quinta-feira, 3 de outubro de 2013

... mas estou aí

Não deixa de ser revelador que das análises feitas aos resultados eleitorais o aumento abstenção se constitua como “o caso” destas eleições, por outro lado os movimentos de opinião a favor da abstenção e do voto em branco assumem-se como os grandes vencedores do ato eleitoral do passado Domingo.
Que a elevada taxa de abstenção é preocupante, sem dúvida, afinal tratava-se de um ato eleitoral cuja natureza é de proximidade com os cidadãos, por outro lado se a abstenção, os votos nulos e brancos podem corresponder a uma opção política e eleitoral, podem ter uma leitura política, sem dúvida, mas não servem rigorosamente para nada. Sobre isto diz António Filipe na sua página do Facebook: “A propósito do aumento da abstenção, dos votos nulos e dos votos em branco nas eleições autárquicas, para a qual a comunicação social tanto contribuiu, lá veio a cantilena de que é assim que se manifesta o descontentamento e o protesto. Esquecem-se de dizer tais cantores que esses não votos, pura e simplesmente não contam para nada. Não elegem ninguém, não derrotam ninguém e não decidem coisa nenhuma. Com o protesto dos abstencionistas podem os maus governantes dormir descansados.”
Os eleitores que optaram por não se abster e que validaram o seu voto, esses sim deixaram expresso um claro sinal de descontentamento. Atente-se, por exemplo, aos resultados nacionais do PS, do PSD e do CDS/PP. Verifica-se uma clara diminuição do número de eleitores que depositou a sua confiança nas candidaturas dos partidos do centrão e do seu apêndice. Resulta da abstenção, sem dúvida, mas outra candidatura, neste quadro de aumento da abstenção, obteve o apoio de um maior número de eleitores, a CDU é a única força política que aumenta o número de votos, isto para além de ter aumentado o número de eleitos nas Câmaras e Assembleias Municipais.
Cavaco Silva e Ramalho Eanes, em declarações à comunicação social, durante o dia das eleições mostraram-se muito preocupados com a falta de debate político durante a campanha eleitoral para as autárquicas associando este facto à necessidade de se proceder, com urgência, à alteração da Lei Eleitoral. Fiquei com algumas dúvidas, quem as não tem, sobre a relação da falta de debate mediático, porque é disso que se trata, e a necessidade de alterar a Lei Eleitoral.
Sendo verdade que o debate político esteve ausente das televisões nacionais, isso não significa que não tivesse havido debate político entre os diferentes projetos autárquicos que foram sufragados. A vida acontece ainda que não seja notícia nas televisões, nas rádios e nos jornais.
Se bem entendi, posso inferir que, segundo Cavaco Silva e Ramalho Eanes, a Lei Eleitoral deve ser alterada para se conformar ao formato das televisões. Será assim, creio que não. O que incomoda Cavaco Silva e Ramalho Eanes é a diversidade, é a pluralidade, é o contraditório, é a alternativa, é a democracia.
Também me inquieto, também me incomodo. Inquieto-me com a impunidade dos responsáveis pela desgraça que graça. Inquieto-me com quem se acomoda, incomodam-me estas inquietações, apoquento-me… mas estou aí, faço escolhas, voto, participo. 
Ponta Delgada, 01 de Outubro de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 02 de Outubro de 2013, Angra do Heroísmo

Foto=> Catarina Pires

1 comentário:

Adérito disse...

Embora um pouco tardio, dou-lhe os parabéns pelo seu artigo. No entanto devo realçar, que o que diz, está sempre actual, tanto para falar das últimas eleições, como alertar para as próximas e para as outras...