segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Não tem de ser!

O debate sobre o Plano e o Orçamento da Região que se realizou na passada semana teve várias e desconformes virtudes, mormente, na forma profunda e conhecedora com que foram analisados muitos dos problemas concretos dos Açores e dos açorianos e quais as melhores opções de investimento para os solucionar, demonstrando a qualidade quer do Parlamento açoriano, quer o carácter de muitos dos seus parlamentares. Por, assim o considerar afigura-se-me justo reconhecer e saudar que a democracia nos Açores tem maturidade.
Mas, infelizmente, a mesma coisa não aconteceu do ponto de vista da seriedade política e do assumir com clareza as opções e posicionamentos dos diversos partidos. Nesse plano, pelo contrário, estivemos perante um verdadeiro festival de acrobacias!
O PS e o Governo Regional, tudo fizeram para se distanciarem na Região do Pacto com o FMI que o mesmo PS subscreveu na República e do Orçamento de Estado, no qual se abstêm na República, mas que contestam na Região!
O Governo Regional, vestindo, como de costume o argumento da crise – porque a crise tem as costas largas! –, Aplica nos Açores a mesma política de austeridade que contesta na República. Corta em partes essenciais do investimento público, mas deixa vários milhões de Euros sem destino definido, para usar como lhe der mais jeito. A realização de eleições regionais em 2012 não será, seguramente, alheia a esta estratégia, do PS e do seu governo, vertida no plano de investimentos e o no orçamento regional.
O PSD, pelo seu lado, tudo fez para se distanciar, quer do Governo da República de que faz parte, quer das opções do Governo Regional com que no fundo concorda. A proximidade das eleições não terá sido, de todo, estranha à estratégia do PSD e às propostas iníquas com que se apresentou ao debate.
Na verdade, tudo o que o PSD tem para oferecer aos Açores vem pela mão de Passos Coelho. Por isso é que o PSD Açores pouco ou nada teve para propor neste Plano e neste Orçamento, pouco ou nada contribuiu para o debate político.
Mas, apesar das habilidades dos sociais-democratas açorianos, a verdade é que a encomenda endereçada pelo PSD com o aval do CDS/PP cá nos chega direitinha: mais impostos, cortes de salários, roubo dos subsídios de natal e de férias, congelamento de pensões, cortes nas prestações sociais, privatizações, destruição da RTP Açores, ataques à nossa Autonomia e ao estado de direito.
As açorianas e os açorianos não podem esquecer estas prendas que nos estão a chegar neste Natal e que continuarão a aparecer com regularidade ao longo do ano nas faturas do gás e da eletricidade, no acerto do IRS, no confisco do subsídio de férias e de Natal, no aumento do desemprego, no corte dos apoio sociais, nos salários em atraso, nas insolvências de particulares e empresas.
As açorianas e açorianos não vão esquecer, nem podem deixar de penalizar em Outubro de 2012, o PS, o PSD e o CDS/PP por este presente que lhes confisca a esperança num futuro melhor que sonharam para si e, principalmente para os seus filhos.
Que confiança pode ser depositada em quem vira as costas à luta, que confiança pode ser depositada em quem cegamente continua a apregoar as virtualidades do pantanoso e putrefacto mercado ou, em quem afirma como o promíscuo CDS/PP que tem pena, muita pena mas que… enfim tem de ser.
Não tem de ser!
Ponta Delgada, 04 de dezembro de 2011

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 05 de dezembro de 2011, Ponta Delgada 

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