segunda-feira, 18 de junho de 2012

Flagelo nacional


A 5 de Junho de 2011, há pouco mais de um ano atrás, a fatigada direita socrática era substituída pela velha direita reacionária, que se instalou de armas e bagagens no poder. 
Armados com um pacto com o FMI que serve de desculpa para tudo e dando largas a uma intensa sanha de ajustar contas com a história, fazendo recuar o país aos tempos anteriores ao 25 de Abril, o PSD e o CDS/PP arregaçaram mangas e começaram o desmantelamento sistemático do que restava dos direitos e condições de vida dos portugueses e do seu património coletivo.
Esta velha direita não deixa pedra sobre pedra: serviços públicos, tribunais, finanças, escolas, centros de saúde, empresas do estado, tudo para encerrar, demolir ou vender ao desbarato. E não esqueceram, claro, o mel que sempre atrai a subtileza de urso desta velha direita: destruir a regulação das relações laborais, aumentar a exploração e a arbitrariedade dos patrões, tratar cada vez mais os trabalhadores como mercadoria barata e descartável. 
Os resultados desastrosos estão à vista, a nível nacional, com mais de um milhão e duzentos mil desempregados, mas também na Região. A variação homóloga do desemprego nos Açores (maio de 2011, maio de 2012) regista um aumento de 42,9%! Isto considerando os números oficiais, ou seja, ficam de fora os milhares de açorianos que participam na miríade de programas ocupacionais e estágios com que o Governo Regional procura esconder a verdadeira dimensão do desemprego nos Açores.
Mas não há forma de ocultar o total falhanço da política do PS Açores. Aliás, nesta matéria, a eterna cassete do Governo Regional sobre “a crise internacional que veio de fora” é uma manta demasiado curta para explicar porque é que nos Açores o desemprego alastra muito mais depressa do que nas outras Regiões do país. Mas, nada de novo, a inabilidade e a falta de coragem política do PS é conhecida. Que o digam os trabalhadores açorianos, os pequenos e médios empresários que sofrem o flagelo do desemprego, das insolvências e do empobrecimento generalizado das famílias açorianas
 À inabilidade e falta de coragem do PS, na Região, juntou-se todo o poder destrutivo da extrema-direita mais reacionária quando está entrincheirada no poder em Lisboa. 
Sim! Porque o que mudou em Portugal no último ano foi o poder político e, bem podem Berta Cabral e Artur Lima tentar descolar do governo de Passos Coelho e Paulo Portas, porque os açorianos sabem que este aumento brutal do desemprego, que este número monstruoso de mais 42,9% de desemprego, registado no último ano, é o resultado de opções políticas económicas e financeiras retiradas da cartilha neoliberal e aplicadas pelos ministros do PSD e do CDS/PP. Este é um Governo que à desumanidade tecnocrática neoliberal do PSD alia a desavergonhada hipocrisia e assistencialismo do CDS/PP. 
Veja-se a hipocrisia, o cinismo e a desumanidade da direita, por um lado corta-se no período, condições de acesso e valor das prestações de desemprego, tratando os desempregados como se fossem pedintes incómodos, em vez de cidadãos que descontaram para a Segurança Social e que têm o direito a ser apoiados e, por outro lado assistimos ao contentamento do ministro Mota Soares que percorre o País a mandar construir cantinas sociais para que não comecem a registar-se muitos óbitos por subnutrição ou mesmo por fome.
Este é o preço que os portugueses pagam por terem optado, em junho de 2011, por dar o poder a uma maioria de direita. Saibamos nós, nos Açores, aprender com esse exemplo e não clonar na Região o poder que se instalou no País.
Ponta Delgada, 17 de junho de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 18 de junho de 2012, Ponta Delgada 

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