quarta-feira, 26 de junho de 2013

Dívida e gestão do SRS

Os problemas da dívida do Serviço Regional de Saúde (SRS) não se relacionam com a despesa corrente, com o que se gasta, dia a dia, para pagar aos profissionais, para adquirir medicamentos, para garantir a prestação dos cuidados de saúde. 
O problema reside na despesa relacionada com o endividamento brutal, com os empréstimos sobre empréstimos, para conseguir pagar as dívidas de anos anteriores. E sobre esta questão, sobre os verdadeiros centros de custo que estão a arruinar o erário público, o plano apresentado pelo Governo Regional nada adianta. Em bom rigor, a proposta do Governo quer resolver um problema que não existe, deixando de lado o enorme problema que, esse sim, existe e está cada vez maior. 
E basta analisar os números dos três hospitais da Região, por exemplo, para ver como, já se está a reduzir a despesa diretamente relacionada com a prestação dos cuidados de saúde, enquanto aumenta monstruosamente o serviço da dívida.
Hospital da Horta, ano de 2011: Custos com pessoal: menos 10%; matérias consumidas: menos 8%; fornecimentos e serviços externos: menos 7% e outros custos operacionais: menos 26%. Ao contrário os custos e perdas financeiras aumentaram 479% (mais 2,5 milhões de euros), por exemplo.
Hospital de Angra, ano de 2011: Custos com pessoal: menos 4%; aquisição de serviços: menos 21,4%; subcontratos: menos 8.2%, poupanças que foram infelizmente contrariadas por um aumento dos encargos financeiros na ordem astronómica dos 282,6%, mais 3,5 milhões de euros, desviados da prestação dos cuidados de saúde para cobrir as dívidas passadas.
Hospital de Ponta Delgada, ano de 2011: Custos com pessoal: menos 4,1 milhões de euros; Custo das matérias vendidas e consumidas, aqui um ligeiro aumento na ordem dos 400 Mil euros; Fornecimentos de serviços: menos 2,3 milhões de euros. Estas poupanças na parte operacional, foram infelizmente absorvidas por um aumento dos encargos financeiros de mais 7,6 milhões de euros. Mais de 7,6 milhões de euros, que foram desviados da prestação de cuidados de saúde para serem alocados ao serviço da dívida.
Mas, para termos uma noção mais clara de como se escoa o dinheiro dos contribuintes sem que nada se acrescente à qualidade dos serviços de saúde, é preciso olhar com atenção para a Saudaçor.
Em 2011, esta entidade teve de fazer face a um aumento de juros e gastos similares na ordem dos 60%. Foram 8,3 milhões de euros, mais 3,7 milhões do que no ano anterior.
Outra coisa não seria de esperar de uma empresa que tinha, no final de 2011, mais de 310 milhões de euros de passivo. Na realidade, a Saudaçor tornou-se o depósito das dívidas da Região e, por isso, tem de assumir encargos bancários cada vez mais pesados. A evolução é clara: em 2004, por um empréstimo de 80 milhões, contraído junto do Banco Depfa, a Saudaçor pagou um spread de 0,15%. Uma boa taxa. Em 2010 as condições de mercado tinham-se agravado substancialmente e, por isso a Saudaçor, por um empréstimo de igual valor contratado com a CGD, a Saudaçor já teve de pagar um spread de 3,5%. Em 6 de Dezembro de 2011, por mais um empréstimo de 9 milhões, contraído junto do Santander Totta, já pagava 4% de spread. Mas, 3 dias depois, a 9 de Dezembro, por uma conta corrente destinada à liquidação parcial de dívidas do Serviço Regional de Saúde, aberta na CGD, a Saudaçor paga 6,5% de spread. O record, no entanto, fora atingido em 2010. Num contrato com o BANIF que, por uma conta caucionada também destinada ao pagamento de outras dívidas, cobra, nada mais, nada menos, do que 7,75%! 
Esta análise comprova que este peregrino modelo de gestão do SRS falhou. Nem a transformação dos hospitais em empresas permitiu que se estancasse as dívidas, nem a Saudaçor conseguiu poupanças apreciáveis. Aliás, do início ao fim a sua ação pautou-se por falhanço atrás de falhanço, insucesso sobre insucesso e nem sequer o projeto de informatização, o SIS-ARD, a Saudaçor conseguiu implementar!
Não resta a esta empresa qualquer espécie de condições financeiras ou perfil de crédito para encabeçar o projeto de desenvolvimento do sistema de saúde nos Açores. Neste momento a Saudaçor não passa de lixo financeiro tóxico com o qual a Região tem lidar. 
Ponta Delgada, 25 de Junho de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 26 de Junho de 2013, Angra do Heroísmo

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Não há Festa como esta

Ana Moura - esteve na edição de 2012 da FESTA

Até à realização da Festa do Avante (6, 7 e 8 de Setembro) divulgarei neste espaço, como vem sendo habitual, parte da programação.
A FESTA é, incontornavelmente, a maior realização cultural e política do nosso país. Teatro, Cinema, Desporto, Feira do Livro, Arte e Ciência e Música muita Música, acontecem anualmente na Quinta da Atalaia, Amora Seixal.
A Entrada Permanente (EP) para a FESTA já está disponível nos Centros de Trabalho do PCP.

Clicando na FESTA acedem ao sítio da Internet onde têm toda a informação.

Do património, da vinha e do vinho

A cultura da vinha em currais constitui um património único dos Açores, que atingiu o seu expoente máximo na ilha do Pico, onde esta paisagem característica obteve o justo reconhecimento internacional através da sua classificação como Património Mundial. 
A proteção da cultura de vinha em currais e o desenvolvimento da vitivinicultura na ilha do Pico trouxeram benefícios muito positivos para a ilha e para a Região. Desde logo, no campo da economia produtiva, através de vários produtos de alto valor, que continuam a representar receitas relevantes para a Região, apesar de quebras na produção em anos recentes. Criaram-se, também circuitos comerciais associados, que muito contribuem para o dinamismo económico e para o emprego na ilha do Pico.
Também do ponto de vista ambiental foi possível proteger o nosso património vegetal, com a recuperação várias castas tradicionais que tinham sido votadas a algum abandono. Mas, a proteção, classificação e estímulo à cultura tradicional da vinha também trouxe benefícios no plano cultural, através recuperação dos saberes e produções tradicionais, da sua valorização e divulgação, sendo, sem dúvida, esta é uma das razões que fazem do Museu do Pico o mais visitado da nossa Região.
Mas, um dos principais benefícios colhidos pela ilha do Pico e pela Região está, no entanto, no setor turístico. O regime de proteção da cultura da vinha permitiu reforçar a capacidade de atração da ilha através da oferta de uma paisagem única e de uma gama de produtos tradicionais de elevada qualidade. Este fator contribui fortemente para explicar o desempenho, comparativamente melhor, da ilha do Pico, em termos dos indicadores da atividade turística. 
A proteção e redinamização da cultura tradicional da vinha, permitindo a criação de produtos característicos e de alto valor, associadas à proteção paisagística e ambiental, à dinamização cultural da produção do vinho e às atividades turísticas, demonstraram ser experiências muito positivas que podem ser adaptadas e replicadas em núcleos tradicionais noutras ilhas dos Açores. 
A prática tradicional da cultura da vinha em currais existe em todas as ilhas dos Açores e representa um importante potencial produtivo, mas também cultural e turístico que deve ser preservado e potenciado. 
Importa, assim, que se utilize a experiência valiosa colhida na ilha do Pico ao longo dos últimos anos, para dinamizar o setor vinícola regional e aproveitar as potencialidades existentes nas restantes ilhas do arquipélago.
É, portanto, necessário que se proceda, numa primeira fase, a um levantamento exaustivo das zonas de currais de vinha existentes em todas as ilhas do arquipélago e se realize uma avaliação do seu estado de conservação, das necessidades de intervenção com vista à sua reutilização e se avalie o seu potencial vinícola, bem como o tipo de produção mais adequado. 
Na posse desses dados, será então possível criar um regime de proteção das zonas referenciadas, associado a um sistema de incentivos à sua recuperação e reutilização produtiva, aproveitando o conhecimento e capacidade dos parceiros locais e estimulando o associativismo dos produtores. Utilizando também a comprovada capacidade e os meios técnicos de excelência de que a Região dispõe, em parceria com os produtores, será possível criar uma nova gama de produtos vinícolas, de cunho local, com caraterísticas específicas e diferenciadoras, de elevada qualidade e potencial económico. 
A recuperação paisagística e o crescimento das produções locais poderão potenciar a atividade turística em geral e o segmento do enoturismo em particular, acrescentando mais ofertas de qualidade ao produto turístico regional, o que se converterá, necessariamente, em benefícios económicos substanciais para cada uma das ilhas e para a Região no seu conjunto.
Ponta Delgada, 24 de Junho de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 24 de Junho de 2013, Ponta Delgada

sábado, 22 de junho de 2013

Angústias (*)


Não são os deuses ou, aquilo em que materialmente acredito, que me desassossega
São as pessoas, são mesmo as pessoas que não me dão descanso, são mesmo as pessoas que me provocam profundas inquietações.
Luto, sempre lutei contra estas inquietudes
Continuo a lutar, até ao dia em que já não for capaz de contrariar as inquietações que me assolam, até ao dia em que desista, desista das pessoas
A utopia permanece, permanecerá
Sei que é possível, assim cada um de nós queira abdicar de uma parte para garantir que todos possamos alcançar a dignidade inerente à condição humana.


Horta, 22 de Julho de 2013

(*) esta é uma versão revista e aumentada da publicação que aqui podem encontrar

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Acessibilidade ao SRS

Os debates que amanhã (hoje) irão decorrer na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), por iniciativa dos partidos da oposição e do Governo Regional (GR) sobre a proposta de reorganização e reestruturação do Serviço Regional de Saúde (SRS), devem ser valorizados e entendidos como contributos importantes, não só para a compreensão das políticas do PS e do GR sobre este setor social, mas também e se assim for o entendimento recolher os contributos do debate público e do debate institucional.
A base de qualquer discussão lúcida é a clareza dos termos que são discutidos e, em relação à proposta do Governo Regional, pese embora o que está escrito no seu título, é fundamental que se clarifique: Esta não é uma proposta de reestruturação do Serviço Regional de Saúde.
Não é uma proposta de reestruturação, no sentido em que não aborda os grandes problemas do sistema. Não faz alterações de fundo que permitam enfrentá-los, nem superá-los. Deixa de lado a grande questão, que está na mente de todos, que é o do endividamento do Serviço Regional de Saúde. 
Pelo contrário, a única coisa que a proposta do GR pretende é obter todas as pequenas poupanças possíveis, cortando ainda mais na prestação dos cuidados de saúde, concentrando ainda mais os cuidados de saúde, amputando ainda mais o direito dos açorianos aos cuidados de saúde. 
Assim, o primeiro contributo que posso dar ao Governo Regional é para que altere o título da proposta. O título, correto e claro, deveria ser: “Como encolher, ainda mais, o SRS, segundo o PS Açores.”
Ainda no campo da clarificação dos conceitos, importa que se atente ao real significado para o Governo Regional a expressão: “acessibilidade” aos cuidados de saúde.
O Governo afirma que partiu da premissa da “acessibilidade dos açorianos a um SRS de qualidade”. E eu pergunto: para este Governo Regional, encerrar as unidades de urologia, oncologia, hematologia clínica, pneumologia e da unidade de cuidados intensivos do Hospital da Horta, por exemplo, ou esvaziando os Centros de Saúde, de forma generalizada, mas mais agudamente nas ilhas com hospital, significa melhorar a “acessibilidade” ao SRS?
Afastar os serviços dos utentes, torna-los mais distantes, mais difíceis de recorrer significa melhorar a acessibilidade!?
Impor taxas moderadoras ou encerrar o Serviço de Atendimento Permanente de Ponta Delgada é melhorar a acessibilidade ao SRS?
Não comungo da posição do PSD quando solicita ao GR que retire a proposta que está à discussão, a proposta deve manter-se como um documento aberto e pronto a receber os contributos dos cidadãos, dos profissionais de saúde e dos agentes políticos.
Virei de novo a terreiro com mais algumas reflexões sobre a proposta de Reorganização do SRS que está à discussão pública
Horta, 18 de Junho de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 19 de Junho de 2013, Angra do Heroísmo

terça-feira, 18 de junho de 2013

Luta contra a propaganda

A luta dos trabalhadores e dos povos assume diversas formas. A greve é uma delas, não sendo o último recurso, outros existem quando se bloqueiam todas as portas, a greve é, contudo, reconhecida como uma forma de luta que se adota quando outras se encontram esgotadas e assim acontece, face à rutura do diálogo e à intransigência, decreta-se greve.
É bom recordar e olhar para a história da humanidade para perceber que a construção social que nos elevou ao patamar civilizacional que, até ao último terço do século passado, pautou no designado mundo ocidental, foi feita de lutas. As lutas contra a escravatura, as lutas contra a servidão, as lutas de emancipação do jugo colonial, a luta pela igualdade de género, as lutas contra a homofobia, as lutas pelos direitos sociais e laborais, e tantas, tantas outras lutas que nem sempre foram pacíficas, mas foram sempre, sempre, pela dignidade do ser humano. Todas as transformações conquistadas passo a passo, luta a luta, tiveram associadas a ideia da construção de uma sociedade mais justa, a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável, a melhoria da qualidade de vida dos habitantes desta casa comum a que chamamos terra e a preservação do ambiente e dos recursos para as futuras gerações.
Hoje continuamos a lutar, não por avanços, lutamos contra os retrocessos. Luta para travar o retrocesso civilizacional que foi conquistado ao longo de séculos. A ofensiva não é de hoje, a luta hoje tem protagonistas sem vergonha, mas outros protagonistas os antecederam. A tentativa de desmantelamento das conquistas civilizacionais, não é de hoje nem de ontem, embora nos queiram fazer crer que não há história de luta e resistência antes de a crise ser decretada. Não podemos esquecer que a ofensiva contra os trabalhadores e os povos nunca cessou e que, de forma concertada, a agressão ganhou força e avançou, no Mundo desenvolvido, com os consulados de Ronald Reagan e Margaret Thatcher e a subsequente submissão, dos partidos socialistas e sociais-democratas europeus, à ideia da conciliação do Estado social com o mercado “livre”, como, imagine-se, o “livre” mercado assim o permitisse.
Quando iniciei este texto tinha como ideia central tecer algumas considerações sobre as lutas dos professores e outras que se avizinham, o correr da pena levou-me por outros caminhos e saíram poupados os detratores da greve dos docentes que hipocritamente afirmam reconhecer a greve como um direito mas apenas quando lhes convém, tivemos recentemente outros exercícios de hipocrisia à volta da greve dos trabalhadores da SATA, ou seja, se esta forma de luta for inócua, for mansa, como alguém escreveu por aí, que se realize se prejudicar então, não.
Nos Açores a máquina da propaganda do Governo Regional continua afinada, se é certo que ninguém poderá deixar de se congratular com a declarada intenção de não aplicar a mobilidade especial nos Açores, não é menos verdade que outros aspetos ligados às reivindicações docentes estão em aberto, é tudo uma questão de tempo e não podemos ficar como uma nêspera deitada que Mario Henrique Leiria descreveu, todos sabemos o que acontece às nêsperas que ficam deitadas, caladas, a esperar, o que acontece.
Mas a propaganda do PS não se fica por aqui, o pagamento do subsídio de férias anunciado para o próximo mês chega com um mês de atraso pois, não há nenhum motivo plausível para que o Governo Regional não tomasse a iniciativa, sem mais delongas e à semelhança do que outros organismos públicos fizeram, de pagar o subsídio devido durante o mês de Junho, congratulamo-nos por na Região receber alguns meses antes do que no continente mas, em bom rigor esta é mais uma falácia do PS.
Horta, 17 de Junho de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 18 de Junho de 2013, Ponta Delgada

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Notas de viagem

Viagens (*)

Pairo sobre o estuário
Procuro sinais das musas
Onde andais, ninfas do Tejo
Onde estais Tágides que vos quero minhas
Receosas despontam, insinuam-se 
No espelho azul de água
Na proa de uma falua
No voo de uma gaivota
No casario que se espraia pelas colinas
Mas não passam além do Bugio
Habitam o Tejo
Amam Lisboa

Sigo o Sol 
No bojo dum metálico milhafre azul
Vou para Ocidente
Para trás, a cidade, o rio e as ninfas refugiam-se na luz do crepúsculo
Sulco os céus do Atlântico
Carrego a saudade
E amores apartados
Amores divididos entre partidas e chegadas

Abeiro-me do meu destino
Avisto a minha ilha na vastidão Atlântica
Ao longe a cidade cinzenta
Recortada por gradientes de verde
Moldada por vulcões e terramotos
Conformada pela vontade dos Homens

Desce à procura do poiso
Encontra o ninho do milhafre
Envolvido por espessas neblinas
A instantes vê o sinal que indica o trilho seguro
A instantes a densa bruma o encobre

A névoa ofusca a visão
Usa os olhos da audácia
No momento da decisão clareou o caminho
E a mestria dos navegadores dos céus
Pousou segura e suavemente o metálico milhafre azul
Acariciado pela densa bruma
Rolou até ao abrigo, imobilizou-se
Abriu o bojo
De lá brotaram mulheres e homens 
Traziam estampado no rosto a alegria da chegada, e respeito
E afeição pelas mulheres e homens que, em terra e no ar
Unem este povo disperso pelas ilhas, 
Disperso pelo Mundo

Horta, 16 de Junho de 2013

(*) A propósito do voo S4 129 do dia 15 de Junho de 2013 e dedicado ao Comandante e à sua briosa tripulação.
As condições de visibilidade eram quase nulas, já no solo e de dentro do A320 da SATA Internacional não se avistavam os edifícios que ladeiam a pista do aeroporto de Ponta Delgada.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Exceção sem regra

Para um número alargado e especialistas de várias áreas disciplinares, o empreendedorismo é, assim como uma espécie de culto e, o remédio para todos os males das sociedades como a portuguesa. Dão-se exemplos de empreendedores, ele é o Bil Gates, ele é o Mark Zuckerberg, eles são alguns jovens portugueses que as televisões, pública e privada, produzem. Eles são a exceção que não confirmam a regra, e alguns destes exemplos nem exceções chegam a ser. A ideia do empreendedorismo vende. Vende como proposta política, vende como oferta de formação, desde o ensino profissional ao ensino superior, e não falta por aí quem compre. O contingente de candidatos a empreendedor cresce. A ideia é apelativa, cultiva o sucesso individual e a ascensão social e económica, não importa como nem à custa do quê.
Conheço alguns empreendedores que transformaram uma ideia numa atividade económica produtiva, não tenho nada contra, reconheço o seu valor e admiro-os. São jovens e menos jovens que colocam os seus saberes e dinamismo ao serviço da comunidade, da Região do País, criaram postos de trabalho e geram riqueza. Mas generalizar a ideia de que a solução para o desemprego jovem passa, no essencial, por promover um batalhão de jovens empreendedores parece-me profundamente errado, isto para além de conformar a desresponsabilização política da Região e do País de promover políticas públicas de emprego, ou seja, de passar o ónus da criação de emprego jovem para as vítimas das políticas de destruição de emprego.
A ideia de empreendedorismo emergiu naturalmente como resposta à cultura de atomização das sociedades e o abandono da ideia de que as soluções políticas e económicas que promovem o desenvolvimento devem ser, têm de ser construções coletivas. Construções dos indivíduos, é certo, mas nunca do individualismo.
Não tenho uma reflexão profunda sobre a enunciação anterior e a sua ligação com a emergência desta epidemia em que redundou o empreendedorismo, contudo encontro algumas contradições entre os efeitos da cultura dominante, fundada na atomização da sociedade mas que uniformizou, aliás não tenho dúvidas de que esse era o objetivo, uniformizar. Uniformizar o consumo, uniformizar o pensamento, uniformizar os modelos económicos, uniformizar os modelos políticos, uniformizar a cultura. Posso até ser um pouco mais duro nesta análise especulativa e, afirmar que esta uniformização é sinónimo de estupidificação. E quanto mais assim for, mais facilmente se exerce o domínio sobre os indivíduos e sobre os povos.
Apesar do grande investimento ideológico e financeiro as políticas de autoemprego e emprego ancoradas no empreendedorismo não trazem, verdadeiramente, nada de novo e, por outro lado encontram um público destinatário formatado com pseudoprojectos inovadores, aqui há exceções não posso generalizar, destinados ao fracasso mal se acabe o apoio público.
Talvez volte, quem sabe, a este aliciante assunto. É que esta coisa do empreendedorismo, tenho para mim, é uma característica do ADN do povo português, e empreendedor, no meu dicionário pessoal, não tem como significado - empresário.
Angra do Heroísmo, 09 de Junho de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 11 de Junho de 2013, Ponta Delgada

sábado, 8 de junho de 2013

Folga, na Graciosa

Lugares

Folga, não é folguedo
É lugar, na Graciosa
É Molho à Pescador, 
É S. Jorge, o Pico e o Faial 
Além, tão perto e tão longe
Iluminados pela claridade suave deste ocaso
E pelo olhar bárbaro duns olhos verdes
Pra onde o acaso me guiou
E somos nós, ilhéus atlantes e... este mar
A viver o tempo, neste lugar, neste instante
E o mar… o mar presente, o mar imenso
Este mar de abaladas e regressos
Este mar de saudades
Saudade que nem sempre é dor
Mas é sempre, sempre, amor

Santa Cruz da Graciosa, 07 de Junho de 2013


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Um novo desafio

A preparação do novo quadro comunitário de apoio tem contado com o contributo de agentes políticos e económicos. A audição prévia feita pelo Governo Regional aos partidos políticos com assento parlamentar e aos parceiros sociais não deve, contudo, limitar-se à formalidade democrática, por conseguinte, não deve esgotar-se nestas iniciativas que, como já afirmei, considero relevantes. Dada a importância para o nosso futuro próximo a programação estratégica e a correspondente afetação dos fundos deve ser antecedida de um debate público o mais alargado e participado possível, debate esse que deve procurar encontrar consensos em torno das linhas fundamentais do desenvolvimento dos Açores para os próximos anos.
Sendo esta apenas a fase preliminar do debate, importa que sejam levados em conta, desde já, alguns aspetos que julgo decisivos, em termos de linhas gerais e de projetos estratégicos para a Região, maximizando assim os fundos do próximo quadro comunitário. 
O novo contexto económico nacional e europeu veio alterar substantivamente as condições e possibilidades de investimento por parte das entidades públicas e atores privados, de onde decorre a necessidade do aumento das taxas de cofinanciamento, sob pena de colocarem em causa projetos de investimento que contribuam para a redução da nossa dependência económica da Região e o aumento das exportações. 
As dificuldades do setor primário açoriano são indissociáveis da política de redução da capacidade produtiva, de abandono de atividade para muitos produtores que tem sido seguida nos últimos anos, quer por imposição externa, quer por opção política interna. É, assim, necessário reorientar a aplicação dos fundos, priorizando o aumento da capacidade produtiva e geradora de riqueza, ao invés de continuar a aplicá-los na redução de atividade. O aumento da produção regional, em especial nos setores tradicionais deve estar no topo das prioridades, sem no entanto esquecer o conjunto de produções inovadoras que se começam a afirmar na nossa Região, por outro lado é necessário consagrar de forma clara e inequívoca uma estratégia de desenvolvimento na base de apoio a projetos de investigação e inovação com forte impacto tecnológico e científico na especialização económica e na qualificação profissional, tanto nas áreas tradicionais como noutras de potencial crescimento, particularmente em novos projetos para a dinamização e diversificação da economia produtiva, com elevada incorporação tecnológica e modernização do processo produtivo, permitindo elevar consideravelmente o valor acrescentado.
No contexto de reforma/revisão da Politica Agrícola Comum (PAC) e da Política Comum de Pescas (PCP) que a serem concretizadas constituirão um cataclismo económico na Região exige-se que sejam assegurados os interesses dos Açores, nomeadamente o direito a produzir segundo as suas capacidades e potencialidades e a defesa da sustentabilidade do seu aparelho produtivo, particularmente através da continuidade do regime de quotas leiteiras e de uma gestão partilhada dos recursos marinhos no quadro da defesa dos interesses regionais e nacionais.
O necessário aumento da produção regional obriga a que se reforce o nosso perfil de especialização produtiva e a capacidade de diferenciação dos nossos produtos, melhorando a sua colocação nos mercados, interno, nacional e internacional. A dinamização do mercado interno regional deve ser olhada como uma nova prioridade que poderá permitir reduzir importações, melhorando a balança comercial regional, bem como fomentar a criação de emprego e de oportunidades de negócio fomentando um clima económico dinâmico e menos suscetível às flutuações dos mercados externos.
O reforço dos meios destinados a ultrapassar os constrangimentos permanentes a que a Região está sujeita, nomeadamente no campo dos transportes internos e externos e dos custos que lhes estão associados afigura-se como a prioridade das prioridades. É necessário não apenas melhorar a ligação dos Açores ao continente e à Europa, como também apostar de forma decidida na melhoria dos transportes de passageiros e carga entre as diversas ilhas do arquipélago, unificando os mercados, fomentando as trocas e a criação de circuitos e dando, desta forma, um novo impulso à coesão regional, coesão regional que no fundo é um dos pilares estruturantes da própria autonomia.
Ponta Delgada, 03 de Junho de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 03 de Junho de 2013, Ponta Delgada

Rachel Weisz - a abrir Junho


Descobri esta atriz britânica no "Fiel Jardineiro" mais tarde consolidei a minha admiração por Rachel Weisz em "Àgora".


Rachel Weisz estava há algum tempo para abrir um mês do momentos fica, por agora, como "capa" de Junho mas é mulher para voltar a abrir um outro qualquer mês do momentos.