segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sugestão cinéfila para esta noite

Hoje o Cine Clube de Ponta Delgada leva à cena pelas 21h30 o filme “SONHOS DE DANÇA – nos passos de PINA BAUSCH”.

Rituais*

Os rituais sejam comemorativos ou, simplesmente, de rotinas diárias constituem um factor importante, senão mesmo determinante, na construção da identidade e memória colectiva das comunidades e dos povos.
Os rituais comemorativos estão, geralmente, associados a ciclos naturais (mudança das estações do ano), a calendários religiosos ou a mitos.
Podemos discordar, ou não, dos princípios que estão na génese de alguns dos rituais comemorativos que enformam a cultura das comunidades e povos. Podemos até discordar da prática de alguns rituais mas é, no entanto, inegável que é através deles que se identificam e diferenciam culturalmente os grupos humanos. Os rituais são como que um bilhete de identidade da diversidade cultural que caracteriza a humanidade.
A cultura tem, tal como outras manifestações e realizações do homem, servido para submeter grupos humanos. O domínio de um grupo humano sobre outros grupos humanos pode caracterizar-se pela acentuação das diferenças – assim se justificou a escravatura e o colonialismo – ou, então, pela assimilação e padronização cultural – característica da sociedade de consumo. A cultura que, em determinado momento histórico, é dominante impõe, acentuando as diferenças ou estimulando a assimilação, os seus padrões culturais e ideológicos.
O fenómeno de globalização que caracteriza a contemporaneidade favorece, claramente, a assimilação cultural. A denominada civilização ocidental é tida como uma referência e modelo, incontestáveis, de desenvolvimento económico e de bem-estar. E, se esta é uma verdade insofismável, não é menos verdade que este desenvolvimento e bem-estar foram, e são, conseguidos pela submissão cultural e económica de outras sociedades.
Do século XV até meados do século XX a prosperidade ocidental advinha de um domínio que se estruturava na “superioridade” de uma cultura sobre outras e que cultivava a separação e a segregação dos indivíduos e das culturas. O fim da II Guerra Mundial e o processo de descolonização que se lhe seguiu levou ao reconhecimento e aceitação, internacional, de um Mundo de culturas.
Um Mundo culturalmente diversificado e liberto da “hierarquização” cultural punha em causa o crescimento e o bem-estar de quem economicamente continuava a dominar. O caminho que se seguiu é o que todos conhecemos: a uniformização dos padrões culturais, segundo os “valores” ocidentais. A assimilação cultural assume-se, assim, como uma vantagem económica. Quanto mais expandidos e padronizados estiverem os hábitos culturais e de consumo maior escala se dá aos mercados.
Que melhor exemplo do que um dos aspectos mais “sui generis” da cultura das comunidades e dos povos – a alimentação.
O abandono, por um elevado número de famílias portuguesas, de hábitos alimentares tradicionais considerados, pelos especialistas em nutrição humana, equilibrados e ajustados às nossas necessidades calóricas, em detrimento de uma dieta alimentar importada, padronizada e desequilibrada nutricionalmente, é um exemplo do quanto pode ser perniciosa a assimilação cultural, particularmente, quando associada a cegos interesses económicos. Não é por acaso que a obesidade e as doenças do aparelho digestivo aumentaram para o nível de preocupação nacional.
A música é, também, um exemplo paradigmático da uniformização cultural a que a sociedade global nos submete utilizando o poder, neste como noutros exemplos, dos meios de comunicação de massas. Há outros músicos e músicas para além da MTV.
Não quero transformar esta reflexão em mera retórica identitária, no entanto, e reconhecendo que os contextos sociais e históricos evoluem e que a globalização não tem, forçosamente, de ter apenas aspectos negativos quero deixar-vos com a constatação de um facto – esta semana o calendário da identidade e da memória açoriana assinalou o ritual comemorativo do “Pão por Deus”, o calendário comercial celebrou “o Dia das Bruxas”.
Palvarinho, 01 de Novembro de 2005
*Este texto foi publicado no Açoriano Oriental em Novembro de 2005 e posteriormente republicado no Expresso da Nove e A União.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Despedimentos na RTP Açores

Soube há pouco que se iniciou, hoje mesmo, um processo que vai levar à dispensa (despedimento) de trabalhadores da RTP Açores.
É do conhecimento público que os cortes financeiros (que no caso da RTP Açores não corresponde de todo à verdade) visam, tão-somente, a redução de trabalhadores e não alterações ao nível da gestão que, salvo melhor opinião, pouparia mais ao erário público do que os despedimentos que se configuram no horizonte próximo.
A reestruturação do grupo RTP, SA tem um objectivo central e que já foi tentado – a privatização de um canal da RTP e, embora não tenha sido anunciado fácil é perceber que a alienação vai recair sobre a RTP 1. Para que este objectivo seja cumprido o Estado português vai pagar, em 2012, 250 milhões de euros do passivo do grupo RTP, SA para tornar o “tal canal” atractivo ao sector privado.
O que resulta desta estratégia: redução com os custos do trabalho com o despedimento de várias centenas de trabalhadores da RTP, SA.
Assim com uma espécie de nota à margem - o salário mensal do Presidente do Conselho de Administração da RTP, SA é superior ao rendimento anual médio de um trabalhador desta empresa pública
O que se esperaria de um governo de Portugal não seria bem isto, mas sim reestruturar o grupo preservando o património público que ainda nos resta e elevar a qualidade do serviço público de rádio e televisão demarcando-se do lixo televisivo e informativo produzido pelas corporações de comunicação social privadas.
E assim se vai cumprindo a agressão externa com a cumplicidade activa do governo PSD/CDS que se despiram de qualquer sentimento ou vestígio de patriotismo e se assumiram como apátridas ao serviço dos directórios financeiros que escravizam os povos.
As razões para lutar são mais que muitas!
Não se resignem. Insurjam-se!

O ministro, o administrador e a delegação

Há uns dias atrás reuniu uma delegação da ALRAA com o ministro Miguel Relvas e um administrador da RTP, SA.
Ficam aqui algumas das frases soltas que marcaram esse encontro. A ordem é aleatória e, no caso da delegação não está individualizada nem atribuída a autoria das expressões.
Proponho aos leitores que construam a sua opinião sobre o que vão ler e até, quiçá, um texto com estas frases que são bem ilustrativas do “diálogo” que o ocorreu numa das salas da Presidência do Conselho de Ministros na passada 2.ª feira, alguns minutos depois do plano de reestruturação da RTP, SA ter sido ratificado pelo ministro numa reunião que manteve com o Conselho de Administração da RTP, SA.

O ministro:

- O problema não é político. É um problema financeiro.
- Não tenho dinheiro.
- Quem paga é que manda.
- Ou a emissão nesta janela horária ou, em alternativa, a independência do canal regional e neste caso suportem vocês os custos.
- Se querem a independência da RTP Açores, estou aberto a essa solução. Levem-na assumam os custos o governo regional, uma empresa pública ou os privados.
- O horário tem de ser das 19 às 23 h.
- Não! As 4 horas de programação própria têm de ser neste horário.
- Eu é que pago, eu é que mando.
- Não tenho esses dados.
- Redução de 4,7 milhões para os dois canais regionais.
- Só tenho 20 milhões para os canais regionais.
- As audições das Regiões Autónomas são um mau hábito que tem de acabar.
- Os açorianos vivem todos no mesmo fuso horário.
- Tenho de prestar contas à troyca de 3 em 3 meses.
O administrador: - Na Metrópole também é assim…
A delegação:- Não custa 13 milhões. Com se pode apurar no mesmo relatório os custos rondarão os 9 milhões, sem contar com os proveitos próprios.
- … mas o serviço público de televisão e o seu financiamento é da responsabilidade do Estado, como decorre do quadro jurídico e constitucional.
- Com o valor que pretende alocar aos centros regionais trata-se, senhor ministro, como facilmente se conclui de um problema político e não de um problema financeiro.
- Senhor ministro, estamos a solicitar que confira à RTP Açores a possibilidade de manter a sua autonomia editorial, aliás cumprindo os preceitos da Lei da Televisão e do Contrato de Concessão.
- Senhor ministro, não viemos pedir nem a independência dos Açores nem a independência da RTP Açores;
- Senhor ministro, mas porquê o horário da 19 às 23 e não da 15 às 19 ou das 8 às 12. Que vantagens financeiras decorrem dessa imposição.
- Os Açores são uma região descontínua, do ponto mais oriental ao ponto mais ocidental distam 600km. O seu diminuto território está pulverizado por mais de 60 mil Km2
- A diáspora açoriana é responsável pela elevada taxa de penetração da RTP Internacional nos Estados Unidos e no Canadá onde vivem mais de 3 milhões de açorianos e seus descendentes.
- Assim entendemos! O espírito colonial está subjacente à decisão… bem então se não gosta dir-se-á… o espírito neocolonial.
- As audições às Regiões são uma decorrência da Constituição, não são um hábito e muito menos um mau hábito.

Respeito, como sabem, as instituições e tenho mantido, sempre, reserva sobre o conteúdo das reuniões onde participo até à sua divulgação pública, todavia esta é uma situação de excepcionalidade e as obrigações que tenho são com o Povo que me conferiu um mandato para o representar e não com um ministro ou um administrador.
Estou a quebrar uma regra que imponho a mim próprio mas… outros valores mais altos se levantam.
Lisboa, 25 de Outubro de 2011

Cimeira da UE

As bolsas europeias acordaram bem dispostas e reina por aí uma grande satisfação depois de conhecidas as decisões da cimeira da UE.
- Perdão de 50% da dívida grega e recapitalização da banca.
Leio, na mesma fonte, que este acordo implica um compromisso dos países da zona euro:
“Cada membro da Zona Euro adoptará, preferencialmente a nível constitucional ou equivalente, normas sobre o equilíbrio orçamental que transponham o Pacto de Estabilidade na sua legislação nacional até ao final de 2012, assinala o texto das conclusões da reunião aprovado hoje pelos líderes dos 17 países que integram a moeda única." O compromisso é, até ao final de 2012, acomodar a Constituição ao Pacto de Estabilidade.
Eu diria que com este compromisso lá se vai o que nos resta do pouca soberania que ainda temos e, que o perdão da dívida grega demonstra de forma clara a natureza da crise e de quem a gere.
Cumprido o objectivo, alienação do sector público e perda de direitos e rendimento do povo grego, aliviou-se o garrote.
A UE ainda não satisfeita com a situação portuguesa vai prolongar a agonia e ficou o aviso a Portugal para se preparar para a eventualidade de novas medidas de austeridade. Para já fica a recapitalização da banca.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Valorizar o trabalho! Romper o terrorismo neoliberal

Os efeitos desastrosos de décadas das políticas neoliberais conduzidas ora pelo PS, ora pelo PSD, com ou sem o seu apêndice: o CDS/PP.
Somos um país mergulhado numa profunda recessão, com enormes desigualdades sociais e com uma pobreza galopante, que abrange cada vez mais portugueses.
Décadas de desinvestimento, de destruição da capacidade produtiva nacional, sob o mando da União Europeia, de desvalorização dos salários e de ataque aos direitos dos trabalhadores, têm reduzido grandemente o poder de compra dos que dependem apenas do seu próprio trabalho para sobreviverem e, por força de razão, com ainda maior gravidade dos trabalhadores com menores qualificações e que auferem os mais baixos salários.
E, apesar do aumento significativo e generalizado das qualificações, a verdade é que os salários não têm tido, em Portugal e nos Açores, uma evolução proporcional. Uma geração de jovens altamente qualificados é forçada a aceitar baixos salários e a permanecer numa situação precariedade absoluta ou mesmo a abandonar o país. Na prática, os milhões gastos na melhoria das qualificações dos portugueses apenas têm servido para o capital ter acesso a uma mão-de-obra mais qualificada a baixo preço.
As medidas de austeridade que têm vindo a ser aplicadas pelos diversos Governos têm contribuído para acelerar o ciclo recessivo. E as que estão já anunciadas pelo actual apenas irão somar ainda mais recessão à recessão, cavando ainda mais fundo o fosso do desemprego e da pobreza dos trabalhadores portugueses.
Depois de o PS de Sócrates ter rasgado o acordo assinado com os parceiros sociais, (descredibilizando, desta forma, todo o processo da concertação social), acordo que previa que o salário mínimo nacional chegasse aos 500 Euros em 2011, o actual Governo PSD/CDS mantém a orientação de desvalorização do poder de compra dos trabalhadores, mesmo os que têm os salários mais baixos.
Com esta linha de actuação, estes governos e estes partidos vão empurrar cada vez mais portugueses para a pobreza e para a carência grave, para além de alimentarem a espiral da recessão.
Com o argumento da crise da dívida, pretende-se retirar aos trabalhadores portugueses os seus direitos fundamentais. Reduz-se o valor das indemnizações, põe-se em causa a proibição do despedimento sem justa causa, promove-se a flexibilidade do horário de trabalho, destruindo a perspectiva de uma vida familiar normal, mantém-se o congelamento de carreiras, levantam-se todos os obstáculos à contratação colectiva e à acção sindical e, agora, impõe-se mesmo o verdadeiro roubo que é o aumento do horário de trabalho, sem qualquer remuneração, forçando os trabalhadores a darem mais meia hora de trabalho gratuita.
O objectivo desta política é claro: promover a desvalorização dos custos do trabalho, permitindo que as empresas, em vez de investirem na modernização, na integração de tecnologia nos processos produtivos e em novos produtos e mercados, continuem sem qualquer esforço a acumular lucros à custa dos depauperados trabalhadores portugueses.
Para além da renegociação da dívida, sem a qual estaremos brevemente numa bancarrota à moda grega, é preciso tratar dos problemas de fundo da nossa economia.
E essas soluções terão forçosamente de passar pelo rompimento com o ciclo de recessão, dinamizando o mercado interno e estimulando o consumo e as vendas das empresas, que por sua vez poderão aumentar a receita do Estado.
Horta, 23 de outubro de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 25 de outubro de 2011, Angra do Heroísmo

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Subversão da autonomia e do sistema democrático

O debate em torno da autonomia é, não só actual, como premente. Tenho vindo a afirmar que uma aparente decorrência da crise está a constituir-se numa ofensiva, sem precedentes, ao adquirido autonómico. E esta afirmação não é gratuita, bastaria como exemplo o que até hoje já era do domínio público e que passo a recordar: i) a imposição da redução da diferenciação fiscal e, a consequente, alteração à Lei da Finanças Regionais (LFR) imposta pela troika; ii) a redução da emissão e produção da RTP Açores para 4h diárias; iii) a afectação das receitas ao Orçamento de Estado (OE) do imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal de 201, receita que, por direito próprio, cabe à Região, isto fazendo fé que vivemos, ainda, num estado de direito. Estes 3 exemplos a par do contínuo desinvestimento dos serviços do Estado na Região sinalizam, de forma preocupante, que a autonomia deixou de ser encarada como um projecto político nacional.
Com a apresentação do OE para 2012 se dúvidas restavam elas ficam completamente esclarecidas quanto à natureza centralista do governo do PSD/CDS e do profundo desrespeito pela Constituição, pelo Estatuto e pela LFR, diria mesmo que o PSD e o CDS/PP estão a protagonizar um autêntico golpe de estado.
Neste contexto e quando alguns dirigentes do PS Açores e do governo regional mostram satisfação pelo valor, segundo os próprios, sem significado da diminuição das transferências do OE para a região, não posso deixar de afirmar que o PS está a ser cúmplice do PSD e do CDS/PP nesta ofensiva à autonomia, como está a ser cúmplice na destruição do País.
Do OE para 2012 constam, para além da redução das transferências, normas que são tão ou mais graves que a ultrapassagem da LFR por via do “memorando de entendimento”. Vejamos: art. 7.º, ponto 3 (…) podem, em situações excepcionais e transitórias, ser estabelecidos, por lei, limites à prática de actos, pelos órgãos próprios das Regiões Autónomas, que determinem assunção de encargos financeiros (…), depois enumera em 3 alíneas os actos que podem ser alvo de limites. Bem, se isto não é um ataque à autonomia e ao estado de direito então não sei o que será.
Mas o OE, no que concerne às autonomias, vai mais longe quando introduz (art.º 202) uma norma interpretativa que deduz, a participação variável de 5% no IRS a favor das autarquias locais das Regiões Autónomas, à receita cobrada na respectiva Região Autónoma, devendo o Estado proceder directamente à sua entrega às autarquias locais. Norma interpretativa!? Mas desde quando é que uma norma interpretativa se sobrepõe a leis de valor reforçado como seja a LFR.
Não posso, antes de terminar, deixar de salientar os contornos de terrorismo político e social das brutais medidas anunciadas recentemente e, sobre as quais o povo português em nenhum momento foi chamado a pronunciar-se.
Os cidadãos votaram, nas últimas eleições legislativas, com o pressuposto de que não haveria mais sacrifícios dos que os já anunciados nessa altura. O PSD e o CDS/PP mentiram aos portugueses! E, como tal, não têm qualquer legitimidade para impor os sacrifícios que pretendem. Ao fazê-lo, subvertem a natureza do sistema representativo, desvirtuam o alcance do seu mandato e prostituem a democracia colocando-se ao serviço da especulação financeira internacional.
Horta, 17 de outubro de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 19 de outubro de 2011, Angra do Heroísmo

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Indignação e indignados

Em resultado de uma convocação global que apelava ao protesto pacífico contra a ditadura financeira, pelo direito ao trabalho, contra a injustiça económica e a desigualdade social, no passado dia 15 de outubro, um pouco por todo o Planeta, milhões de cidadãos encheram ruas e praças em mais de mil cidades manifestando a sua indignação numa manifestação que pode ser considerada como a maior movimentação cívica da história da humanidade.
Esta jornada de indignação global ficou marcada, em Portugal, por um genuíno protesto contra o desemprego e a precariedade laboral crescentes, a desvalorização dos salários e das pensões, o agravamento generalizado do custo de vida, os aumentos de impostos e a redução do investimento público. Ficou claro que a indignação em Portugal visou a condenação dos partidos políticos “troikistas” (PS, PSD e CDS/PP). Condenação pelas políticas de mais de três décadas de destruição da economia nacional, condenação pela subserviência ao FMI e aos mercados financeiros, condenação pelo distanciamento entre os cidadãos e os centros de decisão política, condenação do capitalismo, condenação pela desvalorização do trabalho e dos trabalhadores.
Deste protesto emerge também, de uma forma clara, o descontentamento dos cidadãos com o funcionamento do sistema democrático instituído, sistema que alimenta a alternância ao centro e afasta os cidadãos da participação e decisão política, exigindo que o poder lhes seja devolvido de facto, porque de direito(a) estão fartos.
Este avolumar da vaga de indignação e protesto resulta das mais recentes medidas de austeridade, do aumento do desemprego, da crescente pobreza e exclusão, no fundo do retrocesso civilizacional a que alguns foram calmamente assistindo e acreditando em terceiras vias e nas virtualidades do mercado, e, não foi por acaso que disse avolumar, afirmei-o porque sempre houve quem se tenha indignado e manifestado contra o rumo político e económico para o qual o País e o Mundo estavam a ser conduzidos, sempre houve que o tenha denunciado, sempre houve quem tenha apresentado alternativas.
A democracia política, económica, social e cultural que no dia 15 de outubro foi reclamada por milhões de pessoas em todo o Mundo não é, para mim e para algumas centenas de milhar de portugueses, uma novidade. Luto por ela desde que ganhei consciência política, continuarei a lutar por essa democracia avançada enquanto viver. Luto contra o terrorismo financeiro, contra o terrorismo social e político, luto pelo meu povo, luto pela dignidade da humanidade.
A indignação não é de hoje e a lista de indignados e de lutadores pela liberdade e pela democracia política, económica, social e cultural, é longa e antiga.
Aos cidadãos que no passado dia 15 de outubro manifestaram a sua indignação direi: bem vindos à longa lista de indignados e inconformados.
A estes cidadãos direi o mesmo que disse aos manifestantes da “Geração à Rasca”: Bem vindos à luta!
Horta, 16 de outubro de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 18 de outubro de 2011, Angra do Heroísmo 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Há quem se resigne e há quem se revolte

Os retrocessos civilizacionais que colocam em causa os direitos sociais e abalam os alicerces das sociedades desenvolvidas e o estado de direito eram, até há bem pouco tempo, preocupação verbalizada apenas por sindicalistas e militantes comunistas. O que eram preocupações, resultantes de sinais que alguns teimaram em não querer ver, são hoje a dura realidade para milhões e milhões de cidadãos da União Europeia e dos Estados Unidos, já o eram para muitos e muitos outros milhões em África, na América do Sul e na Ásia.
O desemprego, a perda de rendimento, a pobreza e a exclusão, a precariedade e o espetro da recessão económica para onde o liberalismo económico selvagem nos conduziu estão a vulgarizar a contestação e a adesão a teses dadas como mortas e enterradas.
Num olhar atento sobre os manifestos e as reivindicações que se estão a generalizar nas praças e ruas das cidades europeias e estado-unidenses, dos estudantes no Chile, à geração à rasca, ou aos manifestantes da Liberty Square, há um traço comum de exigência do direito ao trabalho e do fim da ditadura financeira.
Tenho consciência que estes movimentos sociais são, por vezes, inconsequentes por não lhes estar associado um projeto político transformador. Sim! Um projeto político revolucionário. Mas, não tenho dúvidas que estes movimentos sociais podem potenciar a rutura e a emergência de transformações importantes que invertam este ciclo de sucessivas ofensivas contra as conquistas civilizacionais que marcaram o século XX.
O que há bem pouco tempo atrás era dado como um adquirido inquestionável está hoje posto em causa e já nada é o que julgamos ser.
Há quem trabalhe 12 h por dia e não seja retribuído pelo seu trabalho, há quem seja carpinteiro e trabalhe como vigia de estaleiro de construção civil, há quem seja economista e trabalhe como caixa de agência bancária, há quem julgue, que tem provimento definitivo e não passe de um trabalhador com contrato a tempo indeterminado, há quem se resigne e há quem se revolte.
A resignação fica-se pelo ativismo de sofá e pelo voto alternante dos partidos do centrão e do seu apêndice, a revolta sai à rua. Sai à rua e luta na defesa do adquirido histórico e social engrossando as fileiras de quem nunca desistiu e sempre lutou.
A resignação aceita de forma pacífica a ideia de que “o Estado está a gastar acima das suas possibilidades”, a revolta diz que o Estado gastou onde não devia ao encaminhar para o setor privado avultados fundos públicos.
A resignação aceita a ideia do emagrecimento do Estado, a revolta quer que o Estado assuma as suas responsabilidades constitucionais e acabe com as gorduras periféricas (parcerias público privadas, fundações, institutos, salários milionários dos gestores públicos, etc.).
A resignação aceita a inevitabilidade da austeridade sob a forma da desvalorização do trabalho e dos trabalhadores, a revolta diz que é necessário retirar poder aos grupos financeiros, taxar as grandes fortunas e as operações financeiras que não acrescentam valor às economias.
Horta, 10 de outubro de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 12 de outubro de 2011, Angra do Heroísmo 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Learning to fly

O João Pires acabou a formação teórica e o "ground course" (ontem) na CAE. Daqui a alguns minutos vai fazer o seu primeiro voo.
Para o João e em memória da minha mãe que era fã dos Pink Floyd fica este tema - Learning to Fly

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dia Mundial do Professor

A UNESCO afirma que são necessários mais de 2 milhões de Professores para garantir que até 2015 seja garantida a Escolaridade Básica no Mundo (objectivos do Milénio).







Sobre o Dia Mundial do Professor  podem ler aqui o que a FENPROF diz.

domingo, 2 de outubro de 2011

Madrugadas Alentejanas

Acabei de adicionar às minhas referências da blogosfera o “Madrugadas Alentejanas”.
Descobri este blogue por via da amizade do Facebook com a Ester Cid Pita.
Não conheço a Ester pessoalmente mas nem preciso para perceber que é uma mulher admirável.
Dirão: Pois! Lá está ele a propagandear as suas camaradas.
Sim! É verdade. A Ester é militante do PCP e isso é bom.
A Ester é:
Uma mulher alinhada, com o seu povo
Uma activista,
Uma militante,
Uma mulher que acredita, num Mundo melhor
Só por isto a Ester já seria admirável
Mas ela é também
Alentejana,
Amorosa
Esposa
Mãe
Poeta
Não deixem de a visitar nas “Madrugadas Alentejanas” e surpreendam-se com as palavras.
Palavras,da planície, do seu povo, do seu país, do seu amor, das suas lutas.
Vá lá deixem de lado o preconceito.
Não faltam nas minhas referências desalinhados e desalinhadas e estão lá muito bem ao lado dos alinhados e alinhadas. Todos somos poucos para ganhar esta luta.