segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Por aí


A disputa eleitoral e a necessidade de me afastar por algumas semanas justificam a minha ausência deste espaço.
Estou de volta com a mesma ou, ainda, maior determinação quer aos textos, quer à vida pública e política. A paciência e a persistência são virtudes revolucionárias e, como dizia Ernesto Guevara de La Serna: "Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida." É pelo sonho que me guio, é pelo sonho que luto e... o sonho, como disse António Gedeão, “o sonho comanda a vida”.
Ontem, andei por aí. 
Por aí à procura de memórias, calcorreando trilhos da minha infância e, por aí revisitei lugares onde fiz aprendizagens, onde destruí medos, onde ganhei amigos perdidos no curso da vida, onde brinquei, onde me iniciei nas primeiras letras e, até o velho relógio do campanário da igreja, onde aprendi a medir o tempo, lá estava. Continua a bater as horas sem que o tempo tenha passado por ele.
Mas o tempo passou, passou pela paisagem beirã transformada pelo avanço inexorável dos eucaliptos e pelos incêndios, aqui e ali ainda ponteiam resistentes pinheiros bravos lembrando outros tempos.
As formações graníticas da serra beirã, também elas exibem marcas do tempo, estas criações naturais transfiguram-se a cada olhar, ora rostos, ora cristas de galo, ora catedrais românicas, ora o que o olhar e o sonho quiserem.

Mas não há olhar, nem sonho, que contradiga os sinais de abandono a que votaram este território. Bem sei que estou a percorrer trilhos do passado mas, as encruzilhadas são do presente. Há aqui e ali ténues sinais de esperança. Sinais que subsistem no olhar do envelhecido povo do interior beirão. Um povo que resiste, como pode, à desertificação do seu território. 
A passagem abrupta e imposta de país rural a país fornecedor de serviços teve um efeito destrutivo no tecido social e económico do interior português. Se na memória está viva a interioridade que decorria da distância e da centralidade da capital, no presente a interioridade é visível pelo abandono, pelo envelhecimento da população e pela desertificação mas, sobretudo pela opção no imediato como se não houvesse amanhã e, é do porvir que se trata quando se pensa uma Região, quando se pensa um país.
Pensar e agir para hoje, pensar e agir a soldo de mandantes externos só podia e pode ter o efeito que hoje estamos a viver. Uma economia que não produz, um povo abandonado e adormecido, um povo dominado pelo medo de mudar. Medo instalado por aí e por aqui.
Ninho do Açor, 28 de outubro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 29 de outubro de 2012

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