terça-feira, 31 de outubro de 2017

... do longe e do perto

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires




Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, como não poderia deixar de ser, aqui neste blogue





(...) Por muito distante, quiçá pouco significativas para as sociedades ocidentalizadas, que possam parecer as questões dos povos indígenas do Brasil e de outros países da América do Sul, por muito distante que seja a Somália, ou as comunidades cujo acesso a água potável, continue a ser uma privação que mata. Por muito distante, ou que possa parecer que seja, interesso-me e preocupa-me. Claro que também me interessam os problemas domésticos e o dos nossos vizinhos em Espanha e na Catalunha ou, ainda que geograficamente mais distantes, mas politica, social e economicamente próximos, como sejam os desvarios, internos e externos, da administração Trump, mas também as tensões na península da Coreia. Tudo o que se passa no planeta mais tarde ou, mais cedo, acaba por ter reflexos na nossa vida. Afinal vivemos no espaço confinado de um planeta, onde todos somos afetados pelo que de bom ou mau se faz, seja aqui ao lado ou, no mais distante rincão da Patagónia ou, da Papua Nova Guiné. (...)

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Sem importância nenhuma

Imagem retirada da Internet
Mudou a hora, não mudam as rotinas. Quer dizer, mudam um poucochinho, não só pela mudança artificial da hora, mas também porque os dias até ao Solstício de Inverno vão sendo cada vez mais pequenos e, as noites maiores. Nem podia ser de outra maneira pois o somatório do dia e da noite, ou seja, a duração do dia solar, continua a ser de 24 horas. Isto, claro, se não considerarmos o dia sideral, ou o ritmo circadiano humano responsável pela perceção biológica da duração do dia, qualquer um deles com uma duração diferente. Quer dizer, quer num caso quer noutro, não são bem as tais 24 horas, mas isso para o caso, não tem importância nenhuma. Ou terá, e talvez por isso as rotinas mudem um poucochinho.
As mudanças, poucas ou muitas, não impedem que o essencial continue a fazer-se e a acontecer. Nem sempre assim foi, mas também isso não tem importância nenhuma. Importante mesmo foi a visita do Presidente da República a três ilhas da Região, completando assim o circuito açoriano que terminou, à boa maneira de Marcelo, com uma banhoca, no “Pesqueiro”, em Ponta Delgada.
Quando digo que as visitas presidenciais são importantes, não estou a ser irónico, como já poderiam estar a ajuizar, Nada disso. O que não significa que esta visita presidencial, em concreto, tenha tido alguma importância. Mas poderá ter tido, o tempo dirá se a visita presidencial foi, ou não, importante.
O Estado tem vindo, paulatinamente, a demitir-se das suas competências na Região. Em áreas com a Justiça, a Segurança Interna, a Defesa e os Negócios Estrangeiros, encontramos, sem grande esforço, vários exemplos dessa demissão do Estado. Os problemas são públicos e, certamente, o Presidente da República teve oportunidade de aprofundar o conhecimento, sobre as condições degradantes em que se encontra o Estabelecimento Prisional de Ponta Delgada, mas também o da Horta, da falta de agentes e meios das forças de segurança, da falta de meios da Marinha e da Força Aérea, ou ainda do passivo ambiental, social e económico que a Região herdou dos Estados Unidos, pela utilização da Base das Lajes, sendo que esta questão deve ser tratada pelos Negócios Estrangeiros e não, como alguns advogam, pela Defesa. E por aqui me fico na enunciação de alguns exemplos de desresponsabilização do Estado perante a Região. Por outro lado, quando se trata da mineração do mar açoriano aí o Estado não esquece e diz, Atenção isso aí é nosso. 
Não cabe ao Presidente da República, sei disso, a resolução destas e de outras questões, mas cabe ao Presidente da República exercer as suas competências para que estes quesitos sejam devidamente atendidos e resolvidos pelo poder executivo estadual.

Imagem retirada da Internet
A popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa, como é visível por onde quer que passe, continua em alta e o seu estado de graça vai manter-se por todo o seu mandato, Apesar de Pedro Santana Lopes.
Depois do PSD se arrumar internamente é bem possível que se prepare caminho para uma espécie de ajuste de contas. Pode até ser da mudança para a hora de Inverno, mas à memória veio-me a decisão de Jorge Sampaio, então Presidente da República, de dissolver a Assembleia da República, sendo primeiro ministro, Pedro Santana Lopes, corria o ano de 2004. É uma possibilidade remota, Pois é. Para além do facto de que, e pode não ser de todo despiciendo, um dos principais críticos do Governo de Santana Lopes e de Paulo Portas, em 2004, era o então comentador político Marcelo Rebelo de Sousa.
É mesmo da mudança da hora pois qualquer semelhança entre o contexto político que se vive atualmente e o de 2004 é apenas uma mera coincidência, Se é que existe alguma. Mas isto da memória é uma coisa do arco-da-velha.
Ponta Delgada, 29 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 30 de Outubro de 2017

domingo, 29 de outubro de 2017

o tempo o dirá

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires








Fragmento de texto a publicar na imprensa regional e, como é habitual, neste blogue.








(...) Nem sempre assim foi, mas também isso não tem importância nenhuma. Importante mesmo foi a visita do Presidente da República a três ilhas da Região, completando assim o circuito açoriano que terminou, à boa maneira de Marcelo, com uma banhoca, no “Pesqueiro”, em Ponta Delgada. 
Quando digo que as visitas presidenciais são importantes, não estou a ser irónico, como já poderiam estar a ajuizar, Nada disso. O que não significa que esta visita presidencial, em concreto, tenha tido alguma importância. Mas poderá ter tido, o tempo dirá se a visita presidencial foi, ou não, importante. (...)

Os Ossos Dentro da Cinza, uma nota e dois poemas

Foto by Aníbal C. Pires
Emanuel Jorge Botelho apresentou ontem, na Livraria Leya SolMar, o seu mais recente livro de poemas, Os Ossos Dentro da Cinza.
Não me cabe falar sobre o poeta nem da sua poesia.
Do homem sou amigo.
Da poesia gosto.
Para mim é quanto baste.
De apreciações, sobre a poesia e o homem, estamos falados, mas não ficaria tudo dito se me quedasse por aqui.
Para conhecerem, um pouco, a poesia de que falo e do que é feito o homem que a escreve, nada melhor que a leitura de dois poemas, do Emanuel Jorge Botelho, insertos no livro Os Ossos Dentro da Cinza.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 27 de Outubro de 2017




RUA DO SACO, N.º 15 (II)

o meu vizinho predilecto
morreu na guerra.

ele gostava de mim porque me acenava
quando dizia o meu nome.

no Verão, o meu vizinho passava, todas as manhãs,
perto da minha porta.
ia a caminho do mar.

quando me disseram que ele morrera na guerra
eu ainda não pensava que podia lá morrer.

eu não me recordo do nome do meu vizinho,
e queria tanto dá-lo
à saudade que dele tenho.

Emanuel Jorge Botelho, In Os Ossos Dentro Da Cinza, Edições Averno


O BANCO DE ANTERO

dois pedaços de madeira
batidos por uma luz amarga.

o dia soube da tua ida ao armeiro,
e ordenou aos pássaros que recolhessem
mais cedo.

estrelas, no Céu, ninguém deixou dito se vieram,
e tu não estarias com elas
mesmo que olhasses para cima
quando o cano te tocou o palato.

sentaste-te porque querias ir-te embora,
farto de forçar o labirinto,
exausto de dizer ao norte
que a bússola é, só, um adereço.

as coisas são como são.
não vale a pena dar-lhes debrum de rosas bravas,
ou colheres de água quente
com três pitadas de açúcar.

foi em Setembro, como podia ter sido em Janeiro.
aguentaste, como um felino,
o coice da solidão,
e disparaste dois tiros
para matar o regresso.

quem te fechou os olhos
ouviu-te agradecer.

Emanuel Jorge Botelho, In Os Ossos Dentro Da Cinza, Edições Averno

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

No Porto, Um Perigoso Leitor de Jornais


Um Perigoso Leitor de Jornais, romance baseado em factos reais, da autoria de Carlos Tomé, é apresentado no Porto, já no próximo dia 28.
A Casa dos Açores no Norte acolhe e promove este evento literário ao qual, para quem estiver pelo Porto ou arredores aconselho a ir e a adquirir um exemplar do livro que é apresentado.
Quem ler vai ficar surpreendido, não só pela escrita fluida e realista do autor, mas sobretudo pela temática que aborda. Carlos Tomé não só resgata a estória do seu avô, o autor resgata para a memória coletiva regional e nacional uma das muitas estórias de que foi feita a luta contra o fascismo em Portugal..
Trata-se da estória de mais de duas dezenas de micaelenses presos na cidade de Ponta Delgada, em 1938, e condenados ao degredo no forte de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, grupo do qual fazia parte Carlos Ildefonso Tomé, avô do autor, carteiro de profissão.
Um Perigoso Leitor de Jornais constitui um importante e genuíno contributo para a compreensão social e política de uma época da nossa história coletiva sobre a qual existem poucos estudos e muitas tentativas de branqueamento.
Quando assisti ao lançamento do livro em Ponta Delgada escrevi uma publicação que pode ser lida aqui

O embaixador dos donos do Mundo

Foto by Madalena Pires (2017)
É sempre bom poder rever amigos com quem não estamos tanto como gostaríamos, tão bom como estar com aqueles com quem convivemos quotidianamente. Mas com aqueles que só vemos de vez em quando, nos rituais da vida e da morte, nos eventos sociais, culturais e políticos, o sabor do reencontro é diferente. Vivemos na mesma cidade e na mesma ilha, mas passa muito tempo, demasiado tempo sem nos cruzarmos, a vida foi-nos afastando do caminho comum e, numa das quaisquer encruzilhadas da nossa existência cada um seguiu o seu caminho. Quando fruto do acaso ou em função de interesses comuns nos encontramos a ligação é imediata e as antigas cumplicidades parece nunca terem sido interrompidas. A amizade tem destas coisas.
A semana passada a propósito da realização de um almoço seguido de uma conferência, promovida por um jornal diário de Ponta Delgada, em que o orador convidado foi João Vale de Almeida, embaixador da União Europeia (UE) junto da Organização das Nações Unidas (ONU), vivi momentos de reencontro com amigos com quem não privava há muito tempo e, foi muito bom. Conheci outros cidadãos com quem mantive uma agradável conversa sobre algumas questões da atualidade política regional e, foi muito agradável.
Já quanto ao conteúdo da conferência do Embaixador João Vale de Almeida não posso dizer a mesma coisa, embora tivesse sido interessante para perceber o que pensam e como agem os donos do Mundo de quem este embaixador é um fiel representante e, para quem trabalha já há umas dezenas de anos. Um breve olhar sobre as notas biográficas e curriculares de João Vale de Almeida é suficiente para sustentar o que atrás ficou dito. Não sendo diplomata de carreira, o atual embaixador da UE, na ONU, lida com a diplomacia mundial há três décadas, trabalhou com Jacques Delors, foi o chamado “braço direito” de Durão Barroso na presidência da Comissão da UE, e negociou agendas e compromissos em nome dos grupos e personalidades mais poderosos do Mundo, no âmbito do G8.
Para João Vale de Almeida ter a confiança deles, não pode nem deve merecer a confiança dos povos. Não podemos, nem devemos esquecer que, por conta dos seus patrões, os povos, um pouco por todo o Mundo, sofreram os efeitos nefastos da agenda neoliberal que domina quer na UE, quer nos Estados Unidos.

Imagem retirada da Internet
Houve, contudo, um aspeto que o embaixador referiu como um dos perigos da atualidade com o qual eu não posso deixar de concordar, O perigo dos populismos. Claro que João Vale de Almeida não se estava a referir aos mesmos populismos dos quais eu tenho receio e que podem constituir, de facto, uma ameaça para a democracia tolerante e que reconhece um Mundo com múltiplas vozes, o embaixador referia-se e tem receio dos processos políticos fundados em valores de justiça social e económica que não se coadunam com a agenda, que o próprio designa como sendo, da democracia liberal.
O embaixador da UE junto da ONU referiu ainda outros aspetos que podem colocar em causa as democracias liberais, dando como exemplo a “anexação” da Crimeia pela Federação Russa esquecendo, porém, de se referir ao golpe de estado que colocou um governo da extrema direita, diria mesmo de cariz neonazi, na Ucrânia com o apoio explicito das, por ele, designadas democracias liberais, e que bem vistas as coisas transformam a “anexação” da Crimeia num ato defensivo da Federação Russa e não, como se pode subentender das palavras de João Vale de Almeida, num ato ofensivo ou expansionista.
Estes espaços valem pelos reencontros com velhos amigos, mas também para perceber que com os representantes ao serviço dos donos do Mundo, não há ONU que nos valha. Se é que sobre isso subsistiam dúvidas.
Ponta Delgada, 23 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 25 de Outubro de 2017

terça-feira, 24 de outubro de 2017

... da confiança

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires





Fragmento de texto a publicar na imprensa regional e aqui no blogue momentos





(...) Um breve olhar sobre as notas biográficas e curriculares de João Vale de Almeida é suficiente para sustentar o que atrás ficou dito. Não sendo diplomata de carreira, o atual embaixador da UE, na ONU, lida com a diplomacia mundial há três décadas, trabalhou com Jacques Delors, foi o chamado “braço direito” de Durão Barroso na presidência da Comissão da UE, e negociou agendas e compromissos em nome dos grupos e personalidades mais poderosos do Mundo, no âmbito do G8. 
Para João Vale de Almeida ter a confiança deles, não pode nem deve merecer a confiança dos povos. Não podemos, nem devemos esquecer que, por conta dos seus patrões, os povos, um pouco por todo o Mundo, sofreram os efeitos nefastos da agenda neoliberal que domina quer na UE, quer nos Estados Unidos. (...)

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Engodo

Imagem retirada da Internet
Em desespero, a direita e a extrema direita aproveitando-se de alguns cidadãos bem-intencionados, tentaram. Tentaram, mas sem sucesso mobilizar os portugueses para manifestações silenciosas, apolíticas e apartidárias. Os portugueses não foram na cantiga, desde logo, porque as manifestações nunca são silenciosas, mesmo que não se ouça mais nada a não ser o ensurdecedor silêncio do protesto, mas também porque não existem manifestações apolíticas. As manifestações até podem ser apartidárias, não faltam exemplos no nosso país de grandes manifestações apartidárias, mas as manifestações nunca são despojadas de um objetivo político. E os portugueses, apesar de tudo, compreenderam qual era o intuito dessa mobilização silenciosa, mesmo os que não viveram o 28 de Setembro de 1974 e os apelos da “maioria silenciosa”.
Às esperadas grandes manifestações do passado sábado juntaram-se algumas pessoas bem-intencionadas e uns tantos acólitos e partidários da direita e da extrema direita, em algumas cidades nem os promotores chegaram a comparecer, como foi o caso de Ponta Delgada onde se juntaram apenas dois ingénuos manifestantes do grupo dos bem-intencionados. A manifestação de Lisboa só foi notícia pela fraca adesão e por algumas altercações e agressões quando um grupo de manifestantes mostrou uma faixa atribuindo responsabilidades, pela catástrofe nacional que os incêndios florestais configuram, ao anterior governo.

Imagem retirada da Internet
Da fraca adesão às manifestações convocadas pelas redes sociais não se pode, contudo, concluir que o povo português não é solidário com as mais de 100 vítimas dos incêndios florestais de 2017 e com as populações afetadas, ou que não quer e exige alterações à política florestal, ao ordenamento do território, aos meios e à coordenação para o combate aos incêndios florestais, às alterações à moldura penal em vigor para os incendiários, bem assim como uma investigação policial conclusiva sobre a origem dos incêndios florestais.
O povo português quer tudo isso, mas o povo português também sabe que o grande objetivo das manifestações não era o anunciado pelos promotores e, apesar do isco ter sido muito bem servido pelos agentes do costume, desta vez, o povo português não se deixou engodar. A memória é curta, mas não tão curta assim.
Na manifestação silenciosa de Lisboa ouviram-se algumas “palavras de ordem”, como esta, “Comunas para a fogueira, Comunas para a fogueira”. Não foi um coro da manifestação, foram gritos isolados, gritos que traduzem a verdadeira natureza e objeto da manifestação. O que os mandantes pretendiam, não tenhamos ilusões, era uma grande manifestação popular de protesto ao governo minoritário do PS apoiado, por acordos bilaterais, pela esquerda parlamentar. E como neste processo político, que até tem dado alguns resultados positivos para quem trabalha, o PCP é assim como o garante de que a reposição de direitos e rendimentos é para continuar, então nada como ressuscitar o anticomunismo primário. A coisa não lhes saiu lá muito bem, mas eles não descansam e não faltarão outras táticas e estratégias para alimentar a cruzada anticomunista.
Mas nós cá estaremos para alimentar a fogueira da luta em defesa dos trabalhadores e do povo português, como estamos desde 1921 a arder de fervor revolucionário.

Ponta Delgada, 22 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 23 de Outubro de 2017

domingo, 22 de outubro de 2017

De Lisboa por telefone

Ana Amélia (do arquivo pessoal)
Há minutos atrás num desses quotidianos telefonemas com a minha filha mais velha falámos, como é hábito, de vários assuntos. 
As novas edições de Philip Roth, de quem somos fiéis leitores, mas também a edição de “Isso Não Pode Acontecer Aqui” de Sinclair Lewis escrito em 1935, já depois da atribuição do Nobel da Literatura (1930) e sobre o qual Vamberto Freitas escreveu em 2014, muito antes da sua edição em Portugal e sobre o qual a editora fez tábua rasa.
Também conversámos sobre os incêndios que flagelaram o nosso país e das alterações climáticas. Nos próximos dias é esperado um inusual, para a época, aumento da temperatura do ar no continente.
E, já para o fim da conversa divergimos para algumas questões, diria, acessórias a que só me refiro porque terminaram com uma gargalhada que quero partilhar convosco, se é que o riso se vai soltar quando chegarem ao fim do penúltimo parágrafo. As reações, como sabemos, são diversas perante a mesma situação. Convosco não tenho mesma cumplicidade que naturalmente tenho com os meus 3 filhos, e como não sou, nem tenho pretensões de vir a ser um humorista, é bem possível que não achem piada nenhuma e nem sequer um sorriso lhes aflore aos lábios.
Sabes, dizia eu à Ana Amélia, a Madonna disse, através do Instagram, que a vida dela em Lisboa estava a ser como a de uma freira, sabendo-se que a realidade é bem diversa da que anunciou naquela rede social. 
Mas isto apenas serviu de mote para eu lhe dizer que com tantas estrelas em Lisboa já nem me apetece ir até à capital e muito menos pensar em mudar-me para lá. Ao que ela respondeu, Pois é pai, depois cruzas-te com o Éric Cantona, na Lapa, com a Monica Bellucci, no Castelo, com o Michael Fassbender, em Alfama e com a Madonna em todo o lado, like a virgin, o que pode ser uma chatice.
E terminámos a conversa tendo eu ficado a pensar que outros nomes mediatizados pelo cinema, ou outras artes, têm escolhido a capital portuguesa para viver como, de entre outros, John Malkovich que desta nova vaga, de estrelas, terá sido o pioneiro.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 22 de Outubro de 2017

... nem silenciosa, nem apolítica

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires







Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como não podia deixar de ser, também aqui no momentos








(...) Às esperadas grandes manifestações do passado sábado juntaram-se algumas pessoas bem-intencionadas e uns tantos acólitos e partidários da direita e da extrema direita, em algumas cidades nem os promotores chegaram a comparecer, como foi o caso de Ponta Delgada onde se juntaram apenas dois ingénuos manifestantes do grupo dos bem-intencionados. A manifestação de Lisboa só foi notícia pela fraca adesão e por algumas altercações e agressões quando um grupo de manifestantes mostrou uma faixa atribuindo responsabilidades, pela catástrofe nacional que os incêndios florestais configuram, ao anterior governo. (...)

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Público ou privado, O caso BCA

Imagem retirada da internet
A opinião divergente é salutar quando os argumentos são devidamente fundamentados, se assim não for nem sequer vale a pena o diálogo. Quando esbarramos com opinião ancorada nos lugares comuns, na ignorância, ou alicerçada em argumentação regurgitada tendo como base a opinião dominante, mas fabricada por agressivas e prolongadas campanhas de intoxicação. Não vale a pena, mas lamento. Lamento constatar que um tão grande número de cidadãos, alguns até com formação superior e, quase todos, beneficiários da ascensão social e económica que resultou daquilo que hoje tanto abominam, não sejam capazes de discernir o que é o interesse público e o que é manipulação a favor de um modelo ideológico e económico que está na origem das crises do capitalismo. Crise que os afeta(ou), como me afeta(ou) a mim e como afeta(ou) quase todos, dizem até que os afetados por tão virtuoso modelo ideológico e económico são 99% da população mundial, não sei. Mas, mais coisa menos coisa, talvez sejam os tais 99%.
Vou socorrer-me apenas de um exemplo bem conhecido do povo açoriano como um contributo para a reflexão sobre as virtualidades das privatizações e da gestão privada.
Ao contrário do que por aí, recentemente, vi afirmado em defesa da privatização das empresas públicas, o Banco Comercial dos Açores (BCA) não foi privatizado para injetar capital na EDA, nem na SATA. A eventual transferência de receitas públicas obtidas pela privatização de empresas públicas para o setor empresarial público (regional ou nacional) é uma decorrência da lei. Depois do BCA veio a EDA, ainda que parcialmente. No horizonte próximo e na agenda política está a privatização parcial da SATA, bem assim como outras empresas do Setor Público Empresarial Regional.
O BCA foi privatizado, na década de 90, por opção política dos chamados partidos do arco do poder, apenas isso. Foi privatizado porque sim. Podia até fazer o enquadramento histórico e político que está na origem da opção de privatizar tudo o que é público, que no nosso país, como é habitual, demorou mais tempo do que noutros países europeus, mas dispenso-me disso, aliás o processo continua em curso, como está bom de ver.
Com a privatização do BCA a região perdeu. Perdeu o instrumento financeiro, fala-se agora por aí na necessidade de criar um banco regional, o que diz bem da falta que o BCA fez (faz) à Região, mas perdeu também uma fonte de receita. O BCA não era deficitário.
Enquanto se manteve como entidade própria o BANIF Açores (ex BCA), ainda contribuía com alguns impostos para a receita da Região, mas foi sol de pouca dura pois a opção do grupo BANIF foi de acabar com o esse apêndice e absorvê-lo. O que teve como significado que os impostos cobrados deixaram de ser receita da Região.

Imagem retirada da internet
Quanto às virtualidades da gestão privada fica apenas uma pergunta. O que é feito do BANIF e porquê. Afinal são duas as perguntas, E os lesados do BANIF, foram vítimas de quem, da gestão pública ou, da gestão privada.
Tenho consciência que para as novas gerações que não conheceram o BCA esta é uma questão que pouco lhes diz, por outro lado o pensamento dominante tem vindo a inculcar a ideia que o Estado deve ser reduzido ao mínimo possível, o que dificulta que outros posicionamentos em defesa da intervenção do Estado, designadamente, no controlo da Banca, que só é nacional/regional se for pública, tenham imensas dificuldades em ser aceites. Tendo disso profunda consciência, tenho também a obrigação cívica e política de trazer para a reflexão pública factos como o que, ainda que sumariamente, vos refiro neste texto.   
Ponta Delgada, 17 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 18 de Outubro de 2017

terça-feira, 17 de outubro de 2017

... contra a maré

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires





Fragmento de texto a publicar na imprensa regional e aqui, no momentos






(...) O BCA foi privatizado, na década de 90, por opção política dos chamados partidos do arco do poder, apenas isso. Foi privatizado porque sim. Podia até fazer o enquadramento histórico e político que está na origem da opção de privatizar tudo o que é público, que no nosso país, como é habitual, demorou mais tempo do que noutros países europeus, mas dispenso-me disso, aliás o processo continua em curso, como está bom de ver.
Com a privatização do BCA a região perdeu. Perdeu o instrumento financeiro, fala-se agora por aí na necessidade de criar um banco regional, o que diz bem da falta que o BCA fez (faz) à Região, mas perdeu também uma fonte de receita. O BCA não era deficitário.
Enquanto se manteve como entidade própria o BANIF Açores (ex BCA), ainda contribuía com alguns impostos para a receita da Região, mas foi sol de pouca dura pois a opção do grupo BANIF foi de acabar com o esse apêndice e absorvê-lo. O que teve como significado que os impostos cobrados deixaram de ser receita da Região. (...)

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Opções, prioridades e ideologia

Foto by Madalena Pires
A solução política governativa adotada em 2015 à qual o PCP abriu caminho, sim foi o PCP, é um facto, tem permitido, ainda que, a um ritmo aquém do desejável e possível, a recuperação de direitos e rendimentos que foram subtraídos aos portugueses por opções políticas que, tendo atingido contornos de terrorismo social durante o governo do PSD e do CDS/PP, não foram mais do que a continuidade e aprofundamento das opções políticas de anteriores governos liderados pelo PS. Opções políticas sustentadas numa matriz ideológica que, não sendo nova, renasceu e transfigurou-se no último quartel do século XX.
Ideológica sim, não tenhamos ilusões estas são opções políticas e ideológicas e, como tal, combatem qualquer alternativa política que esteja ancorada noutras ideologias. Nem a história nem as ideologias têm fim por decreto ou, por vontade dos ideólogos da teologia do mercado. Enquanto coexistir acumulação imoral de riqueza e seres humanos a morrer de fome ou porque não têm acesso a um bem tão elementar como a água potável haverá lugar à luta de classes. Luta ancorada pela ideologia a que o poder, o verdadeiro poder, e os seus acólitos gostariam de ver varrida das consciências de quem se indigna com as injustiças.
Em apenas dois escassos anos os indicadores sociais e económicos em Portugal alteraram-se positivamente e demonstram a falência das opções políticas e económicas constantes da cartilha do diretório político e financeiro da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional e outros quejandos. Ainda assim ouço da boca de muitos concidadãos que talvez estejamos a ir muito depressa e que com as medidas de reposição de direitos e rendimento podemos entrar, de novo, numa nova crise. E quem o diz são mesmo alguns dos beneficiários desta rutura com as politicas de austeridade, ou se preferirem as vítimas das políticas que reduziram rendimentos, aumentaram o desemprego e a precariedade laboral e os tempos de trabalho não renumerado, prorrogaram a idade da aposentação, diminuíram as pensões de reforma, tudo isso para que no setor financeiro fossem injetados milhares de milhões de euros. Dinheiro público, dinheiro nosso, para tapar os imensos buracos criados pela tão querida gestão privada da banca. A minha resposta é invariavelmente a de que os recursos financeiros existem. Existem e é possível continuar a repor direitos e rendimentos, trata-se de uma questão de opções políticas e, lá está de opções ideológicas.


Mas não é fácil contrariar esta opinião formada pelo contínuo metralhar dos comentadores e analistas com assento nos órgãos de comunicação social, sejam eles públicos ou privados, que mais não fazem do que papaguear velhas receitas com uma roupagem de modernidade.
A propósito de modernidade e de avanços civilizacionais a Assembleia da República aprovou, na passada semana, legislação que permite a entrada de animais de companhia nos restaurantes.
Legitimamente gerou-se uma onda de apoio a esta medida. Que sim e mais que também pois, em muitos países europeus já assim acontece. Tudo bem, mas nos países europeus onde isso já está em vigor há alguns anos o salário mínimo deve ser bastante superior ao salário mínimo em Portugal. É tudo uma questão de prioridades dos legisladores e, sobretudo, uma questão de centrar ou descentrar a atenção dos cidadãos sobre o que deve ser, ou não, prioritário na discussão nos espaços públicos.
Sobre o bem-estar animal e a proteção dos animais estou à vontade, tenho até património político pois, enquanto deputado eleito pelo PCP na última legislatura fui autor de legislação sobre a matéria. Legislação que a maioria e a direita parlamentar desvirtuaram com algumas alterações à proposta inicial.

Foto by Madalena Pires
Sobre a biodiversidade e a conservação da natureza tenho igualmente património político, mas não me fiquei por aí. Nas prioridades do partido que parlamentarmente representava havia outras preocupações, como por exemplo o aumento do rendimento dos trabalhadores do setor público e do setor privado, bem assim como dos complementos regionais de pensão e abono de família. Sistematicamente chumbados pela maioria parlamentar, em alguns casos acompanhada pela direita com assento na ALRAA, ou seja, nunca perdi o sentido daquela que deveria ser a minha grande prioridade, as pessoas. Quanto maior for a qualidade de vida dos meus concidadãos maior será a consciência ambiental e maiores serão as preocupações com o bem-estar animal.
A Assembleia da República aprovou uma lei que permite a entrada de animais de estimação nos restaurantes. O mesmo parlamento, mas não os mesmos deputados, chumbou uma proposta, do PCP, de aumento do salário mínimo para 600 euros a partir de Janeiro de 2018. Qual das duas medidas representará um maior avanço civilizacional e nos aproximará mais dos nossos parceiros europeus. Pois é, São as prioridades e a tais ideologias.
Ponta Delgada, 15 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 16 de Outubro de 2017

Sem prevenção não há remedeio que nos valha

Imagem retirada da internet
Incrédulo, triste, desapontado, revoltado, indignado. Estamos em Outubro e o país, o nosso país, está a arder. 
Não sei se foi o pior dia do ano, sei que não devia acontecer, nem este nem outro dia de incêndios, melhor ou pior que o dia 15 de Outubro. Nem isso interessa, não é relevante. Não podia, não devia acontecer. Não pode voltar a acontecer.
As condições meteorológicas são adversas, sem dúvida. Estamos num ano de seca, certamente, mas a dimensão dos incêndios não se deve apenas e só a esses fatores.
A prevenção, a vigilância e o ordenamento do território são determinante para evitar outros  infernos como o deste dia de Outono, são determinantes para que a dimensão catastrófica dos incêndios florestais seja reduzida. Se isto for feito evitam-se muitos incêndios e o seu combate será muito mais eficaz, os custos reduzidos. Nunca o dito popular “mais vale prevenir do que remediar” fez tanto sentido.

imagem retirada da internet
Não se pode deixar tudo na mesma. 
Já basta de tanta morte, já basta de tanto sofrimento, já basta de tanta imagem terceiro mundista, já basta de SIRESP.
Já basta.
Já basta e não é aceitável que durante os próximos meses não se tomem as medidas necessárias para que o país não seja consumido pelas chamas da incúria, da inércia e da satisfação dos interesses do mercado, porque também é disso que se trata.
Revoltem-se porra.


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 16 de outubro de 2017

domingo, 15 de outubro de 2017

... das prioridades

Foto by Madalena Pires











Excerto de texto a publicar na imprensa regional e no "momentos"













(...) A propósito de modernidade e de avanços civilizacionais a Assembleia da República aprovou, na passada semana, legislação que permite a entrada de animais de companhia nos restaurantes. Legitimamente gerou-se uma onda de apoio a esta medida. Que sim e mais que também pois, em muitos países europeus já assim acontece. Tudo bem, mas nos países europeus onde isso já está em vigor há alguns anos o salário mínimo deve ser bastante superior ao salário mínimo em Portugal. É tudo uma questão de prioridades dos legisladores e, sobretudo, uma questão de centrar ou descentrar a atenção dos cidadãos sobre o que deve ser, ou não,  prioritário na discussão nos espaços públicos. (...)

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A poesia e a condição de ilhéu

Ponta Delgada vai ser esta semana a “Cidade dos Poetas”, sendo ela, a cidade, berço de nomes como Antero de Quental e Natália Correia. Não, não me esqueci de outros poetas que aqui nasceram, aqui viveram ou aqui vivem, mas Antero e Natália são nomes que vão para lá desta cidade, destas ilhas, deste país e, como não quero, sobre este assunto, dar o mote para promover polémicas estéreis apenas referenciei dois nomes maiores da poesia, do pensamento e da cultura portuguesa. Nasceram em Ponta Delgada (concelho), mas a sua dimensão vai muita para lá da cidade e da ilha onde nasceram.
O I Encontro Internacional de Poesia – A condição de Ilhéu vai reunir de 12 a 14 de Outubro, em Ponta Delgada, poetas ilhéus. Açores, Madeira, Canárias, Cabo Verde e Itália vão estar representados neste encontro de celebração da poesia que podendo não ser de temática insular, tem em comum a condição de ilhéu dos seus autores.
O encontro é precedido, e bem, pela inauguração da Exposição de Pintura da Macaronésia, no dia 11, na Academia de Artes de Ponta Delgada. O programa do encontro é conhecido, mas não posso deixar de referenciar o lançamento, logo no primeiro dia, do livro “nove”, das Edições Letras Lavadas, que reúne uma coletânea de poemas de autores das nove ilhas dos Açores dando assim a justa dimensão regional ao I Encontro Internacional de Poesia – a condição de ilhéu. Daniel Gonçalves (Santa Maria), Emanuel Jorge Botelho (São Miguel), Álamo Oliveira (Terceira), Victor Rui Dores (Graciosa), Norberto Ávila (São Jorge), Urbano Bettencourt (Pico), Ângela Almeida (Faial), Gabriela Silva (Flores) e Palmira Jorge (Corvo), são os poetas representados nesta coletânea de poesia.
Painéis de debate, encontro dos poetas com alunos do ensino secundário, recitais de poesia e alguns apontamentos musicais fazem antever um final de semana a não perder por quem gosta de poesia. Desde logo para quem a escreve, mas sobretudo para quem a lê no sossego da sua intimidade e viaja e sonha com ela ou, para quem a promove em tertúlias, encontros e recitais. Será o público que dará a necessária dimensão ao I Encontro Internacional de Poesia e com a sua presença uma contribuição imprescindível para o seu sucesso pois, um dos objetivos desta iniciativa é possibilitar ao público o encontro com os autores e a promoção da leitura de textos poéticos. Não é fácil, mas se o fosse dispensavam-se estas iniciativas.

Foto By Aníbal C. Pires
Se atendermos apenas à temática proposta e ao encontro de poetas que têm em comum a condição de ilhéus, por nascimento ou por opção, diria que, só por esse facto a iniciativa, anunciada aquando da “Festa do Livro”, a meados de Julho de 2017, já merece ser aplaudida.
A realização desta iniciativa cultural vai, certamente, provocar algumas reações negativas, afinal com tantas outras coisas importantes para fazer para que raio vai uma cidade promover a poesia. A cultura não gera riqueza, não há quem a leia e as editoras não estão disponíveis para promover nem a poesia, nem os poetas. Por isso mesmo este encontro deve merecer o nosso aplauso e sobretudo uma grande adesão dos amantes da poesia.
José Marti, também ele um ilhéu, dizia: “Uma pitada de poesia é suficiente para perfumar um século inteiro”.
Ponta Delgada, 09 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 11 de Outubro de 2017

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

... da condição de ilhéu, O encontro

Foto by Aníbal C. Pires





Fragmento de texto a publicar na imprensa regional e também no blogue momentos. Sim, este mesmo





(...) Painéis de debate, encontro dos poetas com alunos do ensino secundário, recitais de poesia e alguns apontamentos musicais fazem antever um final de semana a não perder por quem gosta de poesia. Desde logo para quem a escreve, mas sobretudo para quem a lê no sossego da sua intimidade e viaja e sonha com ela ou, para quem a promove em tertúlias, encontros e recitais. Será o público que dará a necessária dimensão ao I Encontro Internacional de Poesia e com a sua presença uma contribuição imprescindível para o seu sucesso pois, um dos objetivos desta iniciativa é possibilitar ao público o encontro com os autores e a promoção da leitura de textos poéticos. Não é fácil, mas se o fosse dispensavam-se estas iniciativas. (...)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Prémios APPLA 2017

Foto by Aníbal C. Pires
A Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA), promoveu no passado dia 7 de Outubro, em Ponta Delgada, a entrega dos prémios APPLA 2017.
O prémio “Carlos Bleck” 2017, como tinha sido anunciado em 2015 durante a entrega dos prémios APPLA desse ano, foi entregue ao Comandante Francisco da Encarnação Afonso, personalidade que os açorianos de várias gerações, mesmo sem o conhecerem pessoalmente, admiram e respeitam pelas suas competências enquanto piloto, mas também pelas suas qualidades humanas. A carreira militar e civil do Comandante Afonso acompanhou a história da aviação em Portugal, tendo sido um dos pioneiros e protagonistas da evolução que, na segunda metade do século XX, se assistiu no transporte aéreo comercial, em particular, nos Açores.
Não tenho memória se cheguei a viajar na SATA Air Açores com o Comandante Francisco Afonso aos comandos de uma aeronave, mas sempre ouvi o seu nome como uma referência enquanto piloto e personalidade e, como eu a generalidade dos açorianos de todas as ilhas. Podíamos até nunca ter voado com ele, podíamos até não o conhecer pessoalmente, mas habituámo-nos a respeitar e admirar aquele Comandante da SATA.
Só o conheci e cultivei com ele um relacionamento de amizade já depois da sua aposentação. Cheguei ao seu conhecimento por via da Ana Rita, filha do Comandante Afonso, de quem sou colega de profissão e amigo de longa data. Privar com o Comandante Francisco Afonso é um privilégio, conversar com ele um prazer.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada prestou-lhe uma justa homenagem, a Região um justo reconhecimento com a atribuição de uma insígnia honorífica, agora foi chegada a hora dos seus pares lhe reconhecerem a brilhante carreira.
Com a atribuição do Prémio “Carlos Bleck” foi lançado o livro “Voando… a unir o que o mar separa”, de Ermelindo Peixoto, que para além de descrever o percurso de Francisco Afonso na aviação militar e comercial constitui, também, um importante contributo para a história da aviação em Portugal e, em particular, da Região Autónoma dos Açores. Grande parte do percurso profissional do Comandante Francisco Afonso foi feito ao serviço da SATA e, por vezes, a história deste piloto confunde-se com história da transportadora aérea regional. “Voando… a unir o que o mar separa” é, também, uma parte da história da SATA e de todos os seus trabalhadores, e que o Comandante Afonso destacou na intervenção de agradecimento que proferiu após ter recebido o prémio “Carlos Bleck”.






O Comandante Francisco Afonso trouxe para a Região e para a SATA uma merecida distinção com o reconhecimento que os seus pares lhe conferiram com a atribuição do Prémio “Carlos Bleck”.
Não posso deixar de referenciar mais alguns dos agraciados pela APPLA em 2017 pela importância que a atribuição desses prémios tem, desde logo para os distinguidos, mas sobretudo para os Açores.







Ermelindo Peixoto







Professor Ermelindo Peixoto foi agraciado com o prémio APPLA Comunicação. Justo reconhecimento por todo o trabalho publicado sobre a aviação portuguesa.











Carlos Botelho






Carlos Botelho representante da SATA no Canadá e com uma longa carreira ao serviço da aviação comercial foi agraciado com o prémio APLLA Amizade. Quem conhece o Carlos sabe muito bem como esta distinção fica muito bem entregue.








Foto by Aníbal C. Pires




Os pilotos da SATA Air Açores foram agraciados com o prémio APPLA Técnica. O reconhecimento das qualidades destes pilotos que ligam os Açores numa operação aérea que, como todos sabemos, tem caraterísticas e dificuldades muito complexas e que só com a excelência destes profissionais se realiza com os padrões de comodidade e segurança que todos reconhecemos à SATA Air Açores.







A noite dos prémios APPLA 2017 foi dos agraciados, mas a noite dos prémios APPLA 2017 foi, sobretudo, uma noite de celebração dos açorianos e dos Açores.
Ponta Delgada, 08 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 09 de Outubro de 2017

domingo, 8 de outubro de 2017

Leonor Afonso - O limiar

Aguarela de Ana Rita Afonso







No livro editado no âmbito do prémio “Carlos Bleck”, 2017, atribuído ao Comandante Francisco Afonso consta uma singela e sentida homenagem à D. Leonor Afonso, esposa do agraciado.
O tributo à D. Leonor Afonso materializa-se em quatro aguarelas de Ana Rita Afonso (filha) e outros tantos poemas de Aníbal C. Pires (amigo). São quatro momentos marcantes na vida e na história deste casal. Este registo é o primeiro desses quatro momentos.









O limiar

A menina mulher
Que um dia se encantou
Pelo galante jovem
Forjado nas penedias
Que enlaçam o Douro
Abraçou o sonho
Foi transmontana,
Timorense, guineense
E açoriana
Foi Amor, é Mulher

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 09 de Dezembro de 2016

... a unir o que o mar separa

Foto by Aníbal C. Pires








Fragmento de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual, também aqui neste espaço.







(...) Com a atribuição do Prémio “Carlos Bleck” foi lançado o livro “Voando… a unir o que o mar separa”, de Ermelindo Peixoto, que para além de descrever o percurso de Francisco Afonso na aviação militar e comercial constitui, também, um importante contributo para a história da aviação em Portugal e, em particular, da Região Autónoma dos Açores. Grande parte do percurso profissional do Comandante Francisco Afonso foi feito ao serviço da SATA e, por vezes, a história deste piloto confunde-se com história da transportadora aérea regional. “Voando… a unir o que o mar separa” é, também, uma parte da história da SATA e de todos os seus trabalhadores, e que o Comandante Afonso destacou na intervenção de agradecimento que proferiu após ter recebido o prémio “Carlos Bleck”. (...)

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Comandante Francisco Afonso – Voar nas asas do sonho


Não tenho memória se cheguei a viajar na SATA Air Açores com o Comandante Francisco Afonso aos comandos da aeronave, mas sempre ouvi o seu nome como uma referência enquanto piloto e personalidade e, como eu a generalidade dos açorianos de todas as ilhas. Podíamos até nunca ter voado com ele, podíamos até não o conhecer pessoalmente, mas habituámo-nos a respeitar e admirar aquele Comandante da SATA.

Foto by Madalena Pires (Furnas, S. Miguel)
Só o conheci e cultivei com ele um relacionamento de amizade já depois da sua aposentação. Cheguei ao seu conhecimento por via da Ana Rita, filha do Comandante Afonso, de quem sou colega de profissão e amigo de longa data. Privar com o Comandante Francisco Afonso é um privilégio, conversar com ele um prazer.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada prestou-lhe uma justa homenagem, a Região um justo reconhecimento com a atribuição de uma insígnia honorífica, agora é chegada a hora dos seus pares lhe reconhecerem a brilhante carreira.
Tinha sido anunciado em 2015 pela Associação de Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA), e vai concretizar-se no dia 7 pf a entrega, ao Comandante Francisco Afonso, do Prémio “Carlos Bleck” na gala de 2017 promovida pela APPLA e que este ano se realiza a dois momentos. Em Ponta Delgada, no dia 7 de Outubro e, no dia 28 de Outubro em Ponte de Sor.
Com a atribuição do Prémio “Carlos Bleck” é lançado o livro “Voando… a unir o que o mar separa”, de Ermelindo Peixoto, que para além de descrever o percurso de Francisco Afonso na aviação militar e comercial constitui, também, um importante contributo para a história da aviação em Portugal e, em particular, da Região Autónoma dos Açores. Grande parte do percurso profissional do Comandante Francisco Afonso foi feito ao serviço da SATA e, por vezes a história deste piloto confunde-se com a própria história da transportadora aérea regional. “Voando… a unir o que o mar separa” é, também, uma parte da história da SATA.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 05 de Outubro de 2017

Dia Mundial do Professor

Imagem retirada da internet





Hoje celebra-se o Dia Mundial do Professor.
Para assinalar este dia recupero um pequeno excerto de um texto que escrevi e publiquei no dia 29 de Agosto pp. Que pode ser lido aqui na íntegra.





(...) Aproximaram-se de nós duas outras jovens que depois percebi estavam com a Cíntia (claro que não é este o seu nome), ao aproximarem-se uma delas perguntou, estupefacta que estava com a forma efusiva com que a colega se tinha dirigido a mim, É o teu pai. Ao que ela responde prontamente. Não este senhor é, O meu professor.
Não é fácil, nada fácil ser professor e o salário não é assim tão bom como se diz. Mas ser professor tem momentos destes. Momentos em que esquecemos tudo o que de menos bom tem esta profissão e dizemos com orgulho, Sou professor e gosto de o ser. (...)

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

… das autárquicas

Foto by Madalena Pires
Alguns analistas políticos e comentadores da nossa e de outras praças têm-se dedicado a lamber, ou se preferirem a adular, as personalidades vencedoras nas últimas autárquicas, como se as mesmas personalidades, no mesmo contexto, mas candidatando-se por forças políticas de menor expressão eleitoral conseguissem obter vitórias eleitorais.
Pode até encontrar-se um ou outra exceção, pode até argumentar-se com as candidaturas de cidadãos eleitores, em que as personalidades se sobrepõem aos partidos ou coligações, como o paradigma de Oeiras, mas essas são as exceções.
Não significa, esta minha opinião, que o cunho pessoal dos candidatos vencedores não tenha acrescentado valor eleitoral à candidatura que protagonizaram, mas não tenham ilusões, minhas senhoras e meus senhores, quem ganhou foi o partido ou coligação que os propôs, outro que fosse e algumas dessas vitórias teriam sido derrotas. Derrotas que, atente-se bem, não seriam derrotas pessoais. As vitórias e as derrotas eleitorais são de quem as apoia e não de quem as protagoniza.
Não se iludam os vencedores e não se martirizem os perdedores.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 04 de Outubro de 2017

Da razão e da emoção

Foto by Aníbal C. Pires
Temos sentimentos que nos alegram ou entristecem e, provocam-nos bem ou mal-estar consoante a sua natureza.
Os sentimentos induzem o pensamento e o comportamento. Por outro lado, as emoções são, segundo alguns pensadores, uma forma radicalizada que os sentimentos podem assumir.
E o que é levado ao extremo pode induzir comportamentos irracionais. Todos temos consciência, uns mais outros menos, de comportamentos ilógicos. Todos, de uma forma mais ou menos intensa, já nos comportámos fora do que seria desejável e benéfico para nós, ou seja, fomos irracionais. A emoção sobrepôs-se a outros fatores que deveriam ter mediado a ação e, por consequência o comportamento.
Não interessa tanto se os outros assim o observaram, embora os outros também devam ser considerados, afinal não vivemos sozinhos mesmo que possamos não ser muito sociáveis ou que, pura e simplesmente, os outros, não nos importem. O que levado ao extremo pode resultar por escolher ficar à margem, optar pela autoexclusão.
Não tenho nada contra os eremitas, até admiro a sua capacidade de viverem sós e afastados, ou pelo menos, reduzindo as suas relações sociais ao essencial, mas não a considero uma decisão razoável para mim, embora passe muito tempo comigo mesmo.
Ir atrás das emoções pode ser caótico. As emoções afastam a racionalidade do comportamento. Racionalidade que sendo, no meu dicionário de sinónimos, calculismo, frieza e insensibilidade, ou mesmo a ausência de sentimentos, não pode, porém, deixar de ser considerada num dos pratos da balança quanto determinamos o que fazer, o que dizer, ou como optar. No outro prato da balança deve estar, sempre, a emoção.

É no justo equilíbrio entre a razão e a emoção que se encontram as melhores decisões, sejam as decisões do momento, sejam as decisões que afetam de forma irreversível o nosso futuro.
As decisões individuais nunca afetam apenas o próprio, por mais irrelevantes que possam ser ou parecer as decisões individuais provocam sempre efeitos que se propagam para lá de quem decide. O melhor exemplo dos efeitos coletivos de uma decisão tomada individualmente é o momento em que estamos a sós nas câmaras de voto, tal como aconteceu no passado Domingo, a decisão estando já construída foi concretizada no isolamento de uma câmara de voto. Sozinhos decidimos pelo futuro próximo da nossa freguesia, do nosso concelho, da nossa região, do nosso país. A decisão individual contribui para que o futuro coletivo seja um e não outro. A vida é feita disso mesmo, de escolhas.
Quanto mais equilibrado, informado e esclarecido for o processo de decisão menos escolhos tem o caminho que daí para a frente vamos percorrer, por outro lado os efeitos que propagamos com a nossa decisão serão, também eles livres de recifes no rumo que cada um de nós tem direito a traçar para si.
Tenham sentimentos e não corram atrás das emoções. Apaixonem-se. Mas amem-se, sobretudo, amem-se.
Ponta Delgada, 03 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 04 de Outubro de 2017

terça-feira, 3 de outubro de 2017

... das opções

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires








Um excerto do texto a publicar na imprensa regional e aqui, neste blogue, como é habitual.









(...) Ir atrás das emoções pode ser caótico. As emoções afastam a racionalidade do comportamento. Racionalidade que sendo, no meu dicionário de sinónimos, calculismo, frieza e insensibilidade, ou mesmo a ausência de sentimentos, não pode, porém, deixar de ser considerada num dos pratos da balança quanto determinamos o que fazer, o que dizer, ou como optar. No outro prato da balança deve estar, sempre, a emoção.
É no justo equilíbrio entre a razão e a emoção que se encontram as melhores decisões, sejam as decisões do momento, sejam as decisões que afetam de forma irreversível o nosso futuro. (...)

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O tempo é bom conselheiro

Foto by Aníbal C. Pires
Os resultados eleitorais são conhecidos e estão, total ou parcialmente digeridos pelos candidatos e pelas forças políticas que representavam. A diversidade dos resultados e os localismos permitem legitimamente leituras de vitória e derrota. Tudo pode ser relativizado, mas sobre resultados eleitorais escreverá quem sabe, Eu não. Pode o leitor continuar a ler que não o vou maçar com qualquer comentário, reflexão ou opinião sobre tão apaixonante assunto. Apaixonante sim, sem qualquer espécie de ironia. Escuso-me de momento a tecer qualquer consideração sobre o assunto que hoje estará nas primeiras páginas. E é exatamente por isso, por estar a ser dissecado por uma profusão de especialistas que o não faço, vamos ouvi-los e lê-los, vamos deixar assentar a poeira e depois, até pode ser que sim, mas o mais provável é que não chegue a vir a terreiro para tecer qualquer consideração sobre o assunto, ou talvez não. A seu tempo virei, sobre isso não tenho grandes dúvidas, a comentar e dar a minha opinião sobre os efeitos dos resultados das autárquicas de 2017 na política nacional.
Alguns leitores estão, com toda a legitimidade, a pensar que esta minha recusa, ou escusa como vos aprouver, tem a ver com os resultados nacionais da força política onde milito que, como sabem, perdeu importantes posições. Também não, mas pensarão os leitores o que muito bem entenderem é um direito que vos assiste, e a mim também e, pensar faz bem. Faz bem e não dói.

Foto by Madalena Pires
Há uns anos atrás, talvez em 2006 ou 2007, o mês era Janeiro e o ano contava já com 6 dias, numa conversa informal com um antigo Secretario Regional dos Governos do PS foi-me perguntada opinião sobre um assunto que ele estava a pensar propor, ao que respondi que ainda não tinha uma opinião acabada sobre o assunto e que precisava de mais algum tempo para a discutir com os meus pares. Necessitava de aprofundar a reflexão, mas que depois teria todo o prazer em lhe transmitir o resultado dessa construção coletiva. O comentário à minha resposta foi imediato, O vosso mal, o mal dos comunistas é que pensam muito, assim nunca irão longe. Face a esta opinião que nem sequer procurei rebater pois, nada do que eu viesse a aduzir em defesa da importância do tempo para refletir, discutir e partilhar opiniões para chegar, desde logo, a uma posição consensual, mas também a um compromisso que melhor pudesse servir, no caso, os interesses de um segmento da população açoriana, iria adiantar a uma ideia preconcebida sobre os comunistas e a uma forma de estar e fazer política que sendo imediatista, tem sucesso. Sucesso eleitoral tem-no e os sucessivos resultados eleitorais assim o demonstram, o sucesso das soluções adotadas é que nem sempre corresponde às expetativas criadas e às que melhor servem os cidadãos a quem se dirigem. Sobre o sucesso de algumas soluções decididas pela pressão do imediatismo tenho algumas dúvidas e muitas certezas, aliás se os leitores atentarem ao tempo que medeia entre este episódio e o presente, passou mais de uma década, posso garantir que o tempo se encarregou de demonstrar que questão que me foi colocada e foi posta em prática foi há muito alterada, mas enquanto esteve em vigor prejudicou centenas, muitas centenas de cidadãos.
Evito, sempre que me é possível, o imediatismo. O tempo, dizem, é bom conselheiro. Acredito que sim.
Ponta Delgada, 01 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 02 de Outubro de 2017