quinta-feira, 18 de abril de 2024

percurso

auto retrato 

Nos próximos dias estará nas livrarias um novo livro de poemas do qual sou autor. Poderia, mas não vou falar do livro nem fazer a sua apologia. Vou, tão-somente, deixar-vos algumas notas do percurso que me trouxe até às publicações em livro. 

Dir-se-á que ninguém melhor que o próprio reúne todo o conhecimento sobre o processo de partilha do que escreve e publica. Assim será, mas esse facto não me conforta, bem pelo contrário, a partilha da palavra escrita constitui-se como mais uma exposição pública o que, de todo, nunca me agradou, nem agrada. Eu sei, tive por outros motivos muita exposição no espaço público regional, e até poderia parecer que daí retirava alguma satisfação, nada mais errado, foi para mim muito, mas mesmo muito desgastante e sempre que podia refugiava-me num porto seguro. A exposição pública através da partilha da palavra escrita não tendo a mesma dimensão, mas, ainda assim, foi necessário saltar, com insegurança, algumas barreiras que eu próprio coloquei neste caminho.

A minha atividade como autor tem a sua génese nas páginas dos jornais regionais, aliás instrumento do qual, nem todos, mas alguns dos nossos escritores de renome se serviram para exercitar a construção literária de que hoje são verdadeiros mestres. Iniciei a minha colaboração na imprensa regional em 2003, passei pelo “Correio do Norte”, pelo “Açoriano Oriental”, pela “União”, pelo “Expresso das Nove”, pelo “Diário Insular” e, ainda, por alguns títulos digitais, como por exemplo, o “Açores 9” e o “Azores Digital”. Colaborei, também, na rádio como comentador na “Conversa a 4” na TSF Açores, na Rádio Clube de Angra e na 105 FM. Em televisão fui pontualmente comentador em programas de grande informação na RTP Açores e mantive na SMTV um programa semanal de outubro de 2018 até julho de 2019, aquando do seu encerramento. 

Como referi logo o início o tema de hoje não é de fácil abordagem. Afinal trata-se de falar de mim e não é uma tarefa fácil por várias ordens de razão, desde logo porque não gosto de me expor, nem de tomar a iniciativa para escrever ou falar sobre o que faço, não me importo de responder, quando sou questionado, mas por iniciativa própria não é coisa que me agrade. Por outro lado, a atividade desenvolvida no exercício pleno da minha cidadania, bem como as minhas publicações são conhecidas, ou pelo menos, para não parecer que estou a ser imodesto, e não é o caso, estão, a vida e as publicações, acessíveis ao conhecimento dos cidadãos.

Gosto mais de ouvir do que falar. Mas se é verdade que gosto mais de ouvir do que falar é, igualmente, verdadeiro que gosto mais de ler do que escrever e, naturalmente, leio muito mais do que escrevo, mas, a escrita seja na forma de ensaio, crónica ou poesia faz parte da minha vida, conquanto me tenha iniciado tardiamente nessas lides, talvez por ter outras prioridades, e como sou, ao contrário do que por vezes possa parecer, desorganizado e sem método nunca consegui gerir e organizar o tempo para além da minha vida familiar, profissional, cívica e política, de modo a criar condições para escrever. Não sei gerir o tempo. Tenho sempre tempo para os outros, nunca tenho, ou, raras vezes tenho tempo para mim. Bem agora já vou tendo. Estou aposentado e nessa condição tinha a expetativa que o tempo sobejasse. Pensava eu que sim, mas não, pois, continuo a ter uma intensa atividade que decorre do meu espírito inquieto e de muitas solicitações para colaborar em projetos aos quais continuo, como sempre fiz, a dar resposta positiva, a não ser que a agenda não permita mais entradas.

Cheguei precocemente à participação política engajada, à profissão e ao casamento. E esses três aspetos da minha vida constituíram-se nas minhas prioridades. O tempo, está bom de ver, não sobrava ou, pelo menos, eu não dava conta da existência de tempo livre para assumir outros encargos, quiçá por não saber gerir o tempo que restava.

A atividade profissional terminou recentemente. Foi uma longa carreira, mais de quarenta e seis anos de docência, embora oito, desses quarenta e seis, tenham sido dedicados à vida política a tempo inteiro. Uma carreira profissional de que me orgulho e ao longo da qual fiz tudo o que um professor pode fazer para além da docência. Do casamento que completa, em junho, quarenta e sete anos, resultaram três filhos, duas raparigas e um rapaz. E, sou avô de três netas. A militância partidária e o engajamento político aconteceram com alguma naturalidade ainda durante o ano de 1974 e continuarão enquanto respirar.

A escrita e a partilha de opinião entraram nas minhas rotinas, como já referi, em 2003 e mantêm-se. Em março de 2008, com a criação do meu blogue “momentos”, a escrita assumiu outros contornos e dei início à partilha dos primeiros textos poéticos, num processo que resultou, em grande parte, das minhas deambulações pelo arquipélago (ainda antes de ser eleito deputado). Da escrita foram resultando várias publicações: Imigrantes nos Açores – representações dos imigrantes face às políticas e práticas de acolhimento e integração (Tese de Mestrado), Edições Macaronésia, Ponta Delgada, 2010. O Outro Lado – palavras livres como o pensamento (poesia), Edições Letras Lavadas, Ponta Delgada, 2014. Toada do Mar e da Terra – Volume I (2003/2008) (crónicas), Edições Letras Lavadas, Ponta Delgada, 2017. O Encanto dos Sonhos (conto), Edições Letras Lavadas, Ponta Delgada 2019. Esperança Velha e outros poemas, (poesia), Edições Letras Lavadas, 2020. Destroços à Deriva, (poesia), Edições Letras Lavadas, 2024.

Uma das atividades que me foi dando mais prazer nos últimos anos foi a participação em festivais internacionais de poesia, dos quais destaco “Ronda Leiria Poetry” (2021), Mês da Poesia Estados Unidos (2021, 2022, 2023 e 2024), “Poesia Pela Liberdade”, organizado pelo WPM (2021), Red Carnation, organizado pelo WPM (2021), e o V Festival Internacional do Lugar de Los Escudos, México (2021). Dizer poesia tornou-se num dos meus prazeres.


Cheguei à escrita tardiamente. E tardiamente descobri este prazeroso tempo de intimidade e tranquila solidão. O tempo em que grafo no papel as palavras que, por diferentes motivações, partilho nas minhas publicações. Sendo prazeroso e solitário não é de autossatisfação, o tempo e o objeto que estão associados à escrita que tenho partilhado através das minhas publicações em livro, ou no meu blogue. É, ainda e sempre, um tempo de partilha e de intervenção. É ainda e sempre o professor que habita em mim, pois ser professor é ter a capacidade de partilhar conhecimento, mas sobretudo criar espaços de reflexão que induzam o pensamento crítico. Se atualmente ser professor não é isso, houve um tempo em que assim era.

Não sou um autor que trabalha as palavras como fazem alguns artífices das letras que as lapidam como se fossem diamantes. Direi que sou um eterno aprendiz de obreiro das palavras, o que já me satisfaz face a tudo o que fui fazendo ao longo da minha vida.

Se viver e conhecer os Açores teve importância em todos os aspetos da minha vida. Sim, claro que sim. Quando me fixei definitivamente na Região já trazia comigo o engajamento político, o casamento, duas filhas e a carreira profissional. Depois foi toda uma vida de descoberta e de intervenção que acabou por me levar à escrita. Se teria sido possível em qualquer outro lugar. Não sei, talvez. Mas nunca como nestas ilhas, embora a Beira Baixa e o seu povo, de onde sou oriundo, sejam fontes inesgotáveis de inspiração. 

Ponta Delgada, 15 de abril de 2024 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 17 de abril de 2024

terça-feira, 16 de abril de 2024

pequenos prazeres

Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.






(...) A escrita e a partilha de opinião entraram nas minhas rotinas, como já referi, em 2003 e mantêm-se. Em março de 2008, com a criação do meu blogue “momentos”, a escrita assumiu outros contornos e dei início à partilha dos primeiros textos poéticos, num processo que resultou, em grande parte, das minhas deambulações pelo arquipélago (ainda antes de ser eleito deputado). Da escrita foram resultando várias publicações: Imigrantes nos Açores – representações dos imigrantes face às políticas e práticas de acolhimento e integração (Tese de Mestrado), Edições Macaronésia, Ponta Delgada, 2010. O Outro Lado – palavras livres como o pensamento (poesia), Edições Letras Lavadas, Ponta Delgada, 2014. Toada do Mar e da Terra – Volume I (2003/2008) (crónicas), Edições Letras Lavadas, Ponta Delgada, 2017. O Encanto dos Sonhos (conto), Edições Letras Lavadas, Ponta Delgada 2019. Esperança Velha e outros poemas, (poesia), Edições Letras Lavadas, 2020. Destroços à Deriva, (poesia), Edições Letras Lavadas, 2024.

Uma das atividades que me foi dando mais prazer nos últimos anos foi a participação em festivais internacionais de poesia, dos quais destaco “Ronda Leiria Poetry” (2021), Mês da Poesia Estados Unidos (2021, 2022, 2023 e 2024), “Poesia Pela Liberdade”, organizado pelo WPM (2021), Red Carnation, organizado pelo WPM (2021), e o V Festival Internacional do Lugar de Los Escudos, México (2021). Dizer poesia tornou-se num dos meus prazeres. (...)


a ocidente da ultraperiferia

Uma feliz coincidência que resulta de um convite da Área Sindical das Flores (SPRA), ao qual as Câmaras Municipais das Flores se associaram, vai acontecer a primeira apresentação pública do livro “Destroços à Deriva”. 

Apresentar o meu último livro de poemas na ilha das Flores tem, para mim, um profundo significado. Numa Região como os Açores onde, por força das circunstâncias geográficas, mas também pela vontade dos homens, existe uma tendência para a centralização. Promover a apresentação de um livro de poemas numa das ilhas periféricas da ultraperiferia é, só por si, um acontecimento que não posso deixar de realçar.




Hoje (16 de abril), pelas 20h30mn, no Museu das Lajes das Flores, vou dinamizar uma conversa/tertúlia sobre os “50 anos do 25 de Abril”. Seguindo-se a primeira apresentação pública, por Gabriela Silva (escritora), do livro “Destroços à Deriva”.


Amanhã (dia 17 de abril) durante a manhã e a tarde estarei com os alunos do 3.º CEB e Secundário da EBS das Flores para conversar sobre “Educação e o 25 de Abril”, mas também sobre livros e leitura. 




À noite (dia 17 de abril), pelas 20h30mn, no Centro Cultural de Santa Cruz, terá lugar uma conversa/tertúlia sobre os “50 Anos do 25 de Abril” e a apresentação pública, por Lília Silva (professora), do livro “Destroços à Deriva”.

Agradeço à Área Sindical das Flores (SPRA), à Câmara Municipal das Lajes das Flores e à Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores.

Bem hajam!

Aníbal C. Pires, Santa Cruz das Flores (Hotel Servi Flor), 16 de abril de 2024


quarta-feira, 10 de abril de 2024

a caminho das livrarias

É chegada a hora de desvendar alguns pormenores do livro de poemas “Destroços à Deriva”.

Um novo projeto com a habitual parceria de Ana Rita Afonso, autora da capa e das ilustrações concebidas para os poemas.

Fica a capa e um pequeno excerto do texto introdutório.

(…) A Ana Rita Afonso, companheira de viagem nas minhas incursões literárias, junta-se, de novo, a este projeto editorial. A fusão das palavras com as artes plásticas valoriza, diversifica e atrai novos públicos. As palavras chegam mais longe em virtude da arte pictórica e, esta, por sua vez chega a outros públicos, ainda que as ilustrações, por si só tenham um valor intrínseco e possam constituir-se como uma expressão artística autónoma, ou mesmo independente dos poemas, o mesmo se poderá dizer das palavras. (…)


terça-feira, 2 de abril de 2024

Ermitérios

imagem retirada da internet - farol Gonçalo Velho

Os faróis são lugares místicos com uma função bem terrena: sinalizar os caminhos do mar.

Os faróis convocam a imaginação e atraem-nos às mais altas falésias e alcantilados promontórios. São lugares invulgarmente sublimes, lugares de contemplação do mar imenso, lugares onde se chega pelos trilhos da beira terra, em direção à beira-mar, ou pelos atalhos do mar até uma pequena e arredada ilha onde se ergue, grandioso e robusto, um farol. 


Os faróis seduzem, deixamo-nos seduzir, e vamos. Vamos olhar o mar até à linha do horizonte, lá onde moram todas as utopias, vamos ver as aves marinhas no seu voejar planado, vamos observar as formas arquitetónicas e a sua capacidade de resistência às intempéries que, não poucas vezes, se abatem sobre aqueles belos, mas inóspitos lugares.

Se o sítio for visitável e o faroleiro um bom anfitrião não resistimos a entrar e a subir as íngremes e acanhadas escadas que nos levam ao topo onde a função do farol se cumpre.

A singularidade da arquitetura adaptada ao propósito, a beleza e a quietude da geografia onde se situam as luminárias que alumiam os caminhos do mar, constituem-se como os principais elementos que nos despertam interesse e atração, mas outras, subjetivas e indefinidas, razões, e talvez por isso, por serem do domínio do imaginário, sejam tão, ou mais, importantes no fascínio que os faróis e outros lugares de solidão exercem sobre nós. 

O magnetismo que emana dos faróis, dos moinhos, dos mosteiros e conventos, das ilhas desertas, cativa-nos e atrai-nos, e, tem sido objeto de variadas narrativas literárias, algumas adaptadas ao cinema, ou mesmo escritas com o propósito de argumentos para produções cinematográficas.

foto de Madalena Pires
Os ermitérios são uma inesgotável fonte para a criação de mitos e estórias sobre o isolamento, a solidão, o desterro, a loucura, o erotismo, o assombramento, ou mesmo de crimes macabros e irresolúveis.

O imaginário popular é fértil na criação de estórias e mitos sobre os lugares ermos, ou não o sendo se encontrem circunscritos por altos muros, mitos e reclusão forçada, ou não, aos quais se associam personagens com caraterísticas invulgares. Variam os lugares e os personagens consoante a função da estrutura edificada, ou mesmo, na inexistência dela, se o eremita se acomoda numa cavidade natural. O que não se altera é a narrativa fantasmagórica transmitida na tradição oral sobre esta gente e estes lugares. 

Quando criança, nas noites de inverno, ouvi muitas estórias, de lugares e pessoas, verdadeiramente assustadoras para as quais, só muito mais tarde, encontrei algumas explicações que justificavam os “fenómenos” e os comportamentos excêntricos de alguns cidadãos que viviam, por opção, por necessidade, pela fé, ou por razões de ordem profissional, afastados das comunidades que lhes estavam na proximidade.

As estórias fantasmagóricas que ouvi na minha infância sobre lugares ermos e sobre eremitas fizeram e continuam a fazer parte do meu imaginário, atualmente sem os temores que sobre mim exerceram na infância e retardavam a chegada do sono pois, qualquer ruído, das antigas casas da aldeia onde costumava passar algumas temporadas, para o qual se não encontrasse, de imediato, uma explicação plausível era relacionado com as estórias ouvidas ao serão e a sonolência transformava-se em vigília até que o sono se voltasse a instalar.

O passar do tempo e o conhecimento que vem com ele afastou os pavores, mas ficou a atração pelos ermitérios e pelos eremitas, quer estes o sejam por opção, ou por necessidade de ordem profissional. Este fascínio não será tanto pelo facto de se estar só, e entenda-se estar só não é necessariamente sinónimo de solidão, mergulhados em profunda solidão podemos estar rodeados da turba e a viver no centro de uma grande urbe. 

foto de Aníbal C. Pires

Se o isolamento, por ser inusual, desperta interesse em muitos de nós que consideramos esse comportamento fora dos padrões comportamentais e por vezes chegam a merecer a atenção da academia e a elevação à condição de objeto de estudo. Mas são os lugares, pela sua localização, pela sua arquitetura e pela função que me fascinam nos ermitérios, sejam eles lugares ermos, nas periferias, ou mesmo dentro da malha urbana de grandes cidades. Espaços fechados aos olhos do mundo e onde se enclausuram voluntariamente cidadãos que se afastam do mundo e dos seus concidadãos, não será como ir para uma ilha deserta, mas, nos tempos que correm, ir para uma ilha deserta não é, digamos, uma opção ao alcance de todos e quem pode, por norma, faz-se acompanhar não está nunca sozinho, conquanto possa carregar o peso da solidão.

Os moinhos de vento situam-se em colunas verdejantes, os moinhos de água, ou azenhas, junto dos cursos de água, os mosteiros e conventos podem até não se localizar em lugares ermos, mas a sua localização e arquitetura deslumbram. Os lugares naturais ou urbanos onde se edificam estruturas para acolher quem, por vontade própria ou pelo exercício de uma atividade profissional, está em isolamento, mesmo que acompanhado, encantam-me.

Outros ermitérios, como as prisões, por mais belos e singulares que sejam os lugares onde estão implantados provocam outros sentimentos, o interesse histórico e literário.

A prisão de Alcatraz, a ilha de Santa Helena, a ilha do Diabo, Robben Island, são conhecidas como temíveis prisões e territórios e sobre elas existem inúmeras narrativas ficcionadas com fundamento em acontecimentos reais, mas também estórias bem reais como seja o longo encarceramento de Nelson Mandela (Robben Island). 

Sobre as prisões e as inevitáveis fugas e tentativas de fuga existam estórias reais que pelos seus contornos não necessitam, sequer, de ser ficcionadas e romantizadas.

Menos conhecidas e fora do foco de escritores e cineastas são algumas das prisões do fascismo português por onde passaram milhares de homens e mulheres que lutaram pela democracia e pela liberdade para Portugal. O Tarrafal, o Aljube, Caxias, Peniche, e o Forte de S. João Baptista são, de entre outros, nomes que nos são familiares, embora nem sempre se conheça a história destes lugares de isolamento, tortura e morte. 

o Chrysler utilizado na fuga de Caxias
 Museu do Caramulo

A fuga solitária de Dias Lourenço da prisão de Peniche, a 17 de dezembro de 1954, a fuga preparada e concretizada, a 4 de dezembro de 1961 por um grupo de militantes do PCP, na qual António Tereso foi um elemento fundamental pois o carro utilizado para sair da prisão era de Salazar e, o Tereso teve de conquistar a confiança dos guardas e do Diretor da prisão, passando por traidor (rachado) junto dos seus camaradas, mas também a fuga de Peniche, de Álvaro Cunhal, a 3 de janeiro de 1960,  em conjunto com Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Miguel, Francisco Martins Rodrigues, Guilherme Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério Carvalho além de um soldado da GNR. Muitas outras fugas das prisões do fascismo aconteceram e todas elas revelam audácia e coragem.

As prisões do fascismo não se esgotam nas referências já feitas a algumas delas, mas para percebermos que a dimensão do aparelho repressivo do fascismo português não se resume apenas às cadeias a que aludi outras, menos divulgadas, existiram nos territórios colonizados, apara além de Cabo Verde, já mencionado na referência ao Tarrafal, Guiné, Angola, Moçambique e Timor tiveram os seus funestos presídios. Estas cadeias eram em tudo semelhante ao Campo de Concentração do Tarrafal. A diferença, segundo o Dr. Luís Farinha, antigo diretor do Museu do Aljube é que: “os seus «habitantes» forçados não tiveram ninguém que lhes guardasse a memória.”

No ano em que se comemoram os 50 anos de Abril é nossa obrigação trazer para o presente as memórias de um passado obscuro, ditatorial e repressivo que alguns louvam e gostariam de ressuscitar, mas também se constitui uma obrigação afirmar os valores da liberdade e da democracia pela qual se lutou e luta.  

Ponta Delgada, 2 de abril de 2024 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 5 de abril de 2024

lugares de isolamento...

imagem retirada da internet



Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.





(...) Outros ermitérios, como as prisões, por mais belos e singulares que sejam os lugares onde estão implantados provocam outros sentimentos, o interesse histórico e literário.

A prisão de Alcatraz, a ilha de Santa Helena, a ilha do Diabo, Robben Island, são conhecidas como temíveis prisões e territórios e sobre elas existem inúmeras narrativas ficcionadas com fundamento em acontecimentos reais, mas também estórias bem reais como seja o longo encarceramento de Nelson Mandela (Robben Island). 

Sobre as prisões e as inevitáveis fugas e tentativas de fuga existam estórias reais que pelos seus contornos não necessitam, sequer, de ser ficcionadas e romantizadas.

Menos conhecidas e fora do foco de escritores e cineastas são algumas das prisões do fascismo português por onde passaram milhares de homens e mulheres que lutaram pela democracia e pela liberdade para Portugal. O Tarrafal, o Aljube, Caxias, Peniche, e o Forte de S. João Baptista são, de entre outros, nomes que nos são familiares, embora nem sempre se conheça a história destes lugares de isolamento, tortura e morte. (...)


segunda-feira, 1 de abril de 2024

Maria Lamas - a abrir Abril


Maria Lamas
é uma incontornável figura da luta pela emancipação das mulheres em Portugal e no Mundo. Foi uma destacada militante na luta pela paz e cooperação.



Esta militante do Partido Comunista Português deixou um importante legado de intervenção social e política que importa relevar pois, ela como muitas outras portuguesas e portugueses contribuíram com o seu trabalho e intervenção para o esclarecimento e tomada de consciência social e política de importantes setores da população portuguesa.




Não foi por acaso que a 25 de Abril de 1974 as ruas de Lisboa se encheram de mulheres e homens com o rosto iluminado pela felicidade do fim do regime opressor, apoiaram a revolta militar e transformaram-na numa revolução.