quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Este ano não


Este ano as palavras são estas.
Não estou disponível para continuar a alinhar nesta "festa" do consumismo nem de escrever sobre desejos e votos para o futuro.
Não contem, assim, com as habituais palavras de circunstância.
Os meus dias são todos dedicados à promoção e defesa da justiça social e à globalização do bem estar e de uma vida digna para todos.
Tenham um bom dia e fiquem com um discurso de 1940 que bem podia ser de hoje.

outros Natais

Foto -Aníbal C. Pires






Dezembro de 2008 e um texto ao qual dei o título "Postal de Natal" e do qual extraí este parágrafo para partilhar em véspera de um outro Natal











"(...) é nesse momento que as palavras ganham importância. Por ora não têm importância, são apenas minhas, As palavras, Palavras sem nexo à procura mais de uma lógica que do formalismo linguístico que as ordena e lhes dá sentido e rigor, isto tudo sem deixar, porém, de ter em vista uma ética social e política de intervenção para elas, As palavras. (...)"

utopiar

Foto - Aníbal C. Pires




Ainda não encontrei nada mais apropriado do que este fragmento de um texto, de Dezembro de 2008, para assinalar a data de que toda a gente, por estes dias, tanto fala.







"(...) Creio que, Se quiser eu, se quiseres tu, mesmo que eles não queiram, nós queremos e o nosso querer fará com que, outros creiam que é possível o tal mundo sonhado que eles teimam em adiar mas que eu, mas que tu, mas que nós continuamos a utopiar renovando a vida e a luta por um Mundo Melhor a caminho da globalização do bem-estar e da qualidade de vida. (...)"

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

o trigo do joio

Foto - Jorge Góis







Fragmento de um texto publicado em Outubro de 2008 no contexto pós eleições regionais desse ano.







"(...) Quando afirmo, como é costume, que nem as políticas, nem os seus atores são iguais não o faço de forma gratuita. Uma leitura mais atenta do quotidiano conduzirá, incontornavelmente, a essa conclusão. Há quem sirva o interesse público e há quem dele se sirva.
O tempo e a história se encarregarão de separar o trigo do joio. Uns perdurarão como se de uma obra de arte se tratasse, outros volatilizar-se-ão no discurso populista e demagógico com que seduzem os cidadãos e as cidadãs, outros serão vítimas das suas próprias práticas. E quer uns, quer outros serão reduzidos à sua insignificância quando o povo se decidir a ser livre, a exigir direitos e a recusar esmolas. (...)"

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

viagens

Foto - Aníbal C. Pires





Fragmento de um texto de 2008. Viagem marítima (Corvo/Flores) na lancha "Estrela"







"(...) o dia estava cinzento e, ao que sempre ouvi dizer, naquele profundo canal de águas escuras a vaga parece que nunca mais acaba.
A viagem demorou cerca de 55 mn. O mar não estava mau mas… sentei-me à popa com as duas mãos a procurar a segurança do banco e de um apoio na amurada de estibordo. Nem a água que a quilha da “Estrela” a momentos atirava no ar e vinha cair aos salpicos sobre mim me fizeram levantar, nem desgrudar as mãos do amparo a que me tinha estribado logo no início da viagem.
Ao aproximarmo-nos das Flores a vaga modificou-se pela “abrigada” de terra e aí levantei-me para entrar no Porto das Poças, em Santa Cruz das Flores, com pose de grande marinheiro. (...)

domingo, 20 de dezembro de 2015

a festa e o fastio

Foto - Aníbal C. Pires




Fragmentos de texto escrito e publicado em 2008, onde se reflete sobre o contínuo estado festivo que a nossa contemporaneidade promove.






"(...) A expectativa da aproximação de uma data festiva era, em si mesmo, uma festa. Festa que culminava naquele dia preciso e, depois de um período de acalmia recomeçava a espera de uma nova celebração. Tinha algum encanto, alguma magia. 
Outros tempos. A festa hoje é uma constante do quotidiano. É, direi mesmo, um modo de vida para alguns que procuram na tenda do 'circo' a mesa do pão que em casa escasseia.(...)

"(...) A vulgarização do estado festivo, enfastia. Pessoalmente estou desejoso que a festa acabe e que devolvam os espaços públicos aos cidadãos para quem a vida vai para além do 'circo' ou, se preferirem, para quem a vida pode ser uma festa sem o 'circo'. (...)"

sábado, 19 de dezembro de 2015

cultura é liberdade

Foto - Aníbal C. Pires







Fragmento de texto escrito e publicado em 2008






"(...) Ser professor foi, em tempos, um prazer e esperança mais do que o exercício de uma profissão, ser professor é, era, deveria ser, caminhar pela vida de mãos dadas com a liberdade que só o conhecimento e a cultura conferem e, mormente, dotar os jovens aprendizes de cidadão dos instrumentos que lhes permitam libertar-se do espectro da eterna canga da servidão e da dominação. (...)"

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

da saudade e do "Divino"

Foto - Aníbal C. Pires





Fragmento de texto escrito em Maio de 2008






(...) Regressei às ilhas afortunadas, a um dos seus mais belos rincões num tempo em que nestas ilhas, que tu gostando por vezes desgostavas, pela distância, pela ausência e pela saudade de nós, se celebra a partilha, a solidariedade e o espírito comunitário numa construção coletiva, recriada, reconstruída, em cada lugar, em cada freguesia, em cada ilha, onde um povo moldado pela severidade da natureza que tantas vezes o empurrou para lá do horizonte, continua, aqui nestas ilhas tantas vezes esquecidas, lutando estoicamente pelo futuro. (...)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

espaço de liberdade

Foto - Aníbal C. Pires sobre estudos a aguarela de Ana Rita Afonso





Fragmento de um texto escrito em Novembro de 2007 a propósito da exposição de arte contemporânea, SINAIS, promovida pela Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento (FLAD), em Ponta Delgada.





"(...) A arte contemporânea mais do que a contemplação do “belo”, de leitura simples e quase imediata da arte figurativa, possibilita viagens pelo imaginário individual na procura interpretativa do que se observa e sente, mais do que a procura do que o criador quis transmitir ou sentiu, embora, os dois percursos não sejam, de todo, indissociáveis. Esta será, porventura, uma das maiores virtualidades da arte contemporânea. Um espaço de liberdade para produzir e criar sem formatações nem preconceitos, espaço de liberdade para interpretar, fruir e sentir viajando na utopia do ver para além do que é alegórico. (...)"

da juventude

Foto - Madalena Pires






Fragmento de um texto escrito em 2008 e baseado numa conversa ao fim de tarde num espaço comercial da marginal de Ponta Delgada.





"(...)
- Então, meninas, o que querem ser quando forem grandes?
- Boa! Respondeu prontamente uma delas enquanto a outra soltava uma saudável gargalhada.
- Como!? Retorqui, atónito com a resposta
- Boa pergunta. Disse a jovem, esclarecendo.
- Ah! Percebo. Ainda não tomastes decisões para o futuro.
- Sim! É isso. Confirmou a Ana, já com a face levemente rosada.
 - Eu quero fazer medicina. Disse a bem disposta Maria, rindo ainda da pronta mas inusitada resposta da colega.
Depois deste breve diálogo, sobre o qual ainda se produziram algumas gargalhadas face à insólita e espontânea mas incompleta resposta, fiquei a reflectir sobre as expectativas e dificuldades desta geração. 
Geração nada e criada num tempo de exacerbada competitividade e com referências algo desvirtuadas por estereótipos de sucesso construído em imagens dum Mundo, em que o êxito está associado à capacidade de consumo, aos corpos esbeltos, ao parecer, ao ter, E onde mais do que ser, é importante possuir e, sobretudo, induzir sugestões de pertença ao Mundo dos individualmente bem-sucedidos. (...)"

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

ver o Sol chegar

Foto - Aníbal C. Pires





É mais um fragmento de um texto de 2007 que aborda, ainda que de forma metafórica, a generalização de vias diferenciadas de ensino na escola pública.









"(...) É nesta cidade com portas e mar apelidada de feliz mas igual a tantas outras deste país adiado. É do seu bojo, do bojo das cidades, do centro e da periferia, que emergem estes meninos sem condição para quem a Escola, esta Escola, que sendo pública e para todos é, cada vez mais, só para alguns e, a cada dia que passa, menos democrática. 
Estes meninos sem condição que hoje chegam à Escola nas cidades deste país, tenham, ou não, portas e mar, são os filhos dos filhos dos meninos que um dia depositaram a esperança, nos versos de denúncia das injustiças e das desigualdades sociais, contida no poema de José Afonso, e que numa madrugada de cravos florida foram correndo, ver o sol chegar. (...)"

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

de presidente em presidente

Foto - Madalena Pires

Quando em 2007 o Governo Regional substituiu, na Presidência do Conselho de Administração da SATA, o Eng. António Cansado pelo Doutor Gomes de Menezes escrevi, a esse propósito, um texto onde, de entre outros assuntos, abordava essa decisão do Governo Regional
O fragmento que abaixo publico foi retirado desse texto e, diria que, no fundo, o poderia ter escrito agora a propósito da saída do Dr. Luís Parreirão e da entrada do Eng. Paulo Menezes.





"(...) Sem nenhum desprimor, quer para um, quer para outro, mas a verdade é que para os cidadãos e para a economia regional o importante não é tanto saber quem é o Presidente do Conselho de Administração da SATA. Importante mesmo é saber se alguma coisa vai mudar na política de transportes aéreos dentro e para o exterior da Região. E que mudanças se vão verificar na cultura do grupo. Isso sim é verdadeiramente importante. (...)"

singular

Foto - Madalena Pires






Fragmento de texto publicado em 2007








"(...) e só esta pesada herança da qual ainda não nos libertámos e nos torna tão submissos, tão dependentes, permite a destruição da riqueza patrimonial que fazem destas ínsulas um lugar. Isso mesmo, um lugar. No sentido de único. Um lugar que não se confunde com qualquer outro. (...)" 

sábado, 12 de dezembro de 2015

Revoltado

Uma foto da ilha de S. Miguel ao entardecer e uma pequena frase escrita pelo jovem que a publicou.
Parcas foram as palavras mas profundo e relevante é o seu significado.
Nasceu nestas ilhas do Atlântico Norte. Não foi por vontade própria que se ausentou, e isso transparece da pequena frase que acompanha a imagem. E se os motivos que o levam a afirmar, “De onde quero fugir (…) ” não são compreensíveis, para quem não lhe conhece a estória recente, já o amor à sua ilha e à sua Região estão bem patentes nas restantes palavras que escreve, “(…) é, ao mesmo tempo, para onde eu quero ir”.
Um entre tantos outros jovens açorianos que partem querendo ficar. E os Açores ficam mais pobres por cada filho seu que parte.

Aníbal C. Pires, Horta, 12 de Dezembro de 2015

da uniformidade dos costumes e dos lugares






Fragmento de texto escrito e publicado em 2007






"(...) A iluminação artificial, os anúncios a colorir a noite e se relativizarmos o fluxo do tráfico viário, àquela hora menos intenso, diria que sim, Sim tem de facto alguma semelhança. Daí até ser “fixe”, entendendo “fixe” como qualitativamente bom. Tenho, obviamente, algumas dúvidas. Dúvidas porquanto esta semelhança é sinónimo de descaracterização. As soluções encontradas enquadram-se em paradigmas de uniformidade. E isso a meu a ver não é “fixe”. (...)"

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SATA - factos ou maledicências

Foto - Aníbal C. Pires
Cidadãos supostamente bem informados dizem-me de amiúde que eu estou sempre a criticar a SATA, que “digo mal” da SATA. Tenho muita intervenção escrita e publicada sobre a SATA, é verdade. Mas deixo o desafio para encontrarem intervenções ou textos publicados em que critico ou “digo mal” da SATA. Se alguém se der ao trabalho de pesquisar vai constatar que afinal não é bem assim, a não ser que considerem que quando questiono a estratégia da tutela ou a atuação do Conselho de Administração para as diferentes empresas do Grupo SATA, isso seja sinónimo de uma crítica gratuita ou do popular “dizer mal”. Quem aceitar o desafio irá atestar que a generalidade do que tenho dito e escrito sobre o Grupo SATA é, bem pelo contrário, em sua defesa, dos seus trabalhadores e da sua importância estratégica para os Açores. Discordar não é “dizer mal”. Discordar é, no essencial, tecer considerações sobre o que, em minha opinião, não está bem e pode e deve ser melhorado, sempre tendo no horizonte, não apenas a sua sobrevivência num mercado agressivo e híper competitivo, mas o seu crescimento e o contributo que pode dar para canalizar fluxos de pessoas, a economia regional delas necessita para alimentar a indústria do turismo, mas também de fluxos financeiros. Tudo isto foi possível, tudo isto pode ser possível, assim o queira a tutela e assim o execute o Conselho de Administração pois quanto à generalidade dos trabalhadores do Grupo SATA, tenho a certeza, que assim o desejam. Não conheço trabalhador do Grupo SATA que não esteja de acordo com uma estratégia de crescimento e a consolidação da SATA como empresa pública regional de transportes aéreos que ocupe o seu lugar no mercado nacional e internacional, que não se identifique com a premissa de que a SATA é um instrumento estratégico para o desenvolvimento regional e com a necessidade da sua afirmação no mercado nacional e internacional dos transportes aéreos.
Foto - João Pires
Afirmar que dentro do Grupo SATA está instalado um clima de medo e de intimidação não é “dizer mal” da SATA é a constatação de que o Conselho de Administração e os pequenos poderes intermédios instalados promovem uma cultura persecutória aos trabalhadores do Grupo SATA. E isto é um facto.
Afirmar que a SATA necessita adequar a frota para a operação de ligação a Lisboa a partir do Pico e do Faial, não é dizer mal, é procurar as respostas para ultrapassar as dificuldades dos condicionalismos operacionais dos aeroportos do Faial e do Pico, para diminuir os custos da operação, para melhorar a oferta, diminuir o custo da passagem para valores inferiores a 134,00 euros e tornar a operação rentável ao longo de todo ano. É possível sim. E quando for necessário aí estarei para o demonstrar.
Afirmar que a estratégia de redução da operação da Sata Internacional contribuiu para o descalabro financeiro do Grupo SATA, não é dizer mal, é constatar que o desequilíbrio operacional na SATA Internacional em 2013, ao contrário do verificado em anos anteriores, se deve que facto de que o valor libertado pelas rotas que historicamente geram valor não foi suficiente para compensar as rotas com margens historicamente negativas. E isto é um facto.
Afirmar que o plano estratégico 2015/2020 é, por um lado, redutor ao limitar o core business do grupo e, por outro, inexequível face à sua calendarização, não é dizer mal, é uma constatação de facto. As datas previstas para o phase in/phase out da substituição da frota não foram cumpridas e a ligação Açores/Cabo Verde/Açores está em banho-maria. E isto são factos.
Foto - Aníbal C. Pires
Afirmar que o Grupo não se preparou para o novo paradigma de transportes aéreos que foi introduzido na Região, não é dizer mal, é a constatação de que a SATA foi incapaz de se preparar para responder ao previsível aumento da procura. Dias houve, no Verão IATA, em que dos voos programados pela SATA Internacional mais de 45% foram realizados com recurso a ACMI, antes do Verão IATA a SATA Internacional reduziu frota de 8 para 6 aeronaves (menos um 320 e menos um 310), ou da dificuldade sentida pelos residentes em encontrarem lugares disponíveis para viajar dentro da Região. E se não é aconselhável a competição, pela tarifa praticada, com as low-cost, não deixa de ser incompreensível a diminuição da oferta da SATA Internacional em Ponta Delgada. E isto são factos.
Afirmar que ser Presidente da Associação de Turismo dos Açores (ATA) e administrador para a área comercial do Grupo SATA é, neste contexto de mercado aberto, incompatível, não é dizer mal da SATA, é uma constatação. Ou se vende para o Grupo SATA e se promove a empresa, ou se vende e promove a concorrência.
Recrutar personalidades externas para presidir ao Conselho de Administração (CA) quando dentro do CA existem quadros capazes de assumir essa função, não é dizer mal, é constatar um facto, o mesmo se poderá dizer quando se recrutam personalidades externas para chefiar Direções de Serviços quando dentro do Grupo SATA existem quadros superiores com potencial e know how para assumir essas funções, isto não é “dizer mal”, é um facto.
Por mais que isto incomode dentro e fora do Grupo SATA continuarei a opinar sempre que julgue necessário e se justifique.
Horta, 07 de Dezembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 10 de Dezembro de 2015

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

da diversidade

Foto - Aníbal C. Pires






Fragmento de texto escrito e publicado em Dezembro de 2004









"(...) É tempo de nos rebelarmos, por nós e pelos nossos filhos, e procurar um novo rumo para a barca da vida. Vida que queremos digna e justa no respeito e tolerância pela diversidade cultural deste planeta que tem, naturalmente, múltiplas vozes e onde qualquer tentativa de impor uma única, mais tarde ou mais cedo, fracassará. (...)"

da esperança

Foto - Aníbal C. Pires





Fragmento de texto escrito e publicado em Maio de 2007







"(...) Vale a pena lutar mesmo quando a esperança parece que já não vale a pena. É na luta que a esperança renasce e, renascendo já valeu a pena. (...)"

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

e renasce

Foto - Aníbal C. Pires







Fragmento de texto escrito e publicado em Dezembro de 2006










"(...) E, a utopia perdura e renova-se a cada acto de injustiça, a cada mentira embrulhada em armas de destruição maciça, a cada fábrica que encerra, a cada anúncio dos lucros da banca, a cada comunicação da taxa de desemprego, a cada novo sem abrigo, a cada criança que é traficada e escravizada, a cada acto de agressão à dignidade humana. (...)"

Escolhas

Foto - Madalena Pires






Fragmento de texto escrito e publicado em Março de 2006.







"(...) A vida singular e coletiva é construída, a cada passo, por escolhas. As nossas opções pessoais e coletivas determinam, se não totalmente pelo menos em grande parte, o nosso futuro enquanto indivíduos. Ou seja, quando decidimos ir “por ali” em vez de ir “por aqui” ou “por acolá” estamos a escolher o que queremos para nós dali para a frente. (...)"

Não forma, formata

Foto - Aníbal C. Pires
Ando já há algum tempo a matutar na ideia que a evolução social e civilizacional não foi tão longe quanto julgava, mas não só. Mesmo o que ajuizava ser um acervo consolidado da humanidade, afinal tem pés de barro. Avaliei mal. Não evoluímos socialmente tanto quanto me parecia, continuamos a comportarmo-nos como aquilo que afinal somos, animais. Animais cuja evolução que decorre do conhecimento, da ciência e da tecnologia nos está a encaminhar para um triste fim. As declarações de princípios subscritas e aplaudidas nas instâncias internacionais, pela generalidade dos países do Mundo, não passam de meras e bonitas declarações de circunstância para protelar a necessária rutura com um modelo de desenvolvimento depredador, insustentável e que provoca gritantes e profundas injustiças sociais e económicas.
A vitória da Frente Nacional de Marie Le Pen nas eleições regionais francesas terão contribuído para que hoje tivesse optado por este tema, por esta preocupação. Não porque tenha avaliado mal, isso é de somenos importância, os meus juízos não são infalíveis e dúvidas tenho cada vez mais. A preocupação decorre da constatação que os sistemas educativos são ineficazes, ou seja, não transformam. Direi, para ser justo, que em Portugal houve um tempo, muito curto é certo, em que a
Foto - Aníbal C. Pires
Escola se assumiu com um dos agentes ativos da transformação da sociedade. Um perigo ao qual rapidamente se pôs cobro. E a Escola voltou ao que sempre foi, uma Escola que não transforma, uma Escola que reproduz e tende a perpetuar modelos e estilos de vida atomizados.
A atomização social não acontece(u) por acaso, por exemplo o empreendedorismo, tão em voga, não passa de uma desresponsabilização coletiva em nome da liberdade individual e, da desresponsabilização coletiva na promoção de políticas públicas de emprego, sem que isso coloque em causa a liberdade individual. Promover iniciativas de autoemprego não deve significar a demissão coletiva de promoção do emprego para todos. Julgo mesmo que só com a assunção coletiva da necessidade de promover de políticas públicas de emprego se pode garantir a liberdade individual, ou seja, manter o desemprego a taxas elevadas, ou promover o emprego sem direitos, isso sim, é privar os cidadãos de um direito básico e cercear a sua liberdade individual.
A penetração na opinião pública e, por conseguinte, a aceitação pela maioria dos cidadãos de uma cultura atomizada da sociedade não promoveu a diferenciação, estamos mais iguais nos costumes. A uniformidade dos hábitos e do pensamento favorece o domínio dos cidadãos e o poder gosta e serve-se dessa imensa mole de gente a pensar e a consumir o mesmo.
E é com base na premissa anterior que o discurso xenófobo aliado a um evento recente deu a vitória a Marie Le Pen nas eleições regionais francesas, e é com base na premissa anterior que a direita portuguesa colheu um apoio significativo nas eleições de 4 de Outubro, e é com base nessa premissa que uma grande parte da opinião pública mundial continua a ver num muçulmano um potencial terrorista.
Poderia dizer que a comunicação social de massas é um forte aliado do secular poder do capital financeiro, mas não estaria a ser rigoroso. A comunicação social de massas não é um aliado, é o instrumento do poder financeiro para exercer domínio sobre os cidadãos, tornando-os mais iguais nos costumes e escravos do pensamento único.
Um povo informado e culto não se verga perante os amos, não se deixa manipular, exige e luta. Um povo informado e culto é uma ameaça ao poder secular do capital financeiro e dos seus representantes políticos. Um povo informado e culto não se deixa amordaçar, não tem medo. Um povo informado e culto não se domina, é livre.
Talvez por isso a Escola não forme, formate.
Horta, 06 de Dezembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 07 de Dezembro de 2015

domingo, 6 de dezembro de 2015

da liberdade

Foto - Aníbal C. Pires


Fragmento de texto a publicar amanhã na imprensa regional e aqui no blogue.

"(...) Um povo informado e culto não se domina, é livre. 
Talvez por isso a Escola não forme, formate. (...)"

sábado, 5 de dezembro de 2015

Não é de agora

Foto retirada da internet
Fragmento de um texto publicado no momentos e na imprensa regional em de Dezembro de 2008

"(...) As virtualidades da globalização estão à vista! A desgraça foi, em definitivo, globalizada. Já não precisamos de olhar para o Sul do subdesenvolvimento e fazer campanhas de angariação de géneros e ficar de consciência tranquila. Ao Norte desenvolvido e civilizado não faltam cidadãos para alimentar, para cuidar.(...)"

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Sem que o tempo tenha passado por ele

Foto - Aníbal C. Pires
Fragmento de um texto escrito no Ninho do Açor, Castelo Branco, em Outubro de 2012 e publicado, ainda em Outubro, no momentos e na imprensa regional.

"(...) Ontem, andei por aí.

Por aí à procura de memórias, calcorreando trilhos da minha infância e, por aí, revisitei lugares onde fiz aprendizagens, onde destruí medos, onde ganhei amigos perdidos no curso da vida, onde brinquei, onde me iniciei nas primeiras letras e, até o velho relógio do campanário da igreja, onde aprendi a medir o tempo, lá estava. Continua a bater as horas sem que o tempo tenha passado por ele. (...)"

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Nada de novo

Foto - Madalena Pires
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), na passada semana aprovou, apenas com os votos favoráveis do PS, o Plano de Investimentos e o Orçamento para 2016. O PS aprovou meia dúzia de propostas de alteração, das muitas dezenas de propostas apresentadas pelos cinco partidos da oposição. Até parece que o PS é um partido que, mesmo sem disso necessitar, está aberto a acolher as propostas e a dialogar com os partidos da oposição. Mas só parece.
O Plano e Orçamento consubstanciam as opções e a estratégia do governo regional, apoiado pela maioria absoluta do PS na ALRAA, estes dois instrumentos continuam a não dar respostas aos grandes problemas da nossa Região. Antes pelo contrário são o reflexo da teimosia e da cegueira políticas, agravadas pela ânsia de perpetuação no poder suportada por maiorias absolutas acríticas como as que têm caracterizado o PS nos Açores.
Assim, estes documentos, em vez de desenhar uma política, tentam esconder uma realidade. Em vez de procurarem soluções, insistem nos erros. Ao invés de resolver adiam ou escondem os problemas. Em vez de dar resposta aos anseios, tentam calar os descontentamentos. Em vez de serem ferramentas para governar, são instrumentos para angariar apoios eleitorais.
O Plano e o Orçamento são também a continuidade de uma política que teve e tem efeitos destrutivos na nossa Região. A política que falhou em desenvolver o nosso sector produtivo e que não o conseguiu proteger das flutuações internacionais e que colocou os agricultores e pescadores açorianos à beira de um ataque de nervos por incapacidade de satisfazer compromissos e encargos com o financiamento dos seus investimentos, devido à queda do rendimento do seu trabalho. A política que tudo fez e tudo faz para tornar mais barato o custo do trabalho, mais baixas as remunerações dos trabalhadores, mais precários e com menos direitos os seus vínculos.
A política que transformou o trabalho, de direito humano básico, em benesse supostamente caritativa, dando aos açorianos que tiveram a desdita de ficar sem emprego o “privilégio” de serem explorados à vontade, de trabalharem sem quaisquer direitos nem regalias, a troco de salários miseráveis.
Esta é a política que esqueceu, ou guardou na gaveta, o primeiro dos objetivos da nossa Autonomia, a coesão social e territorial dos Açores. E, assim, continua a centralizar medidas e investimentos onde for preciso ganhar votos ou consolidar clientelas, de um lado, e a contribuir para o esvaziamento e a agravar a desertificação, por outro, deixando-nos com um arquipélago a várias velocidades, onde o fosso de desenvolvimento socioeconómico é cada vez mais fundo e onde os contrastes, também sociais, são cada vez mais gritantes.
Confesso que tinha esperança, talvez por estarmos à entrada de um ano de eleições regionais, de um vislumbre de uma inversão da política seguida até aqui, de um vestígio de mudança de atitude, de uma centelha um rasgo de imaginação e coragem política para reconhecer erros e fazer diferente. Mas não, a expetativa que tinha foi uma vez mais defraudada. Nada disso se encontra nos documentos aprovados. Apenas a velha política deste Governo, para mal dos Açores e dos açorianos.
Ponta Delgada, 01 de Dezembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 02 de Dezembro de 2015

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Angélique Namaika - a abrir Dezembro







E porque bonitas são as mulheres que lutam Angélique Namaika abre o “momentos” de Dezembro de 2015.














Porque é mulher e porque o tema dos refugiados tem estado na ordem do dia fica este pequeno tributo à vencedora do prémio Nansen 2013, atribuído pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).









"Angélique Namaika já ajudou a transformar a vida de mais de duas mil mulheres e meninas que foram abusadas e forçadas a deixar suas casas. A maioria destas mulheres protagonizam histórias de sequestro, trabalho forçado, espancamento, assassinato e outras violações de direitos humanos."

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Uma questão de memória

Imagem retirada da internet



Este não é um texto sobre os refugiados mas bem podia ser. Este é um texto de 2005 e aborda um relatório do Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos divulgado no início desse ano. Hoje ao relê-lo e face às manifestações xenófobas que a situação dos refugiados despoletou, pensei cá para comigo que bem podia ter sido escrito hoje.





Uma questão de memória 
Foi com alguma perplexidade e apreensão que tomei conhecimento das conclusões de um estudo do Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos realizado recentemente.
As conclusões não deixam margem para equívocos, a maioria dos cidadãos europeus não concorda com a entrada de mais estrangeiros no território europeu. No topo a Grécia, na cauda a Suécia, o quarto lugar é ocupado por Portugal. Mais de 60% dos portugueses diz não à entrada de mais imigrantes.
Sabendo-se que Portugal é um país de mestiçagens, os estudos genéticos assim o comprovam, e de emigração – poucas famílias portuguesas não terão vivenciado, direta ou indiretamente, a dor da partida, a saudade de alguém que procurou, procura, melhor sorte, noutras paragens. Daí advém a minha perplexidade, Será que os portugueses não têm memória. Será que este povo não se reconhece no “outro”.
Foto - Aníbal C. Pires
A memória de alguns acontecimentos de cariz xenófoba que, ciclicamente, vão tendo lugar nos países europeus transforma-se, em preocupação.
A esmagadora maioria dos mais de 60% de portugueses que entendem não dever ser permitida a vinda de mais imigrantes para Portugal tem baixas qualificações académicas, mantêm relações laborais precárias e não detêm qualificações profissionais. A contextualização das conclusões obtidas face à caracterização socioprofissional, do segmento da amostra, que mais reservas põe à entrada de imigrantes permite compreender melhor os resultados obtidos mas, no entanto, não deixa de constituir uma preocupação.
A fobia do terrorismo, decorrente do 11 de Setembro de 2001 e de 11 de Março de 2004, associada à retração da economia portuguesa e europeia, imposta pelo garrote do Pacto de Estabilidade e Crescimento, contribuem, seguramente, para que a opinião pública portuguesa, nomeadamente, a mais permeável à manipulação da informação e a mais fragilizada social e economicamente, formule opiniões como a que foi divulgada pelo estudo do Observatório Europeu de Fenómenos Racistas e Xenófobos.
As conclusões do estudo justificam a necessidade, por mim expressa em diferentes fóruns, de se encararem os assuntos da imigração e da gestão da diversidade com seriedade e rigor, equacionando as diferentes variáveis deste fenómeno que, não sendo de hoje, assume, atualmente, uma dimensão e multiplicidade preocupantes.
A gestão dos fluxos migratórios não se faz com barreiras administrativas, veja-se o fracasso da contingentação imposta pela “lei da imigração” portuguesa, nem mesmo com barreiras físicas, os perigos da travessia do estreito de Gibraltar ou a super vigiada fronteira do México com os Estados Unidos, impedem que milhares de pessoas insistam nesta “imigração de desespero” provocada pelas diferenças, cada vez mais acentuadas, de desenvolvimento entre um Norte cada vez mais rico, mas que já produz muitos pobres, e o Sul, cronicamente pobre, cada vez mais pobre.
A gestão efetiva e racional dos fluxos migratórios terá de equacionar, inquestionavelmente, acordos com os países emissores de imigrantes, com os países de trânsito e, principalmente, por uma nova ordem internacional que respeite o direito dos povos e dos indivíduos a usufruírem de uma vida digna, no respeito da diversidade e dos Direitos do Homem.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 17 de Março de 2005

Sabores(*)

Imagem retirada da internet
A alimentação humana cedo passou da mera satisfação de uma necessidade primária para se transformar num processo de socialização das comunidades humanas.
À volta da mesa e na degustação dos alimentos transmitem-se e herdam-se valores ancestrais. Valores que, por serem antigos, não devem ser confundidos com conservadorismo. E importa preservá-los, pois são estruturantes da educação e formação dos indivíduos. Sentar a família à volta de uma refeição é um momento fundamental no quotidiano familiar, não só pela satisfação da necessidade fisiológica em si mesma mas pelo simbolismo da partilha e, sobretudo, pelo encontro diário de pessoas unidas por laços de parentesco e pelo legado cultural e formativo que esses momentos proporcionam, se utilizados para esse efeito.
À modernidade não sobra tempo, dirão os mais cáusticos, nem para confeccionar os alimentos quanto mais para conversar ou transmitir o que quer que seja durante uma refeição. À modernidade devia sobrar todo o tempo do Mundo para educar as nossas crianças e para as acompanhar em todos os aspectos do seu crescimento e formação pessoal e social. Direi eu, do cume da minha utopia.
Não pretendo dissertar sobre nutrição, nem gastronomia tradicional ou gourmet mas sempre direi que somos aquilo que ingerimos e, quer por razões de bem-estar, quer ainda por razões de ordem cultural evitemos a “fast-food”.
Vamos aproveitar todos os momentos e circunstâncias para afirmar o que nos torna diferentes na globalização dos costumes e da cultura, mas também porque a gastronomia tradicional devidamente adaptada às nossas necessidades e estilos de vida só pode redundar em qualidade de vida.
A viagem pelos sabores da gastronomia popular é um percurso de descoberta de hábitos e culturas dos povos e da sua relação com o meio ambiente ao qual se foi juntando, em doses sabiamente adequadas, algumas técnicas e tecnologias.
A exiguidade de solo arável e de água determinou a “cachupa” cabo-verdiana, mais ou menos rica conforme a disponibilidade das proteínas animais. O tronco do cereal ampara a leguminosa no seu trepar em busca do sol que os há-de amadurecer. O milho e o feijão passam dos campos para o prato numa simbiose perfeita e traduzem o quotidiano alimentar de um povo que, em condições de grande adversidade, soube construir os sabores da “morabeza”.
Se é assim com a cachupa cabo-verdiana o mesmo poderemos dizer das “migas” alentejanas, das originais “pizzas” do sul de Itália ou dos “tacos” mexicanos. A disponibilidade dos ingredientes e a forma como são combinados e confecionados trazem à mistura alguns dos condimentos que fazem a história da alimentação humana.
(*) Texto escrito, na Covilhã, em Agosto de 2007 e hoje revisto e atualizado.
 Horta, 22 de Novembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 23 de Novembro de 2015

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Se é mau, Não será

Imagem retirada da internet
As redes sociais proporcionam uma rápida difusão da informação sobre acontecimentos ocorridos nos mais recônditos lugares do planeta. Rede disponível e um smartphone é quanto baste para fazer a “notícia”. Se é mau, Não será. Se é bom, Talvez.
Mais importantes do que estas “fast notícias” são os juízos que se fazem delas e, sobretudo, o objetivo com que são depois difundidas e comentadas. Quantas e quantas vezes e passado o impacto inicial nos apercebemos que afinal, Não era bem assim. Isto para além das leituras enviesadas fabricadas pelos mercenários (uns voluntários, outros nem por isso) das redes sociais. E depois nunca há lugar a um desmentido. Quem leu agora já não lê depois e fica com a “notícia” original, não confirma a sua veracidade não procura outras fontes e, “voilà”, Tá conseguido o objetivo, algumas vezes nobre, muitas vezes nem por isso. É o resultado do mediatismo e do imediatismo que carateriza o nosso tempo onde o espaço para a reflexão deixou de existir. Tudo tem de ser agora, daqui a pouco já não tem interesse. O papel que sempre esteve alocado à comunicação social é hoje um espaço partilhado e anárquico. Se é mau, Não será. Se é bom, Talvez.
Não se pense que esta breve reflexão sobre as redes sociais têm como objetivo denegri-las, Não, não pensem. A internet e as redes sociais permitiram a democratização do acesso à informação e, sobretudo, a possibilidade de aceder a fontes e partilha de informação que as corporações mediáticas não citam, não utilizam e obliteram. Logo só posso estar satisfeito com isso, E estou, e utilizo a rede e as suas plataformas de informação e comunicação.
A questão é outra e, preocupa-me. Sendo a internet e as plataformas de informação e comunicação que lhe estão associadas instrumentos aos quais um número significativo de pessoas acede e utiliza para diferentes fins, mas também para se informar e para difundir informação é, natural que se tenham enquistado na rede os tais mercenários a que me referi. Alguns destes mercenários estão por militância e tudo fazem para desconstruir a informação e a opinião com a qual não estão alinhados, os outros, os mercenários remunerados, estes fabricam as notícias e procuram credibilizá-las através dos OCS tradicionais, manipulam a opinião. São assim como uma espécie de terroristas virtuais que em nome da liberdade individual e do direito à opinião, valores incontestáveis, mentem, omitem, manipulam, formam a opinião que serve o amo, seja por uma questão de crença, seja como meio de vida. Novas tecnologias, novas oportunidades de ganhar a vidinha, prostituindo-se. E esta opção não é uma opção nova. É bem antiga, como velhas são as estratégias de dominação de um grupo humano sobre outros. O medo, sombra alongada da ignorância, é o principal aliado de quem continua a dominar a opinião pública mundial.
A liberdade individual é diretamente proporcional ao conhecimento. Quanto mais cultos e informados, mais livres.  
Ponta Delgada, 17 de Novembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 18 de Novembro de 2015

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Se é bom, Talvez

Imagem retirada da internet







Da coluna de opinião a publicar amanhã no Diário Insular







"(...) A liberdade individual é diretamente proporcional ao conhecimento. Quanto mais cultos e informados, mais livres."

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 17 de Novembro de 2015 

Outra serra





A publicação deste pequeno excerto de um texto em construção dedico-o aos trabalhadores das Minas da Panasqueira.






"(...) O silêncio carregava odores e sons de uma infância passada na beira de outras serras, de granito, xisto e volfrâmio. Serras desventradas, paisagens desumanizadas, habitadas por gente que veio de outras serras, das planícies, das ilhas. Gente dura como o minério que arrancava das entranhas da serra, gente que aprendeu a viver entre a escuridão impregnada de poeira de sílica e a claridade do ar que vinha dos pinheiros bravos da serra. Outra serra, outras aldeias de montanha. (...)"

Aníbal C. Pires, 16 de Novembro de 2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Qual o valor da vida

Foto - Aníbal C. Pires
Condeno veementemente e de igual modo todos os atos de violência e de terror sejam eles perpetrados no coração de uma cidade europeia ou em qualquer outra parte do Mundo. A vida humana não vale mais em Paris, do que em África, na Síria, no Líbano, em Israel ou em Gaza, no Iraque, no Afeganistão, no Saara Ocidental ou em qualquer outro rincão deste nosso Mundo.
Nos últimos dias foram perpetrados ataques terroristas pelo DAESH (designação para “estado islâmico” da qual os jihadistas não gostam, ameaçam até cortar a língua a quem os designar dessa forma) no Líbano, na Síria e em Paris. Tendo estes atos de terror a mesma origem a sua condenação e a consternação assumiram, porém, dimensões diferentes. Nada de novo. Em Abril passado todos foram Charlie e poucos foram quenianos. É a proximidade, sem dúvida. Mas é sobretudo a falta de informação e a formatação da comunicação que induz estes comportamentos de cidadania que diferenciam o valor da vida. Mas essas análises deixo-as para a psicologia social que, seguramente, encontrará as explicações para este fenómeno que aos meus olhos configuram, tantas e tantas vezes, puros exercícios de hipocrisia.
Falamos de terror e de terrorismo quando são ceifadas vidas inocentes com recurso à violência armada, seja disparando indiscriminadamente sobre a população, seja com atentados à bomba com viaturas armadilhadas ou ainda quando alguém se faz explodir a si próprio em locais de grande concentração de pessoas. Mas o que dizer, como adjetivar os motivos que estão na origem das crianças que desde que está a ler este texto já morreram com fome e subnutrição. Que dizer e como adjetivar os motivos que estão na origem das pessoas que desde que está a ler este texto já morreram devido a doenças provocadas pela falta de água potável, saneamento básico e higiene. Não será isto terror, Não será isto terrorismo.
Foto retirada da internet
Voltando aos terroristas do DAESH à sua génese e apoios, terroristas que não devem ter lido esta parte do Corão, "Não matareis a pessoa humana porque Alá a declarou sagrada" (Corão,VI,151). Os dados disponíveis apontam para que este grupo e outros semelhantes tenham sido criados, financiados e armados pelo Ocidente através do seu braço armado, a NATO. A intervenção russa na Síria veio demonstrar que os Estados Unidos, os seus principais aliados e a NATO estão na Síria, como estiveram no Kosovo, no Iraque, no Afeganistão e na Líbia para derrubar os ”regimes” e daí retirarem os dividendos conhecidos e não para combaterem o DAESH. Como sabemos não são os “regimes” que interessam à NATO porque se, verdadeiramente, fossem os regimes a motivação para as intervenções militares mais ou menos encapotadas a Arábia Saudita, de entre outras ditaduras do golfo pérsico, já há muito teriam sido objeto de intervenções militares e do derrube do “regime”.
O terrorismo assuma ele a forma da fome, da desigualdade ou dos atentados violentos, ou quaisquer que sejam as suas causas e objetivos proclamados, serve sempre os interesses dos donos do Mundo, o capital financeiro. A resposta mais eficaz ao terrorismo passa necessariamente pelo combate às suas raízes, sejam elas políticas, económicas e sociais, e pela defesa e afirmação dos valores da liberdade, da democracia, da soberania e independência dos Estados.
Ponta Delgada, 15 de Novembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 16 de Novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

Construir ideias

Foto - Aníbal C. Pires
Excerto do texto que amanhã será publicado no "Jornal Diário e no Azores Digital"

Em Abril passado todos foram Charlie e poucos foram quenianos. É a proximidade, sem dúvida. Mas é sobretudo a falta de informação e a formatação da comunicação que induz estes comportamentos de cidadania que diferenciam o valor da vida.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 15 de Novembro de 2015

Do tempo que corre

Foto - Aníbal C. Pires








Por nada e por tudo, trago este excerto de um texto escrito no princípio do ano e publicado neste blogue e na imprensa regional.
Tenham um bom Domingo.








"Não tenho uma visão unilateral do Mundo, sou tolerante mas não tolero a intolerância. Sou por natureza desassossegado sem ser hiperativo e, inquieto-me perante a dor e o sofrimento que a iniquidade inflige, ainda que por vezes os flagelados pela injustiça sejam os seus próprios carrascos. "

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 02 de Março de 2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Democracia e democratas

Foto - Aníbal C. Pires
Para os democratas de direita, estejam eles no PS, no PSD ou no CDS, a democracia é chique, moderna e plural enquanto o PCP lhe servir apenas de adorno. Fica bem à democracia portuguesa este adereço e enquanto assim for, os democratas de direita toleram o PCP mas sempre como um enfeite, nunca como um partido capaz de assumir responsabilidades no arco da governação, seja lá o que isso for. Não, isso é que nunca.
O tempo que vivemos é um tempo novo. É um tempo de esperança que se desenha no horizonte, é um tempo que alguns dizem ser histórico, E porquê. Porque o PCP fez aquilo que sempre disse aos trabalhadores e ao povo português a cada eleição que disputa. Honraremos os nossos compromissos e assumiremos as responsabilidades que o nosso Povo nos quiser conferir, não mais que isto mas, não é pouco, É determinante para que em Portugal se possa concretizar a formação de um governo capaz de devolver a alegria e a esperança ao povo português. Se é um governo patriótico e de esquerda, não diria tanto. Mas não será, seguramente, um governo que coloque o bem-estar dos trabalhadores e do povo português como a sua última das últimas prioridades.

Foto retirada da Internet
Trata-se, tão-somente, de que um governo de iniciativa do PS com o apoio do PCP e do BE possa vir a assumir os destinos de Portugal nos próximos 4 anos, afinal nada de estranho é um governo apoiado pela maioria de deputados da Assembleia da República, é apenas a democracia a funcionar em toda sua plenitude, é apenas a materialização da vontade da maioria dos eleitores. Mas há quem não goste da democracia e tenha reiterado a sua visão totalitária da vida política portuguesa, desde logo o inquilino do Palácio de Belém, que em primeira instância rejeitou a solução que lhe foi apresentada e apadrinhou os seus rapazes não se coibindo de destilar ódio sobre o PCP, o PEV e o BE, desrespeitando todos os portugueses que confiaram o seu voto a estes partidos, partidos tão legítimos como qualquer outro. Outros foram deixando cair a máscara de democratas e foi um tal retirar da gaveta os velhos e estafados argumentos anticomunistas, alguns ainda se preocuparam em dar-lhe uma nova roupagem, outros nem a esse trabalho se deram tal foi o pânico que se gerou nas instaladas hostes de beneficiários de uma democracia que só é boa quando alterna, mas que se diaboliza quando se configura, ainda que ligeiramente, como uma alternativa.
Os ataques mais ou menos velados ao PCP os autos de fé anticomunistas encheram e enchem as colunas dos jornais e os painéis de comentário e análise politica nas televisões deixando a nu que a pluralidade de opinião e o rigor não tem passado de mais uma falácia.
A cultura democrática em Portugal ainda tem um longo percurso a percorrer, os exemplos de governos europeus formados com o apoio de partidos comunistas são vários e, configuram acordos parlamentares que resultam da vontade dos eleitores, a democracia funciona sem sobressaltos, em Portugal essa possibilidade despertou a verdadeira natureza dos democratas de proveta herdeiros de um passado obscuro e ditatorial de quase meio século. É essa nostalgia de um passado que manteve o povo português agrilhoado que tem vindo a ser regurgitada pelos mercenários da formação de opinião ao serviço dos “donos disto tudo” e dos seus procuradores políticos.
Angra do Heroísmo, 10 de Novembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 11 de Novembro de 2015

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Comunista, obrigado!

Foto - Ana Loura
A semana passada uma cronista nacional com assento nos jornais e televisão veio assumir-se publicamente como anticomunista. Esta necessidade de afirmar o que muitos de nós já sabíamos foi feita num texto formal e estruturalmente sem mácula. O texto foi partilhado inúmeras vezes nas redes sociais, não terá sido viral mas quase, até porque se tratava de um texto e não de imagens. Dei conta do texto por uma das partilhas feitas por alguns amigos virtuais, que na partilha colocaram coisas como “de grande fôlego” ou “extraordinária reflexão” e, face a isto lá fui ler a Clara Ferreira Alves (CFA), até porque os amigos a que me refiro não são apenas virtuais, são bem reais e personalidades por quem nutro respeito intelectual e político.
E se formal e estruturalmente o escrito de CFA não tem nada que se lhe aponte, aliás como já ficou expresso, quanto aos factos a erudição da ilustre cronista esvai-se nas entrelinhas dos argumentos com que sustenta a sua alegre confissão. Não vou sequer demonstrar que a CFA mente quando fala os tempos do PREC na Faculdade de Direito, ou que ignora a história do PCP, bem assim como o seu programa. Quanto às alusões ao relacionamento de Álvaro Cunhal e José Saramago, então não vale mesmo a pena perder tempo com a CFA.
A frase chave que retira toda a credibilidade aos factos apresentados por CFA, não à sua opinião que pode expressar livremente porque os comunistas lutaram e morreram para que isso fosse possível, é a seguinte:
"Sou uma anticomunista que não tem vergonha de ser anticomunista e que tem e teve amigos comunistas (mais teve do que tem, porque tudo o que se relaciona com esta doutrina é, irremediavelmente, passado). Claro que podem ler nesta frase — “tenho amigos comunistas” — a mesma desconfiança que leem quando os homofóbicos dizem que têm amigos gays. E, já que falamos disso, o PCP sempre foi ferozmente antigay. Só se mudaram. Já lá iremos."
A emenda foi pior que o soneto. E lá continuei a ler o texto esperando pela promessa (Já lá iremos) da mudança ou não da posição do PCP sobre a homossexualidade. Li até ao fim e não encontrei, afinal a CFA não foi. Talvez um dia vá, mas não foi desta. Ou então ter-se-á esquecido tal era a vontade de deixar bem claro que, não só é anticomunista, como também considera que esta coisa de um governo do PS com o apoio do PCP e do BE é contra natura.

Já agora a propósito da suposta posição homofóbica o PCP recorro ao jornalista Luís Osório que sobre o assunto e a propósito dos incidentes da Festa do Avante escreveu o seguinte:
“Nunca fui comunista. Várias vezes tenho combatido um partido que é, na sua essência, ortodoxo e (na minha opinião) profundamente conservador. Porém, os ataques ao PCP por causa das agressões na Festa do Avante! Ataques que insinuam que o problema está na homofobia dos comunistas, são injustos e vis. O meu pai foi um dos primeiros comunistas a assumir a sua homossexualidade. Esteve mais de vinte anos na cúpula da organização da Festa, militou no PCP desde o final da década de 1960 e foi sempre apoiado política e pessoalmente. No momento da sua morte, a última cerimónia, antes da cremação, vários membros do Comité Central dedicaram-lhe palavras de despedida. Por esses dias recebi um telefonema de Jerónimo de Sousa. É justo que se diga, em memória dele e da verdade.”
Não acredito que a CFA, profunda conhecedora do PCP, não tenha lido este escrito do Luís Osório onde fica demonstrado que o PCP, sobre as questões da homossexualidade, já mudou há muito tempo.
Direito à opinião certamente que sim, todos a temos nem que seja por uma questão de fé, como me parece ser o caso da CFA que a terminar diz que desde pequenina que é portuguesa e anticomunista, se a primeira é uma condição a segunda é mesmo uma questão de fé. Não discuto mas não aceito alarvidades nem a mentira. Por mim sou português desde que nasci, benfiquista desde pequenino e comunista já lá vão 41 anos.
Ponta Delgada, 08 de Novembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 10 de Novembro de 2015

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Precariedade, um problema de direitos humanos

retirado da internet
O trabalho e a uma remuneração justa e adequada pela prestação do trabalho, constituem-se como direitos básicos. Direitos consagrados na Carta dos Diretos Humanos, art.º 23. Face à taxa de desemprego na Região e no País, face à substituição do direito ao trabalho por estágios, em contexto de trabalho, e de programas e programinhas ocupacionais onde não existe nem contrato de trabalho, nem remuneração, tendo sido substituídos, respetivamente, por contratos de estágio (formação) e subsídios, diria que nos Açores, bem assim como o restante território nacional, não se cumprem os Direitos Humanos. Podem vir agora os sábios economistas dizer que neste contexto não existem alternativas, eu diria que sim, é possível se as políticas públicas o promoverem. Para que não subsistam dúvidas refiro-me a políticas públicas de emprego e não a emprego público, embora também o emprego público tenha capacidade para absorver muitos dos portugueses que estão privados do direito ao trabalho. A redução do horário de trabalho ao invés do seu prolongamento, a redução da idade de reforma e uma política salarial justa constituem-se como imperativos para garantir o direito ao trabalho a todos os portugueses.
Associado ao desemprego está também a precariedade laboral que induz a insegurança e o medo. O medo de que não seja renovado o contrato, o medo do despedimento porque trabalha a recibo verde, a incerteza quanto ao futuro de milhares e milhares de estagiários, a incerteza quanto ao futuro de milhares e milhares de “beneficiários” dos programas ocupacionais.
A elevada taxa de desemprego, a precariedade e o expediente dos estágios e dos programas ocupacionais para ofuscar a realidade da situação social e económica se, em boa verdade, atingem os cidadãos que assim se veem privados do direito ao trabalho e à remuneração, não será menos verdade que este é um sinal inequívoco de uma sociedade doente, um sinal de que a democracia portuguesa está debilitada porque não garante aos cidadãos direitos básicos, como é o direito ao trabalho.
A precariedade tornou-se uma situação completamente generalizada. Na nossa Região, é possível calcular que nos novos contratos de trabalho, só 1 em cada 10, não corresponde a contratos a termo certo. E também na questão do vínculo, não apenas na questão das remunerações, se mantém uma profunda desigualdade de género pois, para as mulheres, só um em cada 20 contratos correspondem a contratos sem termo.
Retirado da Internet
A generalização da precariedade, bem como a abundância de programas ocupacionais contribui para a existência de cada vez maior pressão sobre os trabalhadores, forçados a todo o tipo de condições, com horários alargados e polivalência de funções, fazendo com que vários postos de trabalho acabem por ser cumpridos por apenas um trabalhador, sem maior compensação pelo esforço a que é obrigado e com os óbvios efeitos em termos do desemprego na Região.
Na nossa Região, existem pessoas que sobrevivem há anos neste autêntico carrossel da precariedade. Ele são os estágios não remunerados, os cursos de formação profissional, os estágios profissionais, os programas e programinhas ocupacionais… Este já não é só um problema de direitos laborais, é já um problema de direitos humanos. A precariedade laboral é um vergonhoso atentado aos direitos básicos, um vergonhoso flagelo, uma infame praga social que atinge atualmente, na Região, milhares de trabalhadores, sobretudo jovens e mulheres.
A precariedade dos contratos de trabalho e dos vínculos vai muito para além da questão laboral. É a precariedade da família, é a precariedade da vida, mas é igualmente a precariedade da formação, das qualificações e da experiência profissional, é a precariedade do perfil produtivo e da produtividade do trabalho. A precariedade laboral é portanto um fator de instabilidade e injustiça social que urge resolver.
Horta, 03 de Novembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 04 de Novembro de 2015