imigrantes. Não é fácil a desconstrução do envolvente discurso oficial que responsabiliza as profundas assimetrias de desenvolvimento pelo êxodo Sul-Norte, reconhece e disponibiliza a solução: a globalização da convergência social e económica, ou seja, só um desenvolvimento globalmente equilibrado que proporcione as necessárias condições de dignidade humana pode contribuir para que os cidadãos deixem de arriscar a vida no “salto” do muro da fronteira sul dos Estados Unidos, na travessia do estreito de Gibraltar ou na imensidão oceânica do Atlântico.
Não posso estar mais de acordo! Mas se isto é verdade não o é menos, o facto de que o modelo de crescimento dos países mais desenvolvidos se alimenta, não só das matérias-primas dos países menos desenvolvidos, mas também e quiçá, sobretudo da mão-de-obra que, se do século XV ao século XIX foi movimentada compulsivamente, hoje chega às praias do sul da Europa ou “salta” os muros e chega aos empregadores a custo zero.
Os empregadores, de hoje, já não são os “Roceiros” ou os donos dos “Engenhos” que compravam no porto de “acolhimento” a mão-de-obra aos negreiros. Os empregadores de hoje são os donos da modernidade (ou pós-modernidade) do betão, do asfalto e dos prostíbulos a quem a mão-de-obra bate à porta a custo zero.
Lisboa, 24 de Novembro de 2006

*Texto publicado na imprensa da Região Autónoma dos Açores em 2006. Tendo já alguns anos não deixa, todavia, de manter actualidade.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Chuvas de Agosto*

As temperaturas desceram e uma incomum chuva de Agosto abateu-se sobre algumas regiões continentais – Veio mesmo a “calhar” para a azeitona. As oliveiras estão “carregadas” e esta rega vai engrossá-las. Vai ser um bom ano de azeite – diz-me um agricultor, ao acabar de plantar alguns pés de couve portuguesa que, hoje pela manhã, comprou no mercado agrícola da cidade.
As inusitadas condições climatéricas que nos últimos dias afectaram o continente português afastaram o perigo de novos incêndios florestais e deixam os agricultores satisfeitos na expectativa de um bom ano agrícola. Eu, embora de férias, fiquei contente, não só pela floresta poupada e pelas esperanças dos agricultores, mas também por mim habituado, que estou, aos índices de humidade mais elevados e às temperaturas mais amenas de S. Miguel. Confesso-vos que já me é difícil aguentar com as altas temperaturas e com o ar seco do verão na interioridade continental onde nasci e cresci.
Interioridade que, apesar das novas e rápidas vias de comunicação viária e das novas tecnologias de informação à velocidade da banda larga, continua a marcar os lugares e as pessoas. Hoje chega-se à capital em 2 horas ou, um pouco mais se em vez do automóvel se utilizar o comboio ou o autocarro, bem diferente das 5 ou 6 horas de há 30 anos. A “net” está por aí disponível para quem quer, ou melhor, para quem pode. Os grandes espaços comerciais proliferam como cogumelos.
É inegável que o interior ficou mais perto, que as condições de vida melhoraram e que o acesso aos bens de consumo, seja para satisfação das necessidades básicas ou outras, está mais facilitado mas é, igualmente, inegável que a par de todo o progresso registado se foi assistindo ao declínio e destruição dos sectores produtivos e, ao consequente empobrecimento desta como de outras regiões do interior.
Embora sem os contornos de outros tempos, os jovens adultos continuam a procurar na Europa e no litoral as oportunidades, que lhes satisfaçam expectativas e necessidades, que por aqui não encontram, por muito que procurem e queiram. A desertificação e o envelhecimento da população aumentam e o espaço rural vai-se transformando num enorme “lar de terceira idade”.
A chuva deste Agosto veio amenizar o tempo e dar-me coragem para sair da sombra das “latadas” e pôr-me ao caminho de um desses lugares do interior que, pela sua diminuta população, dificuldades na acessibilidade, importância económica, afastamento da sede do concelho e do distrito ou, outros motivos menos objectivos, são como pequenas “ilhas” perdidas na vastidão destes campos onde ainda impera o pinheiro bravo, o sobreiro, o olival e a vinha.
Há cerca de 42 anos que não vinha a este lugar do qual, na altura, se dizia ser o “centro do mundo”[1]. Nunca soube porquê, e ainda não procurei saber, ficará para mais tarde se tempo houver. A razão que me levou a percorrer o sinuoso caminho, hoje de asfalto, até esse perdido lugar onde o único meio de transporte para lá chegar, à época, era o burro ou, para quem o não tivesse, as próprias pernas, foi o facto de aí ter iniciado o ensino primário.
Ao tempo vivia numa secular aldeia – S. Vicente da Beira – já sem a importância de outros tempos mas, ainda assim uma das mais emblemáticas do concelho de Castelo Branco, o episódio que me levou a abandonar o aconchego materno e a deslocar-me para esse pequeno lugar, do qual se dizia ser o “centro do mundo”, para frequentar a primeira classe do ensino primário numa pequena escola da qual era professora uma minha tia, ficou a dever-se à impossibilidade de me poder matricular, ao que julgo por não haver vaga e pela idade, na escola da aldeia onde vivia. Não cheguei a terminar o ano na escola da minha tia, resolvidas que foram as questões que impediam a minha entrada legal no ensino regressei ao seio da família.
Chegado ao meu destino para além dos postes de electricidade, inexistentes quando por ali percorria os caminhos da minha infância, nada parecia ter mudado, o pequeno edifício onde aprendera as primeiras letras lá estava. Ao aproximar-me a nostalgia misturou-se com alguma tristeza, a exígua construção aparentava estar em ruínas mas, numa observação mais minuciosa verifiquei que os sinais, afinal, eram de reconstrução. Alguns instantes depois três jovens, que vieram indagar o que fazia por ali um forasteiro de máquina fotográfica em punho, confirmaram isso mesmo. A escola foi desactivada há uma dezena de anos. O seu estado degradou-se mas, agora, está a ser reconstruída para outras serventias.
A melancolia misturou-se com esperança e alegria. A “minha” primeira escola vai voltar a encher-se de vida.
Ninho do Açor (Castelo Branco), 11 de Agosto de 2004

[1] Barbaído, Concelho de Castelo Branco

* Texto (revisto) publicado na imprensa regional da Região Autónoma dos Açores em 2004

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cabo Verde visto de fora*



Seja pela imensidão dos espaços continentais, pela peculiaridade e beleza das regiões insulares, da cultura e encantamento dos seus povos, pela guerra colonial, ou, apenas, pelo magnetismo que exerce sobre quem sentiu os sons, cheiros e sabores desta terra fascinante a que ninguém fica indiferente e que todos os portugueses da minha geração, independentemente dos seus percursos de vida, têm no seu imaginário – África.
O meu fascínio por África, e em particular por Cabo Verde, surgiu e foi-se desenvolvendo durante a minha infância, vá-se lá saber porque é que uma criança nascida e criada em terras do interior do continente português, e de onde só saiu quando jovem adulto, se sentia atraída por uma terra, um povo e uma cultura tão distante.
Não sei se pela dolência das “mornas”, se pela harmonia das “mazurkas”, se foi a alegria do “funaná” e da “coladeira”, ou os ritmos alucinantes da “tabanca” e do “batuque” que o fascínio por esse povo, moldado pelo vento Leste, pelo imenso Atlântico, pela chuva que não cai e pela dor da “hora di bai”, foi crescendo e ganhando uma cada vez maior admiração.
Só muito recentemente o sonho de menino se concretizou, conhecer Cabo Verde. A afeição reforçou-se e, ainda que embargado pelos sentidos, compreendi porque, desde sempre, senti grande identificação com este povo e a sua cultura. A interioridade onde nasci e cresci, a insularidade e o viver ilhéu, de mais de vinte anos, facilitaram a compreensão e o estabelecimento de paralelismos, semelhanças e vivências que unem e de diferenças que não afastam, antes complementam.
A estabilidade política, a consolidação do regime democrático e um exemplar aproveitamento da ajuda externa e, sobretudo, a dignidade e a vontade de um povo, catapultaram Cabo Verde para o grupo de países com um Índice de Desenvolvimento Humano médio. O percurso trilhado nos últimos vinte nove anos por este pequeno país africano, insular e arquipelágico e, a que os técnicos do Banco Mundial vaticinaram a inviabilidade económica, é exemplar para África e, em particular, para os restantes Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
Cabo Verde, micro estado insular, arquipelágico e Atlântico, comemorou, no passado dia 5 de Julho, o vigésimo nono aniversário da sua independência, em vez de apreciações sobre percurso trilhado ou, de uma análise prospectiva sobre o futuro deste jovem país no quadro da Macaronésia, das relações com os Açores e da estratégia de aproximação à União Europeia, e para além do que já ficou dito, gostaria de deixar algumas linhas de homenagem à comunidade transnacional cabo-verdiana – os cabo-verdianos da “terra-longe”.
Para os cabo-verdianos, o que hoje parece ser fruto das modernas tecnologias e da globalização, o transnacionalismo, tem sido um modo de vida desde o século XV. As comunidades cabo-verdianas encontram-se dispersas por quatro continentes e 18 países, sendo que, a comunidade da Nova Inglaterra é considerada a mais antiga e maior.
A dispersão dos cabo-verdianos pelo mundo tem origem nas clássicas motivações da emigração e o ideário de retorno à “terra-mãe” está sempre presente. A coesão e pujança da comunidade transnacional assentam em dois pilares, que foram, igualmente, basilares na construção da própria caboverdianidade e identidade nacional: o crioulo – língua nacional; e a representação colectiva do território, a relação com a “terra-mãe”, que nos cabo-verdianos tem um acentuado carácter “mágico-religioso”.
Para os cabo-verdianos da “terra-longe” e, em particular aos que vivem e trabalham na Região Autónoma dos Açores, aqui fica a minha homenagem e os votos de que Cabo Verde possa continuar na senda do progresso e do desenvolvimento.
Ponta Delgada, 08 de Julho de 2004

O vídeo foi editado e publicado no youtube em 01 de Março de 2011 e o texto foi escrito e publicado na imprensa regional em Julho de 2004

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

RTP, SA - o que não nos dizem

O que o ministro Miguel Relvas anda a tramar com a reestruturação da RTP, SA ou, o que não nos dizem sobre a Televisão Pública.

A informação que organizei nos itens abaixo circula por aí e para quem quiser não é difícil de comprovar basta perder (ou ganhar) algum tempo para obter informação confiável que comprova o que “mão amiga” me fez chegar por mail e que aqui partilho com os visitantes do “momentos”.
- Todos os países da União Europeia e, também, os Estados Unidos têm serviços públicos de televisão. O modelo misto de mercado (televisão pública e privada) que existe em Portugal é a regra e não a excepção;
- O serviço público de televisão prestado pela RTP é um dos mais baratos da União Europeia e do Mundo. Confiram a factura da electricidade. Cerca de 15 cêntimos, por dia, por domicílio, não por cada cidadão;
- Por esse custo diário são emitidos 11 canais de televisão e 7 antenas de rádio com uma audiência potencial de mais 200 milhões de pessoas;
- A RTP possui o maior e melhor arquivo audiovisual do País e um dos melhores do Mundo;
- A falácia do elevado salário médio anual dos trabalhadores da RTP, SA desconstrói-se se considerar-mos o ordenado da Catarina Furtado, do membros do Conselho de Administração e outros quejandos que fazem do mercado televisivo um mercado de transferências igual ao do mercado do futebol.
- A verdade é que os trabalhadores da RTP, SA, apesar das distorções provocadas pelos salários milionários de alguns, são dos mais produtivos do sector televisivo europeu, recebendo menos salário liquido do que os seus congéneres no privado e que auferindo em média 50% do que os seus colegas europeus?
- Os trabalhadores da RTP não têm aumentos salariais reais desde 2003, sendo os trabalhadores do sector público os que mais poder de compra, em termos relativos, perderam numa década;
- As receitas de publicidade da RTP está indexada ao pagamento de um empréstimo bancário (grupo financeiro alemão e holandês) que assume o passivo da empresa, ou seja as receitas da publicidade destinam-se a amortizar a dívida e os seus encargos;
- A dívida ronda os 600milhões de euros e foi negociada a um spread excepcionalmente baixo que o grupo financeiro tem vindo a querer renegociar nos últimos anos;
- Se a RTP ficar sem publicidade o accionista da empresa (o Estado, NÓS) terá de pagar de imediato a dívida de imediato (aliás prevê-se que o Estado/NÓS pague em 2012, 250milhões de euros para preparar a privatização de um canal da RTP, SA;
Concluindo:
A privatização de um canal da RTP, SA implica que o que hoje é pago com a indexação das receitas de publicidade seja pago por… por VOCÊ.
Pois é!

Nem o Miguel de Vasconcelos se atreveria a ir tão longe como o ministro Relvas que, por mero acaso, também é Miguel.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Voo SP 129*

A condição de ilhéu obriga a viajar com alguma frequência de avião e a cada viagem, mesmo para os mais rotinados, há novos e velhos motivos que contribuem para que a de hoje seja diferente de todas as outras.
A tarifa que se mantém inalterável mas a taxa que aumentou, a simpatia ou nem por isso da tripulação, as condições climatéricas que nos fazem prever se a aproximação e aterragem se farão sem grandes sobressaltos, os serviços em terra e no ar que deviam melhorar ao ritmo dos aumentos da taxas mas cuja proporcionalidade é inversa, enfim um sem número de pequeninas coisas que fazem com que cada viagem de avião seja uma autêntica caixinha de surpresas.
Tudo isto vem a propósito do voo SP 129 Lisboa/Ponta Delgada do dia 25 de Junho e de uma passageira que ao entrar na sala de embarque concentrou a atenção da população masculina que não mais descolou os olhares da generosidade das formas de mulher que a roupa da estação quente desnudava e realçava.
Algumas das mulheres presentes sorriam com o ar “embasbacado” dos homens que se posicionaram para melhor usufruírem da visão proporcionada por um generoso decote e do ângulo formado pelo contraste do bronzeado das pernas cruzadas com o branco da saia curta. Outras revelavam na expressão facial e corporal algum incómodo pelos pensamentos e sentimentos, quiçá, menos dignos que lhes fervilhavam no espírito.
O certo é que ninguém, mulheres e homens, ficou indiferente, a passageira tinha disso consciência e exerceu o seu fascínio sobre a generalidade dos presentes que se deixaram, sem esboçar qualquer resistência, dominar por aquela presença que não sendo de uma mulher jovem, ou talvez por isso, despertou nas almas presentes os mais diversos sentimentos e atitudes.
O voo SP 129 de Lisboa para Ponta Delgada atrasou cerca de meia hora não porque o comandante tenha ficado na sala de embarque a fumar demoradamente um cigarro, mas sim pela chegada tardia do equipamento de voo.
O tempo em rota e no destino estava bom, a refeição de bordo é o que sabemos e, o serviço de vendas aconteceu com normalidade e sem muita procura porque os tempos são de crise. Mesmo sem taxas.
As salas de embarque e as viagens de avião estão vulgarizadas e padronizadas. O romantismo e o espírito de aventura que envolvia o acto de viajar foram-se perdendo. Mas, apesar de tudo, subsiste alguma magia à volta de cada viagem e não faltam, invariavelmente, motivos que tornam cada uma diferente da outra, mesmo que na sala de embarque não haja ninguém que possa fazer disparar as hormonas masculinas e abrir sorrisos femininos conscientes do domínio que exercem sobre o forte sexo masculino.
Ponta Delgada, 14 de Julho de 2005

*Texto publicado no Açoriano Oriental em Julho de 2005 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Meia noite em Paris

´ Hoje à tarde dei um salto à cidade das luzes pela mão de Woody Allen. Um filme sobre Paris escrito e dirigido por Woody Allen só podia dar um bom resultado. Excelente! Ainda está em exibição em Ponta Delgada