quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sabores (*)

A alimentação humana cedo passou da mera satisfação de uma necessidade primária para se transformar num processo de socialização das comunidades humanas.
À volta da mesa e na degustação dos alimentos transmitem-se e herdam-se valores ancestrais. Valores que, por serem antigos, não devem ser confundidos com conservadorismo. E importa preservá-los, pois são estruturantes da educação e formação dos indivíduos, das famílias e das comunidades. Sentar a família à volta de uma refeição é um momento fundamental no quotidiano familiar, não pela satisfação da necessidade fisiológica, em si mesma, mas pelo simbolismo da partilha e, sobretudo, pelo encontro diário de pessoas unidas por laços de parentesco e pelo legado cultural e formativo que esses momentos proporcionam, se utilizados para esse efeito.
À modernidade não sobra tempo, dirão os mais cáusticos, nem para confecionar os alimentos quanto mais para conversar ou transmitir o que quer que seja durante uma refeição. À modernidade devia sobrar todo o tempo do Mundo para educar as nossas crianças e para as acompanhar em todos os aspetos do seu crescimento e formação pessoal e social. Direi eu, do cume da minha utopia!      
Mas o Verão ainda aí está e a refeição deve ser leve!
Todavia, evitemos a “fast-food”. Há que aproveitar todos os momentos e circunstâncias para afirmar o que nos torna diferentes na globalização dos costumes, da cultura, da economia e do pensamento uniformizado.
A viagem pelos sabores da gastronomia popular é um percurso de descoberta de hábitos e culturas dos povos e da sua relação com o meio ambiente ao qual se foi juntando, em doses sabiamente adequadas, algumas técnicas e tecnologias.
A exiguidade de solo arável e de água determinou a “cachupa” cabo-verdiana, mais ou menos rica conforme a disponibilidade das proteínas animais. O tronco do cereal ampara a leguminosa no seu trepar em busca do sol que os irá amadurecer. O milho e o feijão passam dos campos para o prato numa simbiose perfeita e traduzem o quotidiano alimentar de um povo que, em condições de grande adversidade, soube construir os sabores da “morabeza”. Também a famosa e internacionalizada “pizza”, tal como a conhecemos hoje, teve a sua génese na ruralidade do Sul de Itália. A farinha de trigo, a cebola o tomate, o queijo, o azeite e algumas ervas aromáticas mediterrânicas, estão na sua base. Depois, bem depois foi-se industrializando e recriando sem no entanto perder a matriz que lhe esteve na origem, produtos da terra que alimentavam os povos do Sul pobre de Itália.

(*) Este texto foi escrito na Covilhã no serão do dia 11 de Agosto de 2007, após um repasto com iguarias beirãs, e publicado na imprensa regional alguns dias depois. Recuperei-o para este espaço pois a pequena reflexão que encerra é, digo eu, intemporal.
Ponta Delgada, 28 de Agosto de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 29 de Maio de 2013, Angra do heroísmo

terça-feira, 28 de maio de 2013

Dez Ilhas e Um Mundo - Cineclube 9500



Amanhã em Ponta Delgada, com a colaboração do Cineclube de Ponta Delgada, pelas 21h, apresentação do documentário "Dez Ilhas e Um Mundo", na Sala 2 do Cine SolMar.

(...) Esta mostra consiste numa série de três documentários, com duração de 15 minutos cada, produzidos pela produtora brasileira TAC Filmes e gravados no Estado de Santa Catarina, no Brasil, e na Região Autónoma dos Açores.

Nestes documentários, cuja produção contou com o apoio da Direção Regional das Comunidades e da RTP-Açores, é narrada a história do povoamento açoriano no Estado de Santa Catarina, sendo divulgadas as tradições e costumes do povo açoriano.

Nos documentários é igualmente abordado o legado dos povoadores açorianos na vivência e na cultura contemporâneas deste estado do sul do Brasil.

As apresentações dos documentários, da autoria de Diego Lara e Flávio Oliveira, contarão com a presença dos respetivos autores.

Paralelamente às exibições, a equipa da produtora TAC Filmes realizará ainda workshops de produção de vídeos e documentários destinados a jovens estudantes das escolas secundárias das Laranjeiras (São Miguel) e Manuel da Arriaga (Faial), bem como da Escola Profissional da Praia da Vitória (Terceira). (...)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Daniel de Sá - (1944-2013)


"Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela."
Daniel de Sá

O Daniel não saiu, quem fica para sempre na nossa memória não parte.

Reencontros (*)

Revisitar os lugares vividos e a memória do tempo é um exercício de reencontro com o passado, embora os espaços e o tempo tenham adquirido os maneirismos e os caminhos de uma denominada modernidade fundada no acessório, no parecer, na imagem e na aculturação saloia que transforma os lugares em não lugares e onde o tempo não sobra às novelas e ao futebol. 
Mesmo assim gosto deste exercício! Gosto destas viagens ao passado, num presente que maltrata o futuro. 
Gosto, quando o tempo me sobra, de voltar aos lugares de construção da minha identidade cultural. É certo que resta pouco, muito pouco, à matriz cultural que me formou como pessoa igual e diferente a outros nascidos no mesmo tempo e espaço. Mas vou e gosto, gosto dos reencontros com o pouco que resta da identidade cultural que herdei e que me conferiu esta, e não outra qualquer, maneira de estar no Mundo.
E gosto! Gosto não pelo revivalismo ou pela nostalgia mas pelo prazer do reencontro e, sobretudo, pela afirmação da diferença num tempo de igualitarismos que emergem da globalização que mundializa os comportamentos e cava fossos que acentuam as diferenças na realização social e económica dos indivíduos e dos povos. 
A padronização do comportamento faz-nos previsíveis e, naturalmente, objetos moldáveis ou, se preferirmos seres acríticos, incapazes de ter vontade própria. Afirmar a igualdade através da diferença é um exercício de cidadania e, um direito reconhecido e aceite universalmente, é por conseguinte uma forma de lutar contra a alienação e formatação do pensamento.
Mas nos reencontros com a memória dos lugares e do tempo há… encontros. 
Encontros com pessoas deste tempo e que habitam estes lugares, pessoas que teimam em preservar a identidade e a memória coletiva que os faz diferentes. Pessoas que na afirmação da diferença exigem ser tratados como iguais. 
E, também por isso é bom! Ou talvez, sobretudo, por isso! Pelas pessoas. Pessoas que têm tempo e, usam-no não o deixam passar. 
Há pessoas que teimam em não deixar passar o tempo, há pessoas que teimam em não passar ao lado da vida… Vivem-na e transformam o presente a pensar no futuro.

(*) Este texto foi escrito na Covilhã no dia 10 de Agosto de 2007 e publicado na imprensa regional alguns dias depois. Recuperei-o para este espaço pois a pequena reflexão que encerra é, digo eu, intemporal.
Ponta Delgada, 26 de Maio de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 27 de Maio de 2013, Ponta Delgada

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Georges Moustaki - (1934-2013)

Georges Moustaki despediu-se hoje de nós.
Deixou um património lírico que o liga às lutas de Maio de 68.
O momentos recorda um das suas canções "Le Métèque".












quarta-feira, 22 de maio de 2013

Transporte aéreo na Região (2)

(cont.)
Mas não são só as companhias low cost que constituem um logro que tem sido alimentado e digerido na e pela opinião publica regional, outro dos embustes que procuram lançar sobre os açorianos é que a liberalização, ou privatização, do mercado iria beneficiar os Açores e os açorianos no seu conjunto. Trata-se de outra falsidade porque este tipo de operadores se, eventualmente viessem para os Açores, seria apenas para o aeroporto de Ponta Delgada. Senão vejamos, os resultados da TAP, no ano de 2011, nas suas rotas entre os Açores e o Continente: Horta – prejuízo de mais de 1 milhão de Euros; Terceira e Pico – prejuízo de 150 mil Euros; Ponta Delgada – lucro de 1,2 milhões de Euros. 
Alguém tem dúvidas para onde as companhias privadas estarão eventualmente interessadas em operar? Sei que a redução das gateways tem sido defendida por um determinado setor da sociedade açoriana, uns porque embarcam na fantasia das passagens com um custo reduzido, outros porque são adeptos confessos das virtualidades do mercado livre, como se nós tivéssemos dimensão de mercado e outros ainda porque estarão interessados em servir interesses que não são, necessariamente, coincidentes com o interesse público. Com o território e a população dispersa só concentrando todo tráfego aéreo para o exterior num hub em Ponta Delgada, ainda assim tenho as minhas dúvidas quanto à dimensão de mercado, isto para não falar nos custos sociais e para o erário público desta opção.
Mas, talvez a maior das mentiras políticas que tem sido repetida à exaustão sobre o problema dos transportes aéreos na nossa Região prende-se com o custo da SATA para o erário público. É preciso que se diga a verdade aos açorianos: A SATA não custa um cêntimo ao orçamento regional!
A verdade é que, à exceção de algumas campanhas promocionais e de marketing, a subsidiação de empresas públicas é proibida por regras europeias e as verbas que a SATA recebe do erário público destinam-se ao pagamento das obrigações do serviço público, obrigações essas que têm sempre de ser pagas, seja a empresa concessionária pública ou privada.
Pelo contrário, é o Governo Regional que se financia através dos milhões de euros que deve à SATA.
E, apesar, destas dívidas da Região, o Grupo SATA ainda consegue apresentar resultados que são objetivamente sustentáveis. 
A nossa transportadora aérea é um património de todos os açorianos e uma ferramenta fundamental para o nosso desenvolvimento, que assegura ligações que são absolutamente vitais para as nossas ilhas. Não podemos cometer a irresponsabilidade de entregar esta alavanca, de perder o controlo público sobre este setor. Pelo contrário, temos de apostar, de investir, de dar dimensão à nossa empresa.
O papel instrumental da SATA é insubstituível. Nenhuma empresa privada conseguirá assegurar as ligações internas e as ligações com o Mundo como a nossa transportadora aérea.
Encerro com este texto, sem prescindir de regressar ao tema quando for oportuno, esta reflexão sobre transportes aéreos na e para a Região. 
Horta, 20 de Maio de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 22 de Maio de 2013, Angra do Heroísmo

terça-feira, 21 de maio de 2013

Comandante Afonso - Insígnia Autonómica de Dedicação


Ontem, Dia dos Açores, em Sessão Solene realizada na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores foram agraciadas, com Insígnias Autonómicas, um conjunto de personalidades e instituições.
Sem nenhum desprimor pelos restantes agraciados permitam-me este destaque a Francisco da Encarnação Afonso, o Comandante Afonso, aqui na foto acompanhado pela esposa, por três dos seus quatro filhos e uma neta, a Beatriz.


Aqui o Comandante Afonso (agraciado com a Insígnia Autonómica de Dedicação) acompanhado por Carlos César (agraciado com a Insígnia Autonómica de Valor), Francisco César e Vasco Cordeiro.

Sobre o Comandante Afonso e a sua história de vida muito há para dizer e um destes dias dedicarei tempo e espaço para abordar com maior profundidade a sua biografia, por hoje deixo-vos apenas uma breve nota biográfica.


Francisco da Encarnação Afonso nasceu a 24 de Setembro de 1931, na freguesia de Lagoaça, Concelho de Freixo de Espada à Cinta. 
Fez a escola secundária no Porto e, em 1951, foi admitido no curso de pilotos da Força Aérea Portuguesa, acabada de criar a partir da fusão da Aviação Naval com a Aeronáutica do Exército. Depois da pilotagem fez, mais tarde, o curso de navegador e o curso de instrução em aviões plurimotores. 
Concluído o curso de piloto foi colocado na Base Aérea da Ota e nas esquadras de aviões de caça, entre estas, nas primeiras que foram equipadas com jactos, o F84G.
Em 1965 veio para a Base Aérea das Lages, aonde se empenhou nas funções de transporte e de instrução de pilotos, iniciando-se a sua relação com os Açores que vieram a tornar-se a sua terra de adoção.
No Verão de 1966 teve um primeiro período de colaboração com a SATA, tendo depois sido requisitado à Força Aérea, entrando no quadro de pilotos da companhia em 1967.
A SATA de então dispunha de dois aviões De Havilland Dove com capacidade para 9 passageiros (que tinham chegado em 1949) e dois Douglas DC-3 Dakota (chegados em 1963) para 26 passageiros. Para estes aviões existiam apenas 4 pilotos.
Daí até ao que conhecemos nos dias de hoje, a SATA teve um enorme progresso, que a muitos se deve, mas, de entre eles, há que destacar o ora homenageado Cmdt Afonso, que esteve presente em todos os desenvolvimentos cruciais da SATA. Além de ter sido responsável pela Direcção das Operações de Voo durante mais de 20 anos e, de ter acumulado com as funções de piloto comandante, de instrução e verificação de pilotos, esteve também envolvido reestruturação da frota com a introdução dos Avro e posteriormente dos ATP. Na década de 80 esteve também envolvido na preparação dos aeródromos regionais do Pico, Graciosa, S. Jorge e Corvo, com vista à respectiva certificação e operacionalidade comercial. Em simultâneo com as actividades normais, também cumpriu um mandato como vogal do Conselho de Administração.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tempo do Divino


Na Região Autónoma dos Açores e na diáspora açoriana é tempo de solidariedade, de partilha e de esperança. É tempo do Divino Espírito Santo. Culto do e para o Povo açoriano. Com a autonomia regional a segunda-feira de Pentecostes transformou-se, apropriadamente, no dia dos Açores. Que outro símbolo poderia unir todos os açorianos onde quer que se encontrem. Os rituais do culto do Divino sintetizam a matriz cultural açoriana e constitui, em minha opinião, um dos pilares da construção da identidade regional que une as “ilhas” açorianas espalhadas pelo Mundo.
E é uma canção vinda do Brasil, pela mão e pela voz de Ivan Lins, que neste tempo que é do povo, quero partilhar convosco.

Bandeira do Divino (Ivan Lins)
Os devotos do Divino vão abrir sua morada
Pra bandeira do menino ser bem-vinda, ser louvada,
Deus nos salve esse devoto pela esmola em vosso nome
Dando água a quem tem sede, dando pão a quem tem fome,

A bandeira acredita que a semente seja tanta
Que essa mesa seja farta, que essa casa seja santa, 
Que o perdão seja sagrado, que a fé seja infinita
Que o homem seja livre, que a justiça sobreviva,

Assim como os três reis magos que seguiram a estrela guia
A bandeira segue em frente atrás de melhores dias
No estandarte vai escrito que ele voltará de novo
E o Rei será bendito, ele nascerá do povo.

Os casais açorianos que, no século XVII, por ordem de El-Rei de Portugal povoaram e colonizaram os Estados de Santa Catrina e do Rio Grande do Sul levaram consigo a matriz cultural açoriana de que o culto do Divino Espírito Santo é um dos elementos estruturantes, como o será a própria emigração.
Este tema de Ivan Lins chegou ao meu conhecimento pela mão do António Melo Sousa, na primeira metade da década de 90, numa sessão sobre o culto do "Espírito Santo, realizada na então Escola Preparatória de Arrifes, no âmbito de um projeto da “Área Escola” e onde também participou também o Professor Rui Martins.
Guardo desse dia e desse tempo as melhores recordações. A letra e a música da “Bandeira do Divino” projeta o culto açoriano do Espírito Santo para lá do horizonte das ilhas dos Açores. 
Horta, 19 de Maio de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 20 de Maio de 2013, Ponta Delgada 

Podem ouvir a canção aqui

domingo, 19 de maio de 2013

Divagação 3



Perturba-me a leviandade com que se proferem afirmações e juízos ancorados no pensamento dominante, unilateral e acrítico, perdoem-me a redundância, sem saber muitas vezes quais as causas e os efeitos do que, na realidade, está em questão.
O imediatismo aborrece-me profundamente. Mas tudo bem... Estamos aí a cultivar e respeitar a liberdade de expressão mesmo quando a opinião e o comentário se confundem com o vómito da ignorância.

Ponta Delgada, 19 de Maio de 2013
Aníbal C. Pires

Divagação 2


E a menina será mulher

Ao longe vejo
Uma mulher a caminho do mar
Está só
Reparo na silhueta do seu corpo
É uma jovem mulher
Chega-se ao oceano
Aquieta-se,
Ali, onde o mar desposa a areia negra da praia
Descalça-se
Sente a carícia das águas
Recua

Veste um vestido branco,
Que a luz do crepúsculo não transpõe 
Corpete negro, cabelo cuidado
O mar chama-a, ela vai
Vai de novo ao encontro do mar, penetra-o
O Atlântico rende-se
Ao bailado singelo, virginal
Daquela mulher ainda menina
E acolhe-a com ternura
Ela entrega-se às amenas ondas
Sem pressas caminha
Chapinhando 
Na margem da ilha, 
Na margem do mar
O tempo espera por ela
E a menina será mulher

Ponta Delgada, 18 de Maio de 2013
Aníbal C. Pires

sábado, 18 de maio de 2013

Desassossego



Não são os deuses, 
são mesmo as pessoas que não me dão descanso.

Ponta Delgada, 18 de Maio de 2013
Aníbal C. Pires

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Transporte aéreo na e para a Região(1)


No rescaldo do debate sobre transportes aéreos na Região importa que sejam apontadas algumas soluções de futuro deste setor estratégico. Uma das conclusões é clara e inequívoca: só é possível garantir um transporte aéreo de qualidade, adaptado às nossas necessidades, respeitando o direito à mobilidade e a Coesão Territorial através da manutenção e desenvolvimento da SATA, enquanto empresa pública, propriedade de todos os açorianos e instrumento decisivo para o nosso desenvolvimento, por outro lado não posso deixar de discordar com qualquer estratégia de liberalização e privatização do transporte aéreo. Este setor é demasiado importante, demasiado estratégico, demasiado vital para que possa estar sujeito às flutuações de mercados externos e às prioridades economicistas dos lucros privados. 
Só através de uma empresa pública, que coloque como prioridade o desenvolvimento da Região e a mobilidade dos açorianos é que nos será possível superar distâncias e atrasos, vencer barreiras tarifárias e aproximar, efetivamente, o nosso arquipélago do resto do mundo!
Precisamos melhorar, precisamos de tarifas acessíveis mas isso só será possível com a alteração da regulamentação europeia que visa impedir o apoio às empresas públicas para obrigar ao favorecimento das privadas. O que é necessário é que o Estado, nomeadamente através do regime das indeminizações compensatórias mas não só, financie e suporte o transporte aéreo na Região Autónoma dos Açores, enquanto componente fundamental das suas funções de soberania e parte integrante da coesão nacional e europeia.
Esta é a verdadeira resposta, a única resposta para o problema do transporte aéreo e os seus custos. 
Em torno deste problema têm sido criadas uma série de mistificações para iludir os açorianos que importa aqui desconstruir. 
A primeira e mais evidente dessas mistificações é a da abertura às operadoras low-cost, da qual, supostamente, resultaria uma redução drástica dos preços das viagens aéreas nos Açores. 
É falso e a experiência da Madeira prova-o claramente. Se, de facto, existem reduções, a verdade é que em épocas de maior procura esses preços quase triplicam, deixando os passageiros sem alternativas. 
Como afirmava há dias o Presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, “As low-cost não vendem lugares a passageiros. Vendem passageiros a destinos e é o destino que paga por esses passageiros”.
É exatamente esta a questão. Estas empresas têm um modelo de negócio que depende inteiramente de conseguirem incentivos, subsídios e isenções de taxas, que estão na base dos preços que oferecem. O seu negócio não é o de transportar pessoas, mas sim o de importar turistas económicos, pagos a peso de ourou pelo destino. Portanto, a sua operação só é possível com gastos muitíssimo maiores para o erário público. 
Mas, na verdade, toda esta questão na passa de uma encenação política porque, e é preciso que se saiba, as low-cost não estão interessadas em voar para os Açores. 
Quando questionado numa Comissão Parlamentar da Assembleia da República, em Abril do ano passado, o Diretor Ibérico da Easy Jet disse-o claramente:
Se alterarmos a nossa política de subsídios, poderão ponderar a operação apenas para Ponta Delgada e, mesmo assim, como a sua rendibilidade depende de taxas de ocupação dos aviões superiores a 85%, vai avisando que “a procura vai ter de estar disposta a pagar um determinado preço”, imagina-se que muito menos “low” e bastante mais “cost”. 
Esta é a verdade e toda a conversa que tem sido alimentada em torno das low-cost serve apenas para distrair a opinião pública do que o Governo da República não faz e podia fazer, acenando-lhes com uma miragem sem qualquer substância real.
(cont,)
Horta, 14 de Maio de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 15 de Maio de 2013, Angra do Heroísmo 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O que será, que será


Nos últimos dias um dos ditos jornais de “referência” da Região fazia manchete com o elevado número de passageiros, quatro centenas, que a SATA Internacional deixou sem viajar. Como o assunto do transporte aéreo continua na agenda e tem gerado apaixonadas discussões acabei por ler todo o corpo da notícia e, se dúvidas tivesse elas desvaneceram-se. Percebi porque o tal matutino de Ponta Delgada é de “referência” na arte de bem informar a cada linha impressa.
Vejamos, a manchete dizia: “400 passageiros em terra devido a tempos de descanso de tripulações”. No corpo da notícia o jornalista referia quais os voos cancelados e citava um porta-voz da transportadora aérea que reconhecia que as irregularidades operacionais estavam relacionadas com a obrigatoriedade dos tempos de descanso das tripulações impostos por lei. Mais se afirmava que a SATA iria resolver o problema através do fretamento de uma aeronave à transportadora aérea “White”. O porta-voz da SATA afirmava ainda que estes “contratempos” operacionais não estavam relacionados com os recentes períodos de greve dos trabalhadores da SATA, melhor seria. 
E…, e… e…, mais nada. Esperava eu que o jornal tivesse questionado, sei lá por exemplo: há falta de tripulações, se sim, pronto todos percebíamos a dificuldade em gerir os recursos humanos, o descanso é obrigatório e se não for realizado a companhia aérea é penalizada com multas. Se não há falta de tripulações outra pergunta se impunha, então porque é que a gestão de pessoal não contou com esse fator, afinal o tempo de descanso das tripulações não é uma novidade e, como tal, tem de ser devidamente atendido no planeamento das operações de voo.
Bem, e quanto custa a contratação de um voo ACMI (aeronave, tripulação, manutenção e seguro) à “White” ou a qualquer outra companhia de transportes aéreos, alguém perguntou. E quantos voos ACMI’s foram contratados nas últimas semanas. E os pilotos que saíram da SATA Internacional no último ano já foram substituídos por outros com as mesmas qualificações, designadamente com competência para a certificação de outros pilotos da empresa. E porque é que o voo para Amesterdão foi cancelado.
Muitas outras perguntas, com sinal de interrogação ou não, podiam e deveriam ter sido feitas até para que a informação fosse completa e o leitor ficasse habilitado a ajuizar com rigor. Mas não, a opção foi abordar o problema à superfície. Já sei, mergulhar nas águas turvas não é uma experiência agradável mas que diabo aceitar, como bom, que os tempos de descanso das tripulações é que estavam na origem do problema parece-me, salvo melhor opinião, que é muito pouco, diria mesmo que é redutor e parcial e até com um objetivo predefinido. Afinal, concluirão alguns menos avisados, é mais um dos privilégios dos tripulantes a afetar o normal funcionamento da SATA Internacional.
O porta-voz da companhia disse o que tinha de dizer, ou seja, parte do problema relaciona-se com os tempos de descanso das tripulações. Nem mais, mas quando uns descansam outros trabalham. Quer-me cá parecer que o problema, ainda que não tenha feito a pergunta, reside na falta de tripulações certificadas. Daí sim, salvo melhor e mais habilitada opinião, resulta a escassez de pilotos disponíveis. E, se assim for outra, ou outras perguntas têm e devem ser feitas à Administração da SATA e ao Governo que é sua tutelar.
Já agora porque tanto se fala fica a síntese do conceito de transportadora aérea “low cost” - “não vendemos lugares a passageiros, vendemos passageiros a destinos”. 
Face a esta definição uma pergunta se impõe, então quem paga, a resposta é óbvia, quem paga são os destinos. Pois!
Horta, 12 de Maio de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 13 de Maio de 2013, Ponta Delgada

domingo, 5 de maio de 2013

Mãe


(…) quero evocar, não quero olvidar, o quanto é bom seres a minha MÃE e, digo-o assim porque estás, como sempre estiveste, comigo.(...)

Excerto de um texto escrito em Maio de 2008 e que pode ser lido aqui, também aqui e aqui se encontram referências à minha MÃE.

Domingo da Festa



E porque hoje é Domingo de Festa ficam estas imagens colhidas em 2008 durante as Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres

sábado, 4 de maio de 2013

Por cá é tempo do Senhor Santo Cristo dos Milagres


Excerto de um pequeno ensaio que escrevi em 2002 sobre a "Identidade Regional", ancorado em 4 premissas: Geografia, reliligiosidade, movimentos autonomistas e emigração.

(...) A violência do vulcanismo e o terror da sismicidade são, na opinião de vários autores, responsáveis pela grande religiosidade que os açorianos carregam consigo, na sua terra ou fora dela, e que se manifesta na ilimitada devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres ou ao Divino Espírito Santo, ou ainda, se bem que apenas focalizado em S. Miguel as ‘Romarias Quaresmais’. (...)

Imagens registadas, por mim, durante as Festas de 2008.





quinta-feira, 2 de maio de 2013

Monica Bellucci - a abrir Maio



Eu sei, é uma repetição mas não à como resistir-lhe. Esta mulher vai para lá do que é humano, é uma deusa.
Não é possível resistir a tanta beleza e sensualidade numa mulher só.
Se o meu ateísmo não estivesse tão arreigado diria que Monica Bellucci seria a prova suficiente da existência de Deus.
A foto veio do sítio onde se diz, “E Deus Criou a Mulher

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Informação tóxica


Ao iniciar este texto faltavam poucos minutos para se realizar, aquela que pode ser a derradeira reunião, entre a Administração da SATA e a Plataforma Sindical que une os trabalhadores da transportadora aérea regional, antes de se iniciar o segundo período de greve previsto para os dias 2, 3 e 4 de Maio. Espero que este encontro acabe de forma positiva e que as partes, porque há partes, não há só uma parte, cheguem a entendimento.
E se as divergências que opõem a Administração do Grupo SATA aos seus trabalhadores é um assunto que diz, em primeira instância, aos próprios, não posso, contudo deixar de partilhar algumas preocupações que se foram adensando ao longo deste processo, desde logo, a campanha de intoxicação contra os trabalhadores do Grupo SATA feita junto da opinião pública regional, nas redes sociais virtuais ou não, e pela parcialidade da comunicação social, pública e privada, mas também pela forma como o próprio Governo Regional e a Administração da SATA conduziram, até agora, todo este processo. Faço-o enquanto cidadão que se preocupa com uma empresa pública, com a valorização do setor público regional e com a valorização do trabalho e dos trabalhadores.
Os trabalhadores de tudo foram acusados, porque são uns privilegiados, porque não têm alma açoriana, porque escolheram estas datas, porque querem destruir a empresa, tudo isto sem ao menos pensar que nenhum trabalhador põe em causa o seu posto de trabalho, tudo isto e mais o que a ignorância e o dogmatismo neoliberal vomitaram no espaço público regional. Nesta cegueira chegou-se ao ponto de sugerir um despedimento coletivo e o recrutamento de novos trabalhadores, enfim como se os trabalhadores deste setor, altamente especializado, fossem fáceis de substituir como o são os trabalhadores indiferenciados.
Quem fez esta campanha, fê-lo de forma consciente e nesta onda surfaram outros interesses, não terá sido por acaso que algumas vozes vieram terreiro defender a privatização da SATA, não terá sido por acaso que a questão das “low cost” assumiu, de novo, uma atualidade que há muito não tinha, veja-se por exemplo quantas vezes, nas últimas semanas, a Easy Jet, reafirmou direta ou indiretamente o seu interesse em operar nos Açores, nos Açores é como quem diz, numa das ilhas, vá lá talvez duas.
Mas para lá da lamentável campanha de intoxicação que foi promovida junto da opinião pública com a vergonhosa utilização dos sentimentos mais profundos do Povo Açoriano, outros aspetos me preocupam, designadamente informações vindas a público nos últimos dias, mas que já me preocupavam desde que o Programa do Governo de Vasco Cordeiro foi apresentado, discutido e aprovado na ALRAA, e que se relacionam com uma suposta intenção de operar uma profunda reestruturação numa das empresas do Grupo SATA, concretamente na SATA Internacional, suportada numa revisão das obrigações de serviço público e a consequente, facilitação às “low-cost” de operarem entre S. Miguel e Lisboa.
Quem fragmentou a SATA em várias empresas, quem criou a SATA Internacional, quem decidiu sobre o modelo organizacional, quem decidiu, quem decidiu foi o Governo Regional, e decidiu sem envolver os parceiros políticos, sociais e económicos. Agora diz-se, fala-se, dão-se uns palpites de que o Governo Regional vai acelerar, em virtude da greve dos trabalhadores da SATA, uma profunda reestruturação da SATA Internacional. Até posso considerar, e considero, que essa reestruturação seja necessária, desde logo a substituição da Administração, mas não posso é admitir que essa reestruturação não seja objeto de uma ampla discussão pública, não posso é admitir que essa anunciada estratégia de reestruturação sirva para ameaçar e coagir os trabalhadores nas vésperas de uma reunião negocial e do exercício de um direito constitucional, a greve.
Ponta Delgada, 30 de Abril de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 01 de Maio de 2013, Angra do Heroísmo

Abril em Maio


Contra o empobrecimento por uma vida melhor