quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Voo SP 129*

A condição de ilhéu obriga a viajar com alguma frequência de avião e a cada viagem, mesmo para os mais rotinados, há novos e velhos motivos que contribuem para que a de hoje seja diferente de todas as outras.
A tarifa que se mantém inalterável mas a taxa que aumentou, a simpatia ou nem por isso da tripulação, as condições climatéricas que nos fazem prever se a aproximação e aterragem se farão sem grandes sobressaltos, os serviços em terra e no ar que deviam melhorar ao ritmo dos aumentos da taxas mas cuja proporcionalidade é inversa, enfim um sem número de pequeninas coisas que fazem com que cada viagem de avião seja uma autêntica caixinha de surpresas.
Tudo isto vem a propósito do voo SP 129 Lisboa/Ponta Delgada do dia 25 de Junho e de uma passageira que ao entrar na sala de embarque concentrou a atenção da população masculina que não mais descolou os olhares da generosidade das formas de mulher que a roupa da estação quente desnudava e realçava.
Algumas das mulheres presentes sorriam com o ar “embasbacado” dos homens que se posicionaram para melhor usufruírem da visão proporcionada por um generoso decote e do ângulo formado pelo contraste do bronzeado das pernas cruzadas com o branco da saia curta. Outras revelavam na expressão facial e corporal algum incómodo pelos pensamentos e sentimentos, quiçá, menos dignos que lhes fervilhavam no espírito.
O certo é que ninguém, mulheres e homens, ficou indiferente, a passageira tinha disso consciência e exerceu o seu fascínio sobre a generalidade dos presentes que se deixaram, sem esboçar qualquer resistência, dominar por aquela presença que não sendo de uma mulher jovem, ou talvez por isso, despertou nas almas presentes os mais diversos sentimentos e atitudes.
O voo SP 129 de Lisboa para Ponta Delgada atrasou cerca de meia hora não porque o comandante tenha ficado na sala de embarque a fumar demoradamente um cigarro, mas sim pela chegada tardia do equipamento de voo.
O tempo em rota e no destino estava bom, a refeição de bordo é o que sabemos e, o serviço de vendas aconteceu com normalidade e sem muita procura porque os tempos são de crise. Mesmo sem taxas.
As salas de embarque e as viagens de avião estão vulgarizadas e padronizadas. O romantismo e o espírito de aventura que envolvia o acto de viajar foram-se perdendo. Mas, apesar de tudo, subsiste alguma magia à volta de cada viagem e não faltam, invariavelmente, motivos que tornam cada uma diferente da outra, mesmo que na sala de embarque não haja ninguém que possa fazer disparar as hormonas masculinas e abrir sorrisos femininos conscientes do domínio que exercem sobre o forte sexo masculino.
Ponta Delgada, 14 de Julho de 2005

*Texto publicado no Açoriano Oriental em Julho de 2005 

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