quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Sim, sou contra

Foto - Aníbal C. Pires
Quando vi pela primeira vez pensei para comigo, Só pode ser brincadeira. Mas as notícias e os movimentos de opinião asseguram que a iniciativa existe. Um grupo de empresários, não interessa se são daqui ou de acoli, pretende construir um Hotel de 4 estrelas na zona da Areia Larga, no concelho da Madalena, ilha do Pico, que é como quem diz numa zona de paisagem protegida e que, não por acaso, foi declarada pela UNESCO, em 2004, Património Mundial.
Não duvido, mas também não o posso afirmar com segurança, que a ilha do Pico tenha um défice de oferta de alojamento tradicional. Talvez assim seja face à crescente procura da ilha montanha e mar e, se assim for o investimento em alojamento tradicional, designadamente num hotel de 4 estrelas, faz todo o sentido. O que não tem sentido nenhum é a localização proposta. Fará ainda menos sentido se as autoridades municipais e regionais concederem as devidas autorizações e licenciamentos para a sua eventual construção. Digo eventual construção porque tenho cá para mim que as populações nunca o permitirão. Não o permitirão porque se trata de salvaguardar um património único e da própria sustentabilidade de um importante setor económico do Pico. Setor que soube adequar a oferta de alojamento ao destino e ao perfil dos visitantes. Talvez tenha ajudado a trilhar este caminho o facto de a ilha do Pico ser deficitária na oferta de alojamento tradicional, desde logo, resultante do encerramento do Hotel Pico. Os empresários do setor trilharam outros caminhos, Caminhos de sucesso.

Imagem retirada da internet
Os licenciamentos para a construção em zonas de paisagem protegida e na orla costeira estão sujeitos
a apertados requisitos, mas como sabemos as possibilidades de ultrapassar o estreito crivo da regulamentação existem, não fosse assim e o projeto nunca teria sido desenhado para aquele local. A autorização e o licenciamento só excecionalmente e em nome do interesse público poderá ser concedida. O interesse público é a salvaguarda da paisagem protegida e, sendo assim, não tem de haver lugar a exceções.
Mais do que os aspetos formais que o enquadramento legal contempla e que, face aos desenvolvimentos conhecidos já poderão ter sido torneados por tácitas aprovações prévias, importa a dimensão da mobilização pública local e regional de oposição à descaraterização daquela zona da ilha do Pico. Trata-se de uma questão que a todos nós diz respeito e para a qual mos devemos mobilizar com o objetivo de que o projeto não passe disso mesmo, de uma intenção por concretizar.
Um destes dias alguém me dizia que tinha ficado desiludido comigo por ter manifestado, publicamente, a minha firme oposição à intenção de construir esta unidade hoteleira. E perguntava o cidadão se eu era contra a modernidade e o progresso, Não sou contra, antes pelo contrário o que pretendo é isso mesmo e as vantagens que daí decorrem. Tenho é, seguramente, um conceito diferente de modernidade e de progresso dissemelhante do que aquele e muitos outros cidadãos terão. A diferença reside, eventualmente, num aspeto muito simples e que consiste em encontrar soluções de desenvolvimento que não subtraiam a alma aos lugares.
Temos na Região bons e maus exemplos de soluções que procurando atingir os mesmos fins, umas preservam a alma dos lugares outras transformaram a singularidade dos lugares em não lugares. Eu opto pelas primeiras e revolto-me perante as segundas.
Ponta Delgada, 24 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 25 de Janeiro de 2017

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