sábado, 21 de setembro de 2024

agendas

imagem retirada da internet

A Venezuela terá vários problemas, mas de todos os problemas sobressai um que a catapulta para a agenda de interesses imperialistas.

A Venezuela volta a estar na agenda mediática e a União Europeia e os Estados Unidos, como fizeram no passado com Juan Guaidó, estão a “eleger” o presidente que gostariam que a Venezuela tivesse, mas que a maioria do povo venezuelano democraticamente rejeitou.


quarta-feira, 18 de setembro de 2024

o relatório

foto de Aníbal C. Pires
O mundo no limiar do segundo quartel do século XXI está em convulsão, não é uma novidade é, tão-somente, uma constatação à qual está associada uma profunda preocupação. Inquietante é, também, o alheamento de uma imensa mole de cidadãos face ao que nos rodeia e encerra perigos que julgava não pudessem voltar a desenhar-se no horizonte, e outros para os quais pouco ou nada se tem feito, para além da transferência da responsabilidade decisória para o domínio do indivíduo, o que comprovadamente não resolve alguns dos problemas ambientais que nos preocupam a todos e que fazem perigar a vida na Terra, tal como a conhecemos. 

A situação internacional é alarmante e, se quisermos ser rigorosos, podemos afirmar que não é nada de novo, era até expetável que, mais tarde ou mais cedo, as tensões provocadas pelas assimetrias no desenvolvimento humano, o neocolonialismo, o unilateralismo, a falência das instituições e, por conseguinte, o seu descrédito, bem assim como o processo de desdolarização, já há muito que havia sinais disso, a invasão do Iraque e da Líbia são apenas dois exemplos, de entre outros, da retaliação estado-unidense e da sua aliada União Europeia (ainda com o Reino Unido) contra a tentativa de por fim à hegemonia do dólar nas transações internacionais, em particular na compra e venda de petróleo. Mas não é só, a emergência de economias robustas, fora do eixo atlantista, que se afirmam no contexto mundial e agregam países do chamado Sul global são olhadas, pelo ocidente, como uma ameaça, e assim é no entendimento dos decisores atlantistas e eurocentristas. Os BRICS são um exemplo da organização de estados soberanos que deram início a uma nova ordem económica mundial fora da alçada dos EUA e da EU.  

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A resposta do ocidente “civilizado” é conhecida. As decisões políticas e o posicionamento dos EUA, da UE e de alguns satélites que orbitam à sua volta e do seu braço armado, a OTAN, mantém uma guerra híbrida, com todas as variáveis que a caraterizam, com os países que económica e financeiramente estão a colocar em causa a subsistência do Mundo unipolar. E não deixa de ser anacrónico que os principais responsáveis pelo caminho que os países do Sul global esteja a ser acelerado pela cegueira dos dirigentes, em particular da UE, que se submetem aos ditames dos EUA que, como se sabe, não têm amigos têm interesses. 

O Sul global liberta-se gradualmente do neocolonialismo e deu-se início à construção de um mundo multipolar, esta é a “ameaça”. Podia ser uma oportunidade, mas os eurocentristas e atlantistas do alto da sua arrogância, mas também cegueira e insciência insistem em perpetuar a unipolaridade. 

Os cidadãos estão, uma vez mais, a pagar caro as opções políticas das diferentes instâncias da UE, a inflação e a alta dos juros são apenas as variáveis visíveis de uma profunda crise para a qual nos estão a conduzir, aliás Mario Draghi num recente relatório apresentado ao Parlamento Europeu fala claramente em "declínio lento e agonizante" da economia da UE e da necessidade de inverter o rumo para salvar este projeto político integrado por 27 países europeus.

Socorri-me de Mario Draghi para reforçar a ideia de que o espaço social, político e económico onde estamos inseridos atravessa uma crise sem precedentes e são necessárias profundas alterações no seu seio, o que não significa que eu esteja de acordo com o que, na opinião do ex-primeiro-ministro italiano, está na raiz dos problemas que a UE está a viver, nem com as soluções por ele propostas.

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Mais do que um diagnóstico rigoroso da situação que se vive na UE e das causas que lhe estão na origem, Draghi faz constatações e procura justificar as opções da Comissão, do Conselho e do Parlamento procurando assim ilibar as políticas comuns e os seus efeitos negativos nos estados-membros, e no todo que representam, ou não fosse Mario Draghi um neoliberal ligado, desde sempre, ao setor financeiro mundial, e o relatório resultar de uma encomenda da Comissão Europeia, pela mão da senhora Von der Leyen, e que putativos comissários europeus, como por exemplo Maria Luís Albuquerque perita em empobrecimento dos portugueses. Por outro lado, as soluções apresentadas visam aumentar o financiamento ao setor privado, aumentar o orçamento para a defesa (leia-se: guerra) e a centralização decisória, ou seja, Draghi não aprendeu, ou não quis aprender com os erros do passado, e vem receitar mais do mesmo talvez para acelerar o agonizante declínio que ele próprio identificou.

O Partido Popular Europeu e o Partido Socialista Europeu, como não podia deixar de ser, estão exultantes e tudo farão para executar as recomendações de Mario Draghi. Nada de novo vem por aí, nem mesmo a hipocrisia de quem paulatinamente tem vindo a destruir a agricultura e a indústria na EU e a submeter-se a interesses dos globalistas, se constitui como uma novidade.  O entendimento das famílias políticas europeias vai continuar a limitar a soberania dos estados-membros e promover o empobrecimento dos cidadãos.

O relatório propõe 170 medidas enquadradas em 3 áreas e propõe, para a sua concretização, um investimento de 800 mil milhões de euros, por ano, até 2030. Financiamento que terá de ser obtido por aumento das contribuições dos países que integram a UE e por endividamento no mercado financeiro global.

E a que se destina este gigantesco investimento!? Inovação, descarbonização e defesa. 

Assim colocadas as áreas de intervenção podem ganhar amplos apoios na generalidade da população, e para reforçar esse potencial apoio o autor refere que este é um “desafio existencial”, ou seja, o relatório encerra uma ameaça velada: Ou é assim, ou estamos a chegar ao fim deste projeto que se encontra em agonia.

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É necessário arrepiar caminho, e eu concordo. Não me parece é que o rumo seja o que Mario Draghi propõe que trilhemos, até porque a situação internacional, como já referi, alterou-se e o acesso a matérias-primas, que não existem no território da UE, deixou, por diferentes razões de estar acessível nas mesmas condições. E não me refiro ao gás e petróleo russos, mas a alguns minerais que são essenciais em qualquer tentativa de inovação, com o objetivo de recuperar o atraso em relação aos EUA e à China, mas também para tornar efetiva a transição energética reduzindo a utilização dos combustíveis fósseis, quanto ao aumento dos gastos com a defesa (guerra), ao invés de se investir na paz é, no mínimo destoante com a vontade dos povos que vão expressando em gigantescas manifestações a sua vontade de viver sem conflitos bélicos, mas também representa a cedência às pressões dos EUA que, não abdicando da sua principal indústria, querem aumentar o potencial bélico do seu braço armado para atingir objetivos que podiam se alcançados por via da paz e cooperação entre os povos, no respeito pelas suas diferenças e deixando, de uma vez por todas, de tentar impor um modo de vida e um modelo de desenvolvimento únicos que desumaniza e mata.

Ponta Delgada, 17 de setembro de 2024 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 18 de setembro de 2024

terça-feira, 17 de setembro de 2024

do Sul global

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Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.






(...) O Sul global liberta-se gradualmente do neocolonialismo e deu-se início à construção de um mundo multipolar, esta é a “ameaça”. Podia ser uma oportunidade, mas os eurocentristas e atlantistas do alto da sua arrogância, mas também cegueira e insciência insistem em perpetuar a unipolaridade. 

Os cidadãos estão, uma vez mais, a pagar caro as opções políticas das diferentes instâncias da UE, a inflação e a alta dos juros são apenas as variáveis visíveis de uma profunda crise para a qual nos estão a conduzir, aliás Mario Draghi num recente relatório apresentado ao Parlamento Europeu fala claramente em "declínio lento e agonizante" da economia da UE e da necessidade de inverter o rumo para salvar este projeto político integrado por 27 países europeus. (...)


quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Amílcar Cabral - centenário




Hoje celebra-se o centenário do nascimento de Amílcar Cabral (Bafatá, 12 de setembro de 1924).










O PCP promoveu, ontem, na Casa do Alentejo, em Lisboa, uma sessão evocativa dos 100 anos de Amílcar Cabral.






segunda-feira, 9 de setembro de 2024

agendem-se


A edição de 2024 da FESTA está encerrada.

Mas a próxima já está agendada. 5, 6 e 7 de setembro de 2025.

Como é habitual o mainstream desvalorizou, por omissão, ou adulteração, tudo o que à FESTA diz respeito, mas quem lá esteve, comunista ou não, sabe que aqueles 3 dias são, “Dias Felizes”, como o Egídio Santos sabe traduzir nas suas imagens. São dias de felicidade num espaço onde se respeitam as diferenças e se promovem sonhos de humanidade.


quinta-feira, 5 de setembro de 2024

a FESTA és TU!


Há música para satisfazer todos os gostos, há ciência, artes plásticas, cinema, teatro, literatura, solidariedade internacional, gastronomia, espaços para a criança e para a juventude, desporto e existes TU que fazes a FESTA e que durante três dias vives num espaço de cultura e liberdade.


A festa és TU!

programa 2024


quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Dos ciclos

Foto de Aníbal C. Pires
Sem querer retirar importância e simbolismo a janeiro, sempre direi que setembro é o mês de todos os princípios. A noite de 31 de dezembro para 1 de janeiro é um dia de festa e de renovação da esperança, sem dúvida, mas é em setembro, por estas latitudes, que se anuncia um novo ciclo na vida das comunidades. 

O fim do Verão avizinha-se, na berma das estradas começam a despontar “as meninas para a escola”, as crianças e jovens, as famílias, os professores e escolas retomam as rotinas letivas. Com o início do ano escolar retomam-se os hábitos das famílias e das comunidades, criam-se novas expetativas, fazem-se descobertas, é tempo de regressos, de encontros e reencontros, ou melhor dizendo a vida retoma a sua normalidade, tudo volta a começar, e ainda que ao fim do dia se continue a ir às zonas balneares, ou conversar numa das esplanadas onde é possível fazê-lo sem outro ruído que não seja o murmúrio do mar, da brisa suave a enlaçar-se nas folhas das árvores e das palavras soltas, é o prenúncio do fim da estação quente, este ano, por sinal, a fazer jus à denominação.

Sou professor aposentado e não tenho filhos em idade escolar, o que significa que setembro já não tem o mesmo impacto que teve ao longo de dezenas de anos da minha vida, enquanto aluno e depois numa longa carreira profissional, contudo, as alterações que por esta altura ocorrem continuam a influenciar as minhas rotinas, desde logo por me manter ligado ao meu sindicato e acompanhar a sua atividade, mas também pelos motivos já referidos, isto é, as alterações nas rotinas da comunidade onde estou inserido, pouco ou muito, influenciam o meu dia-a-dia.

foto de Aníbal C. Pires

A vida não se circunscreve apenas à atividade escolar, contudo, o regresso às aulas, nos diferentes níveis de ensino, e o decurso do ano letivo marca a agenda da vida das comunidades pois, os diretamente envolvidos no processo representam uma parte significativa das sociedades e, não é só, pois, as dinâmicas criadas com o retomar das aulas induz alterações que influenciam as rotinas de todos nós, por outro lado, a importância que a educação tem na divulgação do conhecimento, da cultura e na formação de cidadãos que se querem pensantes e capazes de fazer escolhas esclarecidas não nos deixa indiferentes pois, no fundo é da preparação do futuro coletivo que falamos.

Tenho opinião, mas hoje não vou dissertar sobre educação e a organização do ano escolar, deixo esse espaço que cabe, em primeira instância, às escolas, às organizações sindicais e à administração educativa regional. Durante esta semana iremos, por certo, ouvir e ler o que sobre o assunto houver para dizer, conquanto a falta de docentes habilitados profissionalmente se esteja, de novo, a verificar, o que não deixa de ser preocupante e, por certo, fará algumas manchetes na comunicação social. Não espero, sobre o assunto, análises holísticas, mas será, no mínimo, exigível que sejam enunciadas a desvalorização social e profissional da carreira, como por exemplo as alterações ao estatuto da carreira docente e a criação de um anacrónico modelo de avaliação do desempenho docente, protagonizada pela ministra Maria de Lurdes Rodrigues e pelo primeiro-ministro José Sócrates, como sendo determinantes para a situação que atualmente se verifica.

Um professor não ensina tudo, mas ensina quase, quase … tudo!” Esta é a frase de capa da agenda do professor, para 2024-2025, produzida pela organização sindical a que estou, desde sempre, associado e que como vem sendo habitual, foi distribuída no final do mês de agosto, a todos os educadores e professores sindicalizados na organização de classe que os representa.

A frase foi bem conseguida e reforça a importância da função docente, mas é também um grito de revolta pela atribuição de responsabilidades aos educadores e professores que não são, nem podem ser suas. “Um professor não ensina tudo…”; então quem ensina o que não é ensinado pelos docentes!? Se é verdade que aos docentes lhes está atribuída a responsabilidade pelas aprendizagens escolares, pela promoção da cultura e a importância do saber e saber fazer, mas, não será menos verdade que a educação é um encargo coletivo. Incumbência em que a família e a Escola devem assumir o principal protagonismo e as organizações que promovem a iniciação ao desporto, às artes e outras atividades, educativas ou lúdicas, devem complementar, ou seja, a responsabilidade social pelas crianças e jovens é (deve ser) da comunidade e, como tal, não se pode limitar apenas à Escola. 

A família é insubstituível na formação e educação das crianças e jovens, a Escola reforça, complementa e abre os horizontes ao conhecimento, mas não se pode substituir à família, a família também não deve, nem pode, substituir-se à Escola. Quando isto se verifica a autoridade, quer da Escola, quer da família, são postas em causa pelos destinatários (os alunos) de onde resulta, obviamente, prejuízo para as crianças e jovens, mas também pode gerar um clima de animosidade e conflitualidade que não beneficia nenhum dos intervenientes e pode prejudicar gravemente, como já referi, os alunos.

O mês de setembro pode também ser o fim de um ou mais ciclos e isso confere-lhe atributos que o distinguem de outros meses do calendário gregoriano, como por exemplo as vindimas que culminam o ciclo de maturação das uvas, mas também a colheita de outros frutos que marcam o fim do Verão e o princípio do Outono. E, como sabemos, a fruta da época é mais nutritiva e saborosa, para além do seu consumo ser um importante apoio à produção local (regional ou nacional). O fim de um ciclo, passado o tempo de pousio, tal como o são as férias escolares, dá início de outro período em que tudo se vai repetindo para nosso contentamento e sobrevivência.

foto de Aníbal C. Pires
E
stes ciclos não acontecem por acaso. A posição da Terra em relação ao Sol determina-os, em setembro acontece o equinócio de Outono, este ano acontece a 22. É o fim do Verão e esse dia terá a mesma duração da noite. Durante o Outono a luz solar vai diminuindo à razão de 4 minutos por dia, até à noite mais longa que acontece no solstício de Inverno, a 21 de dezembro. 

Os solstícios e os equinócios marcam o início de novos ciclos naturais que se repetem a cada ano e que desde a antiguidade foram sendo objeto de estudo, mas também de festividades pagãs que foram objeto de apropriação pela “cultura” dominante, todavia nem sempre foi bem-sucedida e subsistem manifestações de raiz popular que mantém algumas caraterísticas das antigas festividades. “Há sempre alguém que resiste/Há sempre alguém que diz não”, como diz a canção “Trova ao vento que passa”, popularizada por Adriano Correia de Oliveira. 

Este texto, se é que conseguiu acabar, é algo incaraterístico e, quiçá, desorganizado. Não discordo se for essa a avaliação que o leitor faça. O Verão tem destas coisas, nos meios jornalísticos dizem que é a estação ridícula (tradução livre de silly season). Espero que a serenidade do Outono e o início de um novo ciclo me traga mais discernimento e acutilância, assim as temperaturas baixem e a humidade relativa do ar se mantenha a níveis aceitáveis.


Ponta Delgada, 3 de setembro de 2024 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 6 de setembro de 2024

terça-feira, 3 de setembro de 2024

murmúrios

foto de Aníbal C. Pires

Excerto de texto para publicação na imprensa regional (Diário Insular) e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.





(...) O fim do Verão avizinha-se, na berma das estradas começam a despontar “as meninas para a escola”, as crianças e jovens, as famílias, os professores e escolas retomam as rotinas letivas. Com o início do ano escolar retomam-se os hábitos das famílias e das comunidades, criam-se novas expetativas, fazem-se descobertas, é tempo de regressos, de encontros e reencontros, ou melhor dizendo a vida retoma a sua normalidade, tudo volta a começar, e ainda que ao fim do dia se continue a ir às zonas balneares, ou conversar numa das esplanadas onde é possível fazê-lo sem outro ruído que não seja o murmúrio do mar, da brisa suave a enlaçar-se nas folhas das árvores e das palavras soltas, é o prenúncio do fim da estação quente, este ano, por sinal, a fazer jus à denominação. (...)

domingo, 1 de setembro de 2024