![]() |
Imagem retirada da internet |
Os resultados das eleições no reino de Espanha, a participação, pela primeira vez, da seleção portuguesa de futebol feminino na fase final do Mundial, que está a decorrer na Austrália e Nova Zelândia, os destinos de férias mais “in” ditados pelos influenciadores das redes sociais, o recorde do Guinness da Maior Roda de Chamarritas do Mundo conseguido nos últimos dias na ilha do Pico, os interessantes resultados da cimeira EU – CELAC, a situação de conflito social e político no Peru, as manifestações contra o aumento do custo de vida no Quénia e a repressão dos manifestantes, a Maratona Literária promovida pela Editora Letras Lavadas em co-realização com a Câmara Municipal de Ponta Delgada, o prémio literário atribuído a Lídia Jorge, o continuado aumento dos juros de referência do Banco central Europeu e a incapacidade das famílias de os suportar, as festas e festivais que animam o Verão insular, as Jornadas Mundiais da Juventude, enfim a lista poderia prolongar-se por muito mais linhas, linhas suficientes para preencher este espaço e, ainda assim, não se esgotariam os temas.
![]() |
imagem retirada da internet |
A identidade açoriana é, bastas vezes, utilizada no discurso político como se fosse uma construção acabada. Não é! À semelhança da autonomia, da democracia e da liberdade, também a identidade açoriana necessita de ser cultivada e alimentada para se consolidar e constituir-se, em definitivo, como uma prática cidadã e um desígnio coletivo.
A história política e económica dos Açores demonstra qua a unidade regional, que se alicerça na identidade açoriana, nem sempre é uma história de harmonia e coesão, quantas e quantas vezes se perderam oportunidades devido a bairrismos irracionais que teimam em persistir, como teima em perdurar a competitividade e multiplicação de equipamentos e modelos, ao invés da complementaridade que atenda às singularidades de cada uma das nossas ilhas.
A identidade regional estrutura-se e desenvolve-se, em minha opinião, nos seguintes pilares: i) a partilha de uma geografia comum, ainda que com o território e a população dispersa por nove ilhas; ii) a religiosidade; iii) a emigração; iv) os movimentos autonomistas; e, v) a Autonomia Constitucional.
O isolamento, a distância aos continentes, o abandono pelo poder central, a sismicidade e a atividade vulcânica moldaram nas gentes uma certa forma de ser e estar e, à margem da igreja católica, desenvolveu-se uma profunda religiosidade como sejam as “romarias quaresmais”, no essencial circunscritas à ilha de S. Miguel, mas é com culto ao “Divino Espírito Santo” que o homem açoriano, esteja onde estiver, se identifica com a sua mátria.
Como escreve Antonieta Costa em Festas em Louvor do Divino Espírito Santo, Tomar, Encontros Internacionais de Tomar, IV encontro Internacional de Tomar (1987): “As festas em louvor do Divino Espírito Santo são um gigantesco fenómeno de expressão cultural que galvaniza o arquipélago pelo Pentecostes, unificando-o em miríades de formas de dizer o mesmo.
Diferentes de ilha para ilha, de freguesia para freguesia, mas ainda assim iguais no seu aspeto nuclear, na sua intenção secreta, na sua mensagem dita e redita, ouvida e deturpada, refeita e reanalisada em cada ciclo do calendário.
É tão essencial à vida do açoriano esse confronto anual com a mensagem de revisão e avaliação dos seus valores mais elevados que para onde quer que vá, leva consigo esse mecanismo social adaptando-o às novas situações com que se depara e usando-o sempre com o mesmo fim, tão eficiente ele é no seu papel de transmissor de cultura.”
![]() |
foto de Aníbal C. Pires |
À semelhança das “Festas do Espírito Santo” o fenómeno da emigração atravessa toda a sociedade açoriana, todas as ilhas, todas as freguesias viram os seus filhos partir na procura da concretização de sonhos e de melhores condições de vida.
Este fenómeno permitiu a formação de grandes comunidades açorianas no estrangeiro, particularmente significativas nos estados Unidos e no Canadá, onde a saudade da terra, a mesma origem geográfica e alguns aspetos culturais, apesar de oriundos de todas as ilhas do arquipélago, teve um efeito aglutinador que proporcionou um melhor conhecimento da terra distante e aproximou-os à volta de um sentimento comum: - do ser açoriano.
O processo que conduziu à criação da Região Autónoma dos Açores e à consagração da autonomia constitucional, embora tenha a sua génese nos movimentos autonomistas do último quartel do séc. XIX, resulta diretamente das transformações ocorridas em Portugal após a revolução de 25 de Abril de 1974.
A Autonomia Constitucional é (deveria ser) suporte e instrumento para consolidar o processo de construção da identidade regional. Não tem cumprido cabalmente essa função. A ilha e o ex-distrito continuam a corroer a ideia de Região, sem a qual não há identidade regional.
Ponta Delgada, 25 de julho de 2023