quarta-feira, 10 de agosto de 2022

crónica da treta

imagem retirada da internet
Procuro palavras. Palavras adequadas à época do ano. É Verão, o país está a banhos e a leitura quer-se leve como a cerveja “pilsener”, não sei se é tão leve assim, mas eu gosto e acho que não é pesada, embora os especialistas não tenham a mesma opinião, respeito o parecer de quem sabe, mas eu gosto e continuo a considerar que é leve. Mas, voltemos ao cerne das palavras apropriadas para a época, ou seja, palavras leves como uma pluma, julgo que sobre a leveza da pluma não há quem discorde, nem mesmo os especialistas em penas e penachos, já os gastrónomos poderão considerar que as plumas do cachaço, ou do lombo, não sendo pesadas, também não são leves, dependendo dos temperos, da técnica de preparação e das guarnições.

Como o visitante acidental ou, frequentador assíduo da “Sala de Espera”, por certo, já se deu conta: não é fácil lidar com a leveza das palavras ou, como a das plumas que tanto podem ser, tal como a cerveja, leves ou pesadas, dependendo sempre do ponto de vista e dos interesses de cada um. Veja-se a minha dificuldade para vos deixar algumas palavras que possam ser digeridas sem grande esforço, como convém, em meados de agosto.

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As festas que decorrem por todo o lado poderiam ser o mote para este escrito de Verão, mas as palavras que pudesse grafar talvez não fossem tão leves como o leitor merece e como eu pretendo que seja esta crónica.

A “volta a Portugal em bicicleta” está na estrada há alguns dias e o campeonato da liga já teve o seu início, é assim como a transição para o fim dos dias longos, das temperaturas a convidar para a sombra verde dos parques de merendas, ou para penetrar no azul marinho das zonas balneares que ponteiam nas baías e enseadas insulares, embora, por estas paragens, o tempo permita que a transição não seja abrupta, assim haja tempo para continuar a usufruir das temperaturas amenas, do ar e do mar, que adentram pelo outono.

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O regresso à realidade virá com setembro e o aumento das taxas de referência do Banco Central Europeu, de entre outros crescimentos nos preços dos produtos, bens e serviços. Não, os salários não. Já ia por um caminho que hoje não quero trilhar, vou tentar voltar ao que me propus quando iniciei este escrito. Como está recordado o propósito é procurar palavras e dar-lhe algum sentido, sem perturbar o seu bem-estar estival. Todos precisamos de momentos para sonhar e, o Verão é um período adequado para o efeito. Longe de mim qualquer ideia ou tentativa de perturbar os seus sonhos e a tão necessária tranquilidade que retempera forças para enfrentar o ano de trabalho que se avizinha. Bem sei, este discurso não se aplica a todos os cidadãos, todos podemos sonhar, mas nem todos temos tempo, alguns “nem tempo para dormir quanto mais para sonhar”. Há quem só tenha tempo para se preocupar com o pão que tem de por na mesa para alimentar a família, e pouco mais. E há quem, por opção ou obrigação, não esteja de férias e vá a banhos, apenas, ao fim da tarde, se o horário de trabalho o permitir, e, aos fins de semana procura a sombra verde dos merendários se para tal tiver como fazê-lo. Ainda assim, este é um tempo que induz ao alheamento e, como tal, a generalidade dos cidadãos “desliga-se” e deixa que aconteça. Depois logo se verá.

O último, e longo parágrafo, não se poderá dizer que foi anódino, mas o correr da pena, que é como quem diz, pois, o que corre são os dedos pelo teclado, a pena há muito que caiu em desuso, pelo menos cá por casa, ainda há quem a use e bem, diria até que o seu uso é executado com invejável mestria por alguns amantes das letras manuscritas. Mas, como dizia, o parágrafo anterior fugiu um pouco ao espírito desta crónica, é-me muito difícil a abstração da realidade e tenho alguma dificuldade em perder tempo com futilidades, mas estou a fazer um esforço, nem grande nem pequeno, apenas algum zelo, para afastar deste texto qualquer assunto que possa quebrar a letargia em que mergulhamos durante esta estação.

foto by Madalena Pires

O Verão açoriano, este ano particularmente inconstante, é marcado pela elevada humidade relativa do ar que, associada a temperaturas a rondar os 25 graus, nos deixa indolentes e alheados do que se passa para lá do espaço entre a toalha estendida na areia e o tentador mar que nos refresca o corpo e lava a alma. Nem mesmo o choque térmico, ao mergulhar, é suficiente para nos despertar da inércia. O que é bom, as férias, ou as fugidias idas à praia ou aos parques florestais e merendários, são para isso mesmo, relaxar e afastar do horizonte qualquer nuvem negra que por ali esteja a pairar perturbando o nosso bem-estar induzido pelo Verão do nosso contentamento. A luminosidade que emana dos verdes matizados de flores e do imenso azul que nos rodeia faz-nos olvidar os dias cinzentos e as brumas a descerem até à soleira das portas, as tempestades tropicais, as chuvas diluvianas, os ventos tormentosos, a agitação marítima que galga a costa, tudo isso ficará para depois, agora é tempo de Verão e festas de todas as cores. Não gosto da monotonia do branco.

Ponta Delgada, 9 de agosto de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 10 de agosto de 2022

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