terça-feira, 24 de março de 2020

Como evitar as fake news

Tenho, por dever de cidadania, evitado saídas à rua. Quando saio procuro fazê-lo a horas e locais onde não há, ou pressuponho que não haja, grande concentração e circulação de pessoas e dentro do quadro que legalmente está em vigor. Pelo mesmo motivo, dever de cidadania, tenho-me escusado a produzir e difundir escritos de opinião.

Desde o início desta “crise”, é assim que vou continuar a designar a propagação do covid19 e os seus efeitos sociais, culturais, políticos e económicos, apenas vim a terreiro com uma publicação no meu blogue que depois difundi nas plataformas digitais, erradamente designadas por sociais. E fi-lo por entender que a generalidade das medidas tomadas pelo Governo Regional e a atuação da Autoridade Regional de Saúde mereciam, e continuam a merecer, o meu apoio.

Hoje, e face a uma notícia que circulou nas redes digitais, entendi ser meu dever escrever e partilhar umas notas sobre a forma como se está a travar esta luta no plano da comunicação.
Não da comunicação institucional, embora sinta que devo deixar uma nota de agrado pela excelência da comunicação institucional que emana da Autoridade Regional de Saúde, pela voz do Diretor Regional.

Mas, como dizia, não é sobre a comunicação institucional as notas que vos deixo por aqui, é sobre a informação difundida pelos órgãos de comunicação social, ditos de referência, e também pela informação que é partilhada nas plataformas digitais. Infelizmente nem uma nem outra obedecem a critérios básicos de confirmação nas fontes, já não digo na fonte primária, mas ao menos exigia-se algum esforço para confirmar a veracidade da informação, ao menos isso.

Uma estação de televisão, Não, não é essa, passou uma notícia sobre incidentes em Londres e as pessoas preocuparam-se por que os conflitos foram relacionados com a “crise” do covid19. Nesse mesmo dia verificou-se que as imagens difundidas afinal remontam a 2011 e os conflitos, naturalmente, tiveram outras causas. Era falsa a notícia e não, não havia necessidade.

Li algures por aí, e como eu terão lido muitos outros cidadãos por esse Mundo fora que os Estados Unidos já tinham uma vacina para o covid19, e, tendo sido ministrada tinha curado um doente. Bem, tanto quanto sei as vacinas previnem, Não curam. Por outro lado, os protocolos científicos para que uma vacina seja posta à disposição demoram o seu tempo, mesmo sabendo que, um pouco por todo o Mundo, se está a fazer um enorme esforço para que a vacina, ou vacinas, possam estar concebidas e testadas seria, digo eu, impossível ter a vacina disponível em tão curto espaço de tempo. Também esta notícia, como já se sabe, foi desmentida.

A notícia de hoje era a de uma morte, a primeira, nos Açores devido ao covid19. Foi um tal partilhar nas plataformas digitais que até doía. Pouco tempo depois a informação institucional veio desmentir. Não, ainda não morreu ninguém nos Açores devido ao covid19. Este tipo de atitude para além de gerar ondas de medo que em nada contribuem para a sanidade mental dos cidadãos obrigou a Autoridade Regional de Saúde a um esforço suplementar para vir a público desmentir a notícia, numa altura em que a sua atenção, tempo e recursos não podem, nem devem ser gastos a corrigir os erros comunicacionais de terceiros.

Se algumas destas notícias, as das plataformas digitais, são difundidas de forma ingénua, Sim não tenho dúvidas. Se algumas são difundidas porque obedecem a agendas ideológicas, também não me restam dúvidas. Cabe-nos a nós cidadãos fazer a verificação e não ampliar a sua difusão.

Quanto aos chamados órgãos de comunicação social, ditos, de referência é bom que não tenhamos ilusões eles são veículos e instrumentos da difusão ideológica dos seus proprietários, logo pouco confiáveis.


A informação é elaborada, mesmo que factual, para se dirigir às crendices e emoções dos cidadãos. A sua grande penetração fica a dever-se ao sucesso da estupidificação a que todos temos sido sujeitos ao longo das últimas décadas.

Só há uma forma de combater esta moldagem das consciências e da vontade. Adquirir conhecimento. Só o conhecimento nos pode libertar.

Enfim! Haja saúde que a paciência está a esgotar-se.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 24 de Março de 2020

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