quarta-feira, 23 de novembro de 2011

1001 razões

Os portugueses têm motivos mais que suficientes para manifestar o seu desagrado pelas opções políticas e de subserviência a interesses externos que nos afundaram numa crise que alimenta o capital financeiro, continua a destruir a economia nacional e não resolve o problema da dívida externa.
Os efeitos da diminuição do rendimento disponível das famílias, seja por via direta dos cortes dos salários e congelamento das carreiras, seja por via do aumento da taxa fiscal, deixa preocupados, desde logo, os trabalhadores dependentes mas deixa apreensivos, também, os pequenos e médios empresários cujas expetativas se fundam no consumo, consumo que como se percebe vai cair para níveis históricos arrastando consigo, para a insolvência, muitas pequenas e médias empresas.
A ascensão ao poder político pelos “testas de ferro” dos oligopólios financeiros visa garantir que os “mercados” venham a receber não só os títulos das dívidas soberanas mas também os imorais juros que cobram. As políticas de austeridade só têm um objetivo – garantir o pagamento por via do aumento dos impostos, sobre o trabalho e o consumo, e da diminuição dos rendimentos do trabalho, numa operação contabilística primária.
Só mesmo os incautos e os fiéis seguidores de Friedman não perceberam, ainda, que as medidas impostas a Portugal, como têm sido impostas há décadas a outros países um pouco por todo o Mundo, visam apenas um objetivo – a cobrança da dívida; sem resolver o essencial, aliás venha lá um exemplo, um que seja, de sucesso dos resgates financeiros. Todas as intervenções do FMI resultaram no empobrecimento, no aprofundamento das desigualdades sociais, na espoliação de direitos civilizacionais e na perda de soberania nacional. A cartilha do BCE, do Banco Mundial, do FMI e da OMC não é mutável – os povos e os trabalhadores que paguem a crise! Esta é a receita do neoliberalismo.
Os mesmos que nos conduziram à atual situação de degradação social e económica pedem-nos agora mais e mais sacrifícios, deixando fora desse esforço, como sempre o fazem, o grande capital e continuando a proteger os interesses apátridas do mercado financeiro.
Nos Açores as razões que nos preocupam são redobradas. Os efeitos são aqui ainda mais penalizadores para os trabalhadores e para o povo mas, também, para a economia regional e configuram um ataque sem precedentes ao adquirido autonómico.
O governo do PS Açores assimilou todas as perversões políticas decorrentes do pacto de agressão e do Orçamento de Estado plasmando-as no Plano e Orçamento regional para 2012, numa demonstração clara do seu alinhamento e conivência com as opções subservientes do PSD e do CDS/PP que só acrescentam austeridade à austeridade, recessão à recessão, crise à crise.
As razões para aderir à Greve Geral são mais de 1001, as desculpas para o não fazer são todas aceitáveis mas, não deixam de ser, isso mesmo,… desculpas.
Ponta Delgada, 22 de novembro de 2011

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 23 de Novembro de 2011, Angra do Heroísmo

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