sábado, 30 de junho de 2018

Da saudade - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires







Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 17 de Março de 2018 que pode ser ouvida aqui








Da saudade

Olá, hoje trago-lhe um texto que escrevi, na cidade da Horta, vai para 7 anos. Fique comigo que as palavras que lhe vou deixar falam de nós. Sim, falam de si.

Partir e chegar
O cais da partida e do almejado regresso transmutou-se. A tristeza dos que ficam, a saudade que já germina nos que partem, não muda nunca. Não muda ainda que esse seja um secular fado do povo português, Partir, já a pensar em voltar.
Da baía abrigada do porto para a aerogare. Dos intermináveis dias de viagem para umas fugidias horas, da pedrinha escrita no cais para o sms, da carta escrita para o mail, do telefone fixo, ou móvel, para o skype.
Conquistas da ciência e da tecnologia que afagam os sentimentos e dão a sensação de proximidade, mas que não evitam, na hora da partida, aquele aperto no peito, os dentes cerrados tentando impedir uma lágrima que teima em assomar e rolar pela face e, o sentimento de vazio que, ao último beijo, ao derradeiro aceno, enche a alma de tristeza de quem fica, e de quem parte.
Há coisas que as maravilhas da ciência e da técnica não vão mudar nunca. Entre a partida e o regresso fica o vazio da ausência e, isso, não se altera. Não há avanço tecnológico que preencha o roubo da presença de quem amamos, ainda que o regresso esteja seguro e a ausência seja curta.

Foto by Aníbal C. Pires
Temos sempre alguém por fora, temos sempre alguém embarcado e não há como habituar-nos. Nem mesmo o tempo, o tempo que é cura para todos os males, remedeia a saudade. Saudade que nem sempre é tristeza, mas é sempre, sempre, um vazio e o refúgio que alimenta a esperança da alegria no regresso, ainda que apenas te tenha deixado ontem no cais da partida. No mesmo embarcadouro de onde vistes partir os teus filhos quando tomaram asas e voaram do ninho, naquele cais da saudade onde nos recebes de sorriso aberto, mas com uma lágrima a espreitar antecipando uma nova partida.
Não há como mudar a dor da hora da abalada, não há como mudar o sentimento de vazio que a ausência desperta, não há como abafar esta saudade. Saudade tão própria dos ilhéus, saudade tão própria dos portugueses. Não há como mudar os sentimentos de um povo marcado pela partida da qual nem sempre há regresso e a saudade perpetua-se, e a saudade canta-se no choro triste da morna, do fado, da saudade.
Há coisas que não mudam nunca, outras há, porém, que se podem alterar. Só depende de nós. Só depende de si.
Horta, 02 de Junho de 2011

Fique bem, tenha um excelente fim de semana. Eu volto no próximo sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 07 de Abril de 2018

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Livros, jornais e encontros


Foto by Helena Frias

Um destes dias encontrei-me com o autor do livro (não deixem de ler) “Um Perigoso Leitor de Jornais”, levava comigo um jornal para lhe oferecer, afinal aquele título, a par de outros, quiçá mais recomendáveis, era um dos que o seu avô lia e discutia com alguns micaelenses na década de 30, do Século XX. E por ler jornais e procurar outras verdades, para lá da verdade oficial, acabou preso com mais umas dezenas de micaelenses e a cumprir pena na fortaleza de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo onde se juntou a muitos mais portugueses que cumpriam pena por lutarem pela democracia e pela liberdade.
Hoje o Carlos Tomé pode ler o “Avante” e todos os títulos que lhe der na real gana. Pode fazê-lo sem que corra qualquer perigo de vir a ser preso, por ler jornais. Não se chegou aqui por acaso, a história é de resistência, mas é sobretudo uma história de luta contra o obscurantismo.
Não é a primeira vez que aconselho a leitura deste livro, fica mais este registo e não deixem de ler.

A malta gosta

Imagem retirada da internet
E a malta continua entusiasmada. A seleção portuguesa passou aos oitavos de final do Mundial de futebol. Mesmo sem grandes prestações, ao que ouço dizer, a verdade é que a sorte tem bafejado a seleção nacional e esta fase já foi. Também tenho lido e, do que li não posso deixar de referir uma crónica do New YorkTimes no dia seguinte ao empate do Portugal Espanha, um escrito do qual gostei e me surpreendeu. Se ainda não leram aconselho vivamente a fazê-lo, está por aí disponível na internet.
Para quem não vive o Mundial de futebol tem sempre alternativa, afinal estamos no Verão, e as festas e os festivais acontecem um pouco por todo lado e, a malta gosta.
Não tem como não gostar face à diversidade da oferta, Haja procura que malta ainda vai havendo, mesmo para os eventos menos populares. Ou os que, sendo genuinamente populares, lhes falta qualquer coisa que atraia as massas. Talvez seja da divulgação, sim por que isto do marketing e comunicação tem a sua importância na captação de públicos e na construção de mitos. E como o sucesso é, quase sempre, medido pelo tamanho dos ajuntamentos, o investimento para “arrebanhar” gente, mormente o financiamento público, é muito elevado para algumas artes e, nem todos os artistas e artes dispõem dos meios e dos apoios para “arrebanhar” malta, nem da simpatia de quem decide pela atribuição dos apoios públicos.
Imagem retirada da internet
Não sei porquê veio-me à lembrança um evento realizado nas Sete Cidades, em 2014. Nessa edição a estrela, do Azores Green Fest, foi David Guetta, um DJ que chegou com a sua “pen disk” e quando regressou a casa levava consigo muitos milhares de euros, falava-se por aí que teria sido mais de uma centena de milhar de euros e, nem sequer deixou a “pen”. Não tenho notícia da continuidade Azores Green Fest, mas tenho como adquirido que as centenas de milhar de euros de financiamento público para conspurcar com ruído e outros dejetos, aquela noite de Verão nas margens da Lagoa das Sete Cidades, foi um investimento público num espetáculo de duvidosa qualidade e do qual não houve qualquer retorno material ou imaterial. Talvez não seja bem assim, sempre terá ficado alguma coisa, tal como: uma quantidade apreciável de resíduos, nem sempre depositados na local apropriado; e alguns comas alcoólicos. Enfim tudo coisas boas patrocinadas com dinheiro público, aliás como se espera dos poderes políticos sejam eles locais, regionais ou nacionais.
Mas estamos a viver o Verão, período do ano que se quer despreocupado, e a malta gosta de animação e merece. Merece uns momentos de descontração e de fruição de algumas produções culturais. Eu cá por mim também, de forma comedida, com critério e ao longo de todo o ano. Não gosto de doses concentradas do que quer que seja.
Ponta Delgada, 26 de Junho de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 27 de Junho de 2018

quarta-feira, 27 de junho de 2018

... dos critérios

Foto by Aníbal C. Pires








Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, também, no blogue momentos.








(...) Não tem como não gostar face à diversidade da oferta, Haja procura que malta ainda vai havendo, mesmo para os eventos menos populares. Ou os que, sendo genuinamente populares, lhes falta qualquer coisa que atraia as massas. Talvez seja da divulgação, sim por que isto do marketing e comunicação tem a sua importância na captação de públicos e na construção de mitos. E como o sucesso é, quase sempre, medido pelo tamanho dos ajuntamentos, o investimento para “arrebanhar” gente, mormente o financiamento público, é muito elevado para algumas artes e, nem todos os artistas e artes dispõem dos meios e dos apoios para “arrebanhar” malta, nem da simpatia de quem decide pela atribuição dos apoios públicos. (...)

sábado, 23 de junho de 2018

Consequências da desobriga - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires







Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 17 de Março de 2018 que pode ser ouvida aqui







Consequências da desobriga

Antes de mais e como convém, desejo-lhe uma Páscoa Feliz. Felicidade para todos os dias e não apenas para este Domingo do calendário.
Haja saúde.
Mas a conversa que lhe proponho para hoje não é sobre a Páscoa.
Nem sobre a Páscoa, nem sobre as bem-aventuranças que, com sinceridade, lhe enderecei.
Como eu terá, também, algumas inquietações e interroga-se sobre o que se passa à sua volta. Mal seria se assim não fosse, mal seria se o que nos rodeia, diga-nos ou não diretamente respeito, não fosse objeto da nossa atenção, mal seria se não nos preocupasse.
Eu, como sabe, não tenho uma posição alinhada com a maioria. Não é por nada de especial, mas gosto de questionar e procuro, em função do que conheço, tirar as minhas próprias conclusões. Dispenso as verdades absolutas e não aceito o branqueamento de dados históricos, sejam eles do passado longínquo, sejam do passado próximo como é o caso do tema que hoje trago para conversar consigo.
A TAP, por razões que mais adiante poderei referir, cancelou algumas dezenas de voos para os Açores, com particular incidência na rota LIS/TER/LIS. Os cidadãos e os empresários, também alguns partidos políticos, têm legitimamente manifestado o seu desagrado pela atitude desta transportadora aérea que já foi nacional.
A operação da Ryanair para a Região está igualmente ameaçada de algumas irregularidades operacionais devido à greve dos tripulantes de cabine desta companhia aérea de baixo custo.
Por outro lado, a Azores Airlines/SATA Internacional, por razões que são sobejamente conhecidas, não tem capacidade para atender ao aumento da procura que, de momento, se verifica por falta de comparência das suas concorrentes.
Não sou hoteleiro, não sou operador nem animador turístico, não tenho ações na TAP, nem na Ryanair, e não pretendo viajar por estes dias. Ou seja, nada disto me afeta diretamente, mas preocupo-me. Preocupam-me os prejuízos que esta situação vai provocar na economia regional, bem assim como os transtornos na vida dos cidadãos que pretendem viajar para férias ou para se juntar à família durante a Páscoa. Com os acionistas privados da TAP e com os acionistas da Ryanair, de fato, não me preocupo por isso não os referi na minha lista de preocupações. Não, não é por serem privados. A razão porque não me preocupo com eles é simples, a responsabilidade é dos próprios. Quanto à SATA, Bem quanto à SATA só posso lamentar a sua reduzida capacidade de resposta. Infelizmente, nem para as suas rotas quanto mais para suprir as necessidades, momentâneas, provocadas pela intermitência operacional da TAP e da Ryanair nas ligações com a Região.

Foto by Aníbal C. Pires
A gestão de tripulações e a sua exiguidade para fazer face às necessidades estão na origem dos cancelamentos dos voos da TAP, por outro lado e por mais alto que se levante a indignação regional a verdade é que as rotas para S. Miguel e para a Terceira foram liberalizadas em 2015. Pois é. Estas rotas não estão sujeitas a obrigações de serviço público.
As greves não acontecem apenas nas empresas públicas. E razões não faltam aos trabalhadores da Ryanair para exigir dignidade e o cumprimento da legislação laboral e aérea. Quanto a obrigações com a Região, como se sabe, são nenhumas.
A liberalização das rotas significa apenas e só que não têm obrigações de serviço público. Esta foi a fórmula encontrada para a entrada das companhias de baixo custo. O espaço aéreo já estava, desde há muito, liberalizado.
Não deixa de ser interessante que as vozes que agora, mais alto, fazem ouvir a sua indignação, sejam as mesmas que exigiram a liberalização das rotas, a privatização da TAP e entrada das transportadoras aéreas de baixo custo nas ligações com a Região, mas também a exigência da privatização da Azores Airlines que, como sabe, está em curso. Tudo isto em nome do funcionamento do mercado e da eficácia da gestão privada.
As consequências, boas ou más a conclusão será sua, estão à vista e não se resumem apenas à situação pontual que aqui referi.
Tenha uma excelente semana. Volto no sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 31 de Março de 2018

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Desumano e indigno

Imagem retirada da Internet
A forma com a comunicação social estado-unidense e internacional acompanhou as eleições presidenciais que colocaram Donald Trump à frente da administração estado-unidense foi responsável por aquilo que não se queria que viesse a suceder. Mas aconteceu e, como disse, a vitória de Donald Trump ficou, em grande parte, a dever-se a demonização que lhe foi feita pela comunicação social nos Estados Unidos e no Mundo. E, ao que parece não se retiraram as devidas ilações deste facto reconhecido por alguns analistas de renome internacional.
Isto a propósito da forma como a comunicação social, nos Estados Unidos e no Mundo, tem abordado a questão da separação das crianças e jovens dos seus progenitores na fronteira Sul dos Estados Unidos, por onde entram milhares de cidadãos que procuram, no exercício de um direito, emigrar.

A necessidade de serem os primeiros a informar não contextualizando a notícia e, sobretudo, omitindo alguns factos, ou talvez a formulação do conceito de “informação desmemoriada” seja mais adequada. Mas tudo isto não é anódino pois, tem objetivos bem concretos e a comunicação social é, cada vez mais, tendenciosa com efeitos que nem sempre servem os seus intentos, Ou talvez.
Ninguém fica indiferente ao choro das crianças e à violência das imagens que foram divulgadas. Não é aceitável em nenhuma parte do Mundo, não é compreensível que aconteça num país que se tem assumido como o grande paladino na defesa dos direitos humanos, uma referência da democracia e da liberdade.
Se existem algumas dúvidas, eu pelo menos ainda não consegui o esclarecimento cabal, de que a Lei da Imigração dos Estados Unidos obrigue à separação das crianças e jovens dos seus progenitores e, este atentado à dignidade humana seja responsabilidade direta da administração de Donald Trump, no entanto, não é difícil de perceber que sendo os pais detidos e indiciados por um “crime” o mesmo não se pode aplicar às crianças e jovens.

Imagem retirada da Internet
Mas, dúvidas não subsistem de que a atual Lei foi parida não por uma administração republicana, mas por uma administração “democrata”, aliás o período em que Barack Obama esteve à frente dos destinos dos Estados Unidos coincide com o período da história estado-unidense em que mais deportações foram realizadas e, a política da “tolerância zero” remonta à sua administração. Algumas das fotos dos centros de detenção do Sul do Texas, postas recentemente a circular na internet, já têm alguns anos e foram registadas durante o consulado de Barack Obama.
A política de imigração nos Estados Unidos une os democratas aos republicanos e é uma caraterística da direita política por todo o planeta, não vale a pena virem agora derramar lágrimas de crocodilo sobre as lágrimas daquela criança.
E não precisamos de mais exemplos de desumanidade do que aqueles que acontecem às portas da “nossa” Europa.
A gigantesca vaga de denúncias, que não aconteceu durante a administração Obama, já levou a que Donald Trump ordenasse a reunificação das crianças e jovens com as suas famílias.
O atual Presidente dos Estados só difere de alguns dos seus antecessores pela forma (des)cuidada como comunica, quanto à essência das políticas venha o diabo e escolha.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 21 de Junho de 2018

Cumpra-se a Lei

Imagem retirada da Internet
Os educadores e professores estão em greve para exigir ao Governo da República o cumprimento da Lei do Orçamento de Estado do ano em curso. Isso mesmo, nem mais nem menos, o PS e o Governo de António Costa, para além dos compromissos assumidos na Declaração que foi subscrita como os Sindicatos dos Professores, em Novembro de 2017, e da resolução apresentada pelos “Verdes” e aprovada por unanimidade na Assembleia da República, também em Novembro de 2017, em que se comprometeu com o princípio da contagem integral, para efeitos de progressão na carreira, do tempo de serviço congelado aos educadores e professores, tem uma Lei para cumprir. Já que, lamentavelmente, palavra não tem.
As questões relacionadas com a educação, mormente as que se relacionam com os educadores e professores têm alguma complexidade, daí constituir um assunto facilmente manipulável junto da opinião pública e, digo eu que sou professor, devido a fatores de ordem diversa também não é difícil dividir e confundir os educadores e educadores que, muitas vezes embarcam no discurso incendiário de iniciativas cuja génese, supostamente, tem origem em movimentos inorgânicos, ou aparentemente num ou outro educador ou professor que, sem colocar em causa a sua genuinidade, são utilizados para fins que nem sempre coincidem com o interesse coletivo e, em última instância, podem colocar em causa as razões da luta e, por conseguinte, deitar por terra o objetivo da luta. Esta é uma hipótese real para que o Governo de António Costa encontre um subterfúgio para mudar a Lei que inequivocamente descongelou o tempo de serviço dos educadores e professores.
Qualquer iniciativa legislativa, tenha ela a origem que tiver, que remeta este assunto para a discussão do Orçamento de Estado para 2019 abre de par em par as portas para que a norma da Lei do Orçamento de Estado de 2018 que descongelou o tempo de serviço possa vir a ser alterada com prejuízo para a luta dos docentes.
A greve dos professores e educadores mais não pretende que o Governo cumpra a Lei, apenas isso. O tempo e o modo do faseamento da reposição do tempo integral de serviço, que a Lei do Orçamento de 2018 descongelou, pertence ao âmbito da negociação com as estruturas sindicais representativas dos docentes. Qualquer tentativa de remeter esta discussão para a Assembleia da República é dar trunfos ao Governo de António Costa e ao PS. Não só, mas também.

Imagem retirada da Internet
Depois há os pragmáticos que não estão com meias medidas. O PSD Madeira e o seu Governo Regional, ao que parece chegaram a acordo com o Sindicato dos Professores na Madeira. Existe para já um compromisso, as negociações iniciam-se lá mais para o fim do mês. Mas o princípio é claro e levou à desconvocação da greve dos docentes na Região Autónoma da Madeira. Falta acertar a forma e as frações de pagamento, mas o que para já foi tornado público é que o Governo Regional da Madeira vai reposicionar os educadores e professores ao longo de 7 anos (quase duas legislaturas), a partir do dia 1 de Setembro de 2019, ou seja, a pouco mais ou menos um mês e meio das eleições regionais na Madeira. Está bom de ver. Mas para lá da leitura política claramente ligada ao calendário eleitoral madeirense, há um facto que não é, de todo, despiciente, o Governo da Região Autónoma da Madeira vai, a concretizar-se este anúncio num Decreto Legislativo Regional, cumprir a Lei do Orçamento de Estado de 2018, coisa que os Governos da República e da Região Autónoma dos Açores, este último por conveniência financeira, estratégia eleitoral, inércia e, também, por demissão das suas competência autonómicas e, o primeiro pelo retorno às práticas e do tempo de José Sócrates, se recusam a fazer.
Os educadores e professores exigem respeito, mas a sua exigência e luta tem uma outra dimensão, exigem que o Governo do PS cumpra a Lei.
Ponta Delgada, 19 de Junho de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 20 de Junho de 2018

quarta-feira, 20 de junho de 2018

... do rigor

Imagem retirada da Internet




Hoje fica este fragmento do texto que amanhã será publicado na imprensa regional e também aqui, no blogue momentos





(...) Qualquer iniciativa legislativa, tenha ela a origem que tiver, que remeta este assunto para a discussão do Orçamento de Estado para 2019 abre de par em par as portas para que a norma da Lei do Orçamento de Estado de 2018 que descongelou o tempo de serviço possa vir a ser alterada com prejuízo para a luta dos docentes.
A greve dos professores e educadores mais não pretende que o Governo cumpra a Lei, apenas isso. O tempo e o modo do faseamento da reposição do tempo integral de serviço, que a Lei do Orçamento de 2018 descongelou, pertence ao âmbito da negociação com as estruturas sindicais representativas dos docentes. Qualquer tentativa de remeter esta discussão para a Assembleia da República é dar trunfos ao Governo de António Costa e ao PS. Não só, mas também. (...)

sábado, 16 de junho de 2018

Fake world - crónicas radiofónicas

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Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 17 de Março de 2018 que pode ser ouvida aqui





Fake world

Tenho andado a adiar esta conversa consigo. Não por qualquer receio de abordar o assunto, disse-lhe logo no início que aqui não havia lugar para tabus, e mantenho essa disposição.
Os motivos deste protelar são de vária ordem, desde logo, pelo pouco tempo que disponho para aprofundar o conhecimento sobre o assunto, trata-se de uma questão complexa que exige fundamentação para desconstruir, ou pelo menos tentar, as notícias e a opinião que nos é transmitida pelas corporações mediáticas, mas também pela difusão massiva nas redes sociais de relatos, apelos dramáticos, imagens (fotos e vídeos) de uma verdade construída. A realidade é bem diversa.
Ouve todos os dias nas rádios e televisões, desde Março de 2011, falar de uma guerra civil na Síria. Vê as imagens ouve os comentadores falarem da necessidade de por fim a um regime sanguinário e a um presidente déspota. A forma como a questão tem sido tratada sempre me causou impressão, uma má impressão. E por duas ordens de razão: a primeira porque nos relatórios sobre o Desenvolvimento Humano, produzidos anualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), colocam a Síria numa posição invejável relativamente aos países árabes; a segunda, e isto não foi possível esconder, quem iniciou o processo de desestabilização na Síria foi o tal de Estado Islâmico, ou mais corretamente o DAESH, ou seja, um grupo terrorista de inspiração no fundamentalismo islâmico contra o qual o mundo civilizado luta. Outras razões não houvesse, e há, estas seriam suficientes para não aceitar, sem questionar, o que a comunicação social foi veiculando sobre o assunto ao longo destes anos.
Por outro lado, terá presente o processo iraquiano e líbio, isto para não lhe falar de outros que ficaram conhecidos pela Primavera Árabe, com os resultados que todos conhecemos, mas não só. Veja que este fenómeno não se estendeu a países com a Arábia Saudita, o Qatar, o Koweit, os Emirados Árabes Unidos e outros. Porquê. E quando no Bahrein se esboçou um destes movimentos primaveris logo as tropas sauditas trataram de lhe por fim. Como sabe estes estados a que me referi não são propriamente um exemplo de democracia. Para estes regimes, aqui é adequado a utilização do termo sim, os direitos humanos são uma coisa desconhecida.
Só estas dúvidas são suficientes para questionar o que lemos, ouvimos e visionamos, quer nas redes sociais, quer nos clássicos órgãos de comunicação social. Aliás, o escândalo da fuga de informação do Facebook, referenciada ontem, neste espaço, pelo Dr. Pedro Gomes, diz bem da dimensão da manipulação da informação e formatação da opinião mundial, fica apenas como um aparte. Um aparte que não é de somenos importância para o que lhe quero dizer, antes de terminar.
Quais são as principais fontes onde se fundam as notícias difundidas nas corporações mediáticas, chamadas de referência, e por quem são produzidas a maior parte das publicações nas redes sociais. Pois bem, já deve ter ouvido falar nos Capacetes Brancos e no Observatório Sírio dos Direitos Humanos. São estas duas organizações, a primeira fundada em finais de 2012 princípios de 2013 por um oficial da inteligência britânica e as suas fontes de financiamento são conhecidas, é só uma questão de ir verificar e, surpreenda-se. Os Capacetes Brancos só atuam nas zonas controladas pela Al-Nusra/Al-Qaeda, vá-se lá saber porquê. A outra fonte, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, tem a sua sede em Coventry, um bairro de Londres e é ali que forja as notícias sobre a questão síria. Para dos além Capacetes Brancos e do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, cuja credibilidade há muito foi colocada em causa, as notícias emanam da NATO e dos bandos de terroristas estrangeiros que foram injetados na Síria depois da tomada da Líbia pelos radicais islâmicos promovidos e enquadrados pelos serviços da inteligência de alguns países que se arvoram em paladinos dos direitos humanos e de outros onde os direitos humanos não são respeitados. Que estranha aliança.
Esta nossa conversa pretende, tão-somente, deixar-lhe algumas questões para, se assim entender, refletir sobre elas e procurar informação alternativa às fake news (notícias falsas) que constroem representações de um fake world (mundo falso). E parecendo conceitos novos, a verdade é que há muito tempo são utilizados. Não são fruto das redes sociais. Construa a sua própria opinião e não se deixe ir na onda, por muito cómodo que isso seja
Volto no próximo sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 24 de Março de 2018

quarta-feira, 13 de junho de 2018

A cimeira

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O Mundo está a tornar-se num lugar cada vez mais estranho, ou então serei eu que fico perplexo com o que poderá constituir uma normalidade para quem vê televisão e lê os principais títulos da imprensa. É bem possível que o problema seja meu pois, dispenso a televisão e costumo ler para lá da imprensa escrita.
Não posso dizer que não fiquei surpreendido com o encontro entre o Presidente dos Estados Unidos e o Presidente Coreia do Norte, desde logo pela disponibilidade de Donad Trump. Não era, para mim, expetável que uma personalidade como o atual Presidente dos Estados Unidos desse este passo. Para outros cidadãos talvez não seja assim e, este encontro se tivesse realizado exatamente pelas caraterísticas das controversas personalidades que o protagonizaram. Talvez, mas mais do que especular sobre os contextos e as perplexidades importa perceber se este foi, ou não, um passo decisivo para por um ponto final num conflito que dura já lá vão mais de 65 anos. Tenho algumas dúvidas e, veja-se só, as minhas reservas sobre o assunto não residem em Donald Trump, mas nos falcões do Pentágono e nos interesses do complexo militar/industrial dos Estados Unidos. Estranho, não é.
Fiquei surpreendido, mas depois da Declaração Panmunjom subscrita pela Coreia do Norte e pela Coreia do Sul, no passado dia 27 de Abril este encontro é, diria, uma decorrência natural neste conturbado processo. Por outro lado, as minhas dúvidas resultam, também, do histórico dos esforços de reconciliação empreendidos pelos governos da Coreia do Norte e da Coreia do Sul, ao longo de dezenas de anos, mas que as ingerências externas acabaram sempre por boicotar. Apesar do que já ficou dito a realização da Cimeira, ao mais alto nível, tem um significado político que não pode ser desvalorizado.
O Mundo espera, eu pelo menos alimento essa esperança, uma solução para este ameaçador conflito. Solução na qual se exige o respeito dos princípios da soberania e independência nacional, do direito do povo coreano a decidir dos seus próprios destinos, no caminho para a concretização da sua aspiração à reunificação pacífica da Coreia. Estes pressupostos implicam o fim das ingerências estrangeiras e das ameaças externas e, certamente, a desnuclearização e a desmilitarização da península coreana.
Que este é um desejo dos coreanos, do Norte e do Sul, é por demais sabido, aliás a designação de Coreia do Norte e Coreia do Sul não está correta, a designação oficial é República Popular Democrática da Coreia e República da Coreia. A designação não divide o que de alguma forma significa que a separação foi mais um dos artificialismos dos pós II Guerra Mundial, embora já durante o Século XIX o império russo e o império japonês tivessem tentado a divisão da Coreia em função das suas áreas de influência, o que nunca se concretizou tendo a Coreia ficado sobre o domínio do império japonês, desde 1910 até ao fim da II Guerra Mundial.

Ponta Delgada, 12 de Junho de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 13 de junho de 2018

terça-feira, 12 de junho de 2018

... das perplexidades

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Hoje fica este fragmento do texto que amanhã será publicado na imprensa regional e também aqui, no blogue momentos





(...) Não posso dizer que não fiquei surpreendido com o encontro entre o Presidente dos Estados Unidos e o Presidente Coreia do Norte, desde logo pela disponibilidade de Donad Trump. Não era, para mim, expetável que uma personalidade como o atual Presidente dos Estados Unidos desse este passo. Para outros cidadãos talvez não seja assim e, este encontro se tivesse realizado exatamente pelas caraterísticas das controversas personalidades que o protagonizaram. Talvez, mas mais do que especular sobre os contextos e as perplexidades importa perceber se este foi, ou não, um passo decisivo para por um ponto final num conflito que dura já lá vão mais de 65 anos. Tenho algumas dúvidas e, veja-se só, as minhas reservas sobre o assunto não residem em Donald Trump, mas nos falcões do Pentágono e nos interesses do complexo militar/industrial dos Estados Unidos. Estranho, não é. (...)

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Não é a pátria, É o povo

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Tenho de confessar que alguns comentários e escritos sobre as comemorações do dia 10 de Junho me incomodaram. Não porque o meu sentimento patriótico tivesse sido beliscado, nada disso, mas pela superficialidade da opinião e da crítica que foi sendo divulgada nas redes sociais e do que fui ouvindo nas ruas, não dos residentes, mas de alguns turistas vindos do continente. Tipicamente português, como está por aí descrito por alguns cientistas sociais e filósofos lusos.
Não vou perder tempo com o assunto somos assim e pouco, ou mesmo nada há a fazer. Eu pelo menos não estou disponível para sequer tentar contrariar a alienação que continua a produzir cidadãos incapazes de perceber que o problema não são as forças armadas, o problema é o desenho das políticas de defesa nacional.
Podem considerar esta como uma desistência, este povo tem o país que escolheu e não o seu contrário, afinal o poder de transformar reside no povo e não nas instituições. Se o povo se demite do seu papel transformador só pode queixar-se de si mesmo. O que em última instância significa que as instituições não são mais do que o espelho do povo que somos. E não é de agora, é de sempre. Há uma ou outra exceção ao longo da nossa história, mas qualquer delas não perdurou e tudo voltou à santa paz do senhor.

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Mas se o sentimento patriótico não se manifestou pelo 10 de Junho, está prestes a eclodir com o início do mundial de futebol, isto se a coisa correr de feição e a seleção vier a obter resultados, porque se assim não for as bandeiras serão rapidamente recolhidas e o sentimento irá rapidamente focar-se nas tricas futebolísticas internas, aliás onde somos verdadeiros especialistas a julgar pela quantidade de programas informativos sobre o tema.
Os agricultores franceses vão bloquear as refinarias que vão importar óleo de palma para a produção de biodiesel. Estou de acordo com os agricultores franceses, desde logo porque a utilização maciça de óleo de palma para a produção de biodiesel não é tão amiga do ambiente como à primeira vista parece, mas a preocupação dos agricultores franceses nem sequer é ambiental, é mesmo para defenderem as suas produções, ou seja, as refinarias que produzem biodiesel têm utilizado óleo de colza produzido em França que agora pretendem substituir pelo óleo de palma.
Perguntará o leitor, A que propósito vem a luta dos agricultores franceses quando estamos a falar do povo português. Tem tudo a ver caro leitor, Em Portugal essa mobilização nunca seria possível. É por isso que em França a idade da reforma é aos 60 anos e em Portugal vai aumentando todos os anos. Em França também tentaram, mas os franceses vieram para rua, mobilizaram-se, uniram-se e saíram vitoriosos. Os portugueses desistem antes do fim, desistem antes de confirmar se conseguem chegar à bola antes dela sair pela linha de fundo.
Não é a pátria, É um povo moldado por uma história mal contada.
Ponta Delgada, 10 de Junho de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 11 de Junho de 2018

... das inquietações

Imagem retirada da internet





Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, também, no blogue momentos.







(...) Não vou perder tempo com o assunto somos assim e pouco, ou mesmo nada há a fazer. Eu pelo menos não estou disponível para sequer tentar contrariar a alienação que continua a produzir cidadãos incapazes de perceber que o problema não são as forças armadas, o problema é o desenho das políticas de defesa nacional. 
Podem considerar esta como uma desistência, este povo tem o país que escolheu e não o seu contrário, afinal o poder de transformar reside no povo e não nas instituições. Se o povo se demite do seu papel transformador só pode queixar-se de si mesmo. O que em última instância significa que as instituições não são mais do que o espelho do povo que somos. E não é de agora, é de sempre. Há uma ou outra exceção ao longo da nossa história, mas qualquer delas não perdurou e tudo voltou à santa paz do senhor. (...)

sábado, 9 de junho de 2018

Marielle, a última de uma longa lista - crónicas radiofónicas

Imagem retirada da internet



Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 17 de Março de 2018 que pode ser ouvida aqui






Marielle, a última de uma longa lista

A comunicação social nacional não noticiou, em devido tempo, o assassinato, no passado dia 14 de Março de Marielle Franco. Nas edições do dia 16 já não faltavam crónicas, opiniões, notícias e notas biográficas sobre a ativista política de esquerda que era vereadora do Rio de Janeiro eleita pelo PSOL, Partido Socialismo e Liberdade. As redes sociais têm destas coisas, passadas algumas horas de serem inundadas com a notícia seria incompreensível para a opinião pública nacional que os jornais, as rádios e as televisões continuassem a fazer de conta que aquela tinha sido apenas mais uma morte violenta, na violenta cidade do Rio de Janeiro e, como tal, o melhor era mesmo “passar ao lado” para não colocar em causa o regime brasileiro, que como se sabe tem um presidente não eleito em resultado de um golpe palaciano que destituiu a presidente eleita pelo povo brasileiro.
As alusões ao assassinato de Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes, motorista da viatura onde também seguia Fernanda Chaves, assessora de imprensa da vereadora carioca, e que ficou ferida sem gravidade, mas, como dizia, as menções da comunicação social nacional, com exceção de algumas crónicas de opinião, destacam os atributos e notas biográficas de Marielle, o seu percurso de vida, a sua militância política à esquerda, referem, era de todo impossível não o fazer, o óbvio, ou seja, que se terá tratado de uma execução perpetrada por milícias, provavelmente ligadas à polícia militar, as munições utilizadas assim o indiciam, mas obliteram tudo o que pode ligar este hediondo crime ao regime brasileiro e à luta contra o golpe que guindou para o poder os lacaios dos poderosos.
Marielle Franco era uma referência da luta contra a violência que acabou por lhe por fim à vida. Em Fevereiro tinha sido nomeada relatora da comissão que investigava a violência policial e militar no Rio de Janeiro. Esse terá sido o móbil da sua execução.

Imagem retirada da internet
O assassinato desta líder não é caso único, Marielle é a última de uma longa lista de 24 lideres e ativistas políticos e sindicais que, desde de 2014, para não ter de recuar ainda mais no tempo, foram assassinados em diferentes zonas do Brasil.
Todos estes líderes e ativistas políticos e sindicais foram mortos por se terem destacado na luta em defesa das suas comunidades, dos trabalhadores e das populações que representavam.
Não vou ler os nomes desta longa lista, mas sempre lhe direi que 2 dias antes do assassinato de Marielle Franco, ou seja no dia 12 de Março, foi assassinado Paulo Sérgio Almeida Nascimento, líder comunitário no Pará. Paulo Nascimento era um dos líderes da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazónia. Segundo a Polícia Civil, ele foi alvejado por disparos efetuados do exterior de sua casa, na cidade de Barcarena. Paulo Nascimento e a organização a que pertencia mantinham uma luta contra a refinaria Hydro Alunorte, responsável pelo despejo de detritos tóxicos na bacia hidrográfica da sua região.
Preferia conversar consigo sobre um outro qualquer assunto, mas estes atos de terrorismo não podem ser ignorados. Sim é de terrorismo que se trata, ainda que a comunicação social não trate este assunto como tal, mas não é por isso que o assassinato de Marielle e de todos os outros ativistas não se constituem como atos de terrorismo.
Fique bem, eu regresso no próximo sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 17 de Março de 2018

domingo, 3 de junho de 2018

Da mulher - crónicas radiofónicas

Do arquivo pessoal - Madalena Pires no cume do Pico

Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 10 de Março de 2018 que pode ser ouvida aqui




Da mulher

Por estes dias assinalou-se o Dia Internacional da Mulher. Sabe-se qual o dia, 8 de Março, e não outro, bem como conhecidas são as razões, julgo eu, porque se recorda este dia.  Apesar de, face a alguns discursos, comentários e, sobretudo, atitudes que começam a instituir-se me levantem algumas dúvidas sobre a consciência histórica, social e política do que está na origem do Dia Internacional da Mulher, mas sobretudo pela necessidade de, em pleno século XXI, manter um dia dedicado à mulher, ou melhor à luta das mulheres.
Mas vamos partir do pressuposto que não é o seu caso e, portanto, não vou repetir-lhe os dados históricos, nem as estatísticas que comprovam a desigualdade de género e que justificam que o calendário continue a registar este dia de luta.
Uma luta que não é exclusiva das mulheres. Estas como outras lutas não têm género, é uma contenda pela dignidade humana.
Quero que todos os dias e todas as mulheres sejam felizes, mas não me parece adequado desejar um Feliz Dia da Mulher, seja à minha companheira, à minha colega de profissão, às minhas filhas, ou a qualquer mulher no Dia Internacional que lhes é dedicado. A resposta a este voto pode muito bem ser, Deixa-te de tretas levanta-te e luta comigo.
O pensamento dominante e os seus servidores arranjam sempre expedientes para formatar as consciências dos mais incautos e, em relação às mulheres e às suas lutas, esta frase que é bastamente conhecida talvez seja o paradigma disso mesmo. Quem não conhece e reconhece como sendo de valorização das mulheres a seguinte frase: - Atrás de um grande homem (burguês) há sempre uma grande mulher.

Foto arquivo pessoal - Madalena Pires (MIUT 2018) 
Acha que sim, Tudo bem. Mas concordará comigo que esta formulação remete a mulher para o papel que ancestralmente lhe destinaram. Digamos que é um pensamento um pouquinho retrógrado e que visa perpetuar o ascendente masculino, Diz que não.
Então veja lá esta outra formulação: - Atrás de um grande homem (revolucionário) não existe nada, pois a sua companheira luta ao seu lado.
Tem de reconhecer que existe alguma diferença entre as duas frases, mas a diferença não é apenas de sintaxe, a diferença é significativa e traduz pensamentos e posicionamentos distintos. A escolha é sua. 
Vou terminar com um pequeno poema que escrevi, na cidade da Horta, no dia 8 de Março de 2015, e que traduz um pouco do que penso e como me posiciono em relação a estas questões.

Lado a lado

É um dia
Como são outros, todos os outros
Dias de luta
Contra a indignidade
Que discrimina
A filha, a irmã, a mãe
A companheira, a amiga
Este teu dia, Mulher
Celebra velhas e ganhas contendas
Este teu dia, Mulher
É mais do que recordar
É mais do que celebrar
É um dia
Como são outros, todos os outros
Dias de luta
Pela liberdade do teu sorriso
Por um brilho no teu olhar
Caminho ao teu lado
Lutando contra a indignidade
Que te aprisiona o sorriso
Que te entristece o olhar
………………………

Fique bem, Eu volto no sábado.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 10 de Março de 2018

Marina Ginesta - a abrir Junho






Porque bonitas são as mulheres que lutam.
Marina Ginesta a abrir o mês de Junho no momentos