segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Tempestades


Estou assim, em suspenso. Aguardo a chegada do furacão Gordon. Como eu, estão milhares de cidadãos açorianos, os que vivem mais a oriente que devido à sua localização e ao presumível trajeto do Gordon, sofrerão os efeitos tempestuosos deste fenómeno meteorológico e, todos os outros cidadãos que vivem nestas ilhas do “umbigo” do Atlântico Norte. 
À espera da passagem do furação, quiçá ainda mais preocupados, estão muitos outros cidadãos portugueses que por laços familiares ou apenas por mera curiosidade têm a sua atenção centrada no arquipélago, aliás a comunicação social tem divulgado ao milímetro todo o percurso que o Gordon está a fazer. As previsões são conhecidas e os efeitos serão certamente minimizados pelas medidas preventivas e pelo hábito. Não há um açoriano que não saiba o que tem a fazer em situações como esta, para além de esperar que passe, para se proteger e proteger os seus haveres. 
Ao longo da história dos Açores passaram muitos furacões e tempestades tropicais, sentiram-se muitos terramotos e aconteceram muitas erupções vulcânicas, os vestígios estão por aí, Nós também.
Bem mais avassaladores que os fenómenos naturais são, todavia, as decisões dos homens. Os barcos partiam cheios de trigo e a fome grassava no seio do povo que o cultivava, a este facto da história açoriana outros se podem juntar passados em qualquer rincão do espaço português. Os sacrifícios recaem sempre sobre os mais desfavorecidos. Apesar da evolução social que se verificou em Portugal e no Mundo, pela qual muitas lutas se travaram, continuamos a assistir à velha receita.
Por mais devastadora que seja a passagem do Gordon pelos Açores não provocará, por certo, tantos estragos como as medidas políticas de austeridade que nos últimos meses se abateram sobre os portugueses e, em particular, sobre os povos insulares. 
E se o Gordon não pode ser combatido e derrotado, a natureza disso se vai encarregar, a tempestade neoliberal que se abateu sobre Portugal pode ser combatida e derrotada, assim o queiram e decidam os povos.
Em outubro, mais precisamente no dia 14, os açorianos têm uma oportunidade para dizer: basta. Nesse dia os açorianos têm oportunidade de mostrar aos protagonistas das políticas que mergulharam o país nesta dramática crise que estão fartos, que querem mudar, que exigem mudar, que não se satisfazem com a mudança de protagonistas, que querem mudar de rumo, mudar de modelo de desenvolvimento.
A 14 de outubro os açorianos têm oportunidade de dizer que não querem continuar a adiar o futuro.
Ponta Delgada, 19 de agosto de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 20 de agosto de 2012, Ponta Delgada

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