sábado, 22 de dezembro de 2018

A República no “LavaJazz” - crónicas radiofónicas

Créditos "LavaJazz"



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 06 de Outubro de 2018 e pode ser ouvida aqui






A República no “LavaJazz”

Foto by Madalena Pires
Ontem foi dia de um feriado reconquistado depois de 2015, ou seja, depois da coligação de direita que desgovernou o país ter sido apeada do poder após a realização das eleições legislativas de 2015.
Pode não dar muita importância ao facto de a coligação de direita ter acabado com alguns feriados nacionais, mas é bom lembrar que eles foram extintos em nome da recuperação económica, da redução da dívida e do défice. Este argumento que para tudo serviu, foi sendo aceite como inevitável para o país se redimir dos excessos cometidos.
Claro que quem cometeu os excessos não pagou e quem não tinha como se exceder suportou todos os custos. Custos de uma política que não resolveu nenhum dos problemas que a justificavam.
Recuperaram-se os feriados, recuperaram-se rendimentos, aliviou-se a carga fiscal e o resultado foi o crescimento económico, o aumento do emprego, a diminuição do défice e a estabilização da dívida pública que, se tivesse sido renegociada nos seus montantes, prazos e juros, teria diminuído para valores, digamos, aceitáveis.
Mas não é sobre a governação do país nem dos governos do passado e do presente que versa esta nossa conversa semanal.
Ontem, como sabe, comemorou-se o aniversário da implantação da República. A data foi assinalada oficialmente. Mas a passagem do 108.º aniversário da República foi marcada, um pouco por todo o país, por diversas iniciativas promovidas por quem tem memória e considera que a história não pode ser esquecida, sob pena de nos perdermos no limbo do igualitarismo uniformador dos costumes e do pensamento, e é sobre uma dessas iniciativas, que decorreu em Ponta Delgada que gostaria de lhe falar.
No contexto da programação cultural, para além da música, de um espaço de encontro da noite de Ponta Delgada, o LavaJazz, realizou-se ontem uma tertúlia no âmbito do “Comer com Letras”. Acontece às primeiras sextas-feiras de cada mês e é coordenado pela Dra. Amélia Sophia.
Ontem o tema, como não poderia deixar de ser, centrou-se na Revolução de 5 de Outubro de 1910 e nas transformações que lhe foram subsequentes. As razões que lhe estiveram na origem, as contradições e a instabilidade que levaram à implantação do Estado Novo e à ditadura fascista que só teve fim numa madrugada de Primavera onde despontaram cravos vermelhos e uma contagiante alegria espelhada no rosto de um povo amordaçado e manietado por um regime déspota. As implicações nos anseios autonomistas, a luta das mulheres pela conquista de direitos cívicos e de igualdade na diferença, mas também poesia. A República foi apenas o mote para a noite de tertúlia, “Comer com Letras”.

Foto by Madalena Pires
Por razões incontornáveis aconteceram algumas alterações ao que inicialmente estava programado e, mesmo o que era possível manter como previsto foi subvertido pelos convidados. Não me cabe a mim, que acabei por ser um dos intervenientes, avaliar se o desalinhamento resultou a favor de quem esteve no LavaJazz até um pouco depois das 22h.
Eu cá por mim saí de lá satisfeito por ter tido oportunidade de partilhar parte do serão do feriado de 5 de Outubro com o Dr. Pedro Gomes, a Dra. Amélia Sophia, com a Dra. Nélia Guimarães e com todos quantos, neste caso e em bom rigor deveria dizer, todas, não por ficar bem ou dar a primazia às mulheres mas porque o público era quase exclusivamente feminino.
Não posso deixar de louvar o LavaJazz pela forma como se tem diferenciado e afirmado na noite de Ponta Delgada, quer pela excelência dos seus músicos residentes, quer pela programação cultural que com uma coragem admirável tem vindo a assumir.

Gostei de estar consigo. Fique bem.
Voltarei no próximo sábado. Até lá.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 06 de Outubro de 2018

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

da multiculturalidade à interculturalidade - "Os Porquês?", na SMTV

Aníbal C. Pires by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)






Para ver ou rever a edição número 8 do programa “Os Porquês?”, na SMTV.

Multiculturalidade ou Interculturalidade


Foi para a antena no dia 19 de Dezembro de 2018










sábado, 15 de dezembro de 2018

A SATA pode e deve crescer - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires





Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 29 de Setembro de 2018 e pode ser ouvida aqui









A SATA pode e deve crescer

Foto by João Pires (Lisboa, 2018)
A SATA anunciou nos últimos dias um aumento da oferta durante o Inverno IATA, ou seja, durante a chamada época baixa.
Segunda a informação disponibilizada pelo SATA as ligações da Azores Airlines a Lisboa e ao Porto, ao Funchal, à Europa, aos Estados Unidos e ao Canadá vão ser objeto de um aumento de frequências e, por conseguinte, a uma maior oferta de lugares. É um aumento de 21428 lugares e é esperado que a procura cresça 3% face ao período homólogo do Inverno IATA de 2017/2018.
Só posso ficar satisfeito com o esperado crescimento da procura. Mas mais satisfeito ainda com a resposta do Grupo a essa previsão. Resta saber se a capacidade operacional da Azores Airlines consegue satisfazer este objetivo comercial.
Esta minha dúvida fundamenta-se, no essencial, em dois pilares. O primeiro relaciona-se com a descoordenação existente, pelo menos até há pouco tempo atrás, entre a área comercial e a área operacional. De uma forma simplista pode dizer-se que os compromissos comerciais assumidos não tinham em devida conta os recursos operacionais, em particular tripulações. Todos temos na memória alguns cancelamentos e atrasos, de um e mais dias, em voos da Azores Airlines tendo sido dada pública justificação de que essas irregularidades se ficavam a dever a falta de tripulações. O segundo pilar onde escoro a minha dúvida relaciona-se com a prevista saída de pilotos da Azores Airlines, sendo que a sua reposição e até o necessário reforço vai levar alguns meses, ou seja, havendo muitos pilotos disponíveis no mercado é sabido que a sua qualificação, para poderem operar autonomamente, pode demorar alguns meses.
Mas tudo isto deve ter sido pensado e a sua execução deve estar em curso, Assim o espero pois, o que desejo, e sempre defendi, é que o Grupo SATA possa expandir-se no mercado do transporte aéreo e ultrapasse as atuais dificuldades financeiras o que pode ser conseguido sem a alienação de parte do seu capital social ao setor privado.

Foto by Aníbal C. Pires
O que não se compreende é que existindo mercado, aliás a procura tem aumentado, a SATA não se tenha, em devido tempo, preparado para se capacitar com os meios suficientes para responder ao aumento da procura e tenha abandonado alguns negócios, como por exemplo a ligação Terceira/Madrid/Terceira, por manifesta insuficiência de aeronaves e tripulações, pelo menos foi essa a justificação que foi dada publicamente. Outros exemplos há que demonstram estas insuficiências. No Verão foi necessário recorrer à contratação de ACMIs, um Boeing 737 e um A 340 para satisfazer os compromissos comerciais, mas é bom lembrar que o A 330, conhecido pelo Cachalote, se manteve ao serviço e ainda assim foi necessário recorrer, por várias vezes, a um dos antigos A 310 ainda operacionais. Ou seja, existe mercado para a Azores Airlines, mas esta não tem capacidade, por défice de aeronaves e de tripulações, para satisfazer as necessidades da procura tendo de recorrer à contratação de aeronaves e tripulações de outras empresas.
Não estou à espera que o atual e recentemente nomeado Conselho de Administração tenha, no imediato, resolvido estes e outros problemas de que enferma o Grupo SATA, mas o reforço da operação de Inverno pode ser um bom sinal de que outras rotas estão a ser traçadas.
A SATA é um instrumento da autonomia açoriana do qual não podemos, nem devemos abdicar.
O Grupo SATA tem tudo para competir no mercado do transporte aéreo e a privatização de 49% do seu capital, numa tramitação cujos contornos estão envoltos numa densa bruma, resulta de uma opção política que, em minha opinião, era dispensável, para além de ser indesejável pois, trata-se, como por certo concordará de um setor estratégico para a autonomia regional e como tal devia manter-se, integralmente, no domínio público.

Gostei de estar consigo. Fique bem.
Voltarei no próximo sábado. Até lá.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 29 de Setembro de 2018

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

A importância da urbanidade - "Os Porquês?, na SMTV

Aníbal C. Pires by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)


Para ver ou rever a edição número 7 do programa “Os Porquês?”, na SMTV.

Sobre a importância da urbanidade e os sinais crescentes de incivilidade nas relações interpessoais.


Foi para a antena no dia 12 de Dezembro de 2018







O ex-embaixador e as gruas de Lisboa

Foto by Aníbal C. Pires
Na sequência da apresentação do livro de Robert Sherman, ex-embaixador dos Estados Unidos em Portugal, no passado dia 3 de Dezembro, em Lisboa, com o título “Dez Milhões e Um”, e das entrevistas que entretanto concedeu a alguns jornais nacionais levantou-se alguma polémica na Região.
A controvérsia regional resulta, em minha opinião, de interpretações abusivas do que Robert Sherman afirmou nas suas declarações quando se referiu às medidas do seu país para minimizar os efeitos, na Terceira, do “downsizing” na base das Lajes.
Mas antes de me referir ao objeto da polémica, o voo da Delta sobre o qual escrevi em 26 de Maio de 2018, não posso deixar de me referir a um aspeto que, de alguma forma, nos dá a conhecer melhor este homem. Ao olhar para Lisboa, segundo o que se pode ler na entrevista ao Expresso, Robert Sherman terá perguntado, “De que é que acham que gosto mais nesta paisagem?”. E sem esperar por qualquer palpite do jornalista, respondeu, “As gruas.” Pois, a mim as gruas que rasgam o céu de Lisboa incomodam-me, gosto mais do Tejo e da luz única que ilumina as colinas da nossa capital.
Quanto às afirmações de Robert Sherman a propósito das medidas que, segundo o próprio, foram, ou estão a ser implementadas para mitigar os problemas sociais e económicos resultantes da alteração do paradigma de utilização da base das Lajes pelas forças armadas dos Estados Unidos, eu diria que não passam de um enunciado de boas intenções para consumo dos “Dez milhões…”. E se quem por aqui vive tem disso consciência, quem ler a entrevista do ex-embaixador facilmente constata que o lançamento de microssatélites, o estudo das alterações climáticas, ou os protocolos celebrados entre universidades envolvem outros países para além dos Estados Unidos, eu diria mesmo que em alguns destes casos os Estados Unidos nem sequer são parte, ou parceiro.

Foto by Aníbal C. Pires
Quanto ao voo da Delta que foi referido por Robert Sherman há, em minha opinião, um claro abuso de interpretação, embora a ligação de Nova Iorque a Ponta Delgada, tenha sido referida pelo ex-embaixador. Expressei, como já referi, a minha opinião no início desta operação e que aqui transcrevo, “A vinda da DELTA até pode ter constituído uma surpresa, e para mim foi, mas procurei saber porquê este súbito interesse da DELTA na rota Nova York/Ponta Delgada, por certo não seria pela procura dos açorianos, e claro que não é. A operação terá sido desenhada por operadores turísticos dos Estados Unidos, designadamente um operador ligado à DELTA, que pretende oferecer os Açores como um destino turístico que, por enquanto, está em alta e que tem tido procura por um segmento de cidadãos estado-unidenses que procuram destinos seguros e de proximidade. Se existe algum acordo financeiro entre a Associação de Turismo dos Açores (ATA) e os operadores turísticos dos Estados Unidos, desconheço, mas não estranho se ele existir.” (26 de Maio de Maio de 2018).
Nada do que Robert Sherman afirmou sobre esta operação da Delta faz alterar a minha opinião. Trata-se de uma iniciativa comercial que nada tem a ver com medidas de mitigação pelo “downsizing” da Base das Lajes. Se o fosse a voo seria certamente para a Terceira e teria sido incluído no pacote um acordo “interline” com a SATA que permitiria facilidades de deslocação para outras ilhas Região. Por outro lado, é a própria Delta a recusar, também para 2019, um acordo “interline” com a SATA, deixando que os seus clientes possam escolher, sem facilidades, deslocar-se para outras ilhas da nossa Região. O que é bom, desde logo para a SATA Air Açores que, como sabemos, não tem mãos a medir para cumprir as exigências comerciais, do Verão IATA, mais os reencaminhamentos que nos deixam sem lugares e à beira de um ataque de nervos.
Compreendo a posição da Câmara de Comércio de Angra a quem compete defender os interesses dos operadores turísticos e hoteleiros da sua jurisdição, mas o caminho não será certamente por aqui.
Não pretendo aconselhar e muito menos ensinar nada aos representantes dos empresários da Terceira, S. Jorge e Graciosa julgo, porém, que estas ilhas têm atratividade para que os turistas que chegam a S. Miguel nos voos da Delta possam, por sua livre iniciativa e como já se verificou em 2018, procurarem outros destinos dentro da Região. A promoção do destino e a oferta de condições favoráveis será a solução para a captação dos turistas estado-unidenses que nos chegam diretamente de Nova Iorque.
Quanto ao papel de Robert Sherman no que ao processo da Base das Lajes diz respeito, eu diria com algum conhecimento de causa, que ele fez o que dele se esperava serviu os interesses dos Estados Unidos e, Vasco Cordeiro serviu os interesses da Região e de Portugal. Logo não poderia ser subserviente.
Sei que este texto já vai longo, contudo não posso deixar de deixar uma pergunta. Qual terá sido o papel de Robert Sherman no desfecho do caso da venda do Novo Banco à Lone Star!? A pergunta é especulativa, Talvez. Mas como o ex-embaixador integra o Conselho Geral do Novo Banco, julgo que a questão tem alguma pertinência.

Ponta Delgada, 11 de Dezembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 12 de Dezembro de 2018

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

... gruas na paisagem

Imagem retirada da Internet




Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos







(...) Mas antes de me referir ao objeto da polémica, o voo da Delta sobre o qual escrevi em 26 de Maio de 2018, não posso deixar de me referir a um aspeto que, de alguma forma, nos dá a conhecer melhor este homem. Ao olhar para Lisboa, segundo o que se pode ler na entrevista ao Expresso, Robert Sherman terá perguntado, “De que é que acham que gosto mais nesta paisagem?”. E sem esperar por qualquer palpite do jornalista, respondeu, “As gruas.” Pois, a mim as gruas que rasgam o céu de Lisboa incomodam-me, gosto mais do Tejo e da luz única que ilumina as colinas da nossa capital.
Quanto às afirmações de Robert Sherman a propósito das medidas que, segundo o próprio, foram, ou estão a ser implementadas para mitigar os problemas sociais e económicos resultantes da alteração do paradigma de utilização da base das Lajes pelas forças armadas dos Estados Unidos, eu diria que não passam de um enunciado de boas intenções para consumo dos “Dez milhões…”. (...)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Harmonizar a razão e a emoção - "Os Porquês?, na SMTV

Aníbal C. Pires by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)



Sobre o desejável equilíbrio entre a razão e a emoção na hora de tomar decisões 

Para ver ou rever a edição número 6 do programa “Os Porquês?”, na SMTV.

Foi para a antena no dia 5 de Dezembro de 2018








Os docentes no centro da agenda política açoriana

Foto by Aníbal C. Pires
O Presidente do Governo Regional, no discurso de encerramento do debate na generalidade do Plano e Orçamento para 2019, comprometeu-se a encontrar com os sindicatos uma solução regional para o reposicionamento dos educadores e professores na carreira docente, alguns dos contornos foram mesmo enunciados por Vasco Cordeiro e, ao que julgo, deixaram os docentes satisfeitos com a solução proposta, embora quem fale com alguns educadores e professores tenha percebido que a surpresa do anúncio os deixou de pé atrás. Alguns de nós são como S. Tomé, Ver para crer.
Percebo alguma relutância dos educadores e professores, mas Vasco Cordeiro fez o anúncio num momento solene da liturgia parlamentar e isso compromete, digamos que o anúncio não foi feito durante uma campanha eleitoral.
A minha surpresa não foi tanto o anúncio pois, quem acompanhou todo este processo e está habituado olhar de uma forma holística para o fenómeno político tinha como adquirido que durante 2019 isso viria a acontecer, os sinais estavam todos disponíveis e houve quem os soubesse ler e em função dessa leitura tivesse adequado a sua intervenção e luta.
Houve quem, por má fé, os tivesse ignorado para cumprir agendas pessoais e partidárias, ou, pura e simplesmente, por não os ter sabido interpretar. Os primeiros contaram com a ingenuidade dos segundos e, por sua vez estes, (os segundos) de forma honesta e disponível deram força aos primeiros, embora os primeiros logo que a agenda pessoal e partidária se esboroou tivessem levantado ferro e abandonado os segundos. Bem, mas eu, como se percebe no início do parágrafo, também fiquei, de algum modo surpreendido porque não esperava que a decisão fosse tomada tão cedo. Tenho de admitir que sempre pensei que a decisão fosse tomada já por 2019 dentro.

Foto by Aníbal C. Pires
Mas a minha surpresa foi ainda maior quando, em consulta ao GACS, tomei conhecimento que já amanhã (hoje) se iniciam reuniões do governo com os sindicatos. As reuniões contarão, naturalmente, com o Secretário Regional da Educação e, desta vez, tal como Vasco Cordeiro anunciou com a presença do Vice-presidente. Lembro que o Presidente do Governo quando fez o anúncio da solução regional para o reposicionamento dos docentes na carreira disse que, tinha dado indicações à tutela da educação e das finanças para esse efeito.
Este processo, face aos contornos da solução anunciada e às posições dos sindicatos dos professores deve ser, em minha opinião alvo de uma conclusão célere, embora seja expetável que destes encontros possam resultar ganhos negociais que melhorem a proposta do governo.
Quando digo que as negociações serão breves não o faço de forma gratuita. Faço-o tendo em consideração as posições sindicais quer do SPRA, quer do SDPA, e, por ter bem presente os contornos da solução que Vasco Cordeiro enunciou, mas também por ter consciência que neste quadro ficarão, forçosamente, por resolver algumas reivindicações dos sindicatos que terão de ser remetidas para um outro quadro legal.
O Governo Regional anunciou uma solução de reposicionamento ao longo de 6 anos, sem restrições orçamentais e com a possibilidade de diminuição do prazo de 6 anos em função das aposentações que se vierem a verificar. Sem dúvida esta é, não sendo justa pois o reposicionamento deveria ser imediato, a melhor das soluções encontradas, isto é, muito melhor que a do Governo da República e, substantivamente melhor que a da Região Autónoma da Madeira.
Por outro lado, os princípios defendidos pelo SPRA estão, pelo que é conhecido, consagrados na proposta anunciada por Vasco Cordeiro, ainda que não seja satisfeita a reivindicação dos 5 anos, mas que, contudo, pode vir a aproximar-se deste prazo dependendo da “aceleração” por via das aposentações que se vierem a verificar. Quanto ao SDPA e face à posição que tomou em sede de audição da Comissão dos Assuntos Sociais aquando da proposta apresentada pelo PSD, com o mesmo objeto, à qual deu o seu incondicional aval não vejo como poderá agora reivindicar o que quer que seja.

Foto by Aníbal C. Pires
Julgo ser importante referenciar que a proposta do PSD, a que me refiro, foi decalcada da solução madeirense que consagra um artigo que faz depender a calendarização faseada do reposicionamento da disponibilidade anual do orçamento o que, em última instância, poderá, no caso madeirense, desvirtuar a calendarização remetendo-a para as calendas gregas, ou se preferirem “ad aeternum”. Esta situação, tendo como boa afirmação de Vasco Cordeiro de que nos Açores a solução não ficaria dependente de constrangimentos orçamentais, não se vai verificar para os professores da Região Autónoma dos Açores.
Em jeito de conclusão poderá afirmar-se, com alguma segurança, que o SPRA tem alguma margem negocial, mas o SDPA esgotou qualquer hipótese de reivindicar o que quer que seja quando deu o apoio acrítico, na Comissão dos Assuntos Sociais, à proposta do PSD.
Fico a aguardar pelo resultado destas reuniões entre os Sindicatos e o Governo Regional, na certeza, porém de que a cumprir-se o que foi anunciado e enunciado por Vasco Cordeiro, no discurso de encerramento do debate na generalidade do Plano e Orçamento para 2019, não será fácil um qualquer ganho negocial pelos sindicatos, ainda assim fica-me uma réstia de esperança de que o sindicato que melhor soube fazer a leitura deste penoso processo de luta, possa ter a arte e o engenho de trazer para os professores dos Açores mais do que o governo afirmou garantir. 

Ponta Delgada, 09 de Dezembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 10 de Dezembro de 2019

domingo, 9 de dezembro de 2018

... dos processos

Aníbal C. Pires by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)




Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos






(...) O Governo Regional anunciou uma solução de reposicionamento ao longo de 6 anos, sem restrições orçamentais e com a possibilidade de diminuição do prazo de 6 anos em função das aposentações que se vierem a verificar. Sem dúvida esta é, não sendo justa pois o reposicionamento deveria ser imediato, a melhor das soluções encontradas, isto é, muito melhor que a do Governo da República e, substantivamente melhor que a da Região Autónoma da Madeira.
Por outro lado, os princípios defendidos pelo SPRA estão, pelo que é conhecido, consagrados na proposta anunciada por Vasco Cordeiro, ainda que não seja satisfeita a reivindicação dos 5 anos, mas que, contudo, pode vir a aproximar-se deste prazo dependendo da “aceleração” por via das aposentações que se vierem a verificar. Quanto ao SDPA e face à posição que tomou em sede de audição da Comissão dos Assuntos Sociais aquando da proposta apresentada pelo PSD, com o mesmo objeto, à qual deu o seu incondicional aval não vejo como poderá agora reivindicar o que quer que seja. (...)


Afinal o que é que muda - crónicas radiofónicas

Imagem retirada da Internet


Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 22 de Setembro de 2018 e pode ser ouvida aqui






Afinal o que é que muda

Imagem retirada da Internet
A substituição de alguns diretores regionais e de administradores de organismos públicos, que o Governo de Vasco Cordeiro, de forma abusiva, designou de renovação da equipa. Abusiva, desde logo, porque, quer os diretores regionais, quer as administrações das diferentes empresas públicas não se constituem como equipas e, nalguns casos nem sequer interagem entre si. Eu diria que, nem mesmo este Governo é uma equipa, mas isso é uma outra estória que a história da autonomia regional poderá, ou não, vir a registar. Abusiva porque se trata, tão-somente, da mera substituição de executores tutelados por quem, verdadeiramente, define as políticas, e essas, as políticas, não mudam com a troca de diretores regionais.
As leituras políticas são diversas. Para o Governo Regional trata-se, como já disse, de uma renovação e, logo um sinal de vitalidade e mudança. Para as oposições um sinal de fraqueza, de fim de ciclo ou, de satisfação de clientelas. Para a generalidade da população todo este processo terá passado sem que lhe tenha sido dado muita importância, e, cá para mim assim é, pois, esta decisão do Governo regional não tem dimensão política que valha grandes e apaixonadas discussões.
A substituição de diretores regionais constitui-se como um processo político que nada tem de especial e sobre o qual pouco há a dizer. Percebo a adjetivação do Governo Regional, bem assim como entendo as tomadas de posição públicas por alguns dos partidos políticos da oposição, mas objetivamente nem um argumento, nem outro, têm fundamento.
Que mudanças políticas ocorrerão com esta “renovação”, Cá para mim nenhumas, até porque como se sabe os diretores regionais não são membros do governo. E o tempo o dirá. Garantindo-lhe que se algo mudar cá estarei para o reconhecer.

Imagem retirada da Internet
Não sei que motivos estiveram na origem das substituições, mas sei que os motivos foram diversos. Em alguns dos casos terá sido por manifesto interesse, por razões de ordem pessoal, em cessar funções, noutros casos terão sido substituídos por falta de adaptação à função, e, ainda em outros casos por necessidade de satisfação de interesses puramente partidários.  Mas, como já lhe disse, tudo isso vale o que vale e, cá para mim, vale muito pouco para a nossa vida coletiva.
Pode perguntar, Então porquê este assunto e não outro que seja verdadeiramente importante. Bem, Porque considero que a desconstrução destes processos políticos é mais relevante do que o procedimento em si mesmo e, como tal o melhor é remetê-los para o valor que realmente têm, ou seja, não atrasam nem adiantam. São processos de utilidade política nula, servem apenas para alimentar a ideia de mudança e, para nos entreter com questões marginais.
A substituição de diretores regionais e membros dos Conselhos de Administração de algumas empresas públicas, anunciadas no passado dia 18 de Setembro, não é mais do que a construção de uma representação (imagem) de capacidade de recrutamento de quadros, de avaliação do trabalho político desenvolvido e, sobretudo, de demonstração de capacidade de introduzir correções ao rumo. Enfim, pura diversão para eleitor ver.

Gostei de estar consigo. Fique bem.
Voltarei no próximo sábado. Até lá.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 22 de Setembro de 2018

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Autonomias regionais

Foto by Aníbal C. Pires
Os modelos económicos e de desenvolvimento das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores seguiram, naturalmente, caminhos diversos. A história e as caraterísticas naturais de cada um dos arquipélagos estão na origem das escolhas, mas depois da consagração das autonomias regionais foram as opções dos órgãos de governo próprio que mais influenciaram o rumo e os contornos desses modelos.
Nos Açores da autonomia sempre se olhou para a Madeira como mais afoita nas iniciativas do investimento público, e um segmento da sociedade açoriana, por vezes com uma pontinha de inveja, admirava a capacidade reivindicativa e empreendedora de João Jardim que, não tendo papas na língua, via as suas exigências junto de Lisboa satisfeitas ao passo que nos Açores as reivindicações não tinham a mesma força e, como tal, não seriam tão eficazes. O crescimento económico na Madeira era superior ao dos Açores e até na infraestruturação os ritmos nos Açores eram muito inferiores.
Sem contestar que numa comparação onde não se tem em linha de conta alguns aspetos e indicadores, a Madeira evidenciava diferença significativas em relação aos Açores, porém, não posso deixar de dizer que discordo em absoluto dessa visão que dava como adquirido que isso se devia aos órgãos de governo e, em particular, ao Presidente do Governo regional da Madeira, o Dr. Alberto João Jardim.
As duas regiões, sendo insulares, distantes e arquipelágicas, não são, nem podem ser avaliadas sem algumas precisões mesmo no que à geografia diz respeito, ou, sobretudo no que à geografia diz respeito. Se a geografia esteve na origem do abandono e no modelo político e administrativo que Lisboa, o Reino e a República lhe destinaram até à Revolução de Abril, foi também a geografia que contribuiu para que estes arquipélagos, desde o seu povoamento, tivessem especializações e percursos económicos diferenciados. Foi também a geografia que contribuiu para o reconhecimento do Estado, saído da Revolução de Abril, das especificidades destas regiões e tivesse consagrado na Constituição de 1976 as autonomias regionais. Claro que não foi só a geografia, as reivindicações autonomistas dos povos insulares foram determinantes para esse reconhecimento.
É também a geografia que está na base da decisão da União Europeia de reconhecer a um conjunto de regiões, insulares ou não, um estatuto especial no tratado, ou seja, um tratamento diferenciado para regiões ultraperiféricas, mas também aqui as reivindicações políticas regionais e nacionais assumiram-se como fundamentais para esse reconhecimento.
Mas voltemos à Madeira e aos Açores e às suas diferenças procurando, agora, aprofundar a que se se devem os motivos porque não se devem comparar, de forma linear, estes dois arquipélagos a quem foram politicamente conferidos, e bem, os estatutos autonómicos e de regiões ultraperiféricos.
Se na dimensão populacional se assemelha, o mesmo, para além de outras diferenças, não se pode dizer do território que no caso dos Açores, sendo maior, está pulverizado numa vasta área oceânica de 66 mil quilómetros quadrados, e esse é um atributo que não pode deixar se ser tomado em conta em qualquer olhar sobre os dois arquipélagos.

Foto by Aníbal C. Pires
O arquipélago da Madeira tem os seus 250 mil habitantes concentrados em apenas uma das suas ilhas, os Açores têm a sua população dispersa por nove ilhas e, S. Miguel tem, sensivelmente, metade da população açoriana. A pulverização do território açoriano e o número de ilhas justifica que o investimento público, por exemplo em portos e em aeroportos, para não falar de escolas hospitais e centros de saúde, teve de ser multiplicado por nove, ao passo que na Madeira apenas por dois. Quer se queira quer não, tratando-se de dois arquipélagos insulares e distantes a dispersão territorial faz com que não possam ser olhados sem a consequente relativização que deste facto advém.
Neste texto não procuro avaliar quem fez as melhores opções políticas e económicas e, muito menos comparações sobre os estados de desenvolvimento das duas regiões autónomas. E se é inegável que estes 42 anos de autonomia transformaram a face dos dois arquipélagos, não é menos verdade que estão longe de estar resolvidas seculares questões como a pobreza e a baixa taxa de literacia. Dois indicadores que mais do que todo o betão e o asfalto dizem bem da natureza política de quem nos Açores e na Madeira tem exercido o poder. Os povos insulares continuam sob o jugo de um poder que tem vindo a perverter os desígnios autonómicos.

Ponta Delgada, 04 de Dezembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 05 de Dezembro de 2018

O relatório da OCDE “Education at a Glance” 2018 - crónicas radiofónicas

Imagem retirada da Internet



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 15 de Setembro de 2018 e pode ser ouvida aqui






O relatório da OCDE - “Education at a Glance” 2018

Imagem retirada da Internet
Estou certo que, como eu, terá dado conta da notícia da divulgação de um relatório da OCDE, designado “Education at a Glance” 2018, ou assim numa espécie de tradução livre “Educação em relance 2018,  onde de entre outros aspetos são referidas algumas conclusões importantes, como por exemplo, “O menor nível de escolaridade está diretamente relacionado com uma maior desigualdade no rendimento do trabalho”, ou que “Portugal, de todos os países da OCDE, é aquele onde verifica uma desigualdade salarial acima da média”.
Mas se, como eu, deu conta da divulgação na comunicação social deste estudo da OCDE lembra-se de como foram as manchetes.
Deixo-lhe alguns exemplos.
“OCDE diz que salários dos professores portugueses são "relativamente altos", Professores de Portugal trabalham poucas horas e ganham bem” e ainda este outro, “OCDE diz que temos professores envelhecidos que ganham bem e trabalham menos horas”.
Claro que quem lê a notícia até ao fim e não se fica apenas pelos títulos, fica a saber um pouco mais e a generalidade dos órgãos de comunicação social faz até faz a ligação entre a divulgação do estudo e a atual fase de luta dos educadores e professores em Portugal. É tão evidente que não é possível esconder o facto.
Estranha coincidência e estranha forma de titular a divulgação de um relatório, ainda que breve, sobre a educação nos países da OCDE.
Não acredito em bruxas e, neste caso também não acredito que tenha sido uma coincidência. A divulgação do estudo mais parece uma encomenda que chega no momento oportuno. Quanto à forma como o relatório foi difundido, aí não me restam quaisquer dúvidas. A comunicação social mais uma vez vergou as costas perante o amo.
A OCDE não será diretamente responsável pelos dados que apresenta. A responsabilidade terá de ser assacada a quem forneceu os dados que, no caso dos horários de trabalho e dos salários são falsos. Como sabe sou professor e como já tenho uma longa carreira e idade, naturalmente, cheguei ao topo da tabela de vencimentos dos professores e, não me importaria nada, mesmo nada, de auferir o salário que a OCDE divulgou para o topo da carreira dos docentes em Portugal, seriam apenas mais 662 euros mensalmente, ou seja, vezes 14 meses, daria um acréscimo de 9268 euros, ao meu rendimento anual. Era bom, mas não é assim.

Foto by Aníbal C. Pires
Como não é assim no que diz respeito ao número de horas de trabalho semanal. Os horários dos docentes têm duas componentes, a letiva e a não letiva que totalizam 35 horas semanais, mas como também foi divulgado num estudo recente, não da OCDE, concluiu-se que os educadores e professores trabalham em média mais de 40 horas semanais. A OCDE comparou o incomparável, ou seja, a componente letiva dos docentes portugueses com o horário completo, componente letiva e não letiva, dos docentes dos restantes países.
Há, contudo um aspeto, mesmo com os dados errados, que o Relatório da OCDE conclui e que um dos títulos, que há pouco citei, referia. O envelhecimento da classe docente e a sua relação para que a média salarial dos docentes seja mais elevada. Fica caro ao Estado português, muito caro, manter no ativo um número significativo de docentes com mais de 60 anos de idade e cerca, ou mais de 40 anos de serviço. Todos estes professores estão no topo da carreira e auferem de salários substantivamente mais elevados que os professores no início ou no meio da carreira. É tempo de rejuvenescer a classe docente e promover o emprego e a estabilidade na carreira aos jovens professores.
A semana passada conversei consigo sobre a atual luta dos educadores e professores não estava no meu horizonte abordar, pelo menos num tão curto espaço de tempo, a mesma temática, mas o tempo e a forma, independentemente dos erros com origem em dados incorretos, como o Relatório da OCDE foi divulgado tornou este tema prioritário.
Para finalizar fica apenas, como informação, que a FENPROF já anunciou que irá solicitar ao Diretor de Educação e Competências da OCDE a correção dos dados que foram divulgados, dando disso conhecimento à Internacional de Educação.
Gostei de estar consigo. Fique bem.
Voltarei no próximo sábado. Até lá.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 15 de Setembro de 2018

do bom senso - "Os Porquês?, na SMTV

Aníbal C. Pires by Madalena Pires (S. Miguel, 2017) 









Coisas do bom senso e de uma certa forma de estar na vida.

Para ver ou rever a edição número 5 do programa “Os Porquês?”, na SMTV.











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... das comparações

Aníbal Pires by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)




Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos





(...) Nos Açores da autonomia sempre se olhou para a Madeira como mais afoita nas iniciativas do investimento público, e um segmento da sociedade açoriana, por vezes com uma pontinha de inveja, admirava a capacidade reivindicativa e empreendedora de João Jardim que, não tendo papas na língua, via as suas exigências junto de Lisboa satisfeitas ao passo que nos Açores as reivindicações não tinham a mesma força e, como tal, não seriam tão eficazes. O crescimento económico na Madeira era superior ao dos Açores e até na infraestruturação os ritmos nos Açores eram muito inferiores. 
Sem contestar que numa comparação onde não se tem em linha de conta alguns aspetos e indicadores, a Madeira evidenciava diferença significativas em relação aos Açores, porém, não posso deixar de dizer que discordo em absoluto dessa visão que dava como adquirido que isso se devia aos órgãos de governo e, em particular, ao Presidente do Governo regional da Madeira, o Dr. Alberto João Jardim. (...)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Salma Hayek - a abrir Dezembro

Imagem retirada da Internet





Salma Hayek abre o mês de Dezembro.







Fica a beleza e a sensualidade desta consagrada e reconhecida atriz mexicana, Sem mais palavras.





Um excelente mês de Dezembro para os visitantes deste blogue a quem agradeço a visita.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O desleixo do Estado


imagem retirada da Internet
O Governo Regional pela mão de Ana Cunha, Secretária Regional dos Transportes e Obras Públicas, entregou no passado dia 13 de Novembro mais um equipamento à Policia de Segurança Pública (PSP). Desta vez não foram viaturas, mas um moderno radar para fiscalização da velocidade. Claro que, como mandam as boas regras da propaganda, a Secretária Regional aproveitou o ensejo para anunciar que está prevista para breve a entrega à PSP de 14 novas viaturas que representam um investimento de 300 mil euros.
Neste caso a disponibilidade do Governo Regional para se substituir às responsabilidades do Estado na Região, no apoio à PSP e à GNR, resulta de um diploma aprovado na ALRAA e que permite à Região arrecadar, para o Fundo Regional dos Transportes Terrestres, parte ou a totalidade de algumas coimas aplicadas pelas forças de segurança e, por conseguinte, não se traduz num acréscimo da despesa do Orçamento da Região. Mas nem sempre é assim quando a Região se substitui ao Estado. Coisa que acontece em vários domínios da responsabilidade do Estado, ou seja, quando as responsabilidades estaduais não são assumidas por quem detém a competência e o dever constitucional de o fazer.
Percebo que aos cidadãos pouco importe quem faz o quê, desde que os serviços se mantenham na proximidade e com qualidade. Já não percebo a inércia do Governo Regional ao não exigir que os serviços públicos da soberania estadual não mereçam, por parte de quem tem a competência, a devida atenção e investimento na Região.
Outros casos existem, mas julgo que serão suficientes os exemplos da promessa, ainda não cumprida, da construção de um novo estabelecimento prisional para a Ilha de S. Miguel, ou a inércia do Estado face aos impactos ambientais causados pelo uso da Base das Lajes pelas forças armadas dos Estados Unidos.

Imagem retirada da Internet
Mas se estes exemplos não bastassem um bem mais recente diz bem deste abandono, e diretamente à segurança interna. Se o Governo Regional vai conseguindo disfarçar com viaturas e radares a insuficiência de meios da PSP, não consegue resolver aquele que será o maior problema da PSP (não só) na Região, A falta de efetivos. Recentemente foi manchete num dos diários regionais a possibilidade de encerramento de algumas esquadras na Região por falta de agentes. Mas não é só nos Açores que faltam polícias é por todo o país. Esta situação resulta de opções políticas de concentração em superesquadras e desinvestimento na formação de agentes e, está bom de ver, esse desleixo só poderia ter este resultado.
O policiamento de proximidade (preventivo) foi substituído por uma metodologia ancorada no patrulhamento por viaturas, algumas delas completamente desadequadas para o efeito, ou seja, não se vislumbram agentes na rua, vemo-los passar lá de vez em quando.
A leitura desta coluna pode suscitar uma discussão interessante, mas que não resolve no imediato, nem no médio prazo, o défice de efetivos da PSP na Região. Porque não se cria uma polícia regional, Pois. A discussão pode ser interessante, mas, como disse, não nos resolve o problema de momento, por uma questão de competências estaduais e regionais, e, a prazo tornar-se-ia em mais um pesado encargo para o Orçamento regional.
Como disse pode ser uma discussão interessante, mas no atual contexto existem outras prioridades para, não só utilizar até ao limite as competências autonómicas, mas também para dar uso aos instrumentos já existentes tendo como objetivo a promoção de políticas de maior equidade social e económica, bem assim como a coesão regional ancorada nas complementaridades e não, como alguns continuam a defender, na replicação igualitária de serviços e infraestruturas por todas as ilhas.

Ponta Delgada, 26 de Novembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 28 de Novembro de 2018

terça-feira, 27 de novembro de 2018

,,. do estado do Estado

Aníbal C. Pires by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)




Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos






(...) Percebo que aos cidadãos pouco importe quem faz o quê, desde que os serviços se mantenham na proximidade e com qualidade. Já não percebo a inércia do Governo Regional ao não exigir que os serviços públicos da soberania estadual não mereçam, por parte de quem tem a competência, a devida atenção e investimento na Região. 
Outros casos existem, mas julgo que serão suficientes os exemplos da promessa, ainda não cumprida, da construção de um novo estabelecimento prisional para a Ilha de S. Miguel, ou a inércia do Estado face aos impactos ambientais causados pelo uso da Base das Lajes pelas forças armadas dos Estados Unidos. (...)

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O Parlamento decide

Foto by Aníbal C. Pires
Esta semana decorre no Parlamento regional a apresentação e discussão do Plano e Orçamento da Região para 2019. Quer se dê, ou não, importância ao debate e aos documentos que vierem a ser aprovados, com ou sem alterações dos partidos da oposição, este é um momento importante para a nossa vida coletiva. Afinal são estes dois documentos que estabelecem prioridades para o uso dos dinheiros públicos e que podem ter reflexos positivos na vida dos cidadãos, no investimento público reprodutivo e na coesão regional.
Não tenho particular expetativa sobre algumas das alterações, existem sempre, que quer o PS, quer os grupos e representações parlamentares dos partidos da oposição venham a fazer aprovar, ou seja, a essência do Orçamento e do Plano para 2019 vai, naturalmente, manter-se. É o orçamento do Governo do PS que, com maior ou menor rigor, traduz o seu programa eleitoral, programa sufragado pelos eleitores. Porém, existe sempre a possibilidade de, em sede de Orçamento e Plano, e fazendo fé nas virtualidades do diálogo democrático que deve caraterizar a instituição parlamentar, os partidos da oposição consigam entendimentos e vejam algumas das suas propostas, também elas resultantes de programas eleitorais, ser aprovadas. E assim tem vindo a acontecer nem sempre com a extensão e profundidade desejável, tendo em consideração aquilo que, em minha opinião, são algumas medidas que poderiam provocar efeitos no rendimento de quem mais necessita, mas também na adoção de medidas que combatam a precariedade e criem mais emprego, desde logo no setor público, usando para o efeito os instrumentos já existentes e as competências autonómicas consagradas constitucionalmente.
Como já afirmei não tenho expetativas elevadas em relação à maratona parlamentar da próxima semana, desde logo porque a forma como se desenrola o debate não é a mais adequada, nem para os deputados nem para os jornalistas, nem para quem segue o debate online, mas isso não retira interesse e importância à discussão que espero venha contribuir para a dignificação do Parlamento e não, como por vezes e ao longo dos tempos tem acontecido, seja mais uma sessão plenária com incidentes em que ninguém se revê, mormente, estou certo, a maioria dos deputados que nos representam.

Foto by Aníbal C. Pires
A instituição parlamentar regional sendo a mais importante da arquitetura autonómica não é reconhecida como tal pela maioria dos cidadãos. As razões que estão na base deste equívoco prendem-se com o próprio funcionamento do Parlamento, mas não é só. Para o cidadão o mérito, ou demérito, das políticas é atribuído ao poder executivo, ou seja, ao Governo Regional que tudo faz para alimentar essa ideia, ou melhor quando a execução colhe apoios é o Governo, quando a execução não é assim tão popular a responsabilidade é atribuída ao parlamento mesmo quando não se verificam maiorias absolutas. Veja-se a atual situação na República, muitas das medidas positivas que quebraram o ciclo económico recessivo e de empobrecimento do país tiveram origem no parlamento e resultaram de propostas dos partidos da oposição, com os quais o PS celebrou acordos bilaterais, em particular do PCP, contudo quem tem colhido os benefícios políticos, a fazer fé nos estudos de opinião, é o governo de António Costa.
Na Região não é diferente. Quem propôs o complemento regional de reforma foi a Assembleia, em 1999, por proposta do PCP num quadro de maioria relativa do PS, quem colhe os dividendos políticos é o Governo Regional, seja ele qual for, pois é o governo que executa (paga, o chamado cheque pequenino).
Não tenho a pretensão de, com este pequeno texto, resolver alguns equívocos e dissipar o nevoeiro informacional que muitas vezes se abate sobre a realidade e que conduz à mistificação da opinião pública, mas na semana em que se vai discutir o Orçamento e Plano da Região para o próximo ano considerei que este assunto tem alguma relevância, não como informação, mas como uma simples e despretensiosa reflexão.

Ponta Delgada, 25 de Novembro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 26 de Novembro de 2018

domingo, 25 de novembro de 2018

... do parlamento

Foto by Aníbal C. Pires





Excerto de texto para publicação na imprensa regional e, como é habitual também aqui, no blogue momentos






(...) Não tenho particular expetativa sobre algumas das alterações, existem sempre, que quer o PS, quer os grupos e representações parlamentares dos partidos da oposição venham a fazer aprovar, ou seja, a essência do Orçamento e do Plano para 2019 vai, naturalmente, manter-se. É o orçamento do Governo do PS que, com maior ou menor rigor, traduz o seu programa eleitoral, programa sufragado pelos eleitores. Porém, existe sempre a possibilidade de, em sede de Orçamento e Plano, e fazendo fé nas virtualidades do diálogo democrático que deve caraterizar a instituição parlamentar, os partidos da oposição consigam entendimentos e vejam algumas das suas propostas, também elas resultantes de programas eleitorais, ser aprovadas. E assim tem vindo a acontecer nem sempre com a extensão e profundidade desejável, tendo em consideração aquilo que, em minha opinião, são algumas medidas que poderiam provocar efeitos no rendimento de quem mais necessita, mas também na adoção de medidas que combatam a precariedade e criem mais emprego, desde logo no setor público, usando para o efeito os instrumentos já existentes e as competências autonómicas consagradas constitucionalmente. (...)

sábado, 24 de novembro de 2018

A luta dos educadores e professores, um Governo que não é pessoa de bem e a autonomia entregue a Lisboa - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires
Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 08 de Setembro de 2018 e pode ser ouvida aqui







A luta dos educadores e professores, um Governo que não é pessoa de bem e a autonomia entregue a Lisboa 

Foto by Aníbal C. Pires
Estamos a pouco mais de uma semana da abertura de um novo ano letivo e, face ao que decorre da atitude do Governo da República e à renúncia do Governo Regional dos Açores em exercer as suas competências autonómicas, os docentes não garantem que o ano tenha o seu início com a tranquilidade que eles próprios desejariam.
As razões desta conflitualidade que se avizinha são conhecidas, nem sempre compreendidas pela generalidade da população e, sobretudo, alvo de muita manipulação pelos lacaios do poder. Não é por acaso que aquando das lutas dos educadores e professores ressurgem velhos e estafados argumentos para denegrir a imagem dos docentes, aliás basta estar com alguma atenção para se perceber que as notícias e a opinião publicada têm um cunho cuja finalidade é a de provocar descontentamento face à luta dos educadores e professores pela sua dignidade profissional. É disso que se trata, Uma luta pela dignidade profissional e pelo cumprimento de compromissos, recomendações e, sobretudo, da Lei.
Uma declaração de compromisso assinada com a plataforma de sindicatos dos professores, o art.º 19 do Orçamento de Estado de 2018 e uma Resolução da Assembleia da República, aprovada com os votos favoráveis do PS, tudo isto a confirmar a contagem integral do tempo de serviço congelado aos docentes para efeitos de progressão na carreira. A plataforma sindical a aceitar, face ao impacto orçamental, que o modo e o prazo sejam objeto de negociação, aliás como diz o próprio art.º 19 do Orçamento de Estado para 2018. De tudo isto o Governo da República, não só o Ministro que tutela a Educação, mas também o próprio Primeiro Ministro fazem tábua rasa.
Afinal não foi para valer, afinal foi só para acalmar os ânimos aos educadores e professores que em Outubro e Novembro de 2017 vieram para a rua exigir o descongelamento do tempo de serviço e a recuperação do tempo congelado para efeitos de progressão na carreira.

Imagem retirada da Internet
Este Governo não é pessoa de bem. Esta é conclusão que legitimamente se pode tirar da posição do Governo do PS de António Costa que ontem, uma vez mais, levou os Sindicatos à mesa das negociações com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Ou melhor dizendo, o Governo do PS de António Costa mantém a sua intransigência e a negação dos compromissos assumidos no que diz respeito à recuperação da totalidade do tempo de serviço e, quanto à tomada de medidas sobre o envelhecimento dos educadores e professores, nem quer ouvir falar e, sobretudo, nada tem a dizer. As reivindicações dos docentes não se esgotam apenas no reposicionamento e na resolução do problema do envelhecimento da sua classe profissional, também o combate à precariedade e a melhoria condições de trabalho estão na mesa negocial, se é que assim se pode designar este processo que tem como ponto de partida a intransigência e negação, face aos compromissos assumidos, do Governo de António Costa.
Perguntará, Mas então não valeram de nada todas as greves e manifestações do ano letivo anterior. Claro que sim. Não só valeu como se conseguiram alguns avanços. Veja por exemplo a greve de 27 de Outubro, de toda a administração pública, teve como efeito a satisfação da reivindicação do descongelamento do tempo de serviço, ou seja, garantiu-se que a partir de 1 de Janeiro de 2018 o tempo voltaria a contar para efeitos de progressão na carreira e, na sequência da greve de 15 de Novembro, esta só de educadores e professores, foi assinada uma declaração de compromisso, que o Governo de António Costa não quer cumprir, onde constava a abertura para negociar um conjunto de reivindicações dos docentes, de entre as quais a recuperação do tempo de serviço congelado e o consequente reposicionamento na carreira, aliás o governo está disponível para dos 9 anos, 4 meses e 2 dias contabilizar mais de 2 anos. Se houve avanços, certamente que sim. Se são aceitáveis, Não.
O calendário político nacional, nem me refiro ao regional que, como se sabe, mais parece estar em banho-maria a aguardar a realização de próximos congressos partidários do PSD e do PS, mas como dizia a agenda e o calendário político nacional vão estar centrados na preparação e negociação do Orçamento de Estado para 2019. Assim, quer se goste quer não, este é um período decisivo, diria mesmo, de uma oportunidade única em virtude de outros calendários (eleitorais) para que os educadores e professores se voltem a unir na luta exigindo o cumprimento, desde logo, da Lei e dos compromissos assumidos. Unir na luta pela valorização e dignificação da sua classe profissional.

Gostei de estar consigo. Fique bem.
Voltarei no próximo sábado. Até lá.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 08 de Setembro de 2018