quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Mais cinco anos a ser envenenados

De adiamento em adiamento até à decisão da União Europeia(UE) que vai continuar a permitir, por mais cinco anos e depois logo se verá, o uso de herbicidas à base de glifosato. Nada de novo, os lobbies comerciais sobrepuseram-se ao interesse público e a UE demonstrou, uma vez mais, que as pessoas e, neste caso, a saúde pública pouco ou nada contam nas suas decisões, importa mesmo é manter os negócios de quem vende o veneno e o antídoto. Sim, a mesma empresa que vende os fitossanitários e os herbicidas, produz e comercializa, também, produtos farmacêuticos.
Face aos indícios fundamentados em estudos, à posição das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde, que não dando como confirmada, por os estudos não serem conclusivos, a ligação do uso de produtos à glifosato a um conjunto de malformações congénitas, autismo, efeitos desreguladores hormonais, mas também a questões cardiotóxicas e carcinogénicas. Por outro lado, está comprovado que esta substância, o glifosato, é encontrado no sangue, na urina e mesmo no leite materno em quantidades elevadas. Se outras razões não existissem era exigível que a UE se decidisse pelo princípio da precaução, ou seja pela sua proibição. Mas como já referi os decisores políticos voltaram a submeter-se aos lobbies comerciais.
Em 27 de Julho de 2015 apresentei uma iniciativa parlamentar que tinha como objetivo a proibição na Região Autónoma dos Açores da comercialização, manuseamento, armazenamento, utilização ou libertação no meio ambiente de todos os compostos que contenham Glifosato. A tramitação da iniciativa demorou alguns meses e subiu a plenário no dia 17 de Março de 2016. A iniciativa foi chumbada com os votos do PS e da direita parlamentar com a justificação que se aguardava, proximamente, uma decisão da UE e que a Região, então sim adotaria a decisão que viesse a ser tomada.

Foto by Aníbal C. Pires
E a autonomia, e a qualidade ambiental que não nos cansamos, e bem, de anunciar quando promovemos o destino Açores, e a saúde do povo açoriano. De nada valeram estes e outros argumentos para tentar inverter o previsível sentido de voto da direita e do PS, que utilizei para defender a proposta e a importância para a Região de se colocar na vanguarda das regiões e países livres deste agrotóxico.
A direita e o PS escudaram-se na UE e na falta de alternativas aos herbicidas com glifosato.
Quanto às alternativas foi demonstrada a sua existência pois, para além de métodos tradicionais foi dito, na altura, que 35% dos herbicidas disponíveis no mercado não contêm este princípio ativo, quanto à UE decidiu agora pelo prolongamento do seu uso por mais cinco anos.
A fazer fé do argumento utilizado pelo PS, em 2016, para que a minha proposta não tivesse sido aprovada na ALRAA isto significará que o povo açoriano vai continuar a ser exposto aos comprovados perigos dos herbicidas com base no glifosato. Perigos que por muito que os defensores do seu uso tentem minimizar, ou mesmo branquear, eles são reais e um problema que afeta a nossa qualidade ambiental e a saúde pública.
Por muito que a opinião europeia, e mundial, esteja contaminada pela campanha dos produtores deste e outros agrotóxicos, não é aceitável que perante situações conhecidas como a da Argentina, onde a relação causa efeito não deixa margem para dúvidas, se continue a prolongar o uso do glifosato, não só na Europa, mas no Mundo.

Ponta Delgada, 27 de Novembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 29 de Novembro de 2017

A janela

Foto by Madalena Pires (2017)



Um olhar

A janela
Perdeu o uso e a graça
Quem passa não olha
A janela sem um olhar

A janela
Tem estórias para contar
A quem passa e vê
P’ra além do fugaz olhar

A janela
Sem um olhar
Tem que contar
Se tu souberes olhar

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 29 de Novembro de 2017


terça-feira, 28 de novembro de 2017

... dos lobbies

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires







Fragmento de texto a publicar na imprensa regional e no momentos. Aqui mesmo como é habitual.








(...) De adiamento em adiamento até à decisão favorável da União Europeia(UE) que vai continuar a permitir, por mais cinco anos e depois logo se verá, o uso de herbicidas à base de glifosato. Nada de novo, os lobbies comerciais sobrepuseram-se ao interesse público e a UE demonstrou, uma vez mais, que as pessoas e, neste caso, a saúde pública pouco ou nada contam nas suas decisões, importa mesmo é manter os negócios de quem vende o veneno e o antídoto. Sim a mesma empresa que vende os fitossanitários e os herbicidas, produz e comercializa, também, produtos farmacêuticos. (...)

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Os outros

Foto by Aníbal C. Pires
Olha para mim. Quando falo contigo olha para mim, não és capaz porquê, Tens medo de quê. O professor exigia ao rapazola que o olhasse nos olhos e, chegou mesmo a pegar-lhe no queixo para que ele levantasse a cabeça e encara-se o olhar de repreensão. O aluno, perante a insistência, levantou a cabeça, mas desviou o olhar. E o professor insistia, Olha para mim.
Alguma coisa não estava bem. Em casa sempre lhe tinham dito que quando falasse com os mais velhos devia manter a cabeça baixa e, nem se atrevesse a encarar-lhes o olhar. Se o fizesse era repreendido. Olhar alguém mais velho nos olhos era uma afronta, pelo menos assim o tinha entendido. Porquê aquela insistência do professor, de quem até gostava e por quem nutria respeito. Era assim que se comportava com o pai, quando este o repreendia e sempre que falava com o padre, com os tios e avós, mas também com a professora da escola primária. Baixava a cabeça e fixava o olhar no chão.
Perante a insistência do professor lá levantou a cabeça evitando-lhe, como podia, o olhar e ouviu. Ouviu sem entender como se devia comportar. Olhar, ou não, nos olhos de quem fala connosco, seja quem for e de que idade for. Como comportar-se daí para a frente e, sobretudo, a quem devia seguir os ensinamentos, Ao professor ou à família. Ele que se tinha por um rapaz bem-educado, eram os vizinhos e amigos da família que o diziam. E agora como fazer.
Este é apenas um pequeno, mas significativo, exemplo. O professor não tinha obrigação de conhecer os motivos que estavam por detrás daquela atitude do jovem, mas era-lhe exigível que não formulasse juízos sem procurar perceber o que estava na origem de tal comportamento. Não é fácil, sei-o por experiência própria e contínuo, ao fim de mais de 40 anos de profissão, a cometer erros destes. Erros que parecem de somenos importância, mas que podem fazer a diferença entre o bom e o mau relacionamento dos professores com os seus alunos, com tudo o que isso implica, ou possa implicar no processo de ensino aprendizagem e no percurso formativo das crianças e jovens.

Foto by Aníbal C. Pires
Quantas e quantas vezes, agimos sem ter em consideração que nem todos, e ainda bem, têm a mesma matriz cultural, quantas e quantas vezes somos nós a origem de alguns problemas de integração dos alunos na Escola, exigindo a todos que se comportem como iguais, quando todos são diferentes.

Não, não estou a autoflagelar-me, nem a procurar atribuir responsabilidades aos educadores e professores. Dos docentes o sistema educativo espera isso mesmo, Uniformidade. Os exames nacionais, a avaliação externa, a avaliação de desempenho dos docentes tudo está arquitetado para a padronização.
Os educadores e professores são instrumentos de um sistema educativo que formata e reproduz um modelo. E chegado aqui não posso deixar de referir um dos temas dos Pink Floyd, Another Brick in the Wall e o verso deste tema que todos conhecem e, certamente já cantarolaram, “Hey! Teachers! Leave them kids alone”. Este tema da banda britânica que marcou gerações, não é um grito de revolta contra os professores, é sim uma profunda crítica ao sistema de ensino, no caso ao sistema de ensino britânico, mas que se pode e, foi assumida com uma crítica global à forma como a escola reproduz, ou procura fazê-lo, módulos que se repetem num padrão de comportamento social. Assim se mede o sucesso escolar, quanto mais normalizado for o produto, melhor. Será mesmo assim ou, nem por isso.
A álbum The Wall data de 1979, o filme é de 1982, mas não perderam atualidade pois, o sistema educativo de hoje continua a produzir cidadãos formatados (tijolos) conforme as conveniências e necessidades dos construtores do muro.
Ponta Delgada, 26 de Novembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 27 de Novembro de 2017

... padrões

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires










Excerto de texto a publicar na imprensa regional e no blogue momentos










(...) Quantas e quantas vezes, agimos sem ter em consideração que nem todos, e ainda bem, têm a mesma matriz cultural, quantas e quantas vezes somos nós a origem de alguns problemas de integração dos alunos na Escola, exigindo a todos que se comportem como iguais, quando todos são diferentes. 
Não, não estou a autoflagelar-me, nem a procurar atribuir responsabilidades aos educadores e professores. Dos docentes o sistema educativo espera isso mesmo, Uniformidade. Os exames nacionais, a avaliação externa, a avaliação de desempenho dos docentes tudo está arquitetado para a padronização. (...) 

domingo, 26 de novembro de 2017

A Brecha – um apontamento

Foto by Aníbal C. Pires
Do livro A Brecha de João Pedro Porto disse, num desses comentários imediatistas e de ocasião numa publicação do Facebook, que a leitura do último romance deste jovem escritor açoriano, não é a mais adequada para o Verão.
E mantenho. A Brecha é um daqueles livros que devem ser consumidos no aconchego das noites de Inverno.
É uma leitura densa que necessita de tempo e atenção pela sua complexidade, mas também pela riqueza da escrita que ora se assume em prosa, mas também em poesia e na dramaturgia.
O recurso à mitologia clássica e algumas referências da história nacional compõem uma trama intrincada, onde tudo pode acontecer. Até a morte dos deuses às mãos do Homem.
Ficam alguns fragmentos, no vídeo abaixo, deste livro de João Pedro Porto que aquando da leitura sublinhei e que hoje partilho convosco.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de Novembro de 2017



quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Terceira Madrid sem a SATA

Foto by Aníbal C. Pires
Os deputados do PS congratularam-se com a garantia de que a ligação Terceira/Madrid/Terceira será assegurada, Eu também expresso publicamente a minha satisfação, mas não me fico por aí, nem poderia.
A questão não pode ficar só por esta satisfação que eu, os deputados do PS e, certamente, as diferentes empresas do setor turístico da ilha Terceira, bem assim como todos os cidadãos que têm um entendimento dos Açores como uma região e não apenas como um arquipélago. Todos nós nos congratulamos, mas eu não me fico por aí. Tenho algumas dúvidas, poucas certezas e muitas preocupações.
Associado a esta rota existem um conjunto de questões que não podem ser escamoteadas, desde logo, o facto de ter sido notícia que a SATA Internacional/Azores Airlines ficaria fora do negócio por não ter um equipamento de voo disponível para afetar a esta operação. Que tipo de sentimento terá provocado nos deputados do PS o facto de a SATA ter sido afastada de um negócio lucrativo por incapacidade própria. Não se sabe, mas é possível que sobre esse aspeto não pensem nada, nem lhes motive nenhum tipo de preocupação. E, se assim for, francamente lamento que este definhar da transportadora aérea açoriana não motive, ao menos, umas breves palavras do Grupo Parlamentar do PS.

Foto by Aníbal C. Pires
Não ouvi nem li, talvez me tenha distraído o que por vezes acontece até aos mais atentos cidadãos, qualquer explicação da SATA sobre o assunto. Mas considerando que a explicação, associada à notícia da garantia de continuidade desta rota, tem fundamento e que “a SATA não pode continuar a realizar o voo por indisponibilidade de aeronave...”, é inquietante. Os contornos deste negócio que envolve a Associação de Turismo dos Açores(ATA) e um operador turístico estrangeiro levam-me a considerar que este processo está mal explicado e, que as razões que levaram a que a SATA tivesse ficado de fora não são, de todo, as que foram tornadas públicas por quem anunciou que a operação aérea que liga a Terceira a Madrid vai manter-se, mas com outra empresa de transportes aéreos. 
Como já referi não dei conta de que a SATA se tivesse pronunciado sobre o assunto, mas não me parece que a indisponibilidade de aeronave para realizar esta operação seja válida. Sei que a frota é limitada, mas também sei que é possível a realização destes voos sem afetar os restantes compromissos operacionais e comerciais da SATA, pelo menos aqueles que são conhecidos. Esta operação, como é do domínio público, resulta da promoção do destino Açores e da atividade da (ATA) e, naturalmente, envolve financiamento público.
Neste negócio as transportadoras aéreas, seja como até agora o foi com a SATA ou, como se perspetiva que venha a ser com a Air Europa, não assumem riscos pois, os custos da operação não só estão garantidos, como garantidos estão os respetivos ganhos. Trata-se de uma operação com as caraterísticas de voos charters e, como tal, a transportadora aérea é meramente instrumental e tem garantido o sucesso comercial. E se dúvidas houvesse atente-se ao anunciado aumento de 15% dos lugares disponíveis para esta operação, o que só pode significar que existia procura e que se perspetiva o seu crescimento.

Foto by Aníbal C. Pires
Sendo assim faria todo o sentido manter a SATA numa operação que não só serve os Açores, como também serviria os interesses financeiros da SATA. Isto digo eu que me preocupo com a continuada perda de importância da SATA Internacional/Azores Airlines e com os impactos negativos, para a Região, da sua redução a uma mera transportadora aérea destinada, somente, a cumprir as Obrigações de Serviço Público e outras obrigações que me abstenho de adjetivar.
Ponta Delgada, 21 de Novembro de 2017


Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 22 de Novembro de 2017

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Até sempre camarada Paulo - (1949-2017)

Paulo Valadão - foto by Aníbal C. Pires

O telefone tocou a meio da tarde de hoje, era do PCP em Ponta Delgada, atendi com a naturalidade a que as rotinas nos habituam. Nos primeiros instantes percebi que aquela chamada não era para discutir nenhuma questão política e partidária, uma voz embargada deu-me a notícia, O camarada Paulo Valadão acabou de falecer. 
Ao contrário do habitual hoje a conversa foi curta. As palavras pareciam não fazer sentido, o que dizer perante a inesperada notícia da morte do Paulo. 
Que dizer perante a morte deste amigo e camarada com quem aprendi a conhecer os problemas das ilhas ocidentais e a sua luta contra o isolamento das pequenas comunidades insulares.
Que dizer perante a morte deste amigo e camarada com quem partilhei dezenas de anos de luta pelo desenvolvimento harmónico da Região Autónoma dos Açores.
Que dizer perante a morte deste amigo e camarada que me ensinou a amar os Açores e as suas gentes.
Choramos a tua partida camarada Paulo Valadão e seguiremos em frente continuando a tua, a nossa luta, Honrando a tua memória.
Até sempre camarada Paulo Valadão.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

... da inquietude

Foto by Aníbal C. Pires







Fragmento de texto a publicar na imprensa regional e no momentos. Aqui mesmo como é habitual.










(...) Não ouvi nem li, talvez me tenha distraído o que por vezes acontece até aos mais atentos cidadãos, qualquer explicação da SATA sobre o assunto. Mas considerando que a explicação, associada à notícia da garantia de continuidade desta rota, tem fundamento e que “a SATA não pode continuar a realizar o voo por indisponibilidade de aeronave...”, é inquietante. Os contornos deste negócio que envolve a Associação de Turismo dos Açores(ATA) e um operador turístico estrangeiro levam-me a considerar que este processo está mal explicado e, que as razões que levaram a que a SATA tivesse ficado de fora não são, de todo, as que foram tornadas públicas por quem anunciou que a operação aérea que liga a Terceira a Madrid vai manter-se, mas com outra empresa de transportes aéreos. (...) 

A 7 de Dezembro em Ponta Delgada







No dia 7 de Dezembro em Ponta Delgada, o local e a hora serão divulgados em tempo útil, será apresentado o livro “Toada do mar e da terra”, Volume I – 2003/2008. 
Uma seleção de crónicas objeto de uma revisitação pelo autor.
O livro contém 8 ilustrações de Ana Rita Afonso, é prefaciado por Vamberto Freitas e na contracapa consta uma breve opinião de Renata Correia Botelho.
Em datas próximas terão lugar apresentações deste livro no Faial (Horta) e na Terceira (Angra e/ou Praia).

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Aos meus colegas anti greve

Foto by Aníbal C. Pires
Não só, outros profissionais também, mas os docentes nos Açores opõem uma grande resistência a tudo o que seja luta. Aquela luta que dói, aquela luta que exige sacrifício, aquela que obriga a mobilização para lá do sofá. Luta mesmo, luta a sério nem por isso, mas disponibilidade para subscrevem petições e abaixo assinados têm para dar e vender, mas não se ficam por aí são, também, grandes ativistas nas redes sociais onde podemos observar a sua dinâmica reivindicativa, nem sempre bem formulada, mas quase sempre, na procura da solução para o seu problema e, quase nunca sem conseguirem olhar para lá do seu umbigo. Qual visão holística, qual quê.
A greve nacional dos professores teve uma adesão que rondou os 90%, e logo pela manhã, desse dia de luta, quando o poder percebeu a dimensão da greve dos educadores e professores veio a terreiro, pela voz de uma Secretária de Estado, abrir uma nesga de possibilidade para entendimentos com os sindicatos dos educadores e professores. Ao fim do dia já com a contabilidade dos números de adesão à greve e com a manifestação dos docentes às portas da Assembleia da República(AR), abriu-se um postigo, O Governo da República agendou reuniões com os sindicatos. A reunião realizou-se e, ao fim de 10 horas de negociações, abriu-se uma porta, foi anunciado um compromisso, Não um acordo, entenda-se. Um compromisso que lança as bases para entendimentos negociados para que as reivindicações dos educadores e professores sejam satisfeitas.

Foto by Aníbal C. Pires
Tudo isto aconteceu no espaço de dias e ficou a dever-se, parece-me que sobre isso ninguém tem dúvidas, à greve nacional de professores, à manifestação às portas da AR, e a outras lutas anunciadas e, entretanto, desconvocadas face ao compromisso assumido pelo Governo da República.
E nos Açores, Bem nos Açores a grande maioria dos docentes, cerca de 90%, optou por não fazer greve, nem aderir às concentrações convocadas, para as 16 horas do dia da greve. Julgo que o Governo Regional pode, assim, concluir que a maioria dos educadores e professores dos Açores estão satisfeitos e, nem sequer terá necessidade de aplicar na Região nada do que os docentes continentais irão beneficiar. Pode o senhor Vice-presidente do Governo Regional ficar descansado que não vai ter de fazer alterações orçamentais em 2018 para reposicionar os docentes porque a maioria dos educadores e professores dos Açores considera justas as medidas de congelamento das carreiras e do tempo de serviço, os horários, a idade da reforma, enfim e outras questões de somenos importância. Eu e mais 10% dos educadores e professores, os que aderimos à greve, Não. Não e continuaremos a lutar por aquilo que é nosso e que nos foi subtraído para financiar do setor financeiro nacional que faliu por atividades especulativas, corrupção ativa, tráfico de influência e outros tráficos. No presente a banca está a apresentar resultados positivos, talvez seja este o tempo de devolverem o dinheiro que nos foi roubado.
É claro que a fraca adesão à greve dos educadores e professores dos Açores não se relaciona com a sua satisfação face à desvalorização profissional a que foram e estão sujeitos. As razões porque não aderiram são de diversa ordem, mas não posso deixar de enumerar algumas que se destacam do conjunto de justificações para terem “furado” a nossa luta.
A primeira justificação e, quiçá a única atendível, Não fiz greve porque sou contra essa forma de luta. Tudo bem colegas, então talvez seja melhor abdicarem de tudo quanto foi conquistado através da greve. E lá se iria o horário de trabalho, os dias de descanso, o vínculo, os subsídios de férias e de Natal, o período de férias pago, etc., etc.

Foto by Aníbal C. Pires
A segunda justificação, estamos a falar dos professores dos Açores, poderá ter sido o argumento que o assunto deve ser resolvido a nível regional. E que sim, estarei disponível para greves regionais. Pois bem na Região imperam os normativos do Orçamento Geral do Estado ou, pelo menos essa é a justificação para que se continuem a manter o congelamento do tempo e das carreiras, logo o melhor é derrotar esse argumento contribuindo para que na República a situação se altere, como parece que vai acontecer face à greve do passado dia 15 de Novembro, ainda que os educadores e professores da Região pouco tenham contribuído para isso. Se existem questões que penalizam apenas um grupo de professores nos Açores, É verdade assim é. E esta questão, ao contrário do que tem sido feito crer, tem sido e foi de novo equacionada na luta e nas concentrações que se realizaram na Região. A posição sindical, pelo menos de um dos sindicatos, é clara, ninguém perderá um dia de serviço para a progressão na carreira, seja esse dia resultante do congelamento ou, de uma qualquer espúria norma transitória. Tudo a seu tempo.
Por fim o ininteligível posicionamento do sindicato reformista que dá pelo acrónimo de SDPA. O Presidente desta organização veio a terreiro desmobilizar os educadores e professores açorianos de uma luta que é comum a todos os docentes portugueses, independentemente da região onde lecionam. Ainda estou para perceber qual será o posicionamento dos educadores e professores que estão associados nesta organização, face a esta decisão do Presidente do SDPA. Se isto não é uma traição à luta dos educadores e professores dos Açores, então não sei o que lhe chame.
A influência do Presidente do SDPA, não dos seus dirigentes e associados note-se, no seio dos docentes açorianos será tanta como a influência que eu tenho junto da Câmara do Comércio e Indústria dos Açores, Nenhuma. Não terá sido pelo que o Presidente do SDPA afirmou, contrariando a sua federação, que a adesão à greve nos Açores foi vergonhosa, mas que serviu para alimentar as esfarrapadas desculpas que os meus colegas costumam utilizar para não fazer greve, Lá isso serviu. E o Presidente do SDPA sabe disso, Oh se sabe.
Ponta Delgada, 19 de Novembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 20 de Novembro de 2017

domingo, 19 de novembro de 2017

... da luta e de quem a fura

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires





Excerto de texto a publicar na imprensa regional e no blogue momentos





(...) A greve nacional dos professores teve uma adesão que rondou os 90%, e logo pela manhã, desse dia de luta, quando o poder percebeu a dimensão da luta dos educadores e professores veio a terreiro, pela voz de uma Secretária de Estado, abrir uma nesga de possibilidade para entendimentos com os sindicatos dos educadores e professores. Ao fim do dia já com a contabilidade dos números de adesão à greve e com a manifestação dos docentes às portas da Assembleia da República(AR), abriu-se um postigo, O Governo da República agendou reuniões com os sindicatos. A reunião realizou-se e, ao fim de 10 horas de negociações, abriu-se uma porta, foi anunciado um compromisso, Não um acordo, entenda-se. Um compromisso que lança as bases para entendimentos negociados para que as reivindicações dos educadores e professores sejam satisfeitas.
Tudo isto aconteceu no espaço de dias e ficou a dever-se, parece-me que sobre isso ninguém tem dúvidas, à greve nacional de professores, à manifestação às portas da AR, e a outras lutas anunciadas e entretanto desconvocadas face ao compromisso assumido pelo Governo da República. (...)

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Vamberto Freitas - Border Crossing, Leituras Transatânticas 4

Vamberto Freitas (imagem retirada da internet







Amanhã na Livraria Leya SolMar, com Vamberto Freitas










Urbano Bettencourt, Carlos Bessa, o Consûl dos Estados Unidos nos Açores e, certamente, muitos dos amigos e admiradores de Vamberto Freitas vão juntar-se, amanhã dia 17 de Novembro, pelas 19h, na Livraria Leya SolMar para partilhar de um momento que, se me permitem, é mais, ou assim deveria ser, do que a apresentação do volume 4 do Border Crossings, Leituras Transalânticas.

Vamberto Freitas não é apenas um ensaísta e crítico literário, Vamberto Freitas é, se me permitem, uma instituição de utilidade pública para a literatura. É-o em particular para as temáticas literárias de matriz açoriana escritas em português e inglês, mas é mais, muito mais do que isso pois, a dimensão da sua obra não se confina à apreciação e, por conseguinte, divulgação dos autores que escrevem nos Açores, sobre os Açores, ou sobre a diáspora açoriana e, mais genericamente sobre a diáspora portuguesa. O seu trabalho e a sua obra não têm fronteiras culturais, nem está eivada de qualquer visão redutora da literatura.
Ao Vamberto Freitas só posso agradecer o que com ele aprendi e quero continuar a aprender e, dizer-lhe que será um enorme prazer estar amanhã, pelas 19h, na Livraria Leya SolMar, para partilhar este momento com ele.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Uma luta de todos


Foto by Aníbal C. Pires
Os professores e educadores estão em luta pelo descongelamento da carreira e pela recuperação integral do tempo de serviço. Descongelamento e recuperação do tempo de serviço que pretendem claro e inequívoco, ou seja, sem atropelos nem expedientes que, de algum modo, possam manter ou promover situações discriminatórias e, como tal, injustas.
Não sendo as únicas reivindicações dos docentes estas serão, porém, as que no imediato constituem as mais prementes e às quais urge atender, sob pena de perpetuar um dos maiores ataques à sua dignidade profissional. Da não satisfação destas reivindicações resulta que muitos docentes chegarão ao fim da sua vida ativa sem que lhes estejam reunidas condições para acederem ao topo da carreira.
À semelhança dos restantes trabalhadores da administração pública os docentes não são objeto de atualizações salariais desde 2009, tendo a partir de 2011 sido alvo de cortes salariais e vítimas da espúria sobretaxa do IRS, que este ano foi gradualmente desaparecendo. Mas se estas são as questões materiais que mais se evidenciam e as que poderão unir os educadores e professores em defesa da sua profissão e carreira, outros aspetos, quiçá menos visíveis, contribuíram para a desvalorização da profissão e da missão da Escola.
As alterações às regras da aposentação, a subversão do horário de trabalho, o aumento da carga burocrática e a perda continuada de autoridade são, de entre outros, alguns dos aspetos que têm contribuído para a consumação da funcionalização da docência. A par desta desvalorização e descaraterização profissional assistiu-se, não por acaso, à alteração da missão da Escola. A Escola foi alvo de profundas alterações não no sentido da evolução, mas do retrocesso. A Escola pública portuguesa é hoje, tal como antes do 25 de Abril, uma instituição que reproduz as desigualdades sociais e promove modelos sociais e culturais ancorados no pensamento único.
A desvalorização da carreira docente e a funcionalização dos educadores e professores não é indissociável do retrocesso que se verificou no sistema de ensino regional e nacional, aliás a segunda necessitou de que a primeira condição fosse satisfeita para que a estratégia redutora do papel da Escola fosse conseguida.
Foto by Aníbal C. Pires
A luta dos educadores e professores é, assim, mais vasta do que a lista de reivindicações que, de momento, mobilizam os docentes, a luta dos educadores e professores é, também, pela recuperação do paradigma transformador e libertador de que a Escola não pode abdicar, sob pena de se transformar numa espécie de depósito de crianças e jovens indiferentes à realidade local e global que vivemos.
Os educadores e professores, hoje, como no passado, lutam para serem respeitados, quer no plano social, quer no que concerne aos seus direitos.
Os educadores e professores lutam pela sua dignidade profissional. Mas esta é, também, uma luta de todos os que acreditam na Escola como pilar estruturante da sociedade, uma luta de todos quantos depositam confiança nos educadores e professores quando, pela manhã, deixam os seus filhos e educandos na Escola.
Ponta Delgada, 14 de Novembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 15 de Novembro de 2017

terça-feira, 14 de novembro de 2017

... do retrocesso

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires








Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, como é uso e costume, aqui neste blogue


(...) As alterações às regras da aposentação, a subversão do horário de trabalho, o aumento da carga burocrática e a perda continuada de autoridade são, de entre outros, alguns dos aspetos que têm contribuído para a consumação da funcionalização da docência. A par desta desvalorização e descaraterização profissional assistiu-se, não por acaso, à alteração da missão da Escola. A Escola foi alvo de profundas alterações não no sentido da evolução, mas do retrocesso. A Escola pública portuguesa é hoje, tal como antes do 25 de Abril, uma instituição que reproduz as desigualdades sociais e promove modelos sociais e culturais ancorados no pensamento único.
A desvalorização da carreira docente e a funcionalização dos educadores e professores não é indissociável do retrocesso que se verificou no sistema de ensino regional e nacional, aliás a segunda necessitou de que a primeira condição fosse satisfeita para que a estratégia redutora do papel da Escola fosse conseguida. (...)

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Causa efeito

Foto by Madalena Pires
Os indicadores sociais e económicos em Portugal sofreram nos últimos dois anos alterações que não podem ser ignoradas. Os analistas de política e economia de diferentes quadrantes políticos não deixam de o referir. Sim, analistas de diferentes quadrantes políticos, bem que nos querem fazer crer que sim, mas não existem analistas independentes e imparciais, isto é, ao passo que os anjos não têm sexo os analistas regem-se, como todos nós, por uma matriz ideológica e política. Os analistas de política e economia não são seres assexuados nem apolíticos e, por vezes, nem apartidários chegam a ser. Mas como dizia, os analistas não ignoram a inversão dos indicadores sociais e económicos, têm leituras diferentes, em conformidade com a sua matriz política e ideológica, mas não conseguem esconder que o desemprego baixou, a economia cresceu e o rendimento per capita aumentou, é inegável.
O que diverge na opinião publicada não é o reconhecimento das transformações, o que não é coincidente na opinião dos analistas e comentadores são as causas que lhe estão na origem. Por exemplo Marques Mendes, essa grande figura da política nacional que se transformou em analista e comentador residente numa das televisões nacionais, disse por estes dias que apesar do bom momento económico que Portugal atravessa não estamos a convergir com a Europa. O que Marques Mendes não explicou foi a que se deve o tal “bom momento económico”, nem as razões porque não estamos a convergir com a média europeia.
Uma outra eminência parda que não sendo comentadora nem analista, mas que tem como responsabilidade presidir ao Conselho Superior das Finanças Públicas(CSFP) também veio a terreiro com as suas doutas opiniões e que dizem bem da sua independência e imparcialidade política. Teodora Cardoso afirmou recentemente, a propósito do Orçamento de Estado para 2018, que "a proposta do OE2018 continua sobretudo empenhada em tirar partido da conjuntura favorável e em cumprir as regras apenas nos mínimos indispensáveis para obviar a desaprovação da Comissão Europeia.” A presidente do CSFP também não procurou explicações para aquilo que designa de “conjuntura favorável”, como se isso fosse uma espécie de bênção divina e não resultasse de ações concretas decorrentes de opções orçamentais que tiveram como consequência o aumento do rendimento das famílias, quanto ao cumprimento das regras, no mínimo, no meio ou no limite máximo, diz bem da subserviência política de Teodora Cardoso ao diretório que domina a União Europeia. Mas a presidente do CSFP não se fica por aqui e insiste que não é pelas opções orçamentais que se prevê uma descida de 1,4% do défice, em 2017, para 1%, em 2018, mas sim devido ao impacto da atividade económica, aos dividendos do Banco de Portugal e a outros efeitos não identificados. Não especificou, eu pelo menos não tenho conhecimento, qual o contributo destas três variáveis para a descida do défice público, mas valham-nos os todos os deuses, Então senhora presidente, os impactos da atividade económica e os dividendos do Banco de Portugal devem-se a quê, isto porque quanto aos efeitos não identificados enfim, abstenho-me de comentar. O dinamismo ou a anemia da atividade económica resultam, creio eu, das opções políticas traduzidas em sede de orçamento e que, naturalmente, têm repercussões na atividade financeira.

Foto by Aníbal C. Pires
Em Portugal atravessa-se uma conjuntura favorável, como diz Teodora Cardoso, ou um bom momento económico, segundo Marques Mendes. Julgo que estaremos todos de acordo quanto a isso, mas porquê. Qual a causa que está na origem desta conjuntura favorável, qual a causa que provoca este bom momento económico, ou será que não existe uma causa e os efeitos estão a acontecer por um qualquer acaso.
O que está na origem das alterações que se verificaram nos dois últimos anos resume-se a uma palavra, Rutura. Em 2015 quebrou-se o ciclo de austeridade e empobrecimento e tomaram-se medidas, ainda que insuficientes e incipientes de reposição de rendimentos e direitos aos trabalhadores e aos reformados e pensionistas. Foi pouco, mas foi o suficiente para alterar o cenário dramático que se vivia em Portugal. O Orçamento para 2018 dá mais uns passos na consolidação e avanço destas opções. Se só por si é suficiente para que o bom momento económico não seja apenas uma conjuntura favorável, Não. O aumento do consumo por via do aumento do rendimento tem de ser acompanhado por políticas que promovam o aumento da produção nacional e a redução da dependência externa. Se isto não for feito então sim, estaremos a falar apenas de conjunturas favoráveis ou, de um bom momento económico.
Ponta Delgada, 12 de Novembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 13 de Novembro de 2017

... quebrar um ciclo

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires









Excerto de texto a publicar na imprensa regional e no blogue momentos










(...) Em 2015 quebrou-se o ciclo de austeridade e empobrecimento e tomaram-se medidas, ainda que insuficientes e incipientes de reposição de rendimentos e direitos aos trabalhadores e aos reformados e pensionistas. Foi pouco, mas foi o suficiente para alterar o cenário dramático que se vivia em Portugal. O Orçamento para 2018 dá mais uns passos na consolidação e avanço destas opções. Se só por si é suficiente para que o bom momento económico não seja apenas uma conjuntura favorável, Não. O aumento do consumo por via do aumento do rendimento tem de ser acompanhado por políticas que promovam o aumento da produção nacional e a redução da dependência externa. (...)

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Orçamentos

Foto by Aníbal C. Pires
O Orçamento de Estado(OE), o Plano Anual (PA) e o Orçamento da Região Autónoma dos Açores (ORAA) estão na ordem do dia. Diz o Governo Regional que o OE é bom para a Região, não contesto e até concordo, mas podia ser diferente e melhor para o País e para a Região. Sendo um bom orçamento, desde logo porque as transferências do Estado para a Região aumentam, é legítimo e expetável que o ORAA e o PA, para 2018, possam refletir toda a bondade do OE, o que julgo não se irá verificar tendo em conta a proposta de orçamento conhecida, a não ser que a ALRAA o transforme, através das propostas de alteração dos grupos e representações parlamentares, quer o que sustenta o governo regional, quer as diferentes oposições.
Antes, ainda, de fazer uma ou outra apreciação à proposta de ORAA, ficam algumas considerações gerais sobre a proposta de OE para 2018.
Sendo uma proposta conformada à dívida, ao euro e às regras e política da União Europeia (UE) e, como tal, redutora na abordagem e nas respostas que o País e os portugueses necessitam para se libertarem dos garrotes externos, não posso deixar de valorizar algumas medidas que consolidam a reposição de direitos e rendimentos e, mais alguns ténues passos nesse caminho, como sejam, um novo aumento das pensões e reformas, o alívio da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho, para quem tem rendimentos mais baixos e, ainda, a perspetiva de serem devolvidos direitos aos trabalhadores da Administração Pública.
Se estou satisfeito, Não, não estou. Mas isso não me impede de reconhecer e valorizar estes aspetos positivos, só possíveis porque na República a governação, ao contrário da Região, obriga a um diálogo permanente entre o PS e os partidos com quem subscreveu acordos bilaterais. Nos Açores o diálogo está viciado pela maioria absoluta, ou seja, não existe.
Nos Açores e embora se dê, naturalmente, uma importância acrescida ao PA pois, trata-se da planificação do investimento setorial com implicações em cada uma das nossas ilhas e onde têm mais visibilidade as opções políticas do Governo, mas também as propostas das oposições. Mas é bom não esquecer que o PA é apenas um dos capítulos do ORAA e, por conseguinte, deve ser o ORAA a merecer uma análise mais apurada.
Foto by Aníbal C. Pires

Na proposta de ORAA, aliás com tem sido habitual, o Governo Regional volta a utilizar alterações cirúrgicas à legislação. Este expediente constitui uma péssima técnica legislativa para além de complexificar a consulta da lei, por outro lado não se compreende que algumas dessas alterações sejam renovadas anualmente, não se percebendo se o Governo Regional as mantém, por serem excecionais, ou se não quer correr o risco de ter de as discutir em sede própria do diploma em causa, como é o caso da discriminação feita aos docentes contratados que não são compensados, ao contrário dos seus colegas do continente, pela caducidade do contrato de trabalho. Esta norma contraria o disposto no n.º 3 do art.º 293 e no n.º 4 do art.º 294 da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas aprovada em anexo à Lei n.º 35/2014, de 20 de Junho. Esta preceito do ORAA, a que me refiro, contraria o disposto na Lei e, em minha opinião, é de constitucionalidade duvidosa.
Da leitura transversal que fiz à proposta de ORAA constato que o Governo Regional, ao contrário do que tem vindo a ser adotado na República, continua a penalizar, os açorianos ao não baixar a taxa superior do IVA de 18 para 16%. Quanto às propostas no quadro do IRS visam, apenas, a adaptação regional às alterações feitas pelo Governo da República. Ou seja, o Governo Regional continua a não fazer uso das competências autonómicas para aumentar, neste caso por via indireta, o rendimento das famílias açorianas. Mas se não o faz por via da redução da carga fiscal, também o não faz, por via direta, propondo o aumento do acréscimo regional ao salário mínimo nacional e dos complementos regionais, como seja a remuneração complementar para a administração pública regional.
As propostas de PA e de ORAA, para 2018, apresentadas pelo Governo Regional à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, ao manterem o essencial das opções políticas que têm caraterizado a governação regional, significa que para o PS nos Açores o rumo político não é para se alterar, são assim as maiorias absolutas. O povo açoriano continua, sob a batuta do PS, a trilhar um caminho de austeridade e empobrecimento.
Ponta Delgada, 06 de Novembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 08 de Novembro de 2017

terça-feira, 7 de novembro de 2017

... expediente orçamental

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires





Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, como é uso e costume, aqui neste blogue





(...) Na proposta de ORAA, aliás com tem sido habitual, o Governo Regional volta a utilizar alterações cirúrgicas à legislação. Este expediente constitui uma péssima técnica legislativa para além de complexificar a consulta da lei, por outro lado não se compreende que algumas dessas alterações sejam renovadas anualmente, não se percebendo se o Governo Regional as mantém, por serem excecionais, ou se não quer correr o risco de ter de as discutir em sede própria do diploma em causa, como é o caso da discriminação feita aos docentes contratados que não são compensados, ao contrário dos seus colegas do continente, pela caducidade do contrato de trabalho. Esta norma contraria o disposto no n.º 3 do art.º 293 e no n.º 4 do art.º 294 da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas aprovada em anexo à Lei n.º 35/2014, de 20 de Junho. Esta preceito do ORAA, a que me refiro, contraria o disposto na Lei e, em minha opinião, é de constitucionalidade duvidosa. (...)

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A SATA, o IMAR e a SINAGA

Foto by Aníbal C. Pires
A semana passada foi rica em péssimas notícias para a Região. A SINAGA vai deixar de transformar beterraba sacarina, o IMAR vai fechar as portas e a ligação da Azores Airlines com Madrid tem o seu fim anunciado. Os neoliberais dirão que são as dinâmicas do mercado a funcionar, eu direi que S. Miguel, o Faial e a Terceira ficam mais pobres.
Razões de ordem comercial e/ou operacional terão levado a SATA a por fim ao voo que ligava a Terceira a Madrid ou, se preferirem o seu contrário, a ligação aérea que liga a capital espanhola à ilha Terceira tem o seu fim anunciado. Desconheço os motivos que fundamentam esta decisão da SATA, mas sei o quanto este voo foi, e é, importante para a economia da ilha Terceira, em particular para a hotelaria, a restauração e a animação turística e, por conseguinte, para a economia terceirense.
Sei também que alguns setores da sociedade açoriana se manifestam contra todas a rotas comerciais da Azores Airlines/SATA Internacional que vão além das que ligam os Açores ao continente português, como sejam as que têm origem ou, destino, na Terceira e S. Miguel, ou ainda as que ligam Região aos Estados Unidos e ao Canadá, isto é, às nossas comunidades. As ligações do Faial, Pico e Santa Maria fazem parte do reduzido pacote das Obrigações de Serviço Público (OSP) e, por essa razão não as incluí na lista anterior. Todas as outras rotas, como sejam as de Madrid, Frankfurt, Praia ou outras, essas estarão a mais e deve ser deixado o caminho aberto para as empresas privadas. Existem, contudo, vozes que defendem um outro paradigma para a SATA e consideram que o Grupo se devia capacitar para poder cumprir aquele que deve ser o seu principal desígnio, mas também para se manter no mercado do transporte aéreo como qualquer outra empresa de aviação comercial. Mas a estratégia do acionista, ou a ausência dela, tem vindo a transformar a SATA num grave problema para a Região pois, não cumpre nem uma coisa nem a outra. O caminho está, assim, aberto e a opinião pública recetiva a qualquer solução que o acionista apresente para a Azores Airlines/SATA Internacional, desde a sua privatização ou, pura e simplesmente o seu encerramento.

Imagem retirada da Internet
O IMAR fecha, mas não fecha. Estejam descansados vai só mudar de nome e de estatuto. Também neste caso os fundamentos da decisão não são conhecidos, nem a alternativa. O nevoeiro cerrado que envolve esta decisão precisa ser dissipado e a decisão discutida publicamente, sob pena de o Faial poder vir a perder um dos principais polos onde se pode, e deve ancorar o paradigma do seu desenvolvimento para o século XXI,
Com a questão do fim do IMAR a assunto da precariedade dos investigadores veio de novo à tona. A precariedade na investigação científica é, como noutros setores, a norma, 80% dos investigadores do IMAR são precários, embora a maioria destes investigadores sejam já doutorados continuam a depender das bolsas e do financiamento dos projetos. E como não têm vínculo, não têm voz nem representação nos órgãos que administram o IMAR, e muito menos nos órgãos colegiais da Universidade dos Açores. E assim vamos andando que o turismo é que nos salva. Dizem por aí.

Imagem retirada da Internet
A SINAGA, para já, também não vai fechar portas, mas com esta decisão a agroindústria regional fica mais pobre pois, segundo o que foi anunciado aquela unidade de produção vai deixar de produzir açúcar a partir da beterraba sacarina. É uma atividade agrícola que fecha um ciclo que teve importância económica, é uma atividade industrial que como outras, ligadas ou não à agricultura, foram encerrando ao longo das últimas décadas, quer em S. Miguel, quer noutras ilhas da Região.
Reduzir a atividade económica produtiva regional é caminhar para o empobrecimento e não há Turismo que nos valha. Veja-se o exemplo das ilhas Canárias um dos destinos turísticos mais procurados e, no entanto, é uma das Regiões mais pobres da União Europeia.

Ponta Delgada, 05 de Novembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 06 de Novembro de 2017

Encerra, mas é só um pouco

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2017) by Madalena Pires






Fragmento de texto a publicar na imprensa regional e no momentos, aqui mesmo como é habitual.










(...) O IMAR fecha, mas não fecha. Estejam descansados vai só mudar de nome e de estatuto. Também neste caso os fundamentos da decisão não são conhecidos, nem a alternativa. O nevoeiro cerrado que envolve esta decisão precisa ser dissipado e a decisão discutida publicamente, sob pena de o Faial poder vir a perder um dos principais polos onde se pode, e deve ancorar o paradigma do seu desenvolvimento para o século XXI, 
Com a questão do fim do IMAR a assunto da precariedade dos investigadores veio de novo à tona. A precariedade na investigação científica é, como noutros setores, a norma, 80% dos investigadores do IMAR são precários, embora a maioria destes investigadores sejam já doutorados continuam a depender das bolsas e do financiamento dos projetos. E como não têm vínculo, não têm voz nem representação nos órgãos que administram o IMAR, e muito menos nos órgãos colegiais da Universidade dos Açores. E assim vamos andando que o turismo é que nos salva. Dizem por aí. (...)

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Dualidade

Imagem retirada da Internet
Acompanho, ainda que, sem a profundidade que gostaria as questões da política internacional. Interesso-me pelo que se passa planeta e, não só no nosso civilizado Mundo. Por muito distante, quiçá pouco significativas para as sociedades ocidentalizadas, que possam parecer as questões dos povos indígenas do Brasil e de outros países da América do Sul, por muito distante que seja a Somália, ou as comunidades cujo acesso a água potável, continue a ser uma privação que mata. Por muito distante, ou que possa parecer que seja, interesso-me e preocupa-me. Claro que também me interessam os problemas domésticos e o dos nossos vizinhos em Espanha e na Catalunha ou, ainda que geograficamente mais distantes, mas politica, social e economicamente próximos, como sejam os desvarios, internos e externos, da administração Trump, mas também as tensões na península da Coreia. Tudo o que se passa no planeta mais tarde ou, mais cedo, acaba por ter reflexos na nossa vida. Afinal vivemos no espaço confinado de um planeta, onde todos somos afetados pelo que de bom ou mau se faz, seja aqui ao lado ou, no mais distante rincão da Patagónia ou, da Papua Nova Guiné.
Interessando-me e acompanhando o que se passa no Mundo tenho, porém, evitado escrever e partilhar alguma reflexão sobre algumas das questões que já referi e outras, como por exemplo a situação na Venezuela, da qual se deixou de ouvir falar tão de amiúde, talvez porque num recente ato eleitoral, Não, não foi para a constituinte, a oposição ao governo tenha sofrido uma das suas maiores derrotas. Como dizia, interesso-me e acompanho, mas na verdade tenho evitado escrever e comentar o que quer que seja que vá para além dos assuntos regionais e nacionais. Talvez por uma questão de hierarquização, pela atualidade temática, enfim prioridades, ou talvez por acaso. Talvez por qualquer uma das razões já enumeradas ou, quem sabe, e eu em boa verdade não sei, porque as corporações mediáticas intoxicam a opinião pública com uma visão unilateral dos acontecimentos, ou pura e simplesmente omitem a divulgação de alguns acontecimentos. Omissões que se devem, não tenho dúvidas, aos critérios editoriais. Critérios contra os quais não há nada a fazer, os critérios e editoriais que tudo justificam, mesmo o que não tendo fundamento nenhum, a não ser o dos donos das ditas corporações.
Depois destes dois longos parágrafos é legítimo perguntarem ao autor, mas afinal o que é que pretendes com esse arrazoado, Nada de especial, direi eu. Mas já que perguntam e para ilustrar o que tenho vindo a dizer vamos ao caso da declaração de independência da República da Catalunha, Pois o referendo também colocava essa questão, Independência e República. Quem analisa e trata estes assuntos com seriedade dirá, Nem podia ser de outra forma a separação de Espanha e a proclamação da República da Catalunha são indivisíveis. O certo é que a questão da proclamação da República não tem sido objeto de grande atenção pelas corporações mediáticas, o foco tem estado centrado apenas e tão-somente na independência. Mas isso são contas de outro rosário.
De momento importa perceber, se é que há alguma coisa para perceber, a dualidade de critérios jornalísticos, de posicionamentos políticos e institucionais sobre situações idênticas e que tiveram lugar no espaço europeu e nas últimas décadas. O reconhecimento internacional da independência da Bósnia-Herzegovina, da Croácia, da Macedónia, da Eslovénia, do Montenegro e, mais tarde, em 2008, o Kosovo, foi imediato. Todos eles eram territórios, em conjunto com a Sérvia, da antiga Jugoslávia, mas nem todos, ao longo da sua história, em algum momento constituíram estados independentes, como seja o caso da Bósnia-Herzegovina e do Kosovo.

Imagem retirada da Internet
Não pretendo trazer a história destas independências para este espaço e vou apenas deixar como exemplo a questão do Kosovo, região à qual se atribui a génese da Sérvia, por ser o paradigma da promoção artificial da formação de um Estado por interesses externos ao seu próprio povo e não haver, bem pelo contrário, razões de ordem histórica que justificassem a sua criação, aliás o processo que conduziu à independência do Kosovo só foi possível pela intervenção estrangeira, designadamente pela NATO que pela primeira vez assumiu uma atitude ofensiva, contrariando, assim seu próprio estatuto de organização defensiva. 
Um olhar sobre a comunicação social, da época, sobre a questão do Kosovo e a lista dos países que se apressaram a reconhecer a criação artificial de um novo estado, diz bem da dualidade de critérios jornalísticos, políticos e institucionais face a situações idênticas.
Ponta Delgada, 30 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 01 de Novembro de 2017

Marilyn Monroe - a abrir Novembro



Sobre Marilyn Monroe pouco, ou nada, poderá ser acrescentado ao que já se escreveu e especulou sobre esta mulher que à sua maneira, nem sempre compreendida, lutou. Lutou por si, mas não só.
Por detrás do símbolo sexual em que se transformou estava uma mulher inteira com tudo o que isso significa para mim.











Como bonitas são as mulheres que lutam este Novembro abre com Marilyn Monroe. Podia ter optado por outras fotos, podia sim. Mas não era a mesma coisa.