quinta-feira, 31 de março de 2022

o ataque às cores e aos símbolos

cores do arco íris
As cores, é sabido, induzem emoções e sentimentos. As cores quentes transmitem energia, atividade e entusiasmo, e, as cores frias racionalidade, tranquilidade e profissionalismo.

A escolha das cores, pelo marketing, não é fruto do acaso. A opção por uma ou outra cor depende do que se pretende induzir no público consumidor de um produto, de um serviço ou de uma ideia. E os símbolos, tal como as cores, são também elementos essenciais nos processos de comunicação. 

A utilização das cores e dos símbolos também dependem dos contextos e a indução de emoções, quando assim é, pode sair do padrão aceite. A guerra na Ucrânia trouxe para o nosso quotidiano algumas cores e símbolos que induzem sentimentos diversos, ou muito simplesmente de apoio ou repúdio a uma das partes diretamente interveniente no conflito.

bandeira da Eslovénia

Há poucos dias, ao circular numa das artérias de Ponta Delgada, olhei para um dos painéis publicitários que circundam uma rotunda e estranhei as cores – azul, vermelho e branco. Pensei para comigo: não pode ser são as cores da bandeira russa. Depressa concluí que, afinal era, apenas, o “outdoor” da Iniciativa Liberal (IL) e cujas cores são as mesmas da bandeira russa. Penso que face à fobia russófona que se vive talvez fosse aconselhável que a IL retirasse os seus “outdoors” não vá acontecer o mesmo que à embaixada da Eslovénia na Ucrânia a quem foi pedido pelas autoridades ucranianas para arriarem a sua bandeira pois confundia-se com a bandeira russa. Enfim!

Mas se as cores da bandeira russa estão a ser objeto de atenção e crítica a quem as ostenta, já as cores ucranianas (amarelo e azul) estão a ser profusamente utilizadas como estratégia de marketing para promover produtos, serviços e ideias, tudo em nome da solidariedade e do apoio humanitário. Pois está bom de ver.

Eu continuo a gostar de vermelho, azul, amarelo e branco. Já gostava, nada de novo.

Depois dos artistas e atletas russos, mortos e vivos, terem sido apagados dos mais diversos eventos, agora são as cores. Tenho estado à espera que a tabela periódica seja retirada aos estudantes e escolas, pois, bem vistas as coisas, o seu criador foi o russo Dmitri Mendeleev. E se é para apagar que se apague tudo. 

imagem retirada da internet
Os símbolos também estão a ser alvo de atenção e o seu uso pode ser criminalizado. Na Alemanha, a Baviera e a Baixa Saxónia, vão processar qualquer pessoa que use a letra "Z" em público, por considerarem que é um símbolo de apoio à guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Espero que possamos continuar a utilizar a letra Z, sob pena de alguns nomes de cidades, países e até de pessoas serem impronunciáveis.

Não tenho conhecimento de que a letra V tenha sido alvo de alguma discriminação pois, os cidadãos mais atentos já terão reparado que alguns veículos militares russos ostentam a letra V, ou ainda o que será do losango que, mais recentemente, começou a aparecer nos veículos militares russos usados na guerra da Ucrânia.



Aníbal C. Pires, 31 de março de 2022

Censura e sanções

imagem retirada da internet

O bloqueio ou as sanções, como preferirem e melhor se adeque ao ponto de vista de cada um, não estão a cumprir os objetivos de quem sancionou, mas estão a acelerar a criação de um mundo multipolar e profundas alterações na economia e no sistema financeiro internacional, ou seja, a Rússia ao contrário do pretendido não está isolada e a sua moeda (rublo) valorizou-se face ao dólar.

O cerco económico, financeiro e mediático à Rússia está a custar caro, muito caro, aos cidadãos da União Europeia. O aumento generalizado dos preços dos produtos e serviços é uma evidência, não é propaganda russa.

Salvo melhor opinião a União Europeia continua a dar “tiros nos pés” ao seguir a cartilha estado-unidense, mas isso não são contas do meu rosário, não obstante esteja já a pagar por essas opções.

As afirmações anteriores são factuais, não se trata de qualquer fuga ao cerco mediático que a União Europeia e os Estados Unidos impuseram aos seus cidadãos.

A histeria reinante na censura a tudo o que possa parecer apoio à Rússia não tem limites e é diretamente proporcional ao acriticismo no apoio ao regime da Ucrânia, não ao seu povo, mas ao seu governo e tudo aquilo que, infelizmente, representa.

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O cerco mediático aos cidadãos do chamado mundo ocidental tem sido eficaz, mas cada vez mais os cidadãos se interrogam sobre algumas questões que agora, por força das circunstâncias, têm vindo a ser objeto de interesse como seja a questão do Donbass, os acordos de Minsk, o poder dos neonazis no aparelho político e militar ucraniano, os massacres de Odessa em 2014, o “euromaidan”, os laboratórios biológicos patrocinados pelos Estados Unidos e os interesses comerciais diretos da família Biden, por via de Robert Hunter Biden filho do presidente dos EUA, na Ucrânia. Mas não só, alguma comunicação social já refere e publica imagens, não filtradas, sobre a atuação das forças nacionalistas e neonazis ucranianas e as interrogações dos cidadãos aumentam.

A censura a fontes de informação que não adotem a narrativa do chamado mundo ocidental ainda domina, contudo há quem rompa o cerco e permita aos cidadãos ter alguma informação e opinião sobre o que verdadeiramente se está a passar, não só na Ucrânia e na Rússia, mas sobretudo no Mundo.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 31 de março de 2022


domingo, 27 de março de 2022

lamento

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Em 2017, a propósito da guerra de informação e contrainformação na guerra da Síria, desiludi-me com o ator George Clooney, não pelas suas qualidades na arte da representação, mas por ter dado cobertura às produções de propaganda dos “Capacetes Brancos” (White Helmets). George Clooney é um cidadão bem informado e, como tal, o seu ato foi indesculpável.

A guerra na Ucrânia fez cair, na minha consideração, um outro ator estado-unidense. Não enquanto ator, mas como cidadão, igualmente, bem informado, pelo menos assim o considero.

Sean Penn resolveu, não sei bem a troco de quê, assumir a defesa cega do presidente ucraniano, o que não significa bem a mesma coisa de assumir a defesa do povo ucraniano que, ao contrário do que nos querem fazer crer, não está todo ao lado de Volodomyr Zelensky, mas essa história será contada depois.

A minha desilusão com Sean Penn, vale o que vale, está ancorada em três factos devidamente comprovados e do domínio público, só não tem conhecimento quem não quer, a saber:

1 - “Máscaras da Revolução” documentário de uma TV francesa que podem ver no Canal de Documentários do Youtube; o documentário “A Ucrânia em Chamas” do realizador Igor Lopatnok (ucraniano a viver na Califórnia, produzido por Oliver Stone (estado-unidense); ou ainda “Donbass”, um documentário da jornalista francesa Anne-Laure Bonnel; Estes documentários falam de uma questão que Sean Penn sempre ignorou. Não por desconhecimento, mas com o propósito de manter distante dos olhos e ouvidos dos cidadãos ocidentais a guerra civil ucraniana que, como todos sabemos, deflagrou em 2014 e provocou, até ao dia 24 de fevereiro de 2022, milhares de mortos e mais de 1 milhão de refugiados.

2 – Sean Penn, não sei das suas razões, esteve (ou está) na Ucrânia a fazer um documentário sobre a atual situação que se vive naquele país onde a guerra, depois da invasão russa, se alastrou a outros territórios ucranianos. Sean Penn atua como se tudo se tivesse iniciado a 24 de fevereiro pp, o que, para quem está informado como ele, é falacioso e parcial.

3 – Sean Penn fez uma birra para chantagear a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Holywood) a aceitar que Volodomyr Zelensky pudesse falar durante a entrega dos óscares. Ao que parece a Academia não se vergou à chantagem de Sean Penn e Zelensky não vai ter a “deixa” para participar no espetáculo. A verificar-se que a Academia não cede à birra do ator aguardo para assistir à quebra, por Sean Penn, das duas estatuetas que lhe foram atribuídas, pela Academia, durante a sua carreira. Essa foi a ameaça do ator, espero que cumpra esta sua intimação.

A atitude de Sean Penn é, para mim, lamentável e incompreensível, pois, para além das suas qualidades como ator e realizador, que admiro, sempre considerei que ele era um ativista social e político que colocava rigor nas suas intervenções. Ao tomar esta atitude Sean Penn está a ser parcial e a demonstrar que está do lado da narrativa unilateral dos “bons e dos maus”, o que não serve o bem maior que é a PAZ, lamento profundamente que Sean Penn, como foi fazendo ao longo da vida, não tenha mantido distanciamento em relação à situação criada pela invasão russa e se empenhe em dar palco ao presidente ucraniano, como se sobre ele não recaíssem muitas dúvidas quanto ao seu papel neste conflito.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 27 de março de 2022


sexta-feira, 25 de março de 2022

a perversão dos conceitos

 

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A morte de Madeleine Albright, foi motivo para a comunicação social de “referência”, mas também para alguns líderes da “comunidade internacional” afirmarem as qualidades humanistas e pacifistas da falecida.

Quem conhece a vida pública e política daquela que foi a primeira mulher a exercer o cargo de Secretária de Estado da administração estado-unidense, presidida por Bil Clinton, não pode em consciência, subscrever estes obituários.

Madeleine Albright tem responsabilidades diretas nos bombardeamentos a Belgrado, em 1999, primeira ação ofensiva da NATO (constituída como uma aliança militar defensiva), mas esta pacifista e humanista não se fica por aqui. As sanções económicas impostas ao Iraque, após a invasão ao Kuwait, que duraram de 1990 até 2003, provocaram morte de meio milhão de crianças iraquianas com menos de 5 anos, dados da ONU, fazem também parte do seu mórbido curriculum.

A frieza e a frase com que respondeu à jornalista, Leslie Stah, da CBS, no programa 60 minutos quando esta a questionou sobre se valeu a pena impor as sanções económicas ao Iraque, que mataram meio milhão de crianças iraquianas é reveladora e desmente todas as parangonas que agora, pela sua morte, foram ditas e escritas.

Quando Leslie Stah lhe diz que, segundo a ONU, por causa do bloqueio morreram mais de meio milhão de crianças iraquianas, mais do que em Hiroxima, e lhe pergunta se, sob o ponto de vista dos Estados Unidos esse preço valera a pena? A pacifista e humanista Madeleine Albright respondeu que tinha sido uma escolha muito difícil, mas nós achamos que valeu a pena. Vejam o vídeo que vos deixo abaixo e verifiquem.


Está tudo dito. Ou eu tenho um conceito profundamente errado sobre a paz, a democracia e o humanismo, ou então alguma coisa está muito mal no seio da chamada “comunidade internacional”, que como se sabe se resume a pouco mais do que os Estados Unidos, a União Europeia, o Reino Unido e a Austrália. Isto não é civilização é barbárie.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 25 de março de 2022


quinta-feira, 24 de março de 2022

efeitos das sanções

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A "comunidade internacional", tal como é referida pelos protagonistas políticos e pelos jornalistas da nossa praça, representa menos de metade da população mundial. E ao analisar, ainda de que forma grosseira, o mapa-múndi verificamos, com facilidade, como alguns conceitos nos iludem e distorcem a realidade. Dir-me-ão que nós fazemos parte. Sim, no mapa estamos lá. Como povo não será bem assim. Nem somos tão brancos como alguns de nós gostam de pensar, mas somos periféricos e pobres. 
Não temos dimensão territorial, populacional, política e económica que nos valha para alguma coisa. Para não dizer, apenas, que neste contexto pouca valia temos, refiro a Base das Lajes, na Terceira e a sua importância geoestratégica da qual, como sabemos, Portugal não sabe, nem nunca soube retirar daí algum proveito, por outro lado sendo Portugal membro da NATO aquela importante infraestrutura no corredor atlântico está, por força dessa condição, ao dispor dos Estados Unidos.

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A "comunidade internacional" sancionou a Rússia pela invasão da Ucrânia. Julgo que as sanções contra um país, seja qual for, não atingem os objetivos que os anúncios políticos procuram justificar. Os povos sim! Os que são alvo das sanções e os povos cujos governos aderem às sanções. Os bloqueios económicos e financeiros atingem duramente os povos, aliás em Portugal que, também, sanciona a Rússia estamos já assistir a uma escalada dos preços, ainda que, considere que estes aumentos, ainda, não se relacionam diretamente com a invasão da Rússia à Ucrânia, nem tampouco, com a sanções que foram decretadas pela “comunidade internacional” à Federação Russa. 

Não aceito sanções económicas a nenhum povo, considero isso criminoso. Por outro lado, como medida política, as sanções, como a história comprova, são de eficácia reduzida, para não dizer nula. Vejam-se os inúmeros países que são alvo de sanções e os efeitos que têm produzido. Falta de bens de primeira necessidade, medicamentos, carestia de vida, etc., etc.. Ou seja, as sanções penalizam os povos e unem-nos contra os “inimigos externos”. No caso das sanções à Rússia e pelo que me é dado saber, aliás é do domínio público, pode muito bem acontecer que as economias dos países que subscreveram as sanções venham a ser mais prejudicados que a economia e o sistema financeiro do país alvo.

A invasão da Ucrânia vai penalizar fortemente a economia russa, não tenho dúvidas, não tanto pelas sanções da “comunidade internacional, mas sobretudo pelos custos associados ao esforço de guerra, já despendidos, e pelo que virá a ser aduzido enquanto não for assinado um cessar fogo, ou um tratado de paz. 

Pelo que já é do domínio público começa a configurar-se que as economias europeias, os Estados Unidos também, mas por via de alterações, já anunciadas, ao sistema monetário internacional, vão ser fortemente penalizadas. 

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As economias europeias por insistirem em afetar recursos públicos no apoio em material de guerra para a Ucrânia, que em grande parte é de imediato destruído ou apreendido pelos russos e entregue à defesa das Repúblicas de Donestk e Lugansk, pela dependência energética da Rússia, mas também pela desdolarização da economia mundial que já teve o seu início há algum tempo e que agora tende a acentuar-se, com a Rússia a exigir que o pagamento do fornecimento energético à Europa seja feito em rublos russos, a Índia a comprar petróleo à Rússia e fazer o pagamento em rupias, a Arábia Saudita a mostrar disponibilidade para vender petróleo à China, em yuans.

A União Europeia continua a assobiar para o lado e parece que ainda não percebeu que, tal como a Ucrânia, não passa de um peão de brega nesta guerra que, não é difícil de perceber, vai muito para além do conflito armado. Ao manter este posicionamento, a União Europeia poderá estar a trilhar o caminho da autodestruição enquanto comunidade de estados.


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de março de 2022


quarta-feira, 23 de março de 2022

Strogonoff e salada russa

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A situação internacional é complexa e vai produzir, a prazo, efeitos que se irão prolongar para lá das assinaturas de paz que, mais tarde ou mais cedo, serão firmadas pelos representantes da Ucrânia e da Rússia, sob a égide de uma qualquer organização mundial, ou não, o que não é relevante, pois, as organizações supranacionais há muito que perderam importância, por omissão, por incumprimento, ou pela dualidade de atuação.  Essencial é que paz retorne, não só a este conflito, mas a todos os que ocorrem pelo mundo. 

Não tenho, sobre a guerra e as questões humanitárias que lhe estão subjacentes, uma opinião seletiva. Todas as vítimas e refugiados de guerra me merecem atenção e solidariedade. A afirmação anterior é, contudo, passível de que venha a ser entendida como uma espécie de apoio encapotado a um dos lados da guerra que assola os ucranianos (há 8 anos). E isto apenas por eu não ter isolado, numa bolha temporal e espacial, a guerra russo-ucraniana e ter referido o facto, indiscutível, de que a guerra na Ucrânia não teve o seu início no dia 24 de fevereiro. O que se iniciou a 24 de fevereiro foi a invasão russa e o alastramento da guerra a territórios ucranianos onde, até então, havia paz. Mas este é um risco que os cidadãos, como eu e muitos outros, corremos por não reproduzir a narrativa desenvolvida pela comunicação social de referência. Um risco assumido e que, como qualquer outro, tem os seus custos, mas nem por isso deixarei, sempre que necessário, de assumir enquanto a minha consciência assim o exigir.

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Quem acriticamente toma um lado, que não seja o da Paz, tem tendência para a diabolização de uns e o endeusamento de outros, mas nesta como nas outras guerras que estão a decorrer, as responsabilidades são partilhadas e, inocentes são apenas os povos que desejam, mais do que tudo, que lhes seja garantido o direito a viver em Paz. Eu, como tenho vindo a referir, aqui e no meu blogue, também tenho um lado, o lado da PAZ e da cooperação entre os povos. Nenhuma guerra tem justificação! Sem dúvida, mas existem causas que as provocam e, quando se fecha a porta às soluções pacíficas escancaram-se para as soluções violentas. Não se aplica apenas à guerra russo-ucraniana, mas à generalidade dos conflitos bélicos.

Em tudo o que escrevo sobre o assunto que domina a atualidade tenho evitado fazer referências às razões, aos timings, à capacidade ou incapacidade militar das partes em conflito e, sobretudo, a adjetivar os responsáveis diretos e indiretos pela guerra, pois, tenho cá para mim que um assunto complexo, como este, vai muito para lá das caraterísticas pessoais dos “líderes”, por essa razão considero que focar a atenção nos perfis dos atuais dirigentes russos, estado-unidenses, da NATO, da União Europeia, ou da China é redutor e simplista, e, por conseguinte, retira objetividade a qualquer análise que se pretenda fazer.

O tema já foi abordado na “Sala de Espera” e hoje, ainda que numa outra dimensão, volto a trazê-lo para convosco refletir sobre ele: a russofobia.

As sanções e a narrativa ocidental, porque há outras e não me refiro à narrativa russa, têm vindo a criar situações absurdas. Como, por exemplo, a tentativa de uma universidade italiana cancelar uma iniciativa sobre Fiódor Dostoievski, escritor russo nascido em 1821. Dostoievski é considerado uma referência da literatura mundial, mas também da filosofia, da psicologia e da teologia. A pergunta é: Qual a ligação de Dostoievski com a invasão russa da Ucrânia? Nenhuma. Então porquê? Por ter nascido na Rússia. Pois, mas não me parece justificável, nem aceitável.

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Os absurdos não se ficam por aqui. As obras dos compositores Tchaikovsky, século XIX, Prokofiev, século XIX e XX, Shostakovich, século XX, foram retiradas da programação de algumas orquestras. O que têm estes três compositores em comum, para além da sua reconhecida qualidade artística!? Nasceram e morreram na Rússia muito antes do atual presidente da Federação Russa ter ascendido ao poder. Mas esta atitude censória e revisionista da história não se fica por aqui. O nome de Yuri Gagarin, (falecido em 1968), o primeiro homem que foi ao espaço, foi censurado no programa do simpósio anual da Space Foundation, que se realiza no próximo mês nos Estados Unidos. Qual a razão? Por ter nascido russo. Mas se estes atos censórios se referem a cidadãos russos já falecidos, muitos outros estão a acontecer a cidadãos russos vivos que, nas artes e no desporto, se têm notabilizado. Estes atos configuram uma clara e irracional atitude discriminatória em relação a estes cidadãos. A emoção é amiga da irracionalidade e tudo o que possa ser, ou parecer russo, está a ser rejeitado. Tudo não, existem alguns produtos de origem russa de que a União Europeia, para já, não abdica e não sanciona.

Para terminar deixo-vos com uma nota que até poderia ter a sua piada se não fosse ridícula. Alguns restaurantes retiraram das suas ementas o famoso “strogonoff”, não sei o que vai acontecer à “salada russa”, mas como medida preventiva talvez seja aconselhável não consumir.

Ponta Delgada, 22 de março de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 23 de março de 2022


a ineficácia da censura corporativa

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O bloqueio mediático imposto pela União Europeia aos seus cidadãos está a romper-se. A comunicação social portuguesa já não consegue seguir o guião. Não por vontade própria, mas porque há por aí alguns jornalistas que conseguem furar o bloqueio e as redes sociais têm dado uma ajuda preciosa a quem procura outras narrativas sobre a guerra na Ucrânia. Embora não me esteja a referir ao jornalista Pedro Mourinho, não posso deixar de registar a forma como repôs a verdade sobre um ataque russo a Kiev.

Por outro lado a ilegalização dos partidos ucranianos, com exceção dos que apoiam o presidente Zelensky, e a televisão única no espaço ucraniano não contribuiu para o estado de graça do governo ucraniano.  

Os relatos e as imagens circulam há muito por aí. Vou continuar, por decência, a não as reproduzir nas minhas redes sociais. E não o faço por ter algum receio de ser insultado, não o faço por uma questão de princípio e, porque, mais tarde ou mais cedo acabarão por passar nas televisões nacionais.

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Sei que vou “esperar sentado” pelos pedidos de desculpa, pelas correções dos jornalistas que de forma acrítica e unilateral noticiam a guerra na Ucrânia e, pela forma como trataram alguns comentadores convidados. Dos comentadores residentes e analistas não espero nada, pois nada esperava deles a não ser a cassete a que nos têm habituado. Basta lembrar as justificações para a invasão do Iraque, qualquer cidadão informado sabia que a existência de armas de destruição massiva era uma falácia, mas os serventuários do mundo unilateral contaram, como agora, com a falta de informação e, sobretudo, conhecimento da generalidade da população para impor o seu discurso de ódio e promover a escalada da guerra e a corrida armamentista dos países europeus, a mando da NATO. 

Começa a perceber-se que não se podia, nem devia, olhar para o conflito como um evento que teve o seu início a 24 de fevereiro e isso nota-se com o gradual arriar das bandeiras azuis e amarelas dos perfis nas redes sociais. Tudo é mais complexo do que a visão redutora e simplista dos “bons e dos maus”.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de março de 2022



terça-feira, 22 de março de 2022

objetivar

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos





(...) Em tudo o que escrevo sobre o assunto que domina a atualidade tenho evitado fazer referências às razões, aos timings, à capacidade ou incapacidade militar das partes em conflito e, sobretudo, a adjetivar os responsáveis diretos e indiretos pela guerra, pois, tenho cá para mim que um assunto complexo, como este, vai muito para lá das caraterísticas pessoais dos “líderes”, por essa razão considero que focar a atenção nos perfis dos atuais dirigentes russos, estado-unidenses, da NATO, da União Europeia, ou da China é redutor e simplista, e, por conseguinte, retira objetividade a qualquer análise que se pretenda fazer. (...)

domingo, 20 de março de 2022

autocracia e democracia

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Não há inocentes nesta guerra, nem se trata de um conflito entre “bons” ou “maus”, contudo a comunicação social “ocidental” e a maioria dos cidadãos que a consomem já escolheu os “bons” e os “maus”, simplificando uma questão que é complexa e que não se iniciou, apenas, nos últimos dias de fevereiro do pp.

Eu, como tenho vindo a referir, também tenho um lado, o lado da PAZ e da cooperação entre os povos. É ao lado da PAZ e da cooperação que me posiciono. 

Nenhuma guerra tem justificação, sem dúvida, mas existem causas que as provocam e, quando se fecham as portas às soluções pacíficas escancaram-se para as soluções violentas.

Temos assistido à diabolização de uns e ao endeusamento de outros, mas como disse, nesta como nas outras guerras que estão a decorrer, as responsabilidades são partilhadas e, os inocentes são apenas os povos que desejam, mais do que tudo, que lhes seja garantido o “direito a viver em PAZ"(1). 

Qualquer dos principais protagonistas (Joe Biden, Volodymyr Zelensky, Vladimir Putin e Ursula von der Leyen) têm responsabilidades, não só anteriores aos novos contornos da guerra na Ucrânia, como no seu atual desenvolvimento. Mas nem todos eles têm legitimidade democrática. Se Biden, Zelensky e Putin foram eleitos pelos seus povos, cada um com as peculiaridades do seu próprio sistema eleitoral, e todas as dúvidas que se podem colocar sobre os processos eleitorais, a verdade é que a senhora Presidente da Comissão da União Europeia, Ursula von der Leyen, não tem a legitimidade do voto popular, foi nomeada e não eleita. 

Não nutro quqlquer tipo de simpatia por nenhum destes “líderes”, mas os eleitos, quer se goste ou não, são representantes dos seus povos e, como tal, devem ser tratados, até que os povos os destituam. Tenho argumentos, ancorados em factos, para denegrir a imagem de qualquer deles, não o tenho feito (nem farei) por considerar que a gravidade do que está a acontecer está muito para além das personalidades, e focar a atenção nos perfis é redutor e simplista.

A esta altura do texto já estarei a ser acusado de putinista por estar a comparar os Estados Unidos, com a Ucrânia e, sobretudo, com a Rússia. Quem quiser ir um pouco mais longe do que a adjetivação da minha pessoa, pode comprovar facilmente o que estou a dizer, basta que se disponha a procurar informação. 

imagem retirada da internet (2)

Quanto a uns serem mais autocráticos que outros (os que foram eleitos), tenho para mim que diferenças, certamente, existem, mas quer Biden, quer Zelensky, quer Putin, cada um à sua maneira não deixam de o ser, por outro lado o termo autocracia não significa, de todo, ausência de democracia. Falta de democracia só mesmo na Comissão da União Europeia. Todos os comissários são nomeados, ou seja, o “governo” da União Europeia não tem a legitimidade democrática que só o voto popular confere, desde logo, e, como já referi a sua Presidente, Ursula von der Leyen.


A maioria dos cidadãos, não todos, pois há quem não queira lançar mais “gasolina” na fogueira, apoiam a narrativa oficial dos Estados Unidos, da União Europeia, do Reino Unido, do Canadá, bem assim como na Austrália e Japão. Mas o mesmo não se passa no resto do Mundo. Os periféricos, os pobres, "os nadas"(3)  e os seus governos não estão, todos, alinhados com a posição ocidental. Mas esses não contam, nunca contaram. São os excluídos. Nem da “comunidade internacional” fazem parte, segundo o superior conceito do mundo ocidental.

 (1) Vitor Jara

 (2) as redes sociais são um bom exemplo onde as práticas autocráticas convivem com a democracia liberal

(3) Eduardo Galeano

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 19 de março de 2022


sábado, 19 de março de 2022

o país que temos

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Não há pachorra!

Um juiz que dispensa um criminoso das medidas de coação ancorando a sua decisão na “missão humanitária” que este vai, de armas e bagagem, cumprir na Ucrânia, um professor de uma prestigiada instituição de ensino superior considera que as relações de trabalho se poderão alterar em Portugal com a oportunidade criada, pelo drama, dos refugiados ucranianos e, por fim, a saga dos erros nos oráculos televisivos que se está a tornar a norma e, como tal inaceitável.

Quem tem isolado a guerra na Ucrânia num evento que teve o seu início a 24 de fevereiro pp e assume a narrativa da Marvel e de alguma produção hollywoodesca (o super-herói e o vilão) como a única abordagem à invasão da Ucrânia pela Rússia, ou seja, de um lado os bons e do outro os maus. Talvez, comece a perceber que há mais lados, pois, quero crer, que não estão ao lado da “missão humanitária” de um português com o perfil, cadastro e alinhamento ideológico deste conhecido neonazi.

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Mas também o artigo de um professor do ensino superior sobre a oportunidade, para o mercado de trabalho português, criada pela vinda de refugiados ucranianos e a forma como ele circunscreve essa oportunidade deve, no mínimo, preocupar quem quer a PAZ e quem, genuinamente quer ajudar a Ucrânia. Lembro que esta personalidade é um dos fundadores da ONG “We Help Ukraine” e disse o seguinte: “não têm forma de exigir muito, mas trabalharão muito”. 



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Pois é! Depois de decisões judiciais, como a que referi e opiniões como a do cofundador da “We Help Ukraine”, já nada me espanta e, por isso, não me surpreendi que um porta aviões chinês tenha sobrevoado Taiwan, como pode ser lido num oráculo da CNN Portugal.


Quando a poeira assentar, as emoções passarem e a racionalidade regressar, quero ver como é que alguns cidadãos vão olhar para tudo o que disseram, para o que publicaram e republicaram nas redes sociais, bem assim como os insultos dirigidos a quem ousa discordar da narrativa oficial e censória que domina a comunicação social de “referência” e desconstrói a hipocrisia política da União Europeia.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 18 de março de 2022


domingo, 13 de março de 2022

um cidadão sem medo

imagem retirada do mural de Lizuarte Machado
Sou amigo do Comandante Lizuarte Machado. As razões da amizade não se explicam, mas sempre direi, neste caso, que a sua verticalidade enquanto pessoa, com a devida correspondência política, contribui para que mantenhamos esta relação de proximidade.

O Comandante Lizuarte Machado não se escusa a exercer o direito de opinião, sempre assim foi desde que o conheço e, assim continua a ser. Claro que a verticalidade e a opinião, nem sempre alinhada, tem os seus custos, mas ainda assim continua a haver cidadãos sem medo de dizer o que pensam, como é o caso a que me refiro.

Isto tudo a propósito da tentativa de silenciamento, promovida pela administração de uma empresa pública regional com a conivência da tutela, consubstanciada num processo disciplinar ao Comandante Lizuarte Machado, tendo por base uma opinião formulada num comentário feito pelo visado numa rede social. Não é uma novidade, outros o fizeram e saíram-se mal.

A opinião veiculada pelo Comandante Lizuarte Machado não é ofensiva e exprime uma preocupação que, certamente, não será só dele. O assunto relaciona-se com a importância de uma empresa de cabotagem regional que assegura um importante serviço de utilidade pública e a tentativa da Portos dos Açores de desalojar a empresa de uma das infraestruturas que administra. O Comandante Lizuarte Machado, discordou publicamente (nas redes sociais). O assunto já chegou à ALRAA e já foi objeto de alguma discussão. Ou seja, já e do domínio público.

imagem retirada da internet
O governo do PSD/CDS/PPM, com pouco mais de 1 ano de governação, tem já um histórico de decisões e ação governativa que produz um efeito na população açoriana, mesmo entre os alguns apoiantes do atual governo, de apagar da memória cidadã os tiques autocráticos da governação dos anteriores governos do PS. Nunca, em tão pouco tempo, um governo conseguiu afugentar tantos apoiantes, eu diria que já só subsistem os indefetíveis, alguns beneficiários e outros tantos ingénuos.

O clima de medo e as ações persecutórias nos departamentos do governo e nas empresas públicas promovido por alguns responsáveis de topo e quadros intermédios do governo presidido por José Manuel Bolieiro, mas também no favorecimento a algumas empresas e grupos económicos vão, paulatinamente, provocando um grande sentimento de revolta no seio da população açoriana e, por conseguinte, a perda de popularidade desta solução governativa. A situação vivida pelo Comandante Lizuarte Machado não é, infelizmente, única. A diferença reside na atitude. Lizuarte Machado teve, e tem, coragem para lutar e denunciar a ação persecutória de que está a ser vítima.

No final do terceiro parágrafo faço uma referência que agora esclareço. No primeiro governo de Vasco Cordeiro, uma empresa pública regional instaurou um processo disciplinar a um dos seus trabalhadores (Comandante da Azores Airlines), ancorado num comentário feito pelo referido trabalhador numa das redes socias mais populares. O desfecho judicial resultou a favor do trabalhador e a empresa pública condenada a pagar uma indemnização de 300mil euros, valor a que se somaram todos os custos associados ao processo. Este é apenas um exemplo do que pode suceder quando o poder é exercido de forma autocrática.

Fica um abraço solidário ao Comandante Lizuarte Machado, o meu respeito e admiração pela forma como tem enfrentado esta ação persecutória da administração da Portos dos Açores e do Governo Regional.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 13 de março de 2022


sábado, 12 de março de 2022

Equívocos

imagem retirada da internet
Não tenho nada contra, bem pelo contrário estou disponível para participar em todas as manifestações pela paz no Mundo, não apenas pela paz na Palestina, na Ucrânia, no Iémen, na Síria, na Somália ou em qualquer outro rincão do planeta. Por mais distante que possa parecer a guerra afeta-nos. A mim perturba-me muito. Sou, por natureza, um pacifista. Mas não sou ingénuo.

As manifestações pela paz devem ser dirigidas contra os poderes (militar, político, económico e financeiro que dominam o Mundo), se assim for serão sempre a favor dos povos e pela paz. Quando tomo posição contra a ocupação da Palestina por Israel, manifesto-me contra as opções políticas de Israel e nunca contra o povo israelita. Se quero a paz para a Ucrânia é pelo povo ucraniano e pelo povo russo, não pelos seus governos.

As legítimas expressões de apoio e manifestações a favor da paz na Ucrânia onde, alguns, cidadãos expressam, genuína e generosamente, a sua preocupação sobre o sofrimento das populações afetadas, têm sido aproveitadas, de forma consciente e objetiva, por uma perigosa corrente política que serve interesses que não os da paz. Corrente política que oblitera alguns conflitos, desresponsabiliza os seus principais promotores (a oligarquia financeira que não tem, como se sabe, nacionalidade), e apoia medidas que se escudam na condenação da invasão russa, com a qual estamos todos de acordo, para continuar a promover a guerra com o anunciado reforço orçamental, pelos países europeus, para a militarização. Não é assim que se alcança a PAZ.

O formato destas manifestações tem provocado dois efeitos:  a promoção da guerra e a russofobia; qualquer deles lamentável e estou certo que a maioria dos manifestantes não é isso que pretende, mas há quem o faça de forma deliberada e para daí retirar dividendos políticos.

imagem retirada da internet
O clima de crispação, provocado deliberadamente, tem provocado nas redes sociais e nas ruas o aumento da russofobia. Têm-se verificado situações graves com cidadãos russos residentes em Portugal, apenas pelo facto de serem russos. Insultos, evitamento e outros comportamentos discriminatórios. Lamentável que os cidadãos de boa vontade não percebam que a forma como se posicionam em relação à guerra na Ucrânia (a invasão russa teve início no fim de fevereiro, mas a guerra civil dura há 8 anos) prejudica os cidadãos russos que vivem e trabalham em Portugal.

Incompreensível é que alguns desses cidadãos que promovem, consciente ou inconscientemente, a russofobia, tenham, em algum momento das suas vidas e por diferentes motivos, sido vítimas de preconceito e discriminação. Estranho que esses cidadãos não tivessem, parado por uns instantes, para perceber que estão a incentivar comportamentos discriminatórios o que é, para mim, incompreensível. Agora com as imagens e notícias da discriminação de que alguns cidadãos estão a ser alvo, na sua tentativa de sair da Ucrânia, talvez percebam melhor o que quero dizer.

As sanções da União Europeia e dos Estados Unidos à Rússia foram anunciadas entraram em vigor, e os portugueses, não deixando os seus créditos por mãos alheias, já estão a pô-las em prática. Soube-se por estes dias que um restaurante lisboeta que tem na sua ementa pratos da gastronomia russa, como o bife tártaro e o frango Kiev, deixou de ser frequentado, isto é, e para que não subsistam dúvidas tem estado, como se oi dizer, “às moscas”. Percebo a atitude dos habituais e potenciais clientes: é russo não vamos, eles precisam perceber que não podem passar impunes. Percebo a intenção, mas neste como em outros casos, o desconhecimento da realidade nem sempre ajuda. Os postos de trabalho do restaurante são ocupados por cidadãos de origem portuguesa e ucraniana. Não trabalha lá um russo sequer. O boicote, a manter-se, terá como efeito a extinção dos postos de trabalho. Quem vai para o desemprego serão cidadãos ucranianos e portugueses. (fonte rtp.pt)

Os cidadãos sancionam com a recusa em adquirir produtos de origem russa, enquanto a Alemanha, como recentemente anunciou não se pode dar ao luxo de prescindir do gás russo. Gás que chega a 13 países europeus por um gasoduto que atravessa o território ucraniano e pelo o qual a Rússia paga, naturalmente, uma renda anual. Quanto ao petróleo bruto russo continua a ser comprado por empresas cujos países subscrevem as sanções à Rússia. A Shell adquiriu recentemente 100mil toneladas. A Shell derramou lágrimas de crocodilo, afirmou que foi uma decisão difícil, mas não tinha alternativa. Comprou, com desconto, a 28,50 dólares por barril. (fonte rtp.pt)

O efeito das sanções nos grandes grupos financeiros, sejam eles de que nacionalidade forem, será incipiente. Os negócios decorrem com normalidade, sem mediatismo como convém, e a circulação e acumulação de capital continua garantida pois, como os especialistas sabem, não há SWIFT que os impeça. O mesmo não se poderá dizer do cidadão comum e das pequenas empresas deste e do outro lado do Mundo, como sempre as grandes vítimas.

Ponta Delgada, 8 de março de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 9 de março de 2022

terça-feira, 8 de março de 2022

paradoxos


Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos





(...) Os cidadãos sancionam com a recusa em adquirir produtos de origem russa, enquanto a Alemanha, como recentemente anunciou não se pode dar ao luxo de prescindir do gás russo. Gás que chega a 13 países europeus por um gasoduto que atravessa o território ucraniano e pelo o qual a Rússia paga, naturalmente, uma renda anual. Quanto ao petróleo bruto russo continua a ser comprado por empresas cujos países subscrevem as sanções à Rússia. A Shell adquiriu recentemente 100mil toneladas. A Shell derramou lágrimas de crocodilo, afirmou que foi uma decisão difícil, mas não tinha alternativa. Comprou, com desconto, a 28,50 dólares por barril. (...)


domingo, 6 de março de 2022

a primeira baixa da ronda de negociações

imagem retirada daqui

As negociações bilaterais entre a Ucrânia e a Rússia não registam avanços dignos de monta, mas já provocaram a morte de Denys Kireev, um dos negociadores que integrava a delegação ucraniana. A comunicação social ocidental diz que: “(…) foi morto em circunstâncias nebulosas. Há notícias de que seria um espião de Moscovo.” (…). Bem! Se era espião de Moscovo não terá sido o “patrão” que o mandou assassinar. Direi eu, que não sou espião nem sou entendido no mundo nebuloso da espionagem internacional.

O cessar fogo, de 5 horas, anunciado e acordado não durou mais de 30mn. O cessar fogo destinava-se assegurar corredores humanitários, para permitir a saída da população civil que assim o desejasse e para permitir a entrada de produtos e bens para as populações civis afetadas pela guerra.

A responsabilidade pelo não cumprimento do cessar fogo acordado terá sido, como acontece sempre, de responsabilidade partilhada, porém subsistem algumas dúvidas sobre esta questão.

Em termos estritamente militares, julgo ser aceite por todos, o poderio bélico da Rússia é muito superior ao da Ucrânia. Aceite esta premissa pergunta-se então qual é o motivo para que a progressão das forças russas esteja a ser tão lenta. A resposta emocional alimentada pela comunicação social ocidental é, naturalmente, a forte e heroica resistência, não só do exército ucraniano, mas sobretudo, da ação armada, civil ou não, que se opõe à máquina de guerra russa. 

imagem retirada da internet
Não vou colocar em causa nem o heroísmo dos soldados ucranianos e, muito menos, a resistência dos civis, armados ou não. Mas existem outros fatores, de ordem militar e política, que justificam alguma lentidão na progressão das forças russas e que, sem necessitar de me socorrer de outras fontes que não sejam os órgãos de comunicação social de “referência” ocidentais explicam essa lentidão, ou seja, a presença de população civil, forçada, ou não, a permanecer, dentro dos centros urbanos, bem assim como a instalação de artilharia pesada dentro das cidades pelo governo ucraniano, numa clara violação da Convenção de Genebra, esta última parte não é referenciada na comunicação social, mas o Major General Raul Cunha, na RTP 3, afirmou-o claramente. 

A tomada da cidade de Mariupol é um dos principais objetivos desta guerra da Rússia à Ucrânia, as razões são conhecidas. Objetivo ainda não conseguido não pela ineficiência do exército russo, mas por duas outras razões a concentração do Batalhão Azov nesta região e a proibição de abandono da cidade e da região da população civil, por este grupo militar neonazi. Ao contrário do que a comunicação social nos vem dizendo, não são os russos que não deixam sair a população com os seus bombardeamentos contínuos, são os nacionalistas e neonazis (que não representam nem os ucranianos, nem a Ucrânia) que não deixam sair a população, nem deixam entrar a tão necessária ajuda humanitária. 

Desde que iniciei este escrito foi anunciado um novo cessar fogo na região de Mariupol, faço votos para que seja cumprido.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 06 de março de 2022


101 anos de luta pela liberdade, pela democracia e pelo socialismo


Pelo 101.º aniversário do PCP 


AO MEU PARTIDO

Deste-me a fraternidade com os desconhecidos.

Juntaste a mim a força de todos os que vivem.

Voltaste a dar-me a pátria como num nascimento.

Deste-me a liberdade que não tem quem está só.

Ensinaste-me a acender a bondade como o lume.

Deste-me a retidão de que precisava a árvore.

Ensinaste-me a ver a unidade e a diferença dos irmãos.

Mostraste-me como a dor de um ser morreu na vitória de todos.

Ensinaste-me a dormir na cama dura dos que são meus irmãos.

Fizeste-me construir sobre a realidade como sobre a rocha.

Fizeste-me inimigo do malvado e muro do colérico.

Fizeste-me ver a claridade do mundo e como é possível a alegria.

Fizeste-me indestrutível pois contigo não termino em mim próprio.


Pablo Neruda

sábado, 5 de março de 2022

militância cidadã e sanções

As sanções da União Europeia e dos Estados Unidos à Rússia foram anunciadas e entraram em vigor. Os cidadãos, não querendo deixar os seus créditos por mãos alheias, seguiram as orientações oficiais deixando voluntariamente de consumir produtos e bens de origem russa. Ao que parece o vodca já passou de moda, embora o vodca ucraniano seja de tão boa, ou superior, qualidade como o vodca russo. O melhor é verificar pois, mesmo inadvertidamente, podemos ao invés de sancionar a Rússia com a abstinência de vodca estar a prejudicar as exportações ucranianas. Cá em casa ainda tenho uma reserva de vodca que me foi ofertado por uns amigos ucranianos com a garantia que é de superior qualidade. Vou consumir moderadamente esperando que o vodca ucraniano esteja disponível nas prateleiras dos espaços comerciais. Não estou a ironizar a não ser no que diz respeito ao consumo, mas que tenho em casa vodca ucraniano, lá isso tenho.

Mas na sanha de dar corpo às sanções, os portugueses não deixam os seus créditos por mãos alheias, soube-se por estes dias que um restaurante lisboeta que tem na sua ementa pratos da gastronomia russa, deixou de ser frequentado, isto é, e para que não subsistam dúvidas tem estado, como se oi dizer, “às moscas”. Percebo a atitude dos habituais e potenciais clientes: é russo não vamos, eles precisam perceber que não podem passar impunes. Percebo a intenção, mas neste como em outros casos, o desconhecimento da realidade nem sempre ajuda. Os postos de trabalho são ocupados por cidadãos de origem portuguesa e ucraniana. Não trabalha lá um russo sequer. O boicote, a manter-se, terá como efeito a extinção dos postos de trabalho. Quem vai para o desemprego serão ucranianos e portugueses.

Podem conferir a notícia aqui.


Quanto ao efeito das sanções nos grandes grupos financeiros, sejam eles de que nacionalidade forem, será incipiente. Os negócios decorrem com normalidade, sem mediatismo como convém, e a circulação e acumulação de capital continua garantida pois, como os especialistas sabem, não há SWIFT que os impeça. O mesmo não se poderá dizer dos cidadãos e das pequenas empresas deste e do outro lado do Mundo, como sempre as grandes vítimas.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 5 de março de 2022


quinta-feira, 3 de março de 2022

mulher iemenita - a abrir março

créditos "National Geographic"


a mulher que abre o momentos este mês é iemenita, podia ser ucraniana, russa, palestiniana, somali, ou de tantos outros lugares do planeta onde subsistem conflitos, ou onde as mulheres têm de lutar pela sua dignidade.


quarta-feira, 2 de março de 2022

Equívocos

Não tenho nada contra, bem pelo contrário estou disponível para participar em todas as manifestações pela paz, no Mundo, não apenas pela paz na Palestina, na Ucrânia, no Iémen, na Síria, na Somália ou em qualquer outro rincão do planeta. Por mais distante que possa parecer a guerra afeta-nos, a mim perturba-me muito. Sou, por natureza um pacifista. Mas não sou ingénuo.

As manifestações pela paz devem ser dirigidas contra os poderes (político, económico e financeiro que dominam o Mundo), se assim for serão sempre a favor dos povos. Quando tomo posição contra a ocupação da Palestina por Israel, manifesto-me contra as opções políticas de Israel e nunca contra o povo israelita. Se condeno a invasão da Ucrânia é pelo povo ucraniano e pelo povo russo, não pelas opções dos seus governos.

As legítimas expressões de apoio e manifestações a favor da paz na Ucrânia onde, alguns, cidadãos expressam, genuína e generosamente, a sua preocupação sobre o sofrimento das populações afetadas, têm sido aproveitadas, de forma consciente e objetiva, por uma perigosa corrente política que serve interesses que não os da paz. Corrente política que oblitera alguns conflitos, desresponsabiliza os seus principais promotores (a oligarquia financeira que não tem, como se sabe, nacionalidade), e apoia medidas que se escudam na condenação, com a qual estamos todos de acordo, para continuar a promover a guerra.   

O formato das manifestações tem provocado dois efeitos:  a promoção da guerra e da russofobia; qualquer deles lamentável e estou certo que a maioria dos manifestantes não é isso que pretende, mas há quem o faça de forma deliberada e para daí retirar dividendos políticos.

O clima de crispação que decorre da forma como a guerra na Ucrânia (dura há 8 anos) tem provocado nas redes sociais e nas ruas o aumento da russofobia. Existem já algumas situações em que cidadãos russos residentes em Portugal, apenas pelo facto de serem russos, têm sido alvo de insultos e outros comportamentos discriminatórios. Lamentável que os cidadãos de boa vontade não percebam que a forma como se posicionam em relação à guerra na Ucrânia (dura há 8 anos) prejudica os cidadãos russos que vivem e trabalham em Portugal.

Incompreensível é que alguns desses cidadãos que, consciente ou inconscientemente, promovem a russofobia sejam eles também vítimas de preconceito e discriminação, por diferentes motivos,  e não tivessem parado, por uns instantes, para perceber que estão a incentivar comportamentos discriminatórios. 

Fica um abraço de solidariedade a todos os meus amigos ucranianos e russos de boa vontade.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 02 de março, de 2022

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momentos - 14.º aniversário

 

Completam-se hoje 14 anos na blogosfera.



Os blogues caíram em desuso, o “momentos” persiste. O autor também utiliza outras redes sociais, mas não abdica da perenidade que o blogue confere às suas publicações.

terça-feira, 1 de março de 2022

informação e outras liberdades

Não vejo televisão. Não é novo, já o disse, já o escrevi e quem me é próximo pode testemunhar que assim é, mas não significa que não veja conteúdos televisivos nas plataformas digitais. Passo pela DW, pela BBC, pela Al Jazeera e, por vezes, os canais portugueses, mas também a RT e canal Ahí les Va do Youtube. É claro que não me fico por aqui na busca de informação, existem muitos sítios na internet que vale a pena visitar se queremos fugir ao mainstream corporativo e avaliar a forma como diferentes órgãos de comunicação social “olham para realidade” e, claro, tentando sempre confirmar a veracidade da informação. Só assim é possível estar informado e, sobretudo, formar a minha opinião, não em função do que me impingem, mas do que consigo apurar e que se aproxima mais da realidade observada.

O Youtube,  o Facebook e o Instagram seguindo a onda, da União Europeia de proibir a distribuição do sinal das televisões russas RT e Sputnik, decidiram retirar das suas plataformas os canais russos e por arrasto o canal Ahí les Va, ligado à RT.

Esta decisão só tem um nome: CENSURA. 

Se a RT e Sputnik são instrumentos de propaganda como dizem os decisores europeus apoiados, veja-se, por alguns jornalistas com elevadas responsabilidades, o mesmo se poderá dizer da generalidade das televisões dos Estados Unidos e da União Europeia, pouca informação e muita propaganda. 

Privar os cidadãos da União Europeia de acederem a conteúdos dos canais agora banidos é privar-nos de liberdade, nem que seja a liberdade de escolher o lixo mediático que queremos consumir.

Sendo a União Europeia apresentada aos seus habitantes como um espaço de liberdade, esta medida contraria claramente esse princípio.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 1 de março de 2022