sábado, 30 de abril de 2011

Da Beira Baixa uma canção



Uma canção que me habituei a ouvir desde menino na voz do povo da Beira Baixa, povo de onde nasci.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dee Dee



Continuando à descoberta de Dee Dee Bridgewater. Já por aqui passou e certamente voltará mais alguma vez.
Divirtam-se! E boa música.

Compay Segundo para esta tarde



Hoje música de Cuba no Olímpya, Paris. "Una rosa de Francia".
Compay Segundo e Omara Potuondo

Causa efeito

Foi apresentado e discutido na sessão plenária de Abril, da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, o relatório produzido pela Comissão Eventual para Analisar a Aplicação do Rendimento Social de Inserção.
Esta iniciativa parlamentar, da qual o CDS/PP se auto marginalizou, tem uma relevante importância política e contribui de forma substantiva para o conhecimento e estudo quer da medida, quer da população a que se destina, quer ainda das causas que estão na origem da pobreza e exclusão social
É um documento importante para os decisores políticos, fundamental para os que de um ponto de vista científico se debruçam sobre a situação social do nosso arquipélago e importante para os técnicos que, no terreno, se confrontam com as duras realidades da pobreza, exclusão e fragilidade social.
Uma das principais conclusões que se podem inferir deste relatório e, quiçá, a mais importante relaciona-se com a questão do trabalho, a sua oferta e as baixas remunerações que, aliás é um dos principais factores geradores de pobreza e exclusão na nossa sociedade. Sem trabalho e uma justa remuneração não há autonomia, não há inserção, não há cidadania.
É a falta de ofertas adequadas de emprego, o trabalho precário e, de forma ainda mais chocante, os baixos rendimentos do trabalho que empurram e prendem muitos açorianos para a dependência desta prestação social. Este relatório é, também, dessa forma um libelo acusatório às políticas de destruição da economia produtiva e do emprego que tem sido adoptada na Região e no País.
Também relevantes são os aspectos que se relacionam com a situação profissional dos técnicos que no terreno lidam com as famílias beneficiárias. A necessidade de estabilização das equipas não se coaduna com a situação de precariedade e de subremuneração que vivem muitos destes técnicos. O empenhamento, abnegação e dimensão humana destes profissionais deve ser relevado, mas deve ser sobretudo justamente compensado, incentivado e valorizado.
Uma outra conclusão que se pode inferir do relatório que tenho vindo a referir é a utilização dos participantes de programas ocupacionais como mão-de-obra barata, uma vez que muitos destes programas ocupacionais configuram postos de trabalho permanentes.
Se já era conhecida esta em realidade em relação aos programas Estagiar, constata-se agora também em relação aos programas ocupacionais. A concepção dos regulamentos destes programas não pode continuar a ser feita sem a devida exigência para com as instituições públicas e organizações empresariais que recebem e utilizam estes trabalhadores e que, como tal, também beneficiam destes programas. A exigência de responsabilidade social às instituições públicas e às empresas envolvidas não pode continuar a ser feita de forma ligeira ou casuística, devendo estar vertida nos regulamentos.
Horta, 14 de Abril de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 27 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo 

Imagens e um instrumental



Algumas fotos publicadas nos blogues "momentos" (este mesmo) e no "memórias". A música é de Humbertona (Humberto Bettencourt), músico e instrumentista cabo-verdiano pouco conhecido, assim como pouco divulgada é a melodia que dá pelo nome de: "Grito de dor".

domingo, 24 de abril de 2011

As portas que Abril abriu

Sei que o tempo nos consome a vida mas pára aqui. Pára e ouve este poema da Revolução Portuguesa que amanhã se comemora. Poema pela voz do autor que cantou o 25 de Abril de forma ímpar.



e... não deixes que se encerrem as portas que Abril abriu

sábado, 23 de abril de 2011

Produzir mais para pagar menos

Não sendo, à data em que escrevo este texto, conhecidas as exigências do Fundo Económico de Equilíbrio Financeiro (FEEF) para responder ao pedido de “resgate” solicitado pelo governo de gestão de José Sócrates não será, porém, difícil prever que as medidas a impor a Portugal continuarão na linha da austeridade e da recessão económica. As conhecidas e draconianas imposições colocadas à Irlanda e à Grécia são um bom indicador daquilo que vai suceder com Portugal.
Cortes na despesa pública, despedimentos na administração pública, maior flexibilização das leis laborais, aumento de impostos, aumento de juros, etc., etc..
As questões que se colocam a Portugal e aos países que já foram vítimas do designado “resgate” e a outros que se lhe seguirão são: O “resgate” era inevitável? As medidas impostas são benéficas para as respectivas economias? A resposta é, para ambas, não.
O “resgate” foi-nos imposto, diria mesmo que a estratégia do PS e do PSD foi a de conduzir Portugal para aquilo que se foi afigurando inevitável. Mas era evitável.
A solução patriótica que se impunha era a de propor a renegociação da dívida e o escalonamento do seu pagamento, afinal querem ou não dar continuidade ao projecto da União Europeia e garantir sucesso e vitalidade à União Monetária, por outro lado uma aliança com a Irlanda, Grécia, Espanha, Itália e Bélgica na exigência da alteração aos estatutos do Banco Central Europeu (BCE) e conter, assim, a espiral especulativa dos chamados “mercados”, mostra-se fundamental para acabar com a ditadura das agências de notação e com a chantagem do sector financeiro. Não é aceitável que o BCE não possa participar na compra de títulos da dívida dos estados membros mas financie a juros de 1% a banca privada para esse efeito aceitando no mercado secundário como garantias reais os títulos entretanto adquiridos, pela banca privada, a juros elevadíssimos. Estas duas iniciativas, que referi, fazem parte de um conjunto mais alargado de opções e medidas que deveriam ter sido postas em prática pelo governo português para por fim a este ciclo político e económico gerador de escassez que conduziu à paradoxal e pouco conhecida situação de termos uma dívida privada superior à dívida pública. Portugal precisa produzir cada vez mais para dever cada vez menos.
A defesa e promoção da produção nacional assume-se, de igual modo, como um factor determinante de uma solução política e económica patriótica e de esquerda, só com o aumento da produção nacional é possível reduzir a dependência externa e criar as condições necessárias para os impulsos económicos de que Portugal tanto necessita para se libertar da obscena chantagem dos “mercados”.
Ponta Delgada, 08 de Abril de 2011

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 21 de Abril de 2011, Ponta Delgada

Jesus Christ



Jesus expulsou os vendilhões e agiotas do Templo.
Apesar dos milhões de seguidores de Jesus os vendilhões e agiotas voltaram a instalar-se e a dominar o destino dos povos.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

E agora

E não é que foi necessário o FMI trazer a público a “novidade” que a dívida privada é muito superior à dívida pública para que as afirmações que têm sido produzidas pelos dirigentes do PCP de repente fizessem sentido! Quase me sinto na obrigação de agradecer ao Director-geral do FMI que pôs o dedo na ferida. Não fosse esta organização sinónimo de fome e miséria internacional e até aceitaria esta ingerência externa já que esclareceram o que há muito ando a dizer, eu e muitos outros desalinhados, ou seja, o maior problema da dívida portuguesa é o elevado valor da dívida privada e não tanto o da dívida pública.
É que afinal a dívida pública da Irlanda, 107% do PIB, e da Grécia, 150% do PIB, são muito superiores à de Portugal, 97,3% do PIB, e, quem diria que a dívida pública da Itália são120% do PIB e a da Bélgica 100,5% do PIB, ou mesmo que a grande França tem uma dívida pública de 86,8% e a Alemanha, com toda a sua petulância, deve o equivalente a 75,9% do seu PIB.
A diabolização feita em Portugal sobre a dívida pública para justificar as medidas de austeridade começa a ser desconstruída. A dívida pública portuguesa é preocupante mas a constante focalização dos problemas da economia e das finanças nacionais no elevado valor da dívida pública não passa de uma grande ofensiva ideológica para justificar as medidas de austeridade já implementadas e as que se começam a desenhar no horizonte próximo.
Já agora o que me dizem os tão preocupados comentadores e analistas mas também os dirigentes do PS, do PSD e do CDS/PP à enormidade da dívida privada (1) que se situa nos 220% do PIB!? Porque é que andaram a esconder este facto!? Não será aqui que reside o maior problema financeiro nacional!? E a pergunta seguinte é naturalmente: - Quem é que deve e a que se deve? Deve a banca e deve, no essencial, a “indústria” imobiliária. Bem! Outra pergunta legítima: quem são os responsáveis? Pois bem, desde logo os especuladores imobiliários e financeiros mas a principal responsabilidade deve ser assacada aos responsáveis pelas políticas que permitiram e deram cobertura à especulação.
Como referi logo no início foi o Director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), o francês Dominique Strauss-Kahn, que considerou, em entrevista conjunta ao El País, ao Repubblica e ao Washington Post, que em Portugal “o problema não é tanto de dívida pública como de financiamento dos bancos e dívida privada”.
A ajuda externa destina-se a quem, ao Estado ou à banca? Quem é que vai pagar as exigências do “resgate” resultantes do pedido de ajuda feito por Sócrates e subscrito pelo PSD, pelo PSD, pelo CDS/PP, por Cavaco Silva e por um conjunto de personalidades que ao longo de mais de 3 décadas têm vindo a desbaratar a soberania nacional e a exigir ciclicamente que os portugueses apertem o cinto. Quem vai pagar? Serão os mesmos de sempre ou haverá por aí um rasgo de patriotismo no dia 5 de Junho.
Agora é o momento de dizer basta!
Ponta Delgada, 18 de Abril de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 20 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo

(1) A dívida externa (pública mais privada) é que atinge um valor de 220% do PIB. Assim deve ler-se: (...) da dívida privada que somada à dívida pública situa a dívida éxterna portuguesa em 220% do PIB!? (...)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O baile

A crise que atravessamos, consequência directa de orientações políticas e económicas de matriz neoliberal, orientações que já duram há 35 anos, trouxe e continua a trazer clarificações políticas importantes.
Os responsáveis pelo Estado – e pelo estado a que chegámos – persistem em disfarçar as suas mais ou menos avultadas culpas pela crise económica, financeira mas também crise política.
Assistimos, por isso, a um estranho “baile furado”. O PS, o PSD mas também o CDS/PP tentam fugir do meio do salão deste baile, para que os portugueses não notem as suas responsabilidades no abismo para onde conduziram o país.
O PS, procurando combater o seu potencial isolamento social e político tenta fingir que “saracoteia” para a esquerda.
Dramatiza e lamenta-se pela crise política que criou e agita com o espectro da direita, apelando à aceitação do mal, o menos. Mas o seu líder vai, entretanto, anunciando que o programa eleitoral é de continuidade e mesmo de aprofundamento das medidas de austeridade numa clara demonstração de que afinal as receitas são as de sempre e que, neste PS, nem as moscas mudam!
O mal menor para o PS é, e continua a ser: o mal maior dos portugueses.
O PSD rodopia num frenético “corridinho” para que não se note que a sua discordância com o PEC que inviabilizou na Assembleia da República afinal não é assim tão grande. Antes do chumbo do PEC IV para Passos Coelho a receita nunca, mas nunca, seria o aumento de impostos agora, perante a inebriante melodia do poder ao alcance dos dedos, já vai anunciando que, enfim… o IVA… o IRS… e que não se deve diabolizar o FMI, afinal coitadinhos até cá estão para ajudar.
Paulo Portas, vai ensaiando um “vira” numa clara afirmação de disponibilidade para dançar seja com o PS seja com o PSD, tanto lhe faz, desde que possa dar uma perninha de dança num qualquer governo abençoado por Cavaco Silva e pelo FMI.
O CDS-PP está inebriado com a doce nostalgia do poder, onde prestou tantos e tão valiosos serviços, em casos conhecidos como o “Portucale”, o Casino de Lisboa ou a compra dos helicópteros, só para dar alguns exemplos, e, sem ter de mergulhar nas águas lodosas do negócio dos submarinos.
Perante o desastre público e notório a que conduziram Portugal, estes três partidos – cujo programa eleitoral é só um, a redigir pelo FMI – não conseguiram questionar os seus dogmas ideológicos nem aprender o que quer que fosse, em nome da defesa do povo que juraram representar.
Por isso abandonam, por isso abdicam, por isso se dispõem a vender Portugal e entregar de mão beijada aos interesses especulativos estrangeiros tudo o que estes não conseguiram ainda rapinar!
A entrada do FMI em Portugal não passa de uma vergonhosa capitulação por parte destes três partidos, que podem agora alijar responsabilidades políticas e remetê-las para as condições de “resgate” do país.
A culpa, aquela coisa que em Portugal costuma morrer solteira, já não será deles, mesmo que voltem assumir responsabilidades no Governo. E dirão: “É o FMI…”
E o “baile furado” passará então a “baile mandado”.
As mudanças que Portugal precisa não virão nem podiam vir de qualquer um destes três partidos e a clarificação maior, a que mais importa, virá mais tarde ou mais cedo, da voz do nosso Povo. E esta é uma grande oportunidade para exigir a necessária e indispensável ruptura com o rumo de declínio, injustiça e empobrecimento do país a que nos conduziu o PS, o PSD e CDS/PP.
Como um dia escreveu José Saramago:“Mas quando nos julgarem bem seguros, / cercados de bastões e fortalezas, / hão-de ruir em estrondo os altos muros / e chegará o dia das surpresas.”
Horta, 13 de Abril de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 15 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo

Afirmar uma alternativa

A demissão do primeiro-ministro foi aceite e as eleições realizam-se a 5 de Junho. Anúncio feito pelo Presidente da República num comunicado ao país após a reunião do Conselho de Estado. O Presidente anunciou o que antecipadamente se esperava viesse a acontecer, até porque outras soluções não havia perante o cenário que foi montado nem o actual quadro parlamentar lhe dava margem a qualquer variação sobre o mesmo tema, por outro lado e apesar de todas as dificuldades reais e virtuais que o país atravessa o tempo é de devolver a voz e o poder ao Povo.
Não me vou perder nos obscuros meandros do discurso de Cavaco Silva que sob o disfarce do distanciamento e da equidistância não resistiu à tentação de dar orientações para a campanha eleitoral e desenhar cenários de resultados eleitorais desejáveis. Não vale a pena ou, talvez sim mas, não vou por aí. Julgo ser mais importante afirmar alternativas políticas, agora que os cidadãos podem activa e coerentemente mudar o que tanto têm exigido nas manifestações que encheram as avenidas da Liberdade que Abril abriu.
E nada melhor para cumprir esta vontade de afirmação da alternativa às políticas que mergulharam Portugal numa crise sem precedentes do que retomar as propostas apresentadas num dos Projectos de Resolução que chumbou o famigerado PEC IV.
O Projecto de Resolução do PCP apresentado na Assembleia da República foi aprovado apenas parcialmente, ou seja, o seu primeiro ponto que rejeitava o PEC IV mas, o PCP não se limitou como fez, por exemplo o PSD, a propor a rejeição do PEC IV, o PCP recomendava ao Governo um conjunto de medidas de combate à crise e das quais destaco:
- Defender e reforçar a produção nacional, o apoio ao investimento em fileiras estratégicas para o desenvolvimento económico e para o combate à nossa dependência externa, seja no plano agro-alimentar, seja na vertente industrial ou energética;
- Promover políticas activas de crédito e fiscais que sustentem a actividade das micro e pequenas empresas;
- Reforçar o financiamento de Autarquias e Regiões, de forma a permitir um maior apoio às populações e tendo em conta a importância acrescida da actividade do Poder Local e das Regiões Autónomas para o desenvolvimento local e regional e em particular para a criação de emprego e para as micro e pequenas empresas;
- Concretizar uma outra política fiscal, que aumente a tributação sobre os principais detentores da riqueza e sobre os enormes lucros obtidos pelas grandes empresas e grupos económicos, bem como sobre as elevadas remunerações dos seus gestores, em vez do agravamento dos impostos sobre os trabalhadores, os pensionistas e os reformados; que alargue a base tributária, combata a economia paralela, a fraude e a evasão fiscal, que tribute de imediato todas as mais-valias, que reduza benefícios fiscais em sede de IRC e elimine totalmente os que são usados pela banca e pelo sector financeiro, (incluindo as respectivas dependências ou agências no off-shore da Madeira), que crie taxas suplementares sobre os lucros acima de 50 milhões de euros dos grupos económicos e financeiros, que crie uma tributação especial sobre riqueza, bens de luxo e patrimónios elevados, nomeadamente mobiliários, que crie um novo imposto sobre transacções bolsistas e transferências financeiras para off-shores.
- Adoptar as medidas de poupança em áreas da despesa pública que não beneficiam o interesse colectivo, impondo designadamente o limite da remuneração do Presidente da República a todas as remunerações no sector público, incluindo o sector empresarial do Estado, eliminando estruturas desnecessárias, designadamente as criadas para enfraquecer serviços e sectores públicos e para preparar privatizações, e travando a crescente transferência de recursos públicos para o sector privado. (…)
O projecto político alternativo não se esgota nas medidas propostas mas lá que são efectivamente diferentes, lá isso são. Claro que estas e outras recomendações constantes no Projecto de Resolução, a que aludi, não mereceram o apoio do CDS/PP nem do PSD e, como tal, foram rejeitadas.
Ponta Delgada, 31 de Março de 2011

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 15 de Abril de 2011, Ponta Delgada

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Alijar responsabilidades

Os termos do “resgate” do país estão a ser preparados pela equipa que por estes dias vem avaliar as condições para continuar a rapina e alijar de responsabilidades políticas a sua frente avançada constituída pelos chamados partidos do arco da governabilidade, não sei quem é usurpou este poder ao povo mas que é uma designação abusiva, lá isso é. De tal forma abusiva, como têm sido abusivas as declarações dos responsáveis europeus ao tentarem condicionar a livre expressão dos eleitores portugueses ao, ainda antes de se conhecerem em toda a sua extensão e profundidade os termos do “resgate”, procurarem que o PS, o PSD e o CDS/PP se vinculem ao compromisso da sua aceitação e cumprimento, aliás coisa a que já se comprometeram.
Os eméritos técnicos da União Europeia e do FEEF/FMI trazem consigo um acervo teórico de referência, “Chicago boys”, e de experiência feito. Ao longo de décadas sucederam-se intervenções de “resgate” com resultados sobejamente conhecidos, da qual a ajuda aos países da América Latina é paradigma. Foi ver a diminuição da actividade económica, o aumento do desemprego, aumento da desigualdade e, por conseguinte o aumento da pobreza e da exclusão social.
A conta que vamos pagar pelo “resgate” é demasiado alta, direi mesmo que é incomportável, uma vez que o valor da dívida pública e privada e, sobretudo, dos encargos que lhe estão associados como resultado das exigências dos “mercados”, exigências feitas com o suporte do seu braço armado: as agências de notação; tornaram este fardo incomportável. A conta portuguesa e as contas da Grécia, da Irlanda e de outros países que se seguirão, nesta gula insaciável dos especuladores financeiros, são incomportáveis porque nem sequer correspondem à riqueza real que é possível gerar num quadro de crescimento económico favorável, quanto mais num quadro económico recessivo em que o que se gera é escassez.
A solução passa certamente pela redução da dívida, redução que deve e pode ser feita na revisão das Parcerias Público Privadas, na redução no número de administradores das empresas públicas e nos seus obscenos salários, de entre outros escandalosos despesismos. A solução passa certamente pelo aumento da receita tributando quem até agora tem gozado dos benefícios, das isenções e das taxas reduzidas ao invés de penalizar, ainda mais, o imposto sobre o consumo e sobre o trabalho, como Passos Coelho propõe para acrescentar às medidas contempladas no PEC IV dando, desde já, a margem que o FEEF/FMI necessita para justificar o agravamento das medidas que Portugal terá de cumprir para ser “resgatado”.
A solução passa pela renegociação da dívida e pelo escalonamento do seu pagamento, a solução passa pela alteração dos estatutos e regulamentos do Banco Central Europeu. A solução passa por políticas que valorizem e promovam a produção nacional e contribuam para o necessário impulso económico que ponha Portugal a produzir.
Portugal precisa produzir. Produzir mais para dever menos!
Horta, 11 de Abril de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 13 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Uma lição cantada



José Barata Moura e a desconstrução das acções que visam contariar qualquer ideia de transformação do Mundo.

Na ponta do cabo



Para quem não conhece pode partir à descoberta da música de Fausto a partir deste tema. Para quem conhece é apenas uma canção da vasta obra de um dos maiores músicos e compositores da música popular portuguesa.

domingo, 10 de abril de 2011

Horta - Na rota dos grandes veleiros (fim)

Esta será porventura a última foto de um registo fotográfico que fiz no passado dia 26 de Março. Outras fotos foram publicadas aqui, aqui, aqui aqui, aqui e aqui.


Os motivos náuticos e a Horta continuarão a ser objecto do meu olhar e da partilha no "momentos" e no "memórias"

Cesária Évora para esta manhã insular

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O resgate

Reconheço! Sócrates para além de outras virtudes ou defeitos, depende do ponto de vista, é um excelente actor, é calculista e faz uso de um pragmatismo saloio, mas eficaz, para se manter no poder. A comunicação que fez ao país para anunciar a inevitabilidade do pedido de “resgate” (pedido de ajuda externa) é uma peça de propaganda, com a devida incorporação tecnológica que caracteriza o nosso tempo, digna do mestre Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolfo Hitler.
Mais do que as artes de palco com que o primeiro-ministro habitualmente nos brinda interessa-me tecer algumas considerações sobre o “inevitável” pedido de ajuda à Comissão Europeia e o quadro desenhado para que esse pedido fosse apresentado, por José Sócrates, como uma decorrência natural das dificuldades de financiamento nos mercados. Dificuldades que se agravaram, segundo o PS, após aquela maldade que constituiu o chumbo do PEC IV.
O sector financeiro nacional, o PS, o PSD, o CDS/PP e o Presidente da República são os principais responsáveis pela situação de crise que afecta Portugal e pela decisão de pedir o “resgate” do país. Os primeiros porque são directamente beneficiados e, os segundos porque enquanto responsáveis pela governação ao longo das últimas 3 décadas cederam o poder que o Povo lhes conferiu a interesses que, comprovadamente, não são os interesses nacionais ou não estaríamos hoje a viver uma crise sem precedentes e que se anuncia ainda mais penalizadora.
O “resgate” funda-se em dois equívocos que importa desconstruir. O primeiro engano é disso que trata, estão a enganar-nos, tem a ver com a natureza dos problemas que estão na origem do fundamento do pedido de “resgate”. O problema do endividamento nacional, ao contrário do que nos é dito, não é o endividamento público mas sim o endividamento externo. O aumento do endividamento externo não se deve ao desperdício das finanças públicas mas às políticas que destruíram a nossa riqueza produtiva, a agricultura, as pesca e a indústria. Políticas que restringiram as fontes de geração de rendimentos e nos subtraíram a capacidade de criar impulsos económicos e aumentaram a dependência do exterior o que, naturalmente, levou à subida galopante do endividamento externo. A situação agrava-se quando o Estado (foi assim na Irlanda e na Grécia) assume o encargo extraordinário de salvar o sector bancário e que coincide com o declínio do rendimento e aumento da despesa para evitar o colapso económico. Não é, por conseguinte, verdade que o resgate seja obrigatório porque a economia sofre devido a um elevado endividamento público. A economia portuguesa está certamente debilitada mas pelas razões a que já aludi.
O outro equívoco decorre do anterior, ou seja, dizem-nos que para o “resgate” produzir efeitos deve vir acompanhado de medidas que resolvam o problema que originou a situação que lhe está na origem. Bom de ver! Se nos têm formatado com a ideia do incomportável aumento da dívida pública então a solução aparece com toda a naturalidade – cortes na despesa pública.
Ao contrário daquilo que ouvimos diariamente pela voz dos grandes grupos financeiros e dos seus mandatários o “resgate” e as medidas que o vão acompanhar – corte na despesa pública e nos salários, aumento do desemprego e dos impostos – irão provocar diminuição da procura e do investimento interno e, naturalmente, daí decorrerá menos actividade económica e menos riqueza.
Parece-me que esta é mais uma mentira só que desta vez a mentira não tem apenas um protagonista, há cúmplices devidamente identificados. Não vejo que estas medidas se destinem a “resgatar” o país uma vez que os recursos financeiros serão colocados à disposição dos bancos para que cobrem as suas dívidas e obrigar o povo a arcar com a pesada factura de uma operação financeira de longo prazo. Se mais fosse necessário comprovar basta atentar que foram os bancos, a mando das autoridades europeias, os principais agentes de convencimento dos portugueses para a eventual aceitação do “resgate”.
Por fim impõe-se uma pergunta. Quem é que concorre às próximas eleições legislativas? O PS ou a Moody’s? O PSD ou a Fitch Rating? O CDS/PP ou a Standard & Poor’s?
Ponta Delgada, 07 de Abril de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 08 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo

Não haja ilusões

A Região e o País atravessam tempos difíceis causados pela falta de rumo na governação, pela falta de decisão nas apostas estratégicas do desenvolvimento sustentável, social e economicamente justo.
O PS, com os seus governos da Região e da República, vai jogando o jogo de dar com uma mão para tirar com a outra, tentando gerir os descontentamentos, tendo como curto horizonte da sua cegueira, apenas o calendário eleitoral.
O Governo PS da República alterou as fórmulas de cálculo para atribuição de bolsas de estudo, deixando de fora milhares de estudantes do Ensino Superior. Logo vem o PS Açores e o seu esforçado líder parlamentar lamentar a situação e mostrar disponibilidade para minorar ligeiramente essa injusta decisão da sua própria força partidária.
O Governo do PS da República pretende cortar o subsídio de desemprego para desempregados de longa duração? Pois logo atrás vem o PS Açores lamentar as decisões do Governo do seu próprio partido e propor uma bonificação dos juros dos empréstimos destes desempregados, sobre endividados e desprovidos de rendimento e direitos.
O Governo Regional anunciou e passagens aéreas para o continente a menos de 100 euros. Muito bem! Cumpriu o anunciado. As tarifas a menos de 100€ existem de facto mas… há sempre um mas, representam apenas 10% da oferta disponível. Entretanto o custo final dos restantes 90% da oferta aumentou mais de uma dezena de euros!
Esta política de avanços e recuos, do tira e dá e do mal, o menos, é característica dos que não tomam partido nem posição dos que não têm ideias nem uma visão do futuro, é característica daqueles que têm como ideologia apenas o mais grosseiro e utilitário pragmatismo e, é altura de recordar que este comportamento político é fruto do pântano ideológico em que o PS se transformou. Ora de esquerda! Ora do centro! Ora de um tal radicalismo de direita que faz corar os próprios líderes do PSD e do CDS!
É por isso que o PS, na Região como na República, não tem soluções de futuro e não oferece nenhuma alternativa a não ser as velhas e conhecidas receitas de austeridade e de penalização dos trabalhadores, dos micro, pequenos e médios empresários e dos segmentos da população mais fragilizada social e economicamente.
A ruptura política que Portugal precisa terá forçosamente de passar pelo reforço eleitoral da esquerda. Da esquerda sem adjectivos que coloca os portugueses e Portugal como centro do seu projecto político e não se verga a interesses externos, nem troca a soberania nacional pelo Tratado Europeu ou pela integração na União Monetária. A alternativa passa por defender e reforçar a produção nacional, combatendo a nossa dependência externa, seja no plano agro-alimentar, seja na vertente industrial ou energética, passa por promover políticas activas de crédito e fiscais que sustentem a actividade das micro, pequenas e médias empresas.
E não haja ilusões. A alternativa a Sócrates não é certamente Passos Coelho com ou sem Paulo Portas.
Não venha agora o PSD tentar limpar-se das suas próprias responsabilidades na crise em que estamos porque em todas as decisões fundamentais para o país, esteve sempre unido ao PS e a José Sócrates.
O PSD esteve ao lado do PS na imposição de mais sacrifícios ao nosso povo no PEC 1, no PEC 2, no PEC 3 e no Orçamento de Estado para 2011.
E, em abono da verdade, também não esteve, nem está contra as brutais e desumanas medidas do PEC 4, de verdade verdadinha o PSD esteve contra a forma e não contra o conteúdo do PEC 4.
O PSD esteve sempre ao lado do PS na atitude de obediente submissão perante todas as inaceitáveis exigências da União Europeia, que mutilaram a nossa independência, a nossa economia que estrangularam, assim, as vias para o nosso desenvolvimento.
Foram ambos, PS e PSD, aqui e ali com a cumplicidade do CDS/PP, foi este pantanoso e promíscuo centrão que mergulhou o país nesta crise sem precedentes.
Não será com certeza o PSD de Passos Coelho que se constitui como alternativa, basta atentar à agenda política desenhada pelos seus seguidores para verificar que são os dogmas neoliberais que imperam, como foram os dogmas neoliberais que imperaram nos consulados de José Sócrates.
Horta, 24 de Março de 2011

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 08 de Abril de 2011, Ponta Delgada

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Teimosia ou burrice

Com os erros normalmente aprendemos e corrigimos o rumo mas a insistência continuada no erro é teimosia ou mesmo burrice! Esta constatação pode aplicar-se desde as mais simples situações pessoais até a opções complexas que podem determinar um rumo de sucesso ou insucesso quer seja no plano individual, quer seja no plano colectivo.
A opção estratégica, tomada a partir de 2000, de consignar o turismo como actividade económica capaz de garantir crescimento e diversificação à economia açoriana foi, em si mesmo, uma boa opção. Os Açores constituem-se como um destino turístico singular e com capacidade para atrair muitos visitantes que procuram alternativas ao turismo massificado e uniformizado.
A opção pelo investimento no turismo, como disse, foi boa partindo do princípio que foi tomada como complementar e não substitutiva da base produtiva regional. Já quanto ao modelo e às âncoras lançadas para fixar o destino Açores no mapa da procura turística por um segmento de pessoas com elevada disponibilidade financeira não me parece acertada e, não é apenas uma sensação, os factos estão aí e são como o algodão: não enganam.
Os casinos continuam a ser uma miragem e das tão almejadas receitas provenientes da tributação do jogo que contribuiriam substantivamente para aumentar as receitas do Orçamento regional nem vê-las. Quanto ao golfe atente-se ao enorme buraco em que esta actividade se encontra na ilha de S. Miguel. A justificação para o insucesso desta aposta é a falta de um quarto campo de golfe para potenciar o circuito ou, melhor dizendo: este é o argumento para a construção de um novo campo de golfe onde se pretendem, em nome das políticas de coesão regional, esbanjar mais uns milhões de euros sem que o efeito reprodutivo desse investimento esteja garantido e, muito menos, esteja garantida qualquer contribuição efectiva para o desenvolvimento harmónico regional.
Mas insiste-se! Insiste-se em falidos projectos de infra-estruturação que consomem os escassos recursos públicos, insiste-se no falido modelo de desenvolvimento para o sector turístico regional quando já todos percebemos, menos os acólitos do PS Açores, que: Turismo sim, mas diferente!
Os Açores foram bafejados pela mãe natureza, os açorianos ao longo dos tempos souberam aproveitar essa bênção sem a delapidar. Transformaram e humanizaram estas ilhas tornando-as únicas. É nesta singularidade natural e cultural que deve ser ancorado o modelo de desenvolvimento do sector turístico da Região, dimensionado a uma realidade muito peculiar que lhe pode conferir excelência e sustentabilidade mas, não se coaduna com o turismo massificado de outros destinos, nem com as megalomanias do “regime”.
Ponta Delgada, 05 de Abril de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 06 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ukulele

Taimane Gardner e a maestria com que domina o ukulele. Foi ontem que a descobri numa das visitas que faço com regularidade ao blogue "sem punhos de renda".



Gostei e por isso vim partilhar convosco esta excelente execução de um tema clássico num instrumento popular. O ukulele transformou-se ao longo dos tempos depois da viagem da primeira globalização.
O ukulele é assim como um herdeiro de um cavaquinho que saiu do continente português, passou pela Madeira e acabou por se fixar no Havai.

à proa



domingo, 3 de abril de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Bloco central não é solução

Os esforços de alguns sectores da sociedade portuguesa para promover um pacto de regime com base no PS e no PSD manifestam-se de várias formas e até Cavaco Silva tem, ainda que timidamente, mostrado essa vontade.
Quem pretende este tipo de entendimentos ou insiste na tese redutora da bipolarização da vida democrática nacional pretende formatar os cidadãos para a ausência de alternativas ao bloco central e tem como objectivo imediato para o próximo acto eleitoral a canalização de votos para os mesmos de sempre e, os mesmos de sempre são o PSD e o PS.
São estes dois partidos políticos, em tudo semelhantes no essencial dos seus projectos políticos, que governam Portugal desde a aprovação do texto Constitucional que resultou da Revolução de Abril, ou seja, são estes dois partidos que com o apoio do CDS/PP conduziram Portugal ao presente de crise, e que agora voltam às promessas para um futuro que mais parece um regresso ao passado.
Mais do que a encenação montada por José Sócrates para abrir espaço para a sua demissão e posterior vitimização e, mais do que a vontade do PSD em disputar já eleições pois, do alto do seu calculismo e estratégia eleitoral de luta pelo poder, este ainda não era o tempo adequado, nem foi a forma que mais podia favorecer eleitoralmente o PSD, mais do que a aparente radicalização do CDS/PP de exigência de demissão de Sócrates, mais do que todos esses factores que, no fundo, não passam de jogos de conquista do poder pelo poder pois, as transformações que o povo tem exigido na rua essas não constam da agenda nem do PS, nem do PSD, nem do CDS/PP.
Mais do que os jogos políticos de corredor com projecção mediática a queda do Governo de José Sócrates fica a dever-se um conjunto de factores dos quais o crescimento da luta de massas, atravessando muitos e muitos sectores e grupos sociais, as múltiplas manifestações, greves e outros protestos que se verificaram um pouco por todo o país, contribuiu decisivamente para a erosão da base de apoio da política do primeiro-ministro e, em última instância, para a queda do seu Governo.
A realização de eleições antecipadas interessa, desde logo, ao PS mas também ao PSD que, vêem com receio o crescimento da contestação na rua às políticas de que são ambos autores e executores. A realização de eleições antecipadas serão, para além de uma calculada estratégia político eleitoral, também um necessário momento de clarificação em relação aos rumos e às políticas de que o país precisa e, por outro, uma oportunidade para a mudança que os portugueses tanto têm reclamado.
A exigência de uma ruptura política e as expectativas dos muitos milhares de portugueses que, de múltiplas maneiras, têm expressado publicamente o seu descontentamento, não podem agora ser defraudadas pela continuação das mesmas políticas, com uma eventual substituição dos protagonistas da sua execução.
A formatação intensiva que está a ser implementada pelos analistas e politólogos nos meios de comunicação social tem o objectivo preciso de mudar para que tudo fique na mesma ou… pior. O poder vai ser devolvido aos cidadãos, cabe-lhes decidir o que pretendem para o presente e garantir o futuro que todos desejamos melhor.
Vila do Porto, 31 de Março de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 01 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo