quarta-feira, 4 de abril de 2012

Efeitos colaterais e golpes virtuais

Aumenta o número de mortes “por todas as causas” em Portugal, a notícia é de março, e dizia, então, o responsável pelo Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde que entre 20 e 26 de fevereiro, morreram, ao todo, em Portugal, 3 080 pessoas, aumentado assim o número de mortalidade "por todas as causas" no país para 6 110, nas duas últimas semanas e a maioria das mortes registadas afetou a população idosa.
Crise económica pode aumentar casos de AVC, alertam especialistas. Mais recente mas, também publicado em março, este alerta da Sociedade Portuguesa de Neurologia sob a forma de um comunicado a propósito do Dia Nacional do Doente com AVC rezava assim: (...) A crise económica poderá conduzir a um aumento de casos de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), avisa a Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN), que alerta para a necessidade de conhecer bem os sinais de alerta e chamar logo o 112 (...) e mais à frente afirmava que (...) as dificuldades financeiras se refletem na aquisição da medicação, no acesso aos cuidados de saúde, na obtenção de exames complementares de diagnóstico, na prática de uma alimentação pouco saudável e na origem de quadros depressivos, fatores que aumentam o risco de AVC (...).
Mas, as notícias sobre a saúde ou a falta dela não se ficam por aqui, também o coordenador da Plataforma contra a Obesidade, que depende da Direcção-Geral de Saúde, diz que (...) as situações de carência nutricional podem acontecer por défice de alimentos (...). João Breda, assim se chama o referido coordenador disse ainda que (...) quando há crise as pessoas têm de procurar alimentos mais baratos e que permitem alimentar toda a família. Ou seja, pode existir um recurso maior a alimentos de muito elevada densidade energética e pouca densidade nutricional (...)
Serão estes efeitos colaterais da crise!? Como pensará o governo do PSD/CDS resolver estes e outros problemas que resultam diretamente da aplicação das medidas de austeridade?
Segundo notícias divulgadas pelos órgãos de informação, o Governo pretende reduzir o valor do subsídio de doença às baixas de curta e média duração, visando penalizar assim os trabalhadores que fiquem doentes até um período de 90 dias.
A pretensão em penalizar as doenças de curta e média duração parte do pressuposto de que, por um lado, por serem menos graves merecem menor proteção e, por outro, que configuram quase sempre situações de utilização indevida ou abusiva.
Se esta é a resposta do governo, está bom de ver que as situações para as quais os serviços de saúde têm vindo a alertar só poderão vir a agravar-se. Isto para não dizer que o simples facto de uma doença ser de curta duração, não justifica a diminuição da compensação a atribuir, até porque, por maioria de razão, os encargos financeiros e as despesas a cargo das pessoas não diminuem, muito pelo contrário, aumentam, por via entre outros, da necessidade de aquisição de medicamentos. Quanto ao eventual controlo de situações abusivas, este não pode ser feito aleatoriamente à custa de quem se encontra em situação de real necessidade, mas sim, através da implementação e intensificação de mecanismos adequados de fiscalização.
Na noite de 2 para 3 de abril aconteceu um golpe de estado em Portugal... no Twitter. O “golpe” foi dos assuntos, mundialmente, mais comentados no Twitter.
Ponta Delgada, 03 de abril de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 04 de abril de 2012, Angra do Heroísmo

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