quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O ministro, o administrador e a delegação

Há uns dias atrás reuniu uma delegação da ALRAA com o ministro Miguel Relvas e um administrador da RTP, SA.
Ficam aqui algumas das frases soltas que marcaram esse encontro. A ordem é aleatória e, no caso da delegação não está individualizada nem atribuída a autoria das expressões.
Proponho aos leitores que construam a sua opinião sobre o que vão ler e até, quiçá, um texto com estas frases que são bem ilustrativas do “diálogo” que o ocorreu numa das salas da Presidência do Conselho de Ministros na passada 2.ª feira, alguns minutos depois do plano de reestruturação da RTP, SA ter sido ratificado pelo ministro numa reunião que manteve com o Conselho de Administração da RTP, SA.

O ministro:

- O problema não é político. É um problema financeiro.
- Não tenho dinheiro.
- Quem paga é que manda.
- Ou a emissão nesta janela horária ou, em alternativa, a independência do canal regional e neste caso suportem vocês os custos.
- Se querem a independência da RTP Açores, estou aberto a essa solução. Levem-na assumam os custos o governo regional, uma empresa pública ou os privados.
- O horário tem de ser das 19 às 23 h.
- Não! As 4 horas de programação própria têm de ser neste horário.
- Eu é que pago, eu é que mando.
- Não tenho esses dados.
- Redução de 4,7 milhões para os dois canais regionais.
- Só tenho 20 milhões para os canais regionais.
- As audições das Regiões Autónomas são um mau hábito que tem de acabar.
- Os açorianos vivem todos no mesmo fuso horário.
- Tenho de prestar contas à troyca de 3 em 3 meses.
O administrador: - Na Metrópole também é assim…
A delegação:- Não custa 13 milhões. Com se pode apurar no mesmo relatório os custos rondarão os 9 milhões, sem contar com os proveitos próprios.
- … mas o serviço público de televisão e o seu financiamento é da responsabilidade do Estado, como decorre do quadro jurídico e constitucional.
- Com o valor que pretende alocar aos centros regionais trata-se, senhor ministro, como facilmente se conclui de um problema político e não de um problema financeiro.
- Senhor ministro, estamos a solicitar que confira à RTP Açores a possibilidade de manter a sua autonomia editorial, aliás cumprindo os preceitos da Lei da Televisão e do Contrato de Concessão.
- Senhor ministro, não viemos pedir nem a independência dos Açores nem a independência da RTP Açores;
- Senhor ministro, mas porquê o horário da 19 às 23 e não da 15 às 19 ou das 8 às 12. Que vantagens financeiras decorrem dessa imposição.
- Os Açores são uma região descontínua, do ponto mais oriental ao ponto mais ocidental distam 600km. O seu diminuto território está pulverizado por mais de 60 mil Km2
- A diáspora açoriana é responsável pela elevada taxa de penetração da RTP Internacional nos Estados Unidos e no Canadá onde vivem mais de 3 milhões de açorianos e seus descendentes.
- Assim entendemos! O espírito colonial está subjacente à decisão… bem então se não gosta dir-se-á… o espírito neocolonial.
- As audições às Regiões são uma decorrência da Constituição, não são um hábito e muito menos um mau hábito.

Respeito, como sabem, as instituições e tenho mantido, sempre, reserva sobre o conteúdo das reuniões onde participo até à sua divulgação pública, todavia esta é uma situação de excepcionalidade e as obrigações que tenho são com o Povo que me conferiu um mandato para o representar e não com um ministro ou um administrador.
Estou a quebrar uma regra que imponho a mim próprio mas… outros valores mais altos se levantam.
Lisboa, 25 de Outubro de 2011

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