segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Será inevitável este fado

Foto - Aníbal C. Pires (2016)
Não se trata de um balanço, mas de uma constatação. Passados que são mais 40 anos sobre a consagração da autonomia ninguém, em seu perfeito juízo, deixará de reconhecer as profundas alterações que se produziram nestas ilhas, Ilhas se não desconhecidas, Ilhas até então esquecidas no meio do Atlântico Norte e, só objeto de interesse nacional pela influência e protagonismo do anticiclone que em conformidade com o seu posicionamento a sua dinâmica ou inércia garante que algumas tempestades Atlânticas não afetam o território continental do Sul da Europa, mas também a Base das Lajes e os cataclismos naturais de origem meteorológica, vulcânica e telúrica que ciclicamente fustigam estas ilhas e estas gentes constituíam motivo de interesse e de referências noticiosas. E quanto a isto pouco ou nada se alterou em termos do conhecimento dos Açores e do seu Povo, isto apesar da divulgação turística e da invasão, não diria massiva, mas ainda assim invasão de turistas, com todos os aspetos positivos e negativos que daí advêm.
Não sou tão conservador quanto as minhas últimas palavras podem levar a crer, mas o desconhecimento e o esquecimento destas ilhas, pulverizadas numa vasta área do umbigo do Atlântico Norte, permanece. Estas ilhas continuam esquecidas e desconhecidas, em particular, nos centros decisores que nos são exógenos.
Mas falava eu, logo nas primeiras frases, em constatações que se podem fazer passados que são mais de 40 anos de Autonomia, desde logo transformações sociais e económicas que alteraram substantivamente o viver insular e arquipelágico. Sem dúvida que sim e isso deve-se a esta forma especial de organização do Estado que consagrou constitucionalmente as autonomias regionais. Se estou satisfeito com os resultados alcançados ao fim destes 40 anos de autonomia, Não.
E não o estou apenas por que sim. Não estou satisfeito porque a economia regional, tal como desde os primórdios do povoamento, continua débil e fortemente dependente do exterior, não estou satisfeito porque a fome, a subnutrição e a pobreza nunca foram erradicadas, não estou satisfeito porque a emigração, após um período de estagnação, é para muitos açorianos a única solução de poder garantir trabalho e continuar a sonhar com um futuro diferente.

Foto - Aníbal C. Pires
Não estou satisfeito porque se insistem nas mesmas opções políticas, económicas e sociais que ao invés de produzirem bem estar e qualidade de vida para o Povo Açoriano, concentram a riqueza e alimentam artificialmente um setor empresarial privado que se tem mostrado incapaz de cumprir o seu papel sem os chorudos apoios financeiros dos programas de apoio ao tecido empresarial regional, tendo estas opções como consequência o subfinanciamento de setores públicos, como a saúde e a educação, onde se verificam graves carências de recursos humanos e meios e, por conseguinte, a diminuição da qualidade dos serviços públicos.
Será inevitável este fado, Não. Não é uma fatalidade, mas esta sorte irá perpetuar-se até que não se reconheça a falência das opções políticas e económicas e se altere a rota. Governar para hoje é o mesmo que navegar à vista, ou seja sem ambição nem coragem para rumar a novas utopias.
Ponta Delgada, 15 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 16 de Janeiro de 2017

Sem comentários: