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imagem retirada da internet |
“Ninguém no mundo, ninguém na história, conseguiu a sua liberdade apelando para o senso moral das pessoas que o oprimiam.”
Assata Shakur
Assata Shakur partiu, mas a sua voz permanece, acesa como uma chama que o tempo não apaga. Nascida JoAnne Deborah Byron, reinventou-se para escrever a sua própria história e, nesse gesto de autodefinição, afirmou a urgência de um povo que recusava ser apenas objeto da história dos outros. Foi militante dos Panteras Negras e da Black Liberation Army, perseguida por um Estado que a quis transformar em inimiga pública, símbolo do “terrorismo interno”. Para muitos, no entanto, Assata sempre foi, e, continuará a ser um símbolo de resistência, dignidade e coragem.
A sua autobiografia é mais do que testemunho e a sua vida foi um manifesto de luta contra a discriminação, contra a injustiça social e contra a exclusão.
Sobre o sistema prisional estado-unidense disse: “A prisão é um microcosmo do mundo fora dela. O mesmo racismo, a mesma injustiça, a mesma exploração existe, só que ampliada.”
Assata Shakur denunciava assim o que muitos optam por ignorar e obliterar: as grades não estão apenas nas prisões, mas espalham-se pelo tecido social, feito de desigualdade, exclusão e violência estrutural.
Condenada num julgamento marcado pela parcialidade e pela perseguição política, fugiu em 1979 e encontrou em Cuba o refúgio e a solidariedade que os Estados Unidos lhe negaram. Ali viveu até hoje, foi um exílio forçado, mas também a liberdade reencontrada, entre diáspora e resistência.
A sua voz dialoga com outras mulheres da luta negra, como Angela Davis, companheira de tempo e de causas. Ambas denunciaram o racismo estrutural, a violência das prisões e a falsa neutralidade da justiça americana. Se Davis fez do espaço académico e do ativismo público a sua trincheira, Assata ergueu-se na clandestinidade e no exílio. São duas faces da mesma insubmissão.
Assata acreditava na revolução como processo vital, não como instante: “A revolução não é um acontecimento único. É um processo contínuo de libertação.” E lembrava que a liberdade precisa primeiro ser imaginada: “O povo que não consegue imaginar liberdade, não conseguirá lutar por ela.”
Hoje, perante a sua morte em Havana, o que permanece é esse convite radical à esperança. A sua vida, vivida entre perseguição, feridas e exílio, mostra-nos que resistir é também afirmar a beleza de existir com dignidade. Entre o peso da injustiça e a leveza dos sonhos, Assata Shakur ensinou que a luta não é apenas contra algo, mas sobretudo por algo. É uma luta por um mundo habitado pela justiça, pela memória e pela ternura insubmissa.
Assata partiu, mas deixou-nos um horizonte. E os horizontes, como sabemos, não se alcançam, perseguem-se. Os horizontes servem para caminhar em direção às utopias.
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